15/06/2020

Sergio Fritz Roa - Entrevista com Claudio Mutti: Sobre Julius Evola

por Sergio Fritz Roa

(2004)


Como você conheceu a obra de Julius Evola?


Li "Revolta Contra o Mundo Moderno" quando tinha dezoito anos. Fui um líder da seção italiana da Jeune Europe, uma organização de que era membro na altura, que me deu um exemplar do livro. O pragmatismo de Jean Thiriart e a sua concepção maquiavélica da política não nos satisfiziam completamente, de modo que em nós, jovens "nacional-europeus" de quarenta anos atrás, a exigência de uma visão integral do mundo e de uma verdadeira consagração da ação política permanecia viva. O trabalho de Evola representava, portanto, para mim e para outros, a porta de entrada para uma Weltanschauung espiritualmente fundamentada.

Qual é a importância de Julius Evola para o mundo ocidental?


Em primeiro lugar, é necessário limpar o terreno do mal-entendido que tal sintagma ("mundo ocidental") inevitavelmente supõe. Se é verdade que nos séculos passados existiu de fato uma "civilização ocidental", hoje a mesma denominação serve para indicar uma Zivilisation spengleriana que, além de se espalhar por uma área geográfica muito mais ampla, tendo seu próprio epicentro e paradigma nos Estados Unidos da América, se configura como uma verdadeira pseudo-religião idólatra, cujos principais dogmas são o Mercado, os Direitos Humanos e a Democracia. Desta forma, o Ocidente, este Ocidente que adquiriu dimensões quase planetárias, é a manifestação mais monstruosa do que podemos chamar, evolutivamente, de Anti-Tradição. Tanto a Europa como a América Latina podem extrair do trabalho de Evola, e do seu apelo ao valor fundamental da Tradição, os pontos de referência essenciais para o seu despertar e para uma luta coerente contra esta "civilização ocidental" antinatural e anti-humana.


Você defendeu a controversa luta travada pelo autor de A Desintegração do Sistema, Giorgio Freda, que, por seu radicalismo revolucionário, cumpriu uma longa pena de prisão. Pode nos explicar a razão dessa defesa?


Em 1969, quando o fenômeno da revolta estudantil levou muitos a acreditar que a mobilização pela destruição do sistema burguês havia começado, Freda considerou um dever dirigir-se aos jovens nacional-revolucionários para repensar os princípios do verdadeiro Estado. Até então, na Itália do pós-guerra, os defensores da doutrina "tradicional" do Estado não haviam saído do verbalismo acadêmico e nostálgico ou haviam descido à arena política alinhando-se ao serviço das retaguardas burguesas, usando o evolianismo como álibi para suas escolhas reacionárias. Com A Desintegração do Sistema, por outro lado, a doutrina tradicional do Estado foi apresentada em sua oposição integral e irredutível ao mundo burguês. A própria organização comunista do "Estado popular" teorizada por Freda era vista como uma terapia de emergência que se fazia indispensável para a eliminação do homo oeconomicus: remédio homeopático em função da "restauração do humano" em um Rangordnung viril. A longa perseguição a que Freda tem sido sujeito, além dos pretextos judiciais formais, pode ser explicada precisamente pelo seu compromisso radical como soldado político. Por conseguinte, senti que era meu dever tomar medidas de solidariedade militante.

A aproximação entre escritores puramente tradicionalistas (Guénon, Lovinescu, Välsan, etc.) e algumas personalidades bastante políticas ou "metapolíticas" (Evola, Codreanu, Wirth) tem sido uma constante em seu trabalho. No entanto, enquanto os primeiros propõem uma luta interna, isto é, a Grande Jihad, os segundos parecem estar perdidos na contingência de uma batalha externa... Qual é a sua opinião sobre isto?


No contexto da obra evoliano, a doutrina da "Pequena e Grande Guerra Santa" ocupa uma posição muito importante. Ao afirmar tal doutrina, que é designada por uma expressão extraída da terminologia islâmica (Al-jihad al-akbar, Al-jihad al-asghar), Evola retoma a concepção de ação que caracteriza toda visão tradicional: a ação se encontra "conforme a ordem" quando é ritualmente consagrada e torna-se um caminho de realização espiritual. A abordagem de que você fala, portanto, corresponde a uma complementaridade: aqueles que você define como "escritores puramente tradicionalistas" fornecem-nos as indicações necessárias para compreendermos, enquanto as personalidades políticas ou metapolíticas representam a ação política ou cultural a um nível que não é de modo algum o da contingência pura.

Você é o editor da Editora "All'insegna del Veltro", que tem publicado material de grande valor espiritual e metapolítico. Que novas obras pretende publicar? Que projetos tem a este respeito?


A Editora "All'insegna del Veltro" publicou, desde 1978 até hoje, cem livros. Este ano foi inaugurada uma nova coleção editorial, na qual serão acomodadas obras geopolíticas de autores "clássicos" e contemporâneos. Os dois primeiros textos, de Haushofer, serão seguidos por uma conferência de Omar Amin von Leers, um volume com escritos de diferentes autores sobre a Turquia, vários escritos de Jean Thiriart, etc. Na coleção dedicada à antiguidade greco-latina, ademais, deveria sair outro livro de Bèla Hamvas (1897-1968), um escritor húngaro que, apesar de amplamente lido e apreciado em sua terra natal, era completamente desconhecido na Itália até alguns anos atrás, quando a Editora "All'insegna del Veltro" publicou Scientia Sacra, uma obra sua de síntese que pode ser incluída com dignidade entre as obras-primas do "tradicionalismo integral".

Sua editora publicou o livro de Vasile Lovinescu, que se correspondeu com Guénon e foi discípulo de Schuon, intitulado La Dacia Iperborea. Também abordou o tema da influência de Evola na "Frente Oriental" (Romênia, Hungria, etc.) e escreveu um livro sobre os autores tradicionalistas romenos (Vâlsan, Lovinescu, etc.). Porque está tã interessado na Romênia?


Este interesse nasceu há muitos anos, quando descobri a maravilhosa figura de Corneliu Codreanu. O que tornou possível um fenômeno como o legionário na Europa do século XX? Com base nesse questionamento, foi lançada a pesquisa que me levou a descobrir a realidade de um país que, para citar uma frase que circula na Romênia, é "o mais guenoniano do mundo". Vasile Lovinescu, em particular, representa precisamente aquela complementaridade de contemplação e ação de que falou há pouco: muqqqadim de uma ordem iniciática do sufismo, foi o prefeito legionário de sua cidade. De outro autor romeno, Mihai Marinescu, estou agora traduzindo o texto de uma palestra sobre "Drácula na Tradição Romena" que ele deu em Santiago do Chile e foi organizada pela Editora "Bajo los Hielos". Não é necessário, portanto, que eu me estenda explicando-vos o rico patrimônio tradicional que tem sido guardado na Romênia até aos nossos dias.