por François Bousquet
(2020)
“Nem todo mundo pode cantar,
Não é dado a todos
Cair como um pomo aos pés dos outros.
É essa a suprema confissão de um pilantra”
Esses versos são de Sergei Yesenin, um poeta tão profundo quanto a sua pátria: cossaco, camponês, mas também soviético.
Sim, de fato: nem todos sabem cantar. E cantar era justamente o que Eduard Limonov fazia de melhor – isso sem falar, obviamente, em seu tato com as mulheres e com a guerra. Suas mulheres – incluindo aquelas com quem se casou – foram indescritivelmente românticas, mas de um romantismo sombrio (cinco casamentos e, agora, um funeral), como se tivessem saído de uma pintura da Fronda ou de uma página do Corto Maltese, rodeadas pelos odores de canhão e de veneno sedutor. Quanto à guerra, ele prezava sua violência sem restrições. Canta, musa, a cólera de Eduard!
Curioso destino o dele. Ele permaneceu jovem até o fim, morrendo aos setenta e sete anos de idade na flor da idade. Mesmo velho, permaneceu tal como era no final da adolescência. Ele possuía o poder milagroso de não envelhecer, e isso graças aos favores da da genética e da poética. Até seus últimos dias, ele conservou assim essa inalterável juventude: Rimbaud das estepes na sola do vento; a pele ligeiramente enrugada e a energia febril dos sobreviventes presa ao corpo. Um sobrevivente: ele vinha sendo um sobrevivente desde aquele dia, em 2016, quando um cirurgião removeu um coágulo de sangue tão grande quanto um punho do seu cérebro flamejante. Ele relatou tudo isso em "E Seus Demônios" (2018): “Eu estava praticamente no outro mundo”.
Sim, ele veio de outro mundo, um mundo de velhos brezhnevianos, de ideais desbotados e de marechais senis e congestionados, dos quais ele foi o enfant terrible; duplamente dissidente: da gerontocracia soviética e do "Grande Hospício Ocidental" (1993).