por Claudio Mutti
(2020)
Hebreus, mas não semitas
No último ano do governo nacional-comunista romeno, após a construção de uma barragem no rio Cuşmed (Küsmöd), a vila Bezidu Nou da Transilvânia (Bözödújfalu) ficou submersa e seus habitantes foram dispersos. Os antepassados da população daquela vila, cristãos unitários (ou melhor, "antitrinitários") desde o final do século XVI, haviam adotado elementos de origem judaica e haviam assumido o nome de sabatarianos; em 1869 eles se converteram oficialmente ao judaísmo rabínico e construíram uma sinagoga [1]. Se os judeus de Bezidu Nou haviam sido o produto da lenta conversão de uma pequena minoria de székely (população de língua húngara e de origem túrquica estabelecida nos Cárpatos Orientais no início do século XI), os judeus de outra cidade da Transilvânia, Sfântu Gheorghe (Sepsiszentgyörgy), afirmam ser descendentes de comerciantes túrquicos judaizados, que, tendo se mudado para aquele lugar para escapar da conquista russa, permaneceriam lá mesmo depois de 1360, quando Luís I da Hungria ordenou a expulsão dos judeus de seus territórios [2]. Ainda na Transilvânia, entre os rios Mureş e Someş, a toponímia húngara inclui Kozárd e Kozárvár, dois assentamentos que devem ser de fundação cazar; mas topônimos do tipo Kozár e Kazár também são encontrados em diferentes áreas da Hungria [3]. Essas e outras indicações levaram muitos estudiosos a acreditar que o elemento cazar representava um importante ingrediente daquela mistura étnica que é a população judaica da Hungria e da Transilvânia: "entre os judeus, aqueles nos quais o componente cazar é mais forte [the most strongly Khazar] são, sem dúvida, os judeus húngaros, descendentes dos últimos cazares que fugiram para a Hungria entre 1200 e 1300, onde foram recebidos por seus antigos vassalos, os reis húngaros"[4].