12/11/2016

Eugene Montsalvat - Degeneração e a Geração Eu: A Decadência da Juventude Revolucionária

por Eugene Montsalvat



Revolução, violência política, de fato toda violência é um jogo para o homem jovem. Jovens rebeldes determinados forjaram nações, como vimos ao longo da história. Mas esses homens foram verdadeiros revolucionários, fanáticos dispostos a sacrificar tudo, eles incorporavam a descrição de Nechaev, "O revolucionário é um homem condenado. Ele não tem interesses pessoais, negócios, emoções, ligações, propriedade ou nome. Tudo nele é completamente absorvido no único pensamento e na única paixão pela revolução".

Tal devoção é rara no Ocidente moderno. Ademais, quando ela vem em formas estrangeiras, tal como o militante islâmico ou o guerrilheiro latino-americano ela se torna o grosseiro "radical chic" de rebeldes universitários que vestem camisetas de Che Guevara ou keffiyehs manufaturados em fábricas capitalistas escravagistas. Todo espírito pseudo-revolucionário juvenil existe hoje inteiramente dentro dos parâmetros do capitalismo, desenraizado, commodificado, certamente não-ameaçador à ordem estabelecida. A parafernália da revolução é apenas um instrumento de marketing por valor de choque. Isso aponta para uma questão maior, que a pose de resistência ao sistema foi já totalmente integrada ao sistema.

Nós devemos perguntar como chegamos a essa sitação. Jean Thiriart oferece uma possível explicação, o RPG juvenil revolucionário tomou o lugar das iniciações à masculinidade em sociedades modernas. A rebelião é apenas uma fase pela qual se passa antes da sua integração plena na sociedade burguesa. Como ele escreve em "Pretorianos Políticos ou o Preço Humano do Poder Militante":

"Aqui lidarei com o culto juvenil.


O adolescente deve passar por uma marca psicológica em cujo curso ele é obrigado a se afirmar para ingressar no mundo dos adultos. Em sociedades primitivas (África e Amazônia, por exemplo) essa passagem é objeto de um ritual preciso, formal, imutável, indisputável. Após passar pelos testes (geralmente testes de coragem e/ou leves mutilações), o adolescente se torna um homem. Uma vez feito isso, seu caráter como adulto não é mais contestado. Sociedades primitivas são melhor organizadas que as nossas, nesse esquema específico. Muito depois, na antiguidade grega por exemplo, os ritos de adolescência eram igualmente bem definidos, bem ritualizados da maneira mais oficial possível.



Hoje, tudo isso é deixado para a iniciativa pessoal. A sociedade plutodemocrática não se preocupa com estes problemas importantes. Assim, os próprios adolescentes criam os ritos: trotes estudantis, pornografia verbal, alcoolismo juvenil e, é aqui que nosso interesse aparece, participação em um culto 'durão'.



O fenômeno neonazista pós-guerra é assombrosamente comum entre jovens. Não há qualquer questão de uma opção filosófica aqui, mas uma cativação por um ritual mágico. Cada maravilhamento assombrado é ligado aos souvenirs da SS e do NSDAP. Assim, certos jovens que passam pela crise obrigatória de afirmação em relação a seus status de adulto, frequentemente criam cultos juvenis.



A máquina de propaganda sio-americana apresenta estes cultos juvenis como cultos políticos. Essa exploração é bastante lucrativa para os sionistas, para os milieus judaicos fanáticos da extrema esquerda. É a perpetuação do mito do 'perigo fascista' justificando suas próprias ações. É o pretexto para demandar mais centenas de milhares de marcos da República Federal Alemã. Todos os pequenos círculos de assim chamados estudantes 'nacionalistas' igualmente se revelam como estes cultos juvenis. É por isso que a população desses grupos é extremamente mutável. A juventude permanece ali no máximo 1 ou 2 anos em geral, o período de sua crise. Uma vez ultrapassada a marca, ele se crê adulto, ele deixa o culto juvenil e se integra bem à sociedade adulta e burguesa...



É necessário se resguardar contra confundir o culto juvenil com o culto político. O primeiro se caracteriza por sua indisciplina interna, o adolescente deve se afirmar e ele ingenuamente sustenta que a indisciplina é uma marca de maturidade, e pela ausência de uma ideologia política nova e original. O culto juvenil é barulhento, sem hierarquia funcional e procurando elementos mágicos em um passado supostamente prestigioso. Ele é feito e desfeito constantemente, seus membros são passageiros efêmeros".



A sociedade plutodemocrática ocidental moderna não fornece quaisquer ritos reais para a passagem à idade adulta, por isso a juventude desenvolve os seus próprios, que geralmente envolvem adotar comportamento pessoalmente arriscado ou ultrajante, os quais apesar de talvez colocarem o participante sob risco através da violência, uso de drogas ou promiscidade, representa risco absolutamente nulo para o regime governante. Uma vez que a juventude se canse dessa fase, eles deixam suas caras universidades onde lhes foi permitido brincar de revolucionário e em troca assumem uma dívida imensa, e ingressam no mundo corporativo para pagá-la.


Ademais, podemos notar o aspecto individualista dessas rebeliões adolescentes. Ao se pavonearem com a camuflagem da extrema-direita ou da extrema-esquerda eles realmente só enfatizam sua separação de seus compatriotas, ao invés de buscarem forjar laços com a sociedade ao seu redor como precursores de uma mudança política, eles se alienam das mesmas massas que eles gostariam de liderar. Na realidade, essa é uma forma de chamar atenção, comum entre jovens ocidentais cujos pais os ignoraram para perseguirem suas carreiras. Essa busca por atenção não raro tem um componente sexual, se torna um "pavonear-se" para atrair uma parceira, como notamos na fetichização do nazismo nas subculturas punk ou gótica.

Ademais, nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, nós temos visto movimentos políticos estudantis cujo objetivo preciso é o individualismo radical, disfarçado de comunismo ou socialismo. Assim, encontramos declarações como a do radical dos anos 60 John Sinclair que demandou, "Ataque total contra a cultura por todos os meios necessários, incluindo o rock and roll, drogas, e sexo nas ruas". As raízes desse estilo de pensamento estão no movimento situacionista, que influenciou a subcultura punk (o empresário dos Sex Pistols Malcolm McLaren foi influenciado pelo movimento de forma significativa). O situacionismo emergiu da esquerda anti-autoritária na França para defender atacar o capitalismo através da construção de "situações", para citar Debord, "Nossa ideia central é a construção de situações, quer dizer, a construção concreta de atmosferas momentâneas de vida e sua transformação em uma qualidade passional superior". Essas situações tomam a forma de uma libertação e experimentação individual radical, movimentos artísticos de vanguarda e a celebração do lazer. Enquanto o situacionismo se situava na esquerda comunista, ele replicava o individualismo capitalista, como Kazys Varnelis observa:

"O situacionismo pode ter começado como um movimento antiburguês, mas já que ele era fundamentalmente burguês em sua defesa da experiência individual, quando ele havia finalizado sua crítica tudo o que sobrou foi melancolia. Finalmente, mesmo a ideia da Internacional Situacionista era estranha à ideologia. Organização, mesmo a sua própria, era inaceitável. O fim do situacionismo diz tudo: um alcoólatra solitário se suicidou com um tiro no coração. Raoul Vaneigem uma vez escreveu 'a saciedade de conveniências e elementos de sobrevivência reduz a vida a uma única escolha: suicídio ou revolução'. À época em que o movimento situacionista havia se esgotado, estava claro que a revolução demandava esforço demais.

Enquanto Debord apontava uma arma para seu peito no Loire, a indústria situacionista, liderada por Greil Marcus, estava girando com força total. Como Steven Shaviro escreve em seu excelente comentário sobre a abordagem equivocada de Marcus sobre Michael Jackson:

'O próprio situacionismo, não apesar de, mas precisamente por conta de sua crítica virulenta de toda forma de produto cultural, se tornou um dos 'memes' ou 'marcas' de maior sucesso comercial do final do século XX'.

Deliberadamente obscuro, o situacionismo era legal, e assim a ideologia perfeita para a geração do know-how. O que poderia ser melhor para provocar conversa no Starbucks local ou na cantina da empresa, especialmente uma vez que o livro de Marcus, que traçava um dúbio fio vermelho entre Debord e Malcolm McLaren, chegou às gráficas? Rock n'roll + política neoliberal disfarçada de esquerdismo: uma mistura perfeita. Para a geração que virou a dulta com o situacionismo-via-Marcus e a era ponto.com, trabalhar em escritórios como os da Razorfish ou Chiat/Day era a mais elevada forma de diversão. Bastante pop-tarts para charettes no meio da noite e um bocado de design colorido garantiam que trabalho e vida haviam finalmente se fundido no local de trabalho ponto.com. Ou pelo menos em teoria. A realidade era Como Enlouquecer seu Chefe.

Hoje, o situacionismo parece mais popular do que nunca, servindo como a justificativa mais recente para a cidade neoliberal. Ao invés de uma ideia mais ampla de um coletivo, o situacionismo luta pelo direito de não trabalhar (mas como viveremos? A Amazon fará remessas grátis após a revolução?).

Ao invés de convocatórias cansativas em prol de justiça social, o situacionismo demanda o direito à ludicidade ébria, ao jorro de semen sobre paralelepípedos. Tudo isso sua menos como Utopia e mais como Amsterdã, Dublin, Praga ou qualquer cidade europeua invadida por universitários americanos bêbados no verão.

Se um Debord embriagado teria aprovado, temo dizer que isso não parece liberação para mim, parece inferno".

Na perspectiva geopolítica mais ampla esses grupos da Nova Esquerda influenciados pelo situacionismo na verdade ampliaram o poder do capitalismo americano na Europa. O maio de 1968 quebrou a força do governo gaullista, que vinha afirmando sua independência em relação a OTAN e perseguindo políticas econômicas dirigistas que solapavam a força do capitalismo internacional. Devemos notar, de passagem, que o líder neoesquerdista David Cohn-Bendit tinha ligações com a CIA também. Como Alain de Benoist notou o maio de 68, longe de instilar disciplina revolucionária, promoveu a atomização individualista e a satisfação mercadológica de desejos hedonistas:

"O grande erro foi crer que ao atacar valores tradicionais eles poderiam lutar melhor contra a lógica do capital. Havia sido ignorado que estes valores, bem como o que restava de estruturas sociais orgânicas, constituía o último obstáculo para a expansão planetária dessa lógica. O sociólogo Jacques Julliard fez uma observação bastante correta sobre isso quando ele escreveu que os militantes de maio de 68, quando denunciavam valores tradicionais 'não notaram que estes valores (honra, solidariedade, heroísmo) eram, de forma bem próxima, os mesmos que os do socialismo, e ao suprimi-los, eles abriram caminho para o triunfo de valores burgueses: individualismo, cálculo racional, eficiência'.

Mas houve também outro maio de 68, de inspiração estritamente hedonista e individualista. Longe de exaltar uma disciplina revolucionária, seus partidários queriam acima de tudo 'proibir o proibir' e 'desfrute sem impedimentos'. Mas, eles rapidamente perceberam que isso não fazia uma revolução nem 'satisfazer estes desejos' os colocaria a serviço do povo. Ao contrário, eles compreenderam rapidamente que estes seriam mais garantidamente satisfeitos em uma sociedade liberal permissiva. Assim, todos eles naturalmente se bandearam para o capitalismo liberal, o que não foi, para a maioria deles, ausente de vantagens materiais e financeiras".

De modo geral, a Nova Esquerda continuou o trabalho do capitalismo ao reforçar os valores individualistas do Ocidente e removeu as últimas barreiras no caminho da dominação de desejos consumistas em todas as esferas da vida. Nas instâncias em que a Nova Esquerda ocidental se apaixonou por revolucionários do Terceiro Mundo, isso tomou a forma de um escapismo orientalista rumo a fantasias exóticas que não tinham nada em comum com as perspectivas de stalinistas convictos como Che Guevara ou Mao Zedong. A solidariedade de hippies americanos para com revolucionários camponeses vietcongues parece patentemente absurda. O Vietnã foi vencido em nome do coletivismo radical, da virtude militar ascética e da libertação nacional, não do libertinismo sexual e do ofender os próprios pais. É claro, pode-se notar exceções legítimas no meio da Nova Esquerda, como a Fração do Exército Vermelho, da Alemanha Ocidental, que realmente incorporou a disciplina exaltada por guerrilheiros até a morte.

Concluindo, podemos dizer que o espírito revolucionário da juventude foi sabotado pelos valores ocidentais contra os quais ele deveria estar travando um conflito revolucionário, nomeadamente individualismo, egoísmo, hedonismo, a recusa da autêntica disciplina revolucionária. O potencial revolucionário da juventude foi transformado em mais um mercado. O sofrimento e sacrifício de combatentes ao redor do mundo se tornaram acessórios para jovens alienados pavonear seu "individualismo", que na realidade não é nada além de conformismo à vasta gama de opções oferecidas pelo capitalismo. Outro sinal da degeneração da "Geração Eu". A verdadeira revolta vindoura deve necessariamente varrer essa falsa rebelião que satura a juventude ocidental, junto a todos os outros falsos valores do Ocidente.