29/06/2020

Armin Mohler - Zeev Sternhell: Novo Historiógrafo do Fascismo

por Armin Mohler

(1986)



Um livro, publicado em Paris em 1983, mudou completamente a historiografia do fascismo. Este livro tem o título: "Nem direita nem esquerda: a ideologia do fascismo na França" (em francês: Ni droite ni gauche: L’idéologie du fascisme en France). Com um tamanho de 412 páginas, foi publicado pela editora Seuil, conhecida por suas tendências de esquerda. O autor, Zeev Sternhell, professor de ciência política na Universidade Hebraica de Jerusalém, nasceu na Polônia em 1935. Atualmente, é diretor do Centro de Estudos Europeus, e, pouco antes da publicação de “Nem direita nem esquerda”, fundou o Centro Interdisciplinar de Pesquisa sobre Civilização Francesa.

Seu livro é muito denso. Ele também está repleto de repetições porque, o que importa para Sternhell, um homem de temperamento ardente, é incutir no leitor certos julgamentos incomuns. Contudo, seria errado culpá-lo por usar “conceitos vagos”. Ao contrário do especialista até então acreditado no estudo do fascismo, Ernst Nolte, Sternhell não recebeu treinamento filosófico. Ele é um historiador autêntico que se preocupa com registrar o passado. Para ele, cada realidade histórica é “irredutível”, não pode ser reduzida a um único conceito, as várias facetas devem ser consideradas. Portanto, diferentemente de Nolte, Sternhell não constrói um esquema abstrato do fascismo, no qual será necessário incluir fenômenos concretos. Ele preferencialmente refere esses fenômenos a toda uma variedade de conceitos que, no entanto, extrai do vocabulário político tradicional, a fim de identificá-los e localizá-los.

Embora seja nossa intenção resumir aqui um trabalho tão complexo, nossa apresentação não pode, no entanto, substituir a leitura deste livro. Pelo contrário, é uma introdução.

27/06/2020

Antonin Campana - O Covid-19 na Geopolítica do Contrato Social

por Antonin Campana

(2020)



Nossas sociedades ocidentais foram construídas, ou pelo menos afirmam ter sido construídas, em torno de um “contrato social”. Essas sociedades contratuais seriam o produto de uma livre reunião de indivíduos que decidiram “fazer sociedade” em torno de valores universalmente compartilhados por toda a espécie humana, seja qual for a origem, raça, religião e cultura das pessoas que compõem a espécie humana.


O Contrato Social como Fundamento


Sabemos que esses “valores”, que se diz derivar da natureza humana, na verdade, mais certamente, das ilusões filosóficas do século XVIII, são os que sustentam o “pacto republicano”, o contrato social da República dita “francesa”. Graças ao contrato social, ou pacto republicano, uma sociedade pode se organizar e funcionar com pessoas de todo o mundo, pois os valores e princípios que regem esta organização e funcionamento derivam da natureza humana universal, e não de qualquer cultura em particular. Assim, uma sociedade baseada nos direitos humanos naturais (o direito à liberdade, à igualdade, à propriedade) seria aceitável para todos, pois não contradizeria as aspirações essenciais de ninguém. Os flautistas de Hamelin simplesmente se esqueceram de definir o que significava “liberdade”, “igualdade” ou “propriedade”…

21/06/2020

Andrea Virga - Índios e Identidade: Mesmo Inimigo, Mesma Barricada

por Andrea Virga

(2019)



Nos últimos meses, os indígenas americanos, vulgarmente chamados “índios”, parecem ter voltado “à moda”. Em março, o novo presidente do México, o populista de esquerda Andrés Manuel López Obrador, começou a exigir um pedido de desculpas da Espanha e do Papa pela conquista ocorrida cinco séculos antes. Por outro lado, seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro, havia se distinguido por uma abordagem completamente oposta, fortemente antagônica aos povos indígenas do Brasil, culpados de viver há milênios em territórios ricos em recursos naturais. Mais tarde, em outubro, realizou-se o Sínodo da Amazônia, com uma controvérsia contígua sobre a aculturação, intensificada pela exibição de algumas estátuas da Pachamama em uma igreja romana. Finalmente, chegamos aos recentes acontecimentos na Bolívia, com a derrubada subversiva do Presidente Evo Morales, o primeiro presidente indígena eleito na América do Sul.

Em todos estes casos, a discussão do tema no debate local, para variar, deixou a desejar. À esquerda, estão agarrados ao mito roussseauniano do bom selvagem, mas isso não deve nos surpreender, dada a tendência de certos pensamentos neoiluministas de brincar com tipos ideais que não correspondem à realidade, como os rebeldes sírios moderados e o capitalismo ético. Os governos pós-coloniais independentes, ligando-nos ao primeiro exemplo, têm falhas mais graves para com os nativos do que a Igreja ou a Coroa espanhola, que se comprometeram desde o início, embora muitas vezes em vão, a proteger as populações nativas da ganância feroz dos colonizadores e conquistadores. Nem – para dizer a verdade – havia realmente necessidade de um sínodo especial para a região amazônica, agora que as novas fronteiras da evangelização são a África e a Ásia Oriental.

19/06/2020

Leonid Savin - Nacionalismo Médico, Identidade e Multipolaridade

por Leonid Savin



Como já aconteceu muitas vezes na história, 2020 tinha uma surpresa reservada para a humanidade – durante vários meses, o ecossistema fortemente entrelaçado do mundo globalizado foi transformado por um novo coronavírus, que escalou de poucos casos na China para uma pandemia global. A pandemia da COVID-19 alterou os processos políticos internacionais. Comparações já estão sendo feitas: a crise global de 2008 levou à formação dos BRICS, o FMI foi criado durante a Segunda Guerra Mundial e o G7 surgiu após a crise do petróleo de 1973, portanto, com certeza esta crise também levará ao surgimento de alguma nova configuração.

Os globalistas ansiosos estão gritando que uma nova onda de nacionalização está começando em todo o mundo, e regimes autocráticos estão agarrando a oportunidade de consolidar seu poder. Os EUA estão prevendo que a crise econômica iminente será ainda pior que a anterior e aumentará a taxa de desemprego do país para 20%.

Em artigo datado de 18 de março de 2020, o ex-secretário de Estado adjunto dos EUA para Assuntos do Leste Asiático e Pacífico, Kurt Campbell, e o diretor da Iniciativa de Estratégia da China da Brookings Institution, Rush Doshi, observou que “embora suas implicações geopolíticas devam ser consideradas secundárias às questões de saúde e segurança, essas implicações podem, a longo prazo, ser igualmente conseqüentes – especialmente quando se trata da posição global dos Estados Unidos”.

18/06/2020

Juntem-se ao Canal da Legio Victrix no Telegram!

pelos Editores do Legio Victrix


Atualmente, o portal Legio Victrix, que acreditamos ser o maior arquivo virtual de textos dissidentes, conquistou um público fixo que acompanha as nossas postagens novas e pesquisa os nossos artigos mais antigos. 

Infelizmente, porém, o Facebook tem se tornado cada vez menos viável enquanto plataforma de divulgação das nossas novas publicações. Dos quase 6 mil seguidores da página do Legio Victrix no Facebook, nem 5% recebe as publicações da página em sua feed de notícias. 

Por isso, a pedido dos seguidores do Legio Victrix, para facilitar o acesso aos nossos artigos, criamos um canal no Telegram onde serão sempre divulgadas as postagens novas que fizermos por aqui. 

Assim, entrem no canal da Legio Victrix no Telegram: https://t.me/legiovictrixoficial

17/06/2020

Sofia Metelkina - Foucault em Quarentena: O Coronavírus visto por Filósofos Liberais e de "Esquerda"

por Sofia Metelkina



Uma pandemia é um congelamento do tempo, uma ampla reflexão sobre o que está acontecendo no mundo. Tendo se encontrado em um regime incomum de fechamento e restrição, a maioria dos filósofos em diversos flancos políticos – de conservadores a esquerdistas e liberais – se referiu de uma forma ou de outra ao famoso filósofo francês Michel Foucault, que descreveu os mecanismos disciplinares do poder, a biopolítica e a regulação da vida privada da “biomassa global”.

Consideremos as opiniões de alguns filósofos atuais no espectro esquerdista e liberal e vejamos que insights e erros eles têm cometido em suas avaliações.

15/06/2020

Sergio Fritz Roa - Entrevista com Claudio Mutti: Sobre Julius Evola

por Sergio Fritz Roa

(2004)


Como você conheceu a obra de Julius Evola?


Li "Revolta Contra o Mundo Moderno" quando tinha dezoito anos. Fui um líder da seção italiana da Jeune Europe, uma organização de que era membro na altura, que me deu um exemplar do livro. O pragmatismo de Jean Thiriart e a sua concepção maquiavélica da política não nos satisfiziam completamente, de modo que em nós, jovens "nacional-europeus" de quarenta anos atrás, a exigência de uma visão integral do mundo e de uma verdadeira consagração da ação política permanecia viva. O trabalho de Evola representava, portanto, para mim e para outros, a porta de entrada para uma Weltanschauung espiritualmente fundamentada.

Qual é a importância de Julius Evola para o mundo ocidental?


Em primeiro lugar, é necessário limpar o terreno do mal-entendido que tal sintagma ("mundo ocidental") inevitavelmente supõe. Se é verdade que nos séculos passados existiu de fato uma "civilização ocidental", hoje a mesma denominação serve para indicar uma Zivilisation spengleriana que, além de se espalhar por uma área geográfica muito mais ampla, tendo seu próprio epicentro e paradigma nos Estados Unidos da América, se configura como uma verdadeira pseudo-religião idólatra, cujos principais dogmas são o Mercado, os Direitos Humanos e a Democracia. Desta forma, o Ocidente, este Ocidente que adquiriu dimensões quase planetárias, é a manifestação mais monstruosa do que podemos chamar, evolutivamente, de Anti-Tradição. Tanto a Europa como a América Latina podem extrair do trabalho de Evola, e do seu apelo ao valor fundamental da Tradição, os pontos de referência essenciais para o seu despertar e para uma luta coerente contra esta "civilização ocidental" antinatural e anti-humana.

13/06/2020

Yann Vallerie - Entrevista com Alain de Benoist: Será uma Crise Econômica tão Grande quanto a de 1929

por Yann Vallerie


Antes de mais nada, o que você acha da liderança do governo, que parece realmente não saber onde enfiar a cabeça desde o começo desta pandemia? Michel Onfray evoca um possível fim do regime como resultado, você então acredita que as pesquisas de opinião sobre Emmanuel Macron e Edouard Philippe nunca foram tão positivas?


Michel Onfray disse, com mais talento do que eu, tudo que tinha de ser dito sobre a desastrosa gestão da atual crise de saúde pela equipe de Emmanuel Macron. Escrevi, anos atrás, que é na situação excepcional que se pode tomar a medida completa do personagem. Agora sabemos do que se trata. Um estadista decide, ordena e requisita. Macron, contudo, confia no conselho dos “especialistas” que, como sempre, discordam entre si. Ele redescobriu as virtudes da “soberania nacional e europeia”, porém após multiplicar reformar liberais que favoreceram as realocações e a dependência das importações. Ele saúda e agradece àqueles que lutam e se dedicam, mas ninguém esquece que antes da chegada do COVID-19, Macron se recusou a escutar suas reivindicações.

Isto é evidenciado pelo estado lamentável de nossos serviços de saúde, sobre o qual foram impostas metas míopes de rentabilidade e cuja dilapidação está sendo medida hoje: falta de máscaras e de testes de triagem, leitos removidos, equipe de enfermagem à beira do colapso, serviços hospitalares saturados. Queríamos incluir na lógica do mercado um setor que, por definição, está fora do mercado. Os serviços públicos foram sistematicamente enfraquecidos e destruídos. Estamos pagando o preço. E este é apenas o começo, porque o confinamento durará semanas, senão meses. Não estamos no fim do começo, muito menos no começo do fim.

10/06/2020

Rébellion - Entrevista com Pierre de Brague: A situação é catastrófica, mas não por causa do coronavírus

por Rébellion


Com a livre circulação e a abertura de fronteiras, a globalização mundialista é responsável por esta catástrofe sanitária para você? Você acha que os ultraliberais vão finalmente calar a boca?


Como eu já disse em “On nettoyerie l’info”: “Sim, a situação é catastrófica, mas não por causa do vírus!”.

Não acho que haja uma grande crise sanitária por conta do coronavírus, mas sim uma gigantesca operação de mistificação orquestrada pela propaganda da mídia e pelos laboratórios da Big Pharma que pressionam os governos (alguns deles encontram lá seus relatórios) com estatísticas distorcidas, tudo para mascarar a imensa crise sistêmica que se vem cozinhando há pelo menos duas décadas.

A hipócrita mundialização liberal, que na realidade mascara o globalismo mais monopolista, é de fato o terreno mais propício para este tipo de “cenário”. Em essência, esse sistema entrega os povos a todas as predações possíveis (instabilidade, precariedade, uniformização) e a verdadeira questão do momento é a revelação e a busca ou não dessa estratégia de dominação pelas finanças e o desmembramento da economia produtiva e da solidariedade social. Deve-se notar também que os países socialistas estão gerenciando a epidemia muito melhor.

05/06/2020

Strategika - Entrevista com Robert Steuckers: A Geopolítica do Coronavírus

por Strategika


Lemos muitos elementos contraditórios segundo diferentes fontes de informação disponíveis ou de acordo com opiniões dos profissionais de saúde. Para você, qual é, de fato, a realidade desta pandemia?


Não podemos excluir uma origem natural da pandemia (embora eu permaneça cético perante a fábula do pangolim e do morcego), mas devemos aceitar discutir uma outra hipótese: isso é um ato de guerra bacteriológica dirigida contra a China, o Irã e a Europa, os três principais focos da doença. O vírus mutante, porque o vírus é, ao que parece, mutante, poderia também ter escapado de um laboratório chinês, ou outro, mas então por que ele atinge os rivais da hegemonia, quase excluindo outras regiões do globo? Se a hipótese de uma guerra bacteriológica se revelar exata, poderíamos estabelecer o seguinte cenário: o centro nevrálgico da China foi atingido, sua indústria impulsionada pelas deslocalizações neoliberais no resto do mundo, sobretudo na Europa, fica reduzida, o que tem um efeito sobre sua moeda, capaz, a médio prazo, de suplantar o dólar. Ademais, essa recessão ou essa sabotagem trava a realização das famosas “rotas da seda”. O Irã, inimigo número um de certos círculos neoconservadores, é, por sua vez, atingido, país que então poderia facilmente se tornar o principal fornecedor de hidrocarbonetos para a China e um parceiro comercial mais importante da Europa, como no fim do regime do último Xá, com os acordos EURATOM, em particular. Essa é a tese de Houchang Nahavandi, ex-ministro do Xá e autor de livros muito importantes sobre a história recente e antiga do Irã, cuja leitura recomendo enfaticamente.

Na Europa, as calamidades se abatem sobre os elos mais fracos e sobre o principal motor da economia europeia, a Alemanha. A Grécia deve enfrentar a crise dos refugiados na sua fronteira trácia, enquanto sua saúde econômica e financeira está vacilante há uma década, na sequência da crise de 2008. Ela ainda escapa amplamente do coronavírus mas… Wait and see… A Itália, recorde-se, assinara acordos especiais, fazendo dela o trampolim da China na UE. A Espanha igualmente recebeu a crise da pandemia em cheio, porque ela também é uma economia fragilizada que pode levar à ruína o projeto europeu, favorecido pelos Estados Unidos nas décadas de 1940 e 1950, em seguida considerado concorrencial e colocado, nomeadamente pela doutrina Clinton, como “alienígena”, ou seja, como inimigo potencial, se não inimigo declarado. A França também foi afetada, ainda que, oficialmente, seja considerada aliada desde Macron, presidente formado intelectualmente por uma escola americana. Ela está sendo progressivamente esvaziada de seus expoentes industriais (Alsthom, Latécoère…) e pesadamente infestada pelo coronavírus, tudo simplesmente porque o hiperliberalismo a debilita desde a presidência de Sarközy, cortada nos setores essenciais, não mercadológicos, incluindo o setor médico. Sem um setor médico forte, bem estruturado, prevenindo todas as formas de pandemia, compreendendo aquelas que poderiam ser desencadeadas por um ataque bacteriológico, um país é o alvo ideal para esse tipo de operação.

02/06/2020

Thibault Isabel - Quem Pagará o Preço da Crise? As Classes Populares ou a Finança Mundial?

por Thibault Isabel



O choque para a economia mundial causado pela pandemia de Covid-19 foi mais rápido e mais grave do que a crise financeira de 2008 ou mesmo a Grande Depressão de 1929. Durante esses dois episódios, as bolsas de valores caíram pelo menos 50%, os mercados de crédito foram paralisados por falências em cascata, as taxas de desemprego subiram mais de 10% e o PIB contraiu a uma taxa anualizada de 10% ou mais. Este processo levou cerca de três anos. Em março de 2020, foram necessárias apenas três semanas para prever um resultado igualmente desastroso.

A Crise no Sistema


Seria errado analisar a situação pensando que esta crise é a conseqüência exclusiva da pandemia de coronavírus. A pandemia foi apenas um gatilho, que veio para parar a máquina já engasgada do sistema econômico global. Muitos especialistas há muito nos advertiam do risco de estouro das bolhas financeiras, e as aberrações de mercado se tornaram aparentes quando, após uma delirante supervalorização dos ativos em janeiro, foram tomadas por um pânico sem precedentes quando foram anunciadas as primeiras medidas de contenção, experimentando um tímido renascimento apenas quando novas intervenções públicas foram anunciadas, como se o setor privado agora esperasse tudo dos governos para salvá-lo.

O contexto é tanto mais dramático na medida em que o custo intrínseco da crise econômica e financeira será adicionado ao custo de gestão da crise sanitária. O relançamento de uma economia global, que está paralisada há meses, representará um esforço titânico, enquanto a maioria dos Estados já está fortemente endividada pela crise de 2008, que ainda não foi digerida pelas contas públicas (enquanto os mercados financeiros estão novamente colhendo lucros fabulosos há vários anos). Segundo as estimativas atuais, o endividamento dos principais Estados ocidentais aumentará em cerca de 25% nos próximos três anos.