(2018)
A crença de que a sociedade grega antiga mantinha uma atitude indulgente em relação à homossexualidade – particularmente à pederastia – é amplamente sustentada, tanto dentro como fora de círculos nacionalistas. Greg Johnson, por exemplo, diz:
“A pederastia homossexual, que ainda permanece um tabu em nossa cultura, era amplamente praticada pelos antigos povos arianos do mundo mediterrâneo. Persas, gregos e romanos todos a praticava, incluindo alguns dos homens mais viris na história e na lenda, como Aquiles e Alexandre o Grande”.
“Não há dúvidas de que não apenas o comportamento homossexual era tolerado por antigos povos arianos, como de que ele era considerado normal, e até ideal em alguns casos. Ele é atribuído aos deuses (Zeus e Ganimedes) e elogiado por poetas, filósofos e historiadores. É difícil sustentar atitudes judaicas odiosas em relação à homossexualidade se compreendermos e apreciarmos a grandeza da civilização clássica pagã. [...] Homofóbicos estão nas mãos da Judiaria mesmo sem saber”.
Adonis Georgiades discorda. Ele é o atual vice-presidente do partido grego Nova Democracia e um homem de convicções socialmente conservadoras, ainda que economicamente liberais (por exemplo, ele votou a favor do notório ‘segundo memorando’ no Parlamento Grego). Seu livro de 2004, “Homossexualidade na Grécia Antiga: O Mito está Colapsando”, é uma revisão polêmica da evidência. Para Georgiades, a evidência demonstra que a homossexualidade não era considerada aceitável, muito menos “ideal”, na Grécia antiga. As fontes que ele examina incluem, mas não se limitam às seguintes.
• Mitologia grega;
• Obras de poetas cômicos atenienses, como Aristófanes;
• Ilustrações cerâmicas;
• Legislação de Atenas e Esparta como encontradas nas descrições de vários autores antigos dos costumes sexuais espartanos, como Plutarco;
• O processo judicial mal sucedido de Timarco e Demóstenes contra Ésquines;
• O processo judicial de Ésquines contra Timarco.
Crucialmente, Georgiades também considera a tradução de dois pares de palavras do grego antigo. O primeiro, examinado principalmente à luz das obras de Platão e Xenofonte, é erastes-eromenos. Este par é convencionalmente, mas segundo Georgiades, problematicamente traduzido no inglês como “amantes-amado”. O segundo é a distinção entre os termos pornos (“prostituto”) e hetairos (“acompanhante masculino”). Como o livro demonstra, essa segunda distinção é particularmente relevante para o processo Ésquines vs Timarco mencionado acima. O processo vencido por Ésquines indica que – pelo menos em Atenas – mesmo a conduta homossexual não-remunerada era suficiente para expor o praticante ao risco de perder seus direitos civis. Eu retornarei depois à análise que Georgiades faz das fontes primárias.
Minha impressão geral, como não-especialista, é que as conclusões de Georgiades são sensatas, originais e dignas de serem lidas por um público mais amplo. Talvez o principal problema do livro seja a baixa qualidade da tradução e da revisão. O meu propósito aqui, porém, não é revisar exaustivamente o livro. Ao invés disso, eu vou resumir seus principais argumentos e então tentar iluminar o seu tema mais interessante, ainda que não inteiramente explícito: relações “pederásticas” na Grécia antiga, longe de serem motivadas pelos impulsos sexuais de homens mais velhos por homens mais jovens, eram um aspecto do que Kevin MacDonald poderia chamar de estratégia evolutiva grupal da pólis grega. Os homens da Grécia antiga não viviam em uma névoa freudiana; eles estavam preocupados com a identificação de uma realidade transcendente e com sua aplicação em sua comunidade, em prol do bem comum. Eu explicarei adiante o que quero dizer com isso. Primeiro, porém, eu escrevo um pouco sobre minhas motivações ao escrever esse artigo.