31/10/2020

Aleksandr Dugin - A Metafísica do Guerreiro: A Filosofia pelo Caminho da Espada

por Aleksandr Dugin

(2020)


Hoje falaremos novamente sobre o platonismo e esta conversa será dedicada à metafísica do guerreiro, a metafísica do princípio marcial. Platão não escreveu muito sobre o princípio marcial. Os guerreiros atuam como assistentes dos guardiães em Kallipolis, a bela cidade (que geralmente é traduzida como "Estado ideal"). De tempos em tempos, Platão lembra-se dos guerreiros, mas eles certamente não estão no centro de sua atenção. Ele fala principalmente de filosofia e de filósofos.

Portanto, não podemos destacar o tema dos guerreiros em Platão como um tema à parte, ou seja, tematizar esta questão e, portanto, vamos falar livremente sobre a metafísica do guerreiro, tendo em mente a antropologia geral e a ontologia de Platão, que neste, talvez, contexto mais geral de diálogo, ou melhor, de pensamento, será bastante apropriado.


Três Funções das Sociedades Indo-Européias


É melhor, em minha opinião, começar o tema da metafísica do guerreiro com o modelo clássico do filólogo comparativo francês Georges Dumézil sobre a estrutura trifuncional das sociedades indo-europeias. Nos escritos de Dumézil, ela é descrito de forma tão exaustiva, profunda e minuciosa e corresponde plenamente à visão tradicionalista dos três tipos básicos de homem, as três castas (nas quais insistem o grande tradicionalista René Guénon e todos os seus seguidores, assim como Evola e o próprio Dumézil).

Por outro lado, antropológico ou sociológico, Dumézil leva a conclusões absolutamente idênticas sobre a existência de três castas. É verdade, se para Guénon, as três castas representam o modelo humano comum, ou seja, do ponto de vista de Guénon, a humanidade é dividida em três castas principais e uma casta adicional, e ele considera que esta é uma lei universal, expressa explícita ou implicitamente nas culturas mundiais, mas para Dumézil (e esta é uma correção significativa) a presença incondicional de três funcionalidades é definida apenas para as sociedades indo-européias (ou seja, todas as sociedades indo-européias sem exceção: orientais - indianos, iranianos, indo-europeus do Afeganistão; Ásia Central - Tajiquistão, Paquistão; antigos hititas, assim como, segundo Dumezil, eslavos, bálticos, trácios, helênicos, latinos, germânicos, celtas, ilíricos e todos os outros).

Aqui a questão deve ser colocada da seguinte forma: entendemos o modelo guenoniano e evoliano de que todas as sociedades e todas as culturas são trifuncionais, ou seja, têm estas castas inevitavelmente ou é uma característica das sociedades indo-européias - este é um problema. Dumézil prova perfeitamente que, no caso das sociedades indo-européias, esta é uma verdade absoluta, sem dúvidas. Mas se é possível estender ou não o modelo trifuncional a outras sociedades é outra questão. Vamos deixar isso de lado. Agora vamos tirar de Dumézil a parte positiva de sua tese de que todas as sociedades indo-européias são sem dúvida trifuncionais e têm uma estrutura tripla: independentemente de esta estrutura constituir um fato político, ou seja, reconhecido como três castas, ou ser algum modelo hermenêutico para explicar narrativas, mitos, instituições, modelos éticos, etc. 

25/10/2020

Carlos Fernando Rodríguez – Aleksandr Dugin & Nicolas Gómez Dávila: A Rebelião do Eterno

 por Carlos Fernando Rodríguez

(2019)



História como "Leitmotiv"


Entre os motivos dos atos revolucionários da modernidade, os infames flagelos da escravidão, da servidão, da miséria, da desigualdade, da ignorância e da submissão sempre marcharam por seus caminhos retóricos. Motivações tangíveis e conscientes que transitam da boca dos indivíduos aos parlamentos das grandes sociedades contemporâneas e cujo combate cimenta as razões de ser dos nossos pactos sociais modernistas. Muito menos anunciado é o papel dos conceitos- imagem que são transparentes à nossa compreensão quotidiana da realidade e que, ao contrário das suas qualidades superenfatizadas e sobrestimadas, conformam o núcleo rizomático que emociona o movimento dos homens, das sociedades, das épocas. Falamos das ideias capitais que constroem as visões sobre o mundo, os homens e a história: a grande tríade metapolítica. É especialmente sobre esta última variável da equação - história - que como categoria fundamental, gravita o pensamento profundo de dois grandes gênios mantidos separados por antípodas geográficas, mas reunidos num espírito muito singular da crítica contra a modernidade. Nicolás Gómez Dávila, gênio extemporâneo do pensamento colombiano, e Aleksandr Gel'evich Dugin, grande ilustre da intelectualidade russa; representam dois táxons de uma mesma filosofia, erguendo paralelos na denúncia iliberal e construindo sua crítica, sua poesia e sua análise em torno dos diferentes sentimentos da história que estão sendo reproduzidos até a morte em nossa época contemporânea.

17/10/2020

Giacomo Maria Prati - Julius Evola e a sua Revolução

por Giacomo Maria Prati 

(2019)


“O absoluto não está atrás, mas à frente”.
(Julius Evola, O Problema do Espírito Contemporâneo)

“As revoluções na praça são feitas em nome da burguesia, que cria falsos mitos de progresso”.
(Franco Battiato, Patriotas às Armas)

Temos a certeza que Evola não permanece incompreendido até hoje? Estamos certos de que sua obra pode ser reduzida a uma exaltação de uma Tradição universal, autossuficiente, fim em si mesma? Do ponto de vista espiritual, o pensamento de Evola parece certamente semelhante ao de Guénon ao considerar como existente uma Tradição viva universal supra-histórica e supraconfessional, da qual Guénon expressa o aspecto sacerdotal-contemplativo e Evola a alma heróico-aristocrática, o carisma guerreiro. Mas esta não é uma ideia tradicionalista, mas uma ideia antiga, ainda que nômade e metamórfica, na medida em que já gnóstica, maniquéia, alexandrina.

Foi dentro do helenismo que as tradições hebreias, as culturas neoplatônicas gregas e as heresias cristãs se cruzaram e se influenciaram, na busca de uma co-presença culta e refinada à qual, por um lado, o catolicismo romano e, por outro, o islamismo político se opuseram e combateram ao longo dos séculos. Encontramos a mesma ideia tradicional-antitradicional na obra “Os Grandes Iniciados” de Edouard Schurè e na “Filosofia Perene” de Aldous Huxley, em Eliott e Joyce, na Aurora Dourada, no esoterismo volitivo e demiúrgico de D'Annunzio, nos simbolismos evocativos de Ezra Pound. A ideia da Evola de uma tradição oculta que emerge até nós das brumas do tempo não é novidade. É uma mitologia usada pelos próprios maçons do século XVIII para legitimar uma antiguidade que a maçonaria moderna não possuía. 

08/10/2020

Aleksandr Dugin - Introdução à Noomaquia (Lição III) - O Logos da Civilização Indo-Europeia

ÍNDICE

Lição I: Noologia
Lição II: Geosofia
Lição III: O Logos da Civilização Indo-Europeia
Lição IV: O Logos de Cibele
Lição V: O Logos de Dioniso
Lição VI: A Civilização Européia


por Aleksandr Dugin

(2018)



Vamos agora aplicar os princípios metodológicos apresentados nas duas primeiras lições a uma realidade concreta. Nós discutimos anteriormente a teoria dos três Logoi [1] e os conceitos de horizonte existencial e historialidade [2]. Agora, vamos aplicar isso à civilização indo-européia [3].

Antes de tudo, vamos lidar com o horizonte existencial indo-europeu. Nesse sentido, é necessário especificar que o conceito de horizonte ou espaço existencial pode ser aplicado em diferentes escalas, tanto para pequenas comunidades quanto para médias ou grandes comunidades, unidas, por exemplo, pelas mesmas origens linguísticas. O que, então, significa um horizonte existencial indo-europeu? Trata-se de um vasto tipo de união, coincidindo com o espaço em que vivem os povos que falam línguas indo-européias. A família de línguas indo-européias inclui as línguas latinas e românicas, o grego, as línguas germânicas, as línguas celtas, as línguas eslavas, o persa, o sânscrito e outras línguas prácritas, o hitita da antiga Anatólia, o frígio, a língua ilíricas, as línguas bálticas, etc. É interessante notar que a língua romani também pertence a essa comunidade linguística indo-europeia; os ciganos têm origens incertas, mas também falam um idioma indo-europeu. O mesmo pode ser dito da língua iídiche: ela também pertence a essa família, sendo uma língua essencialmente germânica. Portanto, o ecumenismo indo-europeu, o horizonte existencial indo-europeu, é mais ou menos coincidente com o espaço habitado pelos povos que falam essas línguas. É um espaço imenso, que cobre um número enorme de populações, e de histórias, muito contraditórias e conflituosas, mas que equivale ao espaço existencial dos povos que falam línguas indo-europeias.

Na segunda lição, vimos que podemos definir povos e culturas, por meio de seu horizonte existencial, pelo espaço, e também através de sua historicididade. Portanto, é correto falar da história indo-européia, ou melhor, da sequência de eventos históricos indo-europeus. Veremos mais adiante em que consiste essa sequência geral de eventos e quais versões ela admite. Agora, em vez disso, focaremos nas principais características do horizonte existencial indo-europeu, a fim de definir o Dasein indo-europeu. O que é o Dasein indo-europeu?