25/03/2025

Nicolas Bonnal - Hugo e Nietzsche e o Encolhimento da Humanidade

 por Nicolas Bonnal

(2024)


 

Descobrimos Noventa e Três graças ao texto de um camarada espanhol; e essa sensacional tirada do verdadeiro herói do filme (sic), o marquês de Lantenac. Tudo isso nos lembra que Victor Hugo é um dos maiores gênios do mundo, e que O Homem que Ri, que inspirou o Coringa de Batman (nada menos), é o romance preferido de Ayn Rand e de todos aqueles que sonham com histórias fantásticas e expressionistas (revendo o Quinta-Feira de Chesterton e descobrindo a sensacional adaptação de Paul Leni, nos tempos heróicos do cinema mudo). Lantenac anuncia o essencial: a França vai se tornar pequena.


19/03/2025

Luca Valentini - Quando em Elêusis Dioniso renascia em Apolo

 por Luca Valentini

(2011)


A consciência, aquela de uma dimensão inteligível, de uma Unidade primária que não pode de forma alguma ser analisada nem considerada com as referências profanas da existência humana, ou seja, utilizando os parâmetros de tempo e espaço ou de volume, sempre assumiu consigo a ideia simbólica de uma queda, de um colapso, de um desmembramento, mas com uma consequente renascença, uma heróica afirmação de poder, de vontade dominadora que reconduz o múltiplo à Unidade primordial. Tais realidades tiveram como manifestação aristocrática o mundo um tanto quanto críptico, intencionalmente e significativamente oculto, dos Mistérios Antigos, que, através de suas muitas e diversificadas formas – desde os órficos aos egípcios, passando pelos mais celebrados de Elêusis, até os solares, imperiais e estatais de Mitra – e através dos diversos autores que nos legaram suas mitologias de base e as experiências vivas, embora limitadas pelo status iniciático e reservado dos próprios mistérios, explicitaram uma origem comum transcendente, uma referência arquetípica comum, portanto, um objetivo mágico-realizador semelhante. Não é casual, a estreita correlação mitológica que se pode instituir entre diferentes ramos da misteriosofia, que tinham diferentes divindades de referência, mesmo e sobretudo pelas diferentes tradições a que pertenciam, mas com funções simbólicas semelhantes, como, por exemplo, acontecia nas iniciações egípcias e nas eleusinas: “Dioniso também foi filho de Zeus, e teve como mãe Sêmele; ele foi o mesmo que Osíris entre os egípcios, e Baco entre os romanos; e por isso o chamarei indistintamente de Dioniso, Baco e Osíris” [1]. 

16/03/2025

Aleksandr Dugin - Sobre o Neopaganismo e o Satanismo da Ciência Moderna

 por Aleksandr Dugin

(2024)


 

O conceito de "pagão" tem origem no Antigo Testamento. Em russo, os "gentios" eram chamados de povos. Os judeus antigos usavam o termo "am" (עם) para descrever a si mesmos e "goy" (גוי) para descrever outras nações. Judeus = o povo, sendo um (escolhido), enquanto as “línguas” das nações são muitas. Assim, os judeus adoravam um único Deus e acreditavam que todas as outras nações (línguas) adoravam muitos deuses. Daí a identificação do termo “língua” (goy) com os politeístas idólatras (os gregos têm uma palavra semelhante, ειδολολάτρης). Em latim, o termo correspondente é gentilis, derivado de gēns, "povo", "clãs", "nações". Esse significado foi adotado pelos cristãos, e agora a oposição não era entre os judeus e todos os outros, mas entre as nações cristãs, que representavam a Igreja de Cristo, a "nação santa" (ὁ ἱερὸς λαὸς), e os povos e culturas que adoravam muitos deuses, chamados "pagãos". Na verdade, as próprias nações cristãs eram pagãs até aceitarem Cristo. E aquelas nações que não o aceitaram continuaram adorando muitos deuses (ειδολολάτρης).

07/03/2025

Naif Al Bidh - Pseudomorfose Cultural e a Tragédia da Alma Russa

 por Naif al Bidh

(2024)



Seguindo a biologia, a mineralogia é provavelmente a segunda disciplina mais influente na filosofia da história de Spengler. A partir dela, o autor toma emprestada a noção de pseudomorfose, um fenômeno em que um mineral sofre uma substituição total por um mineral estranho, o que eventualmente leva a uma formação falsa. Isso geralmente ocorre quando fissuras e fendas aparecem nas camadas, permitindo que a água infiltre e remova o cristal ou mineral original, deixando para trás apenas a forma do respectivo mineral. Após erupções vulcânicas, o magma permeia as rachaduras e eventualmente cristaliza em novos minerais, resultando em uma formação falsa, onde a forma do mineral original permanece, mas é substituída por um mineral estranho. O resultado final é uma forma distorcida, onde a estrutura interna não tem nenhuma ligação orgânica com a forma externa. A partir disso, Spengler cunha o termo "pseudomorfose histórica" para descrever casos em que uma cultura madura sobrepuja uma cultura mais jovem de maneira hegemônica, a tal ponto que a cultura emergente luta para crescer e realizar seu potencial, propósito, destino e alma. O tema da tragédia desempenha um papel crucial dentro da narrativa de Spengler, e provavelmente não há outro conceito que reflita melhor esse elemento trágico nos escritos de Spengler do que a noção de pseudomorfose, como iremos demonstrar. Também é importante acrescentar que, através de sua concepção de pseudomorfose, Spengler reafirma sua posição como um historiador que rejeita qualquer abordagem eurocêntrica da história mundial, adotando uma posição de relativismo cultural. Finalmente, a beleza da pseudomorfose histórica é que ela encarna a simpatia que Spengler possuía por muitas culturas não ocidentais, uma vez suprimidas pelas correntes hegemônicas de uma cultura estrangeira mais antiga, agarrada à vida por desespero.

05/03/2025

Pierre Le Vigan - Heidegger: O Médico da Modernidade

 por Pierre Le Vigan

(2024)


Heidegger (1889-1976) continua no centro das preocupações do nosso tempo. O livro de Baptiste Rappin Heidegger et la question du management – um gestor que vai muito além do mundo empresarial – é uma prova disso. Assim como a influência de Heidegger no pensamento do falecido Pierre Legendre ou em Michel Maffesoli. Em outras palavras, Heidegger é inatual, o que lhe permite continuar sendo atual. O padre jesuíta William John Richardson (1963) distinguiu um primeiro Heidegger, até 1927, com a publicação de Ser e Tempo, de um segundo Heidegger, posterior a 1927. Essas periodizações não são inúteis, pois indicam uma mudança de perspectiva, principalmente porque Ser e Tempo está inacabado, e Heidegger considerou mais prudente modificar seu ângulo de visão, em vez de tentar completá-lo a partir de uma posição que já não era inteiramente sua. Foi o clássico passo ao lado que os grandes intelectuais deram. No entanto, uma mudança de perspectiva não exclui a constância de alcançar o mesmo objetivo. Esse objetivo é pensar sobre o que, em termos “acadêmicos”, chamamos de diferença ontológica. Em termos mais correntes, é o abismo, a "boca da sombra", a ameaça do nada, a consciência da presença do nada e o dever singular de encará-la sem se afundar nela. Como nos lembra Antoine Dresse, os antimodernos são frequentemente tão modernos que não têm ilusões sobre os ideais da modernidade. O que caracteriza Heidegger é seu repúdio ao niilismo, sem negar por um momento a realidade de sua ameaça.

03/03/2025

Giandomenico Casalino - A Visão Espiritual da Vida e a Ideologia Moderna

 por Giandomenico Casalino

(2013)


O que distingue RADICALMENTE a nossa concepção de cultura, em sentido lato, daquela dominante, que é iluminista e, portanto, racionalista e individualista, é precisamente o fato de que, para nós, a cultura é essencialmente uma VISÃO DA VIDA E DO MUNDO (Weltanschauung) que está presente em um ser humano desde o nascimento como uma potencialidade a ser desenvolvida, como forma interna, como caráter, que não se adquire nos livros (nossa cultura não é livresca!…); ela é viva como a vida, é alma e sangue, é sexo e paixão, é intelecto e sentimento, é o sentido REAL do mundo, sua visão concreta. E a cultura platônico-aristotélica, portanto, é algo que nenhum “professor” jamais ensinará, é algo que precisa ser RECORDARDADO, porque o homem moderno (digamos, de Descartes em diante…) ESQUECEU.

O que é necessário lembrar? É simples: o que as drogas ideológicas modernas impediram que nossa mente, nosso espírito e nossos olhos vissem, assim como nossos sentidos percebessem (para Platão, o olho quase não é um dos sentidos, mas a janela da alma para o mundo); lembrar que o mundo é um entrelaçamento, uma trama de microcosmos e macrocosmos que possuem todos o mesmo tecido, ou seja, a mesma lei, o mesmo logos, que é a forma, tanto no infinitamente pequeno quanto no infinitamente grande (da galáxia ao átomo, da célula ao organismo, tanto animal quanto vegetal e mineral). E que a forma emerge de um campo gravitacional quântico muito semelhante à chòra de Platão como matriz cósmica.