por Francesco Dalmazio Casini
(2019)
"Soberanismo" é uma palavra que agora pode ser encontrada ininterruptamente nas manchetes dos jornais mais importantes do mundo ocidental, no entanto, em meio a mistificações, críticas e apologias, a definição desta categoria política continua a parecer elusiva e polimórfica. Há aqueles que acusam os soberanistas de perigosas tendências autocráticas e aqueles que, por outro lado, tentam reconduzi-los dentro das categorias históricas de direita e esquerda. Uma análise politológica do fenômeno, no entanto, não pode deixar de definir este conjunto de formações políticas através da lente da Identidade, o verdadeiro fulcro do movimento, que une os soberanistas do Bel Paese [Itália] a São Paulo no Brasil, de Londres a Paris.
Embora os movimentos nacionalistas soberanistas pareçam fortemente caracterizados nas suas propostas práticas pela condição do país a que pertencem, uma coisa todos têm em comum, que é o retorno de uma perspectiva factual baseada no instinto político da comunidade nacional. O fenômeno político, como o descreveu o jurista e filósofo alemão Carl Schmitt, se verifica onde e quando um grupo humano se reconhece em uma afirmação existencial de sua própria forma de existência. Neste sentido, o político representa a consciência, por parte de uma comunidade de pessoas, de formar um grupo distinto, que responde à definição do "nós", em oposição a outros grupos humanos, que constituem a esfera do "outro". O soberanismo, em suma, leva a humanidade de volta àquela dialética entre amigo e inimigo que as teorias internacionalistas têm tentado, com pouco sucesso, apagar, onde - lembrem-se - o inimigo não representa necessariamente algo a combater e muito menos a desprezar, mas simplesmente o resultado de um processo de reconhecimento que identifica algo de outro, de estranho.
Reconhecer uma comunidade de valores distinta constitui, além do centro da instância soberanista, a razão de uma oposição implícita entre o soberanismo e o horizonte liberal. A grande Humanitè indistinta dos philosophes está se fragmentando em segmentos que encontram seu fator definidor naquelas identidades culturais que há muito se tenta cancelar. No horizonte da comunidade que se define a partir de uma convergência de valores e intenções se reconstitui, ainda de maneira inconsciente, a esfera pública da política, o conceito de interesse nacional, o senso comunitário e não exclusivamente individual da liberdade, em uma única palavra, o demos. Como muitos já salientaram, em primeiro lugar Schmitt, Mouffe e De Benoist, a democracia não se baseia na liberdade individual dos cidadãos, mas na homogeneidade de valores e na igualdade substancial do corpo cívico. A democracia é esse sistema - a antiguidade nos ensina bem - que só existe onde ocorre a homogeneidade dos indivíduos em um povo e, portanto, onde o fenômeno político existe. O conceito de vontade do povo, fundamento da democracia, não pode existir de maneira cindida de uma esfera pública e distinta.
Neste sentido, é o soberanismo que é, especialmente na sua manifestação populista, democrático de forma radical, enquanto que é o lado liberal-progressista que mostra tendências perigosamente autoritárias. São as chamadas forças liberais que são os principais atores na desvalorização da democracia, enquanto artífices da migração do poder dos Estados para organismos transnacionais e grandes atores não estatais, como as multinacionais e os fundos de investimento. A crítica que aproxima o Soberanismo aos totalitarismos do passado, que desfruta exclusivamente da abordagem esteticamente mais musculosa do soberanismo, não é algo substancial, mas exclusivamente narrativa. A narrativa progressista, agora muito capaz de destruir o adversário através de uma reductio às páginas negras da nossa história, continua a ser a narrativa dominante e, apesar da desconexão flagrante da elite que a teceu em relação à comunidade nacional, é (e será) ainda decisiva nos equilíbrios políticos futuros.
Mais do que nunca, do lado soberanista, existe necessidade de conquistar posições narrativas a partir das quais pintar a imagem real do soberanismo, ou seja, a de ser a única defesa contra a desvalorização do conceito democrático. O pressuposto fundamental continua sendo a construção de uma classe, dirigente e intelectual, que possa pôr em prática uma contra-hegemonia, atacando finalmente o grande reduto cultural da esquerda progressista, esculpindo espaços cada vez mais amplos. Uma parte construens, em suma, à qual devemos acrescentar uma parte destruens, com a crítica sistemática das razões progressistas, que traga à luz do sol o perigo para a democracia que esta elite líquida dos "sem pátria" representa, indo desmascarar o que, para a maioria dos europeus de hoje, não passam de pesadelos disfarçados de sonhos.