por Alain Soral
(2007)
Desde da eleição de Sarkozy, parece ter sido provado que não há esquerda nem direita. Mesmo que a abertura à esquerda do governo Fillon seja na realidade a união sagrada dos liberal-atlantistas, é claro que não há mais muita diferença - tanto em termos de economia quanto de questões sociais - entre a esquerda burguesa-boêmia do Partido Socialista e a direita liberal pseudo-securitária de um Sarkozy.
Se para os esquerdistas, Sarkozy é um homem de direita (porque se diz securitarista, o que é lhe fazer uma propaganda que ele não merece: o seu securitarismo se aplica apenas à pequena burguesia branca dos automobilistas!), para os da direita nacional, Sarkozy é um homem de esquerda: "direitos humanos" e defesa dos “imigrantes ilegais”, na melhor das hipóteses uma espécie de Tony Blair francês...
Na verdade, podemos dizer hoje que os políticos do Sistema estão todos à esquerda (todos a favor do ius soli, do casamento gay...), ou todos à direita (todos aliados à dominação política integral da economia de mercado... ou da economia de mercado integral, o que dá na mesma!). Mas esta confusão entre esquerda e direita também vem da confusão das suas definições. Confusão das suas definições: de esquerda, de direita... o que nos leva a lembrar que existem duas formas de definir esquerda e direita.
Primeiro, historicamente, há a definição de direita que nos vem do Antigo Regime. Definição que vê na direita: os valores positivos de honra, de moral, de respeito pelos mais velhos e pela hierarquia...
A esquerda sendo então a destruição desses valores pelo liberalismo emergente, liberalismo emergente que transbordará na Revolução Francesa... O liberalismo, seus valores de cálculo amoral e sua destruição da Ordem antiga deve, portanto, ser considerado em boa lógica como o Mal e como a esquerda... O que alguns homens, que se acreditam da direita tradicional, tendem a esquecer, é que se mobilizando sistematicamente pelo liberalismo, pensam estar cumprindo seu dever como homens de direita. Penso, particularmente, no incoerente Jean-François Touzé...
Depois há a definição de esquerda que nos vem do marxismo e da Revolução de Outubro, para quem, o que define esquerda e direita é a relação Capital/Trabalho... É de esquerda aquilo que favorece o Trabalho. É de direita aquilo que favorece o Capital. De acordo com esta definição bem compreendida: um patrão de pequena ou média empresa hoje está, portanto, à esquerda, uma vez que está do lado do trabalho produtivo. Um acionista da MEDEF está, ao contrário, à direita, já que está do lado da renda, da exploração e do parasitismo, tal como o mauricinho ocioso, seja ele um esquerdista ou um recebedor de benefícios profissional.
Notar-se-á de passagem que os valores da Revolução Francesa - formalmente de esquerda, uma vez que se baseiam em um igualitarismo abstrato e declarativo, mas praticamente de direita, desde o triunfo do liberalismo emergente - não permitem um corte claro entre os dois campos: de esquerda como o povo, ou de direita como a burguesia? Isto facilita ainda mais a confusão francesa...
Deste primeiro esclarecimento sobre esquerdas e direitas, já podemos concluir que um "movimento popular" que defenda tanto os valores morais como o mundo do trabalho é de direita, segundo a primeira definição, e de esquerda, de acordo a segunda, o que não significa que já não haja esquerda nem direita, e muito menos que tudo seja igual. Mas que existe uma direita moral que é, se pensarmos bem, a condição da esquerda econômica e social. E, inversamente, uma esquerda amoral que provou ser a condição ideológica da direita econômica na sua versão mais recente e mais brutal. Observação que nos leva ao Maio de 68, à sociedade de consumo e ao famoso liberalismo libertário...
Um liberalismo libertário que nada mais é do que a esquerda societária - hoje chamada "esquerda burguesa-boêmia" - a serviço da direita empresarial, para destruir tanto a esquerda social como a direita moral que constituíam a França antes de maio de 68, e cuja origem remonta ao CNR (o famoso Comitê Nacional da Resistência), o que nos afasta bastante de Pétain e da Colaboração. Um liberalismo libertário cujo papel era destruir ao mesmo tempo:
* a esquerda social encarnada à época pelo PCF;
* e a direito moral, encarnada na mesma época por De Gaulle e seu mundo de valores da cultura maurrassiana.
Uma dupla destruição a serviço do poder do dinheiro que explica muito bem o incrível sucesso político e social dos chamados párias do Maio de 68!
Para os ajudar a compreender melhor este famoso liberalismo libertário - chave para compreender tudo o que se passa na França e na política há 40 anos: seja esta história da falsa esquerda, ilustrada hoje por Besancenot, e da verdadeira direita atlanto-liberal, hoje encarnada por Sarkozy, uma direita antinacional muitas vezes muito mal compreendida pela direita nacional... Vou citar para vocês em extenso um excelente texto escrito por mim e publicado no meu excelente livro Quão baixo vamos descer? Este livro está à venda nesta sala pela modesta quantia de 13 euros (como se o mundo não fosse tão mal feito). Um texto explicativo que também esclarecerá o espantoso sucesso do assim chamado revolucionário Daniel Cohn-Bendit, avô do nosso atual revolucionário Besancenot! O Sistema tem sempre sob o cotovelo um falso revolucionário de reserva!
Daniel Cohn-Bendit, Ícone Liberal-Libertário
Ícone indelével do esquerdista privilegiado, Daniel Cohn-Bendit define a si mesmo como um liberal-libertário. Mas o que significa liberal-libertário? Para o amável leitor do Libération, ele é um homem liberal com tendências libertárias, um humanista um pouco anarquizante, em suma, um cara cool. Correndo o risco de não me fazer passar por um tipo divertido, vou acrescentar que "liberal-libertário" designa também, e acima de tudo, um posicionamento político e social.
O liberal-libertário admite que é liberal no plano da produção: a favor do liberalismo econômico, como qualquer burguês clássico (isto é, nem socialista nem fascista, que são duas formas de economias dirigidas); mas também libertário no plano da moral, que é um distanciamento em relação ao burguês clássico, cuja ética do empreendimento e da poupança atuava como um freio à ociosidade e ao consumo. O liberal-libertário é, portanto, literalmente um burguês que não se importa com a moralidade burguesa.
Mas "liberal-libertário" não se refere apenas a uma sensibilidade política, é também, a nível coletivo, um modelo de sociedade particularmente brutal. Uma sociedade, ao mesmo tempo, “cool” com o consumidor - a proibição moral não impede o seu desejo de consumir tudo o que a sociedade de consumo lhe oferece - mas dura com o produtor - cujo emprego é precário, cujo salário é cortado pelo neoliberalismo globalizado.
Agora, um mecanismo facilmente compreensível, quanto mais o indivíduo é aliviado do peso da produção porque ele é o seu beneficiário (rentista, animador patrocinado da sociedade do espetáculo) mais ele pode tanto encontrar encanto na sociedade liberal quanto se deixar passar à sua mentalidade libertária. Por outro lado, quanto mais o indivíduo está sujeito à dura realidade da produção, mais o seu desejo libertário de desfrutar sem entraves (sexo, drogas, pessoas...) é dificultado pela sua condição - quão generalizada! - de pequeno assalariado precário com um poder de compra limitado (cuja realidade é antes: metrô-trabalho-cama).
A atitude liberal-libertária é assim, na realidade, a situação objetiva daquele que tem pouco ou nada a produzir para consumir, que pode, portanto, encontrar todo o seu encanto no liberalismo do qual é beneficiário, e que não quer ver a moralidade da produção colocar um freio à sua liberdade de abusar dessa posição privilegiada. Daí esta facilidade, este sorriso permanente de Daniel Cohn-Bendit - a mesma felicidade de rentista que encontramos no rosto de Jean d'Ormesson, mas que não é novo, nem de esquerda.
Talvez os leitores ingênuos do Libération, que por um momento despertaram de seu torpor por essa análise árida, entendam melhor porque esse rentista da subversão, esse libertário a serviço do liberalismo, na verdade nunca incomodou ninguém - exceto os professores que ele desacreditou e os assalariados em cujas costas ele prospera sem nunca ter trabalhado. Porque, de fato, ele agrada tanto ao Poder, e tudo nele será perdoado: a mascarada vermelha, o confusionismo verde, até mesmo a apologia da pedofilia... E acrescentarei para atualizar esta análise que vale a pena algumas nuances para o pequeno Besancenot, este novo colaborador da globalização de que tanto gosta Michel Drucker e toda a burguesia dos negócios, o que é estranho para um revolucionário anticapitalista... mas não tanto se se compreende bem para que ele serve!
À luz desta análise, qual é a base comum entre a direita nacional dos valores e a direito liberal do lucro? Eu diria que nenhuma, além da pretensão ao domínio político por parte de dois grupos sociais, que de fato são irreconciliáveis, um baseado em uma ordem moral e na hierarquia natural do mundo antigo, o outro no amoralismo integral e moderno da lei do lucro, porta aberta a todo tipo de arrivismo, toda a decadência e todas as mobilidades sociais... Uma união de dois grupos com pretensões dominadoras onde o primeiro, que não tem meios para o fazer, se coloca a serviço do segundo, que não partilha nenhum dos seus valores... Os liberais usam os conservadores, que eles historicamente derrotaram e expulsaram do poder, como idiotas úteis para guardar o poder contra o povo. Na prática? É o burguês frentista da região Provença-Alpes-Costa-Azul que vota em Sarkozy como votou ontem no velho Le Pen, para, pensou ele, acabar com a bagunça, e que no final termina com Cécilia Attias e depois Carla Bruno, Kouchner e Attali sem esquecer os inenarráveis Rama Yade e Rachida Dati! Em termos de união das direitas, estamos assistindo à eterna manipulação da respeitável direita dos valores pelo mundo do dinheiro, vindo, vos lembro, da esquerda histórica... Uma união que também podemos qualificar mais vulgarmente como a união entre o cafetão e o corno!
Cabe a você decidir se quer fazer parte desta direita ou não! Agradeço-lhes por me ouvirem e aguardo as suas perguntas, perguntas necessariamente breves, respeitosas e relevantes!