Nove mil policiais fortemente armados incluindo esquipes da SWAT foram empregados em uma caçada humana para capturar um estudante de 19 anos de idade em U-Mass, depois que seu irmão Tamerlan Tsarnaev, o suposto terrorista da Maratona de Boston foi morto a tiros pela polícia supostamente após uma perseguição automobilística e um tiroteio.
Já antes da condução de uma investigação policial, o estudante de 19 anos já foi designado como "culpado". O princípio jurídico fundamental do "inocente até provado culpado" foi rasgado. Nas palavras do Presidente Obama (formado pela Harvard Law School), o estudante de 19 anos de Boston é "culpado" de crimes abomináveis (sem evidência e antes de ser acusado em uma corte de direito):
"Qualquer seja a agenda odiosa que moveu esses homens a tais atos abomináveis não vai, não pode, prevalecer. O que eles tenham pensado que poderiam alcançar, eles já falharam... Por que esses jovens que cresceram e estudaram aqui como parte de nossas comunidades e nossa nação recorreram a tamanha violência?"
Associado com as supostas cartas com antraz e ricina em Washington DC que misteriosamente apareceram logo após a tragédia de Boston, tanto Washington como a mídia tem enfatizado os tênues laços dos irmãos Tsarnaev com a insurgência jihadista militante da Chechênia.
Segundo o Wall Street Journal, citando opinião acadêmica especializada:
"...a origem chechena é talvez uma parte do que os leva a fazer o que fazem", disse Lorenzo Vidino, um especialista em militantes chechenos no Centro para Estudos de Segurança em Zurique... Um perfil na rede social russa Vkontakte que parece pertencer a Dzhokhar Tsarnaev inclui um vídeo de propaganda conclamando jihadistas a irem à Síria para lutarem junto aos rebeldes lá, citando dizeres do Profeta Maomé." [Amplamente documentado, acontece que os combatentes jihadistas estrangeiros na Síria são recrutados pelos EUA e seus aliados]
O que se quer dizer é que mesmo que os suspeitos não estejam ligados a uma rede extremista muçulmana, sua herança cultural e origem "muçulmana" os incita - muito naturalmente - a cometer atos de violência. como esse conceito - que rotineiramente associa muçulmanos com terrorismo - repetido ad nauseam nas redes de notícia ocidentais, afeta a mentalidade humana?
Enquanto a identidade e motivos dos suspeitos estão sendo atualmente examinados por investigadores policiais, os irmãos Tsarnaev já foram categorizados - sem qualquer evidência - como "radicais islâmicos".
Por todo o país, muçulmanos estão sendo insultados e demonizados. Uma nova onda de Islamofobia foi posta em movimento.
A Criação de uma Nova Lenda: "A Conexão Chechena"
Uma nova lenda se desdobra: "A Conexão Chechena" está ameaçando a América. O islamismo surgido na Federação Russa está sendo agora "exportado para a América".
Espalhados nos tablóides por todo os Estados Unidos, os atentados da Maratona de Boston de 15 de abril no Dia dos Patriotas estão sendo incansavelmente comparados ao 11 de setembro de 2001.
Segundo o Conselho de Relações Exteriores:
"Agências policiais em todos os níveis tem progredido em vigilância e policiamento desde os ataques de 11 de setembro de 2001, mas riscos de segurança ainda existem. Muitos especialistas em contraterrorismo pedem por um foco renovado na habilidade dos EUA em resistir e se recuperar de tais incidentes..."
Estaria a tragédia de Boston sendo utilizada por Washington para fomentar uma nova onda de medidas policiais públicas dirigidas contra diferentes categorias de "terroristas domésticos"?
Estaria esse evento catastrófico sendo aplicado para promover uma reação pública contra muçulmanos?
Estaria sendo usado para conquistar aceitação para a santa cruzada americana - iniciada durante a administração Bush - dirigida contra um número de países islâmicos, que supostamente "abrigam terroristas muçulmanos"?
Segundo o poderoso Conselho de Relações Exteriores (que exerce uma influência profunda tanto sobre a Casa Branco quanto sobre o Departamento de Estado), os atentados de Boston novamente "insuflam o espectro do terrorismo em solo americano, ressaltando as vulnerabilidades de uma sociedade livre e aberta".
Contraterrorismo e lei marcial - implicando a suspensão de liberdades civis - ao invés da execução do Direito Civil são as soluções propostas. Nas palavras do Secretário de Estado John Kerry, "Eu acho correto dizer que nessa semana inteira estivemos em um enfrentamento bastante direto com o mal".
O consenso da mídia de massa sendo gerado (incluindo o de Hollywood) é que a América está novamente sob ataque. Dessa vez, porém, os supostos perpetradores são "terroristas islâmicos" não do Afeganistão ou da Arábia Saudita, mas da Federação Russa:
"Se uma conexão entre os suspeitos do atentado e separatistas chechenos for estabelecida, isso marcaria a primeira vez que militantes da antiga república soviética teriam lançado um ataque mortal fora da Rússia. Insurgentes chechenos negam qualquer ligação ao atentado da maratona" - U.S. News
"A Conexão Chechena" se tornou incrustada em um novo consenso midiático. O solo americano é potencialmente ameaçado por terroristas islâmicos da Federação Russa, que possuem elos com a Al Qaeda.
Há também uma agenda de política externa por trás dos ataques. A Casa Branca sugeriu que se os "irmãos chechenos" tivessem ligações com o Islã radical, a administração "poderia expandir esforços de inteligência no exterior, bem como ampliar as medidas de vigilância e investigação nos Estados Unidos".
Ademais, a nova narrativa terrorista agora envolve jihadistas da Federação Russa ao invés do Oriente Médio.
Há implicações geopolíticas. Será que a Conexão Chechena será utilizada pela administração como um pretexto renovado para pressionar Moscou? Que tipo de propaganda midiática provavelmente emergirá?
Al Qaeda e a CIA
O público americano é iludido. Os relatórios da mídia cuidadosamente ignoram as origens históricas do movimento jihadista checheno e suas fortes ligações com a inteligência americana.
O fato é que o movimento jihadista é uma criação da inteligência americana, que também levou ao desenvolvimento do "Islã político". Enquanto o papel da CIA no apoio à jihad islâmica (incluindo a maioria das organizações afiliadas à Al Qaeda) é amplamente documentado, há também evidência de que o FBI secretamente equipou e incitou supostos terroristas dentro dos EUA (Ver James Corbett, The Boston Bombings in Context: How the FBI Fosters, Funds and Equips American Terrorists, Global Research April 17, 2013).
A agenda da CIA a partir do fim da década de 70 era recrutar e treinar jihadistas "combatentes da liberdade" (Mujahideen) para travar uma "guerra de liberação" dirigida contra o governo secular pró-soviético do Afeganistão.
A "Jihad Islâmica" (ou guerra santa contra os soviéticos) se tornou parte integral dos planos de inteligência da CIA. Ela era apoiada pelos EUA e pela Arábia Saudita, com uma parte significativa do financiamento gerada pelo tráfico de drogas do Crescente Dourado:
"Em março de 1985, o Presidente Reagan assinou a Decisão Diretiva de Segurança Nacional 166...[que] autorizava uma crescente ajuda militar secreta aos Mujahideen, e deixava claro que a guerra secreta afegã tinha um novo objetivo: derrotar as tropas soviéticas no Afeganistão pela ação encoberta e encorajar uma retirada soviética. A nova ajuda secreta americana começou com um aumento dramático no fornecimento de armas - um aumento crescente até chegar a 65.000 toneladas anualmente em 1987... bem como um "fluxo incessante" de especialistas da CIA e do Pentágono que viajaram para os quartéis-generais secretos da ISI paquistanesa na estrada principal próxima a Rawalpindi, Paquistão. Lá, os especialistas da CIA se encontraram com oficiais da inteligência paquistanesa para ajudar a planejar operações para os rebeldes afegãos". (Steve Coll, The Washington Post, July 19, 1992).
Mujahideen de um grande número de países muçulmanos foram recrutados pela CIA. Jihadistas das repúblicas islâmicas (e regiões autônomas) da União Soviética também foram recrutados. (Para uma análise mais extensa ver Michel Chossudovsky, Al Qaeda e a "Guerra contra o Terrorismo", Global Research, January 20, 2008).
Al Qaeda e a Jihad Chechena
A Chechênia é uma região autônoma da Federação Russa.
Entre os recrutas para treinamento especializado no início da década de 90 estava o líder da rebelião chechena Shamil Basayev que - imediatamente após a Guerra Fria - liderou a primeira guerra secessionista chechena contra a Rússia.
Durante seu treinamento no Afeganistão, Shamil Basayev se associou ao veterano mujahideen saudita o Comandante "Al Khattab" que lutou como voluntário no Afeganistão. Poucos meses após o retorno de Basayev a Grozny, Khattab foi convidado (início de 1995) a organizar uma base militar na Chechênia para o treinamento de combatentes mujahideen. Segundo a BBC, a transferência de Khattab para a Chechênia havia sido "arranjada através da International Islamic Relief Organization, uma organização religiosa militante, financiada por mesquitas e indivíduos ricos que canalizavam fundos para a Chechênia". (BBC, 29 de setembro 1999).
A evidência sugere que Shamil Basayev tinha elos com a inteligência americana desde o final da década de 80. Ele esteve envolvido no golpe de Estado de 1991 que levou à desintegração da União Soviética. Ele esteve subsequentemente envolvido na declaração unilateral de independência da Chechênia da Federação russa em novembro de 1991. Em 1992, ele liderou uma insurgência contra combatentes armênios no enclave de Nagorno-Karabakh. Ele também esteve envolvido na Abkhazia, a região separatista da Geórgia de maioria muçulmana.
A primeira Guerra da Chechênia (1994-1996) foi travada imediatamente após o colapso da União Soviética. Era parte de uma operação secreta americana para desestabilizar a Federação russa. A Segunda Guerra da Chechênia foi travada em 1999-2000.
Falando de modo geral as mesmas táticas terroristas de guerrilha aplicadas no Afeganistão foram implementadas na Chechênia.
Segundo Yossef Bodansky, diretor da Força-Tarefa sobre Terrorismo e Guerra Não-Convencional do Congresso americano, a insurgência na Chechênia havia sido planejada durante uma reunião secreta da HizbAllah International realizada em 1996 em Mogadishu, Somália. (Levon Sevunts, "Who's Calling the Shots? Chechen conflicts finds Islamic roots in Afghanistan and Pakistan", The Gazette, Montreal, 26 de outubro 1999).
"É óbvio que o envolvimento da ISI paquistanesa na Chechênia 'vai muito além de fornecer os chechenos com armas e especialistas: a ISI e seus proxies radicais islâmicos estão na verdade dando as ordens nessa guerra".
A ISI está em contato permanente com a CIA. O que essa afirmação significa é que a inteligência americana usando os Inter-Serviços de Inteligência do Paquistão (ISI) como intermediária estava dando as ordens na Guerra da Chechênia.
A principal rota de oleodutos da Rússia passa pela Chechênia e Daguestão. Apesar de Washington condenar o "terrorismo islâmico", os beneficiários das guerras na Chechênia foram os conglomerados petrolíferos anglo-americanos que estavam competindo pelo controle completo do petróleo e dos corredores de oleodutos da bacia do Mar Cáspio.
Os dois principais exércitos rebeldes (que à época eram liderados pelo Comandante Shamil Basayev e Emir Khattab), estimados em 35.000 homens, eram apoiados pela CIA e sua contraparte paquistanesa a ISI, que desempenhou um papel fundamental em organizar e treinar o exército rebelde checheno:
"Em 1994 os Inter-Serviços de Inteligência do Paquistão [em contato com a CIA] arranjaram para que Basayev e seus tenentes de confiança passassem por uma doutrinação islâmica intensiva e por treinamentos em tática de guerrilha na província de Khost no Afeganistão, no campo Amir Muawia, organizado no início da década de 80 pela CIA e pela ISI e comandando pelo famoso chefe afegão Gulbuddin Hekmatyar. Em julho de 1994, após se graduar em Amir Muawia, Basayev foi transferido para o campo Markaz-i-Dawar no Paquistão para passar por um treinamento em táticas de guerrilha avançadas. No Paquistão, Basayev se encontrou com os oficiais militares e de inteligência do Paquistão de mais alta hierarquia: o Ministro de Defesa General Aftab Shahban Mirani, o Ministro do Interior General Naserullah Babar, e o chefe do departamento da ISI encarregado de apoiar causas islâmicas o General Javed Ashraf (todos eles aposentados hoje em dia). Conexões no alto escalão logo se provaram muito úteis para Basayev". (Ibid).
Após seu treinamento e doutrinação, Basayev foi designado para liderar o ataque contra as tropas federais russas na Primeira Guerra da Chechênia em 1995. Sua organização também desenvolveu elos extensivos com sindicatos criminosos em Moscou bem como laços com o crime organizado albanês e a KLA. (Vitaly Romanov e Viktor Yadukha, "Chechen Front Moves to Kosovo", Segodnia, Moscow, 23 fevereiro 2000).
A insurgência chechena modelada segundo a jihad financiada pela CIA no Afeganistão também serviu como modelo para diversas intervenções militares orquestradas pelos EUA e pela OTAN, incluindo a Bósnia (1992-1995), Kosovo (1999), Líbia (2011) e Síria (2011 - ).
Rebeldes Chechenos: Operação Americana Secreta para Desestabilizar a Federação Russa
A Guerra da Chechênia de 1994-1996, instigada pelos principais movimentos rebeldes contra Moscou, serviu para solapar as instituições públicas seculares. A adoção da lei islâmica nas sociedades muçulmanas majoritariamente seculares da ex-URSS servia aos interesses estratégicos americanos na região.
Um sistema paralelo de governo local, controlado pela milícia islâmica, havia sido implantado em muitas localidades da Chechênia. Em algumas das pequenas aldeias e vilas, cortes da Sharia Islâmica foram estabelecidas sob um reino de terror político.
"Ajuda financeira da Arábia Saudita e dos países do Golfo para os exércitos rebeldes dependiam da instalação de cortes da Sharia, apesar da forte oposição da população civil. O Juiz Principal e Emir das cortes da Sharia na Chechênia era o Sheikh Abu Umar, que 'veio para a Chechênia em 1995 e se uniu às fileiras dos Mujahideen lá sob a liderança de Ibn-ul-Khattab. ... Ele começou a ensinar o Islã com a Aqeedah correta para os mujahideen chechenos, muitos dos quais mantinham crenças incorretas e distorcidas sobre o Islã'." (Global Muslim News, dezembro de 1997).
O movimento wahabi da Arábia Saudita estava não apenas tentando se apoderar das instituições civis públicas no Daguestão e na Chechênia, como também buscava expulsar os líderes sufi tradicionais. De fato, a resistência as rebeldes islâmicos e combatentes estrangeiros no Daguestão estava baseada na aliança entre governos locais (seculares) com os sheikhs sufi:
"Esses grupos [wahabi] consistem de uma minúscula porém bem armada e financiada minoria. Eles pretendem com esses ataques a criação de terror no coração das massas... Ao criarem anarquia e ilegalidade, esses grupos podem impor sua própria versão dura e intolerante do Islã... Tais grupos não representam a visão comum do Islã, mantida pela vasta maioria dos muçulmanos e dos estudiosos islâmicos, para os quais o Islã exemplifica um exemplo de civilização e moralidade aperfeiçoadas. Eles representam o que é nada menos que um movimento rumo à anarquia sob um rótulo islâmico. ...Sua intenção é não tanto criar um Estado Islâmico, mas criar um estado de confusão no qual eles possam prosperar." (Mateen Siddiqui, "Differentiating Islam from Militant 'Islamists'" San Francisco Chronicle, 21 setembro 1999).
A Segunda Guerra da Chechênia foi iniciada por Vladimir Putin em 1999, com o objetivo de consolidar o papel do governo central e derrotar os terroristas chechenos financiados pelos EUA contra a Federação Russa.
"Falsas Bandeiras"
O suspeito de 19 anos de idade está sendo usado como bode expiatório. Ele nem mesmo nasceu na Chechênia. Enquanto ele e seu irmão não tinham qualquer conexão com o movimento jihadista, a mídia americana está cuidadosamente construindo uma "Conexão Chechena" apontando para um padrão comportamental inerente associado a muçulmanos:
"Os irmãos passaram 10 anos nos EUA durante um período formativo de suas vidas, exibindo comportamento normal para imigrantes de primeira geração, disse Mitchell Silber, um ex-oficial de inteligência no Departamento de Polícia de Nova Iorque. "A questão é, o que catalizou a mudança? Foi o nacionalismo checheno? Teria começado com o nacionalismo checheno e de alguma forma migrado para uma causa jihadista pan-islamista?" (Renewed Fears About Homegrown Terror Threat", WSJ April 20, 2013).
Há evidência, porém, do testemunho de familiares de que os irmãos Tsarnaev estavam no radar do FBI por muitos anos antes dos atentados de Boston e foram objeto de constantes ameaças e assédios. Confirmado pelo Wall Street Journal, o FBI havia "entrevistado" Tamerlan Tsarnaev em 2011. (Ibid)
O que é abundantemente claro é que o governo americano não está comprometido com o combate a terroristas.
Muito pelo contrário. A inteligência americana tem recrutado e treinado terroristas por mais de trinta anos, enquanto ao mesmo tempo sustenta a noção absurda de que esses terroristas, que são "recursos de inteligência" bona fide da CIA, constituem uma ameaça a solo americano. Essas supostas ameaças por "Um Inimigo Externo" são parte de uma manobra de propaganda por trás da "Guerra Global ao Terrorismo".
Qual é a Verdade?
O desenvolvimento de uma milícia terrorista islâmica em diferentes países ao redor do Mundo é parte de um intrincado projeto de inteligência americana.
Enquanto os irmãos Tsarnaev são casualmente acusados sem evidência de terem elos com terroristas chechenos, a questão importante é quem está pro trás dos terroristas chechenos?
Em uma lógica completamente distorcida, os protagonistas da "Guerra Global ao Terrorismo" dirigida contra muçulmanos são os arquitetos de facto do "terrorismo islâmico".
A Mentalidade da "Guerra Global ao Terrorismo"
A mentalidade da "guerra ao terrorismo" constrói um consenso: milhões de americanos são levados a crer que um aparato policial militarizado é necessário para proteger a democracia. Pouco percebem que o governo americano é a principal fonte de terrorismo tanto nacionalmente quanto internacionalmente.
A mídia corporativa é o braço de propaganda de Washington, que consiste em retratar muçulmanos como uma ameaça à segurança nacional.
Nesse ponto de nossa história, na encruzilhada de uma crise econômica global e uma crise social, os atentados de Boston desempenham um papel fundamental. Eles justificam o Estado de Segurança Nacional.
O Estado de Polícia que está se desenvolvendo é assim defendido como meio de proteger liberdades civis. Sob a desculpa do contraterrorismo, execuções extrajudiciais, a suspensão do habeas corpus e a tortura são consideradas como meios de defender a Constituição americana.
Ao mesmo tempo, os terroristas - criados e apoiados pela CIA - são usados para participar em atos terroristas de "falsa bandeira" com o objetivo de justificar uma cruzada militar global contra países muçulmanos, os quais por acaso são economias produtoras de petróleo.
"Eventos Causadores de Baixas Massivas"
O ex-Comandante da CENTCOM, General Tommy Franks, que liderou a invasão do Iraque em 2003, delineou um cenário do que ele escreve como um "evento causado de baixas massivas" em solo americano, (um segundo 11/9). Implicada na afirmação do General Franks estava a noção e crença de que mortes civis eram necessárias para aumentar a consciência e arrebanhar apoio público para a "guerra global ao terrorismo".
"Um evento terrorista produtor de baixas massivas ocorrerá em algum lugar no mundo ocidental - pode ser nos Estados Unidos da América - que faça com que nossa população questione nossa própria Constituição e comece a militarizar nosso país de modo a evitar que um outro evento produtor de baixas massivas ocorra". (General Tommy Franks Interview, Cigar Aficionado, Dezembro 2003).
Ainda que os atentados de Boston sejam de uma natureza completamente diferente do "evento catastrófico" aludido pelo General Tommy Franks, a administração parece, não obstante, estar comprometida com a lógica de "militarizar nosso país" como meio de "proteger a democracia".
Os eventos de Boston já estão sendo usados para galvanizar apoio público para um aparato doméstico contraterrorista ampliado. Este seria implementado paralelamente a assassinatos extrajudiciais contra assim chamados "terroristas nativos auto-radicalizados":
"A política contraterrorista americana tem desde 2001 focado principalmente em matar terroristas no exterior ou em impedi-los de entrar nos EUA. Mas os atentados de Boston demonstram como a difusão de táticas terroristas facilmente transcende fronteiras. Combater pequenos grupos de indivíduos dentro dos EUA pode ser uma missão importuna.
Bruce Ridel, diretor do Projeto de Inteligência no Instituto Brookings, um think tank apartidário de Washington, disse que o ataque de Boston era provavelmente um precursor. "Nós provavelmente veremos essa como a face futura das ameaças terroristas aos EUA", ele disse, acrescentando que o caso de um pequeno número de participantes radicalizados que vivem nos EUA e executam um plano é "o pior pesadelo da comunidade contraterrorista, terrorismo nativo, auto-radicalizado, que adquire suas habilidades pela internet". (WSJ, Abril 20, op cit).
O "evento causador de baixas massivas" foi defendido pelo General Franks como uma reviravolta política crucial.
Constituiriam os atentados de Boston um ponto de transição, um divisor de águas que finalmente contribui para a gradual suspensão do governo constitucional?