30/04/2020

Alain de Benoist - Crise Sanitária, Crise Econômica, Crise Política: Como será o Mundo Pós-Coronavírus?

por Alain de Benoist

(2020)



A história está sempre aberta, como todos sabem, e isso a torna imprevisível. Mas, em certas circunstâncias, é mais fácil ver o médio e longo prazo do que o curto prazo, como mostra bem a pandemia do coronavírus. No curto prazo, certamente se imagina o pior: sistemas de saúde saturados, centenas de milhares, até milhões de mortos, rupturas de cadeias de suprimentos, tumultos, caos e tudo o que se seguirá. Na realidade, estamos sendo levados por uma onda e ninguém sabe aonde ela vai levar ou quando vai acabar. Mas, se olharmos mais além, certas questões se tornam evidentes.

Já foi dito, mas vale repetir: a crise de saúde está soando (provisoriamente?) o toque de morte da globalização e da ideologia hegemônica do progresso. Com certeza, as grandes epidemias da Antiguidade e da Idade Média não precisavam da globalização para produzir dezenas de milhões de mortos, mas é claro que a generalização dos transportes, das trocas e das comunicações no mundo contemporâneo só poderia agravar as coisas. Na “sociedade aberta”, o vírus é muito conformista: age como todo mundo, circula – e agora nós não estamos mais circulando. Em outras palavras, estamos rompendo com o princípio da livre circulação de pessoas, bens e capitais, que se resumia no slogan “laissez faire”, ou seja, deixe ir, deixe passar. Isto não é o fim do mundo, mas é o fim de um mundo.

28/04/2020

Kerry Bolton - A Resposta Corporativista

por Kerry Bolton

(2019)



Quando um Estado cai no caos e na falência, seja do tipo econômico ou moral, pode haver uma reação das partes saudáveis remanescentes do povo na direção da regeneração. Oswald Spengler referiu-se em “O Declínio do Ocidente” a esta época como um retorno do "Cesarismo" e a derrubada da plutocracia. Embora seja uma reação, ela é, no entanto, revolucionária, porque o estado de decadência é tão avançado que apenas uma mudança radical, não apenas nas estruturas de governança, mas na psicologia das pessoas, é necessária. É literalmente uma "revolução", na medida em que procura um regresso às origens.

Na época da decadência da Civilização Ocidental - que tem vindo a ocorrer através de transformações como a Reforma, incluindo a de Henrique VIII, a "Revolução Gloriosa", a Revolução Cromwelliana, a Revolução Jacobina, a Revolução Industrial, a Revolução Americana e as revoluções de 1848 - cada passo minou ainda mais a ordem social e abriu caminho, geralmente em nome do "povo", para um aumento da influência dos interesses comerciais, até se alcançar a fase de plutocracia (domínio do dinheiro).

24/04/2020

Peter Chojnowski - Distributismo: A Economia como se as pessoas importassem

por Peter Chojnowski

(2011)



As verdadeiras expressões "proféticas" e a análise das circunstâncias atuais, juntamente com a consideração das leis escritas na natureza humana que se manifestam na história, podem fornecer uma predição a respeito do resumo das coisas que virão.  Este julgamento de mentes bem informadas e perceptivas é um pouco minado por um único fator. O universo, e o "universo" da sociedade humana no qual as leis inerentes escritas na natureza humana por seu criador revelam eventos históricos por si mesmas, é também um universo contendo criaturas livres que são indeterminadas quanto aos meios que elas podem empregar para alcançar seu fim humano específico. A liberdade humana insere uma variável na necessidade material do universo. Esta contingência e variabilidade tem sua fonte última na espiritualidade da alma humana. É precisamente por causa da sua rejeição materialista da alma humana que Karl Marx, por exemplo, poderia ridiculamente fazer previsões tão precisas como outras previsões para o movimento "necessário" da economia, da política e da história social. Isto não significa, porém, que não exista uma lei natural inerente que determine qual esforço humano "funcionará" e qual levará à catástrofe. Durante os séculos XIX e início do século XX, houve um grupo de estudiosos, teólogos, filósofos, críticos sociais e poetas que previu o inevitável desaparecimento do sistema econômico capitalista que estava se desenvolvendo apenas na Europa continental, mas que estava em funcionamento há 100 anos na Inglaterra. Quando você lê seus trabalhos, especialmente os autores britânicos do início do século 20, aqui incluímos Hilaire Belloc, G.K. Chesterton e Arthur Penty, descobrimos que suas análises são mais válidas hoje do que há 70 ou 80 anos, que suas previsões provavelmente serão cumpridas em breve. O que eles previam era nada menos que o colapso do sistema capitalista. No caso de Belloc, em seu livro "O Estado Servil", previa-se que o capitalismo logo se transformaria em um sistema econômico e social que se assemelharia às economias escravistas das eras pré-cristãs e cristãs primitivas. Por que eles previam tal colapso ou transformação inevitável? Em seus escritos, muitas razões são dadas, porém, podemos reduzi-las a três. A primeira, referindo-se ao "paradoxo capitalista". O paradoxo é uma consequência do capitalismo ser um sistema econômico que, a longo prazo, "impede as pessoas de obter a riqueza produzida e impede o proprietário da riqueza de encontrar um mercado". Como o capitalismo luta tanto por níveis mais altos de produção e salários mais baixos, finalmente "o trabalhador que atualmente produz diz que não pode comprar as mesmas botas que o trabalhador fez". Isto leva à "posição absurda de as pessoas fazerem mais bens do que necessitam e terem ainda menos bens disponíveis do que precisam para si próprias".

16/04/2020

Aleksandr Dugin - A Ordem Pós-Global é uma Inevitabilidade

por Aleksandr Dugin

(2020)



A crise que a humanidade atravessa por conta da pandemia do coronavírus já assumiu contornos tão globais que um simples retorno à situação anterior (pré-epidêmica) parece impossível.

Se, por uma série de variáveis, a propagação do vírus não puder ser radicalmente interrompida dentro dois meses a um ano e meio, o processo se tornará mesmo irreversível e, ao que tudo indica, a ordem mundial entrará em colapso. A história já viu períodos semelhantes, de catástrofes mundiais, guerras e eventos extraordinários.

Deste modo, se olhamos para o futuro a partir do ponto em que estamos agora, mesmo com toda a incerteza e indefinição, podemos ainda assim traçar alguns dos cenários mais prováveis:

(1) A globalização entrou em colapso completamente – de forma rápida e irrevogável: não é de hoje que já se podem observar sinais de uma crise, mas a epidemia simplesmente destroçou todos os principais axiomas do mundo global: fronteiras abertas; interdependência das sociedades; eficácia das instituições econômicas existentes e competência das elites no poder diante de problemáticas como a do coronavírus. A globalização caiu: ideologicamente (liberalismo), enquanto modelo econômico (redes globais) e politicamente (a liderança das elites ocidentais).

(2) Nas ruínas da globalização, será estabelecida uma nova arquitetura para um mundo pós-globalista (pós-liberal).

07/04/2020

Adriano Scianca - Coronavírus: Três Mentiras do Globalismo

por Adriano Scianca

(2020)



O globalismo nunca dorme. Mesmo diante de um contexto de crise, que coloca em xeque todos os seus postulados, essa ideologia nefasta segue acreditando que pode achar validade para si própria em qualquer lugar. Resumindo: é uma ideologia que não falseável no sentido popperiano, porque se crê corroborada tanto por A como pelo inverso de A.

Atualmente, sobre isso, existem pelo menos três tópicos em particular que circulam nas mídias sociais, nos jornais e nos programas de televisão: a) a emergência do coronavírus confirma a validade da globalização e a inutilidade das fronteiras (“soberanamente”) fechadas; b) a emergência do coronavírus confirma a validade dos especialistas, dos técnicos e dos noticiários contra as falsidades e, portanto, contra as fake news; c) a emergência do coronavírus confirma a superioridade da democracia e da “sociedade aberta” sobre os autoritarismos.

Obviamente, todos esses três argumentos estão baseados em uma abordagem inicial distorcida, em simplificações e em perspectivas hiper-generalistas, propositalmente colocadas de forma maniqueísta e caricatural para forçar certas conclusões. Mas olhemos de forma mais detalhada.

01/04/2020

Luca Siniscalco - Em Memória de Eduard Limonov: Sonhador e Guerreiro, Poeta da Superação da Solidão Cósmica

por Luca Siniscalco

(2019)



“Tenho várias vidas: a literária, a política, até mesmo a mística e, claro, a privada. Mas o destino não queria que eu sossegasse: as várias famílias que tentei constituir sempre se desmoronaram. E agora eu vivo assim: eu pego moças na estação de Leningradskaya ou, caso contrário, passo longos meses sozinho com o meu rato” (Zona Industrial)

*

Soube agora da sua morte. O meu fôlego tropeça perante a memória de uma jornada decembrina de poucos meses atrás. O entusiasmo com a notícia do seu regresso à Itália, a alegria com a sua entrada no “palco” da conferência de imprensa (ele que era um ator shakespeariano nato), a honra de poder ter uma conversa, ainda que breve, com ele, a desilusão de reconhecer a sua dura frieza eslava, a serenidade, pouco depois, na experiência do pathos da distância – o que Nietzsche ensina, poucos compreendem, e menos ainda a praticam. Emmanuel Carrère tentou compreendê-lo, com resultados literários extraordinários, e conseguiu criar um fenômeno cultural generalizado: ao proletário anárquico e elitista que fundou Limonka – um jornal com o título dadaísta, “granada Limonov” – nunca foi de agrado.