25/12/2020

Julius Evola - Natalis Invicti

por Julius Evola

(1933)


É sempre interessante trazer à tona o significado primordial mantido em símbolos e tradições que se tornaram ao longo do tempo costumes quase sempre ignaros de suas raízes originais. É o caso, por exemplo, das duas grandes festas desses dias, o Natal e o início do Ano Novo. Muito poucos suspeitam que com a celebração desses festivais significativos hoje, em meio ao século das multidões cosmopolitas, dos arranha-céus, do rádio, se continua uma tradição que pode muito bem ser chamada de primordial e cósmica, uma vez que seus traços nos levam de volta aos mesmos tempos que viram a aurora da humanidade e nela se refletia não tanto uma crença dos homens, quanto a grande voz das coisas mesmas.

Antes de tudo, deve-se notar que originalmente o Natal e o Ano Novo coincidiam: em todo um ciclo de civilizações antigas, o início do ano novo caía no solstício de inverno, que tem precisamente a data do Natal: 25 de dezembro. Tal data em Roma era uma data solar: era a da ressurreição do Deus Sol Invictus: Natalis Solis Invicti. Com ele, enquanto dia do "Sol novo" - Sol Novus - começava na era imperial o novo ciclo anual. Mas o Natal solar romano, por sua vez, remete a uma tradição muito mais antiga. Afinal, Sol, o sol, já aparecia entre os dii indigetes, ou seja, entre as divindades das origens, que vieram aos romanos de uma antiguidade anterior e misteriosa.

Uma série de novas pesquisas, às quais, além disso, nestas mesmas colunas tivemos ocasião de referir, inclina-se a estabelecer que já na Idade da Pedra a humanidade tinha sua própria civilização e sua própria religião, em vez de ser - como comumente se crê - um grupo de hordas selvagens e quase animalescas. O centro desta civilização, especialmente entre as linhagens que devem ter sido os progenitores arcaicos das sucessivas raças indo-européias, teria sido precisamente o culto solar, não apenas mas o solstício de inverno, ou seja, a data natalícia, teria sido o ponto mais significativo para ela. Símbolos, sinais, hierogramas, figuras em vasos, ou armas, ou ornamentos, disposições enigmáticas de pedras rituais ou de cavernas nos vestígios pré-históricos, que se dispersam nas mais diferentes planícies da terra, ritos e mitos posteriores das civilizações sucessivas, tomados sob diferentes luzes, parecem dar aos novos pesquisadores um testemunho singular e unânime de tudo isso: confirmando na medida do possível, resultar diretamente para aqueles que por "tradição" estão familiarizados com uma certa ordem de ensinamentos.

Além disso, com uma inversão das interpretações próprias do materialismo pseudo-positivista de ontem, aqui como premissa deve ser colocado em espera mais uma vez que o homem antigo via as coisas com um olhar muito diferente do atual. Ele concebia a natureza como uma espécie de símbolo. Longe de endeusar supersticiosamente os grandes fenômenos naturais, ele assumia estes fenômenos como expressões simbólicas espontaneamente oferecidas a ele com traços poderosos pela natureza para significados mais elevados. É neste sentido que seria próprio a uma grande civilização pré-histórica o culto solar: no sentido, ou seja, de que o curso anual do sol em suas fases ascendente e descendente teria servido para expressar e, por assim dizer, sensibilizar, a intuição de uma lei universal de renovação, de "morte e renascimento". O solstício de inverno é o ponto crítico desta história, é aquele em que a luz parece se extinguir e abandonar a terra desolada e congelada, na qual, no entanto, novamente, eis que ela se alça e brilha. Neste sentido, a data de 25 de dezembro já em tempos de milênios antes do cristianismo significava nascimento, renascimento, luz e a ela correspondiam ritos e festas sagradas. Aqui surge uma vida nova, um novo ciclo se abre, um novo começo é posto. A Árvore de Natal, que sobrevive ainda hoje, carregada de "presentes", reproduz uma muito antiga "árvore da vida" ou "doadora de vida", a árvore cósmica do renascimento.

Estes são os mesmos significados rituais e simbólicos que tomaram forma na própria Roma antiga. Em contato com a religião guerreira de Mitra sob Aureliano, a data de 25 de dezembro foi também a da celebração do Natalis Invicti, ou seja do próprio Mitra considerado como herói solar. Com isso, como alguém justamente assinalou, o calendário romano foi restaurado em seu antigo aspecto astronômico e físico que tinha nos primeiros tempos de Rômulo e de Numa, e que dava às festas o significado de grandes símbolos na coincidência de suas datas com grandes épocas da vida do mundo.

O atributo de invictus - aniketos - ao Sol e a Mitra é um atributo "triunfal". No Oriente ele já era aplicado às potências siderais precisamente porque, depois de parecerem desaparecer e perecer, sempre se elevam novamente em um novo esplendor, vitoriosos sobre a escuridão. Basta transpor esta idéia analogamente para compreender o sentido íntimo da aplicação do atributo "solar" aos tipos ou ideais de uma super-humanidade dominadora. Assim como o Sol ressurge, eternamente vitorioso sobre as trevas, também em uma perpétua vitória interior sobre a natureza mortal e instintiva se realiza aquele que possui eminentemente a virtude mística de ser rei, vitorioso, duce. Daí toda uma série de tradições muito interessantes, que infelizmente não podemos sequer mencionar, nas quais se encontra sempre uma conexão entre o simbolismo solar e as formas supremas e "divinas" de realeza; da Índia e do Egito à Pérsia, à Grécia antiga e até mesmo à América pré-colombiana. Esta mesma tradição emerge e se afirma também em Roma.

Na Victoria Caesaris, ou seja, na força mística triunfal que em seu símbolo um César transmitia ao outro, temos apenas a tradução romana do hvarenô conhecido da antiquíssima tradição real mazdeana: o hvarenô nesta tradição indo-européia sendo precisamente uma misteriosa força "solar" que investe os chefes, os torna imortais, os manifesta e dá testemunho com a vitória. Ademais, pode haver quem se lembre de nosso recente artigo, onde mostramos como tais significados estavam no centro da tentativa de restauração solar operada pelo Imperador Juliano.

Uma antiga efígie romana do Sol retrata este deus com a mão direita levantada no gesto "pontifício" de proteção e com a esquerda segurando uma esfera, símbolo de seu domínio universal: tal como os cristãos passaram a representar o menino Jesus. Em outra imagem, no entanto, vê-se o mesmo deus Sol entregando o globo ao Imperador, junto a inscrições que referem à "solaridade" a estabilidade e o imperium de Roma: Sol conservator Orbis, Sol dominus romani imperii. Em uma terceira imagem (do Museu Capitolino) o símbolo de Sol Sanctissimus está associado à Águia, o animal fatídico de Roma que se pensava leva simbolicamente da pira funerária aos céus o espírito transumanado dos imperadores mortos. Tudo isso, portanto, nos fala claramente de um "mandato divino solar" como alma viva daquela função imperial, que muitos ainda supõem ter sido, em Roma, nada mais que uma pesada e feia carga secular coberta de superstições. Como o antigo "Dia do Sol" da semana romana como "Dia do Senhor" (domingo) sobreviveu em tempos posteriores, assim na festa do Natal continua similarmente até hoje o eco deformado da antiga festa solsticial romana: Natalis Invicti.

E isto, por sua vez, nos leva de volta aos horizontes grandiosos de uma concepção primordial - solar, sagrada e heróica ao mesmo tempo, a uma humanidade à qual a própria natureza, naquela fatídica data, falava de um mistério de ressurreição, do nascimento de um princípio não só de "luz" e de vida renovada, mas também de imperium, no sentido mais elevado, mais glorioso e transcendente deste termo.