02/01/2013

Contra o Mundo Pós-Moderno

por Aleksandr Dugin



O Mal da Unipolaridade

O mundo atual é unipolar com o Ocidente global em seu centro e com os Estados Unidos como seu núcleo.

Esse tipo de unipolaridade possui lados geopolíticos e ideológicos. Geopoliticamente é a dominação estratégica da Terra pela hiperpotência norteamericana e o esforço de Washington de organizar o equilíbrio de forças no planeta de tal maneira a ser capaz de governar todo o mundo segundo seus próprios interesses (imperialistas) nacionais. Isso é ruim porque priva outros Estados e nações de sua soberania real.

Quando há somente uma instância para decidir quem está certo e quem está errado e quem deve ser punido nós tempos um tipo de ditadura global. Eu estou convencido de que isto não é aceitável. Portanto, nós devemos lutar contra isto. Se alguém nos priva de nossa liberdade nós temos que reagir. E nós reagiremos. O Império Americano deve ser destruído. E em algum momento ele será.

Ideologicamente a unipolaridade se baseia nos valores modernistas e pós-modernistas que são abertamente anti-tradicionais. Eu partilho da visão de René Guénon e Julius Evola que consideravam a modernidade e sua base ideológica (o individualismo, a democracia liberal, o capitalismo, o conformismo e assim por diante) como sendo a causa da futura catástrofe da humanidade e a dominação global das atitudes ocidentais como a razão da degradação final da Terra. O Ocidente está se aproximando ao seu fim e nós não devemos permitir que ele empurre todo o resto consigo para o abismo.

Espiritualmente a globalização é a criação da Grande Paródia, o reino do Anticristo. E os Estados Unidos está no centro de sua expansão. Os valores americanos fingem ser "universais". Esta é uma nova forma de agressão ideológica contra a multiplicidade das culturas e das tradições ainda existindo em outras partes do mundo. Eu sou resolutamente contrário aos valores ocidentais que são essencialmente modernistas e pós-modernistas e promulgados pelos Estados Unidos pela força ou pela imposição (Afeganistão, Iraque, agora Líbia, amanhã Síria e Irã).

Assim, todos os tradicionalistas devem se posicionar contra o Ocidente e a globalização bem como contra a política imperialista dos Estados Unidos. É a única posição lógica e consequente. Assim os tradicionalistas e partidários dos princípios e valores tradicionais devem se opor ao Ocidente e defender o Resto (se o Resto demonstrar sinais da conservação da Tradição - parcialmente ou inteiramente).

Pode haver e realmente há homens no Ocidente e nos Estados Unidos da América que não concordam com o estado atual de coisas e não aprovam a modernidade e a pós-modernidade, sendo os defensores da tradição espiritual do Ocidente pré-moderno. Eles devem estar conosco em nossa luta comum. Eles devem tomar parte em nossa revolta contra o mundo moderno e o mundo pós-moderno. E nós lutaríamos juntos contra um inimigo comum.

A outra questão é a estrutura da possível frente anti-globalista e anti-imperialista e seus participantes. Eu penso que nós devemos incluir nela todas as forças que lutam contra o Ocidente, os Estados Unidos, contra a democracia liberal, contra a modernidade e a pós-modernidade. O inimigo comum é a instância necessária para todos os tipos de alianças políticas. Os muçulmanos, os cristãos, os russos e os chineses, os esquerdistas ou os direitistas, os hindus ou os judeus que desafiem o estado atual de coisas, a globalização e o imperialismo americano são virtualmente amigos e aliados. Que nossos ideais sejam diferentes, mas nós temos em comum uma coisa muito forte: a realidade atual que odiamos. Nossos ideais que diferem são potenciais (in potentia). Mas o desafio com o qual lidamos é atual (in actu). Então essa é a base para a nova aliança. Todos que partilham de uma análise negativa da globalização, da ocidentalização e da pós-modernização devem coordenar seus esforços na criação de uma nova estratégia de resistência ao mal onipresente. E nós podemos encontrar os "nossos" nos Estados Unidos também - entre aqueles que escolhem a Tradição contra a decadência atual.



Rumo à Quarta Teoria Política

Nesse ponto nós poderíamos levantar uma questão realmente importante: que tipo de ideologia deveríamos usar em nossa oposição à globalização e seus princípios demo-liberais capitalistas e modernistas (pós-modernistas)? Eu acho que todas as ideologias anti-liberais (comunismo, socialismo e também o fascismo) não são mais relevantes. Elas tentaram combater o capitalismo liberal e falharam. Parcialmente porque no final dos tempos é o mal que vence; parcialmente por causa de suas contradições e limitações internas. Então é tempo de realizar uma profunda revisão das ideologias anti-liberais do passado. Qual é seu lado positivo? - O próprio fato de terem sido anti-capitalistas e anti-liberais, bem como anti-cosmopolitas e anti-individualistas. Assim essas características devem ser aceitas e integradas na ideologia futura. Mas a doutrina comunista é moderna, atéia, materialista e cosmopolita. Isso deve ser descartado. Ao contrário, a solidariedade social, a justiça social, o socialismo e a atitude geral holista frente a sociedade são bons em si. Assim nós precisamos separar o aspecto materialista e modernista e rejeitá-los.

Por outro lado nas teorias da Terceira Via (caras até certo ponto para alguns tradicionalistas como Julius Evola) havia alguns elementos inaceitáveis - em primeiro lugar, racismo, xenofobia e chauvinismo. Essas são não somente falhas morais, mas também atitudes teoricamente e antropologicamente inconsistentes. A diferença entre as etnias não significa superioridade ou inferioridade. A diferença deve ser aceita e afirmada sem qualquer apreciação racista. Não há régua comum com a qual medir grupos étnicos diferentes. Quando uma sociedade tenta julgar a outra ela aplica seu próprio critério e assim comete violência intelectual. A mesma atitude é precisamente o crime da globalização e da ocidentalização, bem como do imperialismo americano.

Se nós libertarmos o socialismo de seus traços materialistas, ateístas e modernistas e se rejeitarmos os aspectos racistas e nacionalistas estreitos das doutrinas de Terceira Via nós chegamos a um tipo completamente novo de ideologia política. Nós a chamamos de Quarta Teoria Política (a primeira sendo o liberalismo, que nós essencialmente desafiamos, a segunda sendo a forma clássica de comunismo, a terceira sendo o nacional-socialismo e o fascismo). Assim nós chegamos ao nacional-bolchevismo que representa o socialismo sem materialismo, ateísmo, progressismo e modernismo e as teorias de Terceira Via sem racismo e nacionalismo. Mas esse é somente o primeiro passo. A adição mecânica de versões profundamente revisadas das ideologias anti-liberais do passado não nos fornece o resultado final. É apenas uma primeira aproximação, uma abordagem preliminar. Nós devemos ir além e fazer um apelo à Tradição e às fontes pré-modernas de inspiração. Lá nós temos o Estado ideal platônico, a sociedade hierárquica medieval e a visão teológica do sistema político e social normativo (cristão, islâmico, budista, judaico ou hindu). Essa fonte pré-moderna é um desenvolvimento muito importante da síntese nacional-bolchevique. Assim nós precisamos encontrar um novo nome para esse tipo de ideologia e "Quarta Teoria Política é bastante adequado para isso. Não nos diz o que essa Teoria é, mas sim o que ela não é. Assim é um tipo de convite e apelo ao invés de dogma.

Politicamente nós temos aqui uma base interessante para uma cooperação entre esquerdistas e direitistas bem como com movimentos religiosos ou outros movimentos anti-modernos (ecologistas, por exemplo). A única coisa em que insistimos ao criar tal cooperação é em colocar de lado preconceitos anti-comunistas e anti-fascistas. Esses preconceitos são os instrumentos nas mãos de liberais e globalistas com os quais eles mantém seus inimigos divididos. Assim nós devemos rejeitar fortemente o anticomunismo bem como o antifascismo. Ambos são instrumentos contrarrevolucionários nas mãos da elite liberal global. ao mesmo tempo nós devemos nos opor fortemente a qualquer tipo de confronto entre religiões - muçulmanos contra cristãos, judeus contra muçulmanos, muçulmanos contra hindus e daí em diante. As guerras e ódios interconfessionais trabalham para a causa do reino do Anticristo que tenta dividir todas as religiões tradicionais de modo a impor sua própria pseudo-religião, a paródia escatológica.

Assim nós precisamos unir a direita, a esquerda e as religiões na luta comum contra o inimigo comum. A justiça social, a soberania nacional e os valores tradicionais são três princípios dessa ideologia. Não é fácil juntar tudo isso. Mas nós devemos tentar se quisermos superar o adversário.

Na França existe o slogan: "La droite des valeurs et la gauche du travail" (Alain Soral). Em italiano funciona: "La Destra sociale e la Sinistra identitaria". Como exatamente deverá soar em inglês nós veremos depois.

Nós poderíamos ir mais longe e tentar definir o sujeito, o ator da Quarta Teoria Política. No caso do comunismo no centro está a classe. No caso dos movimentos de Terceira Via no centro estava a raça ou a nação. No caso das religiões - é a comunidade dos fiéis. Como a Quarta Teoria Política poderia lidar com essa diversidade e com a divergência de sujeitos? Nós propomos, como sugestão, que o sujeito da Quarta Teoria Política pode ser encontrado no conceito heideggeriano de Dasein (ser-aí). É uma instância concreta porém extremamente profunda que pode ser o denominador comum para um desenvolvimento ontológico maior. O que é crucial aqui - isto é a autenticidade ou inautenticidade da existência do Dasein. A Quarta Teoria Política insiste na autenticidade da existência. Assim ela é a antítese de qualquer tipo de alienação - social, econômica, nacional, religiosa ou metafísica.

Mas o Dasein é uma instância concreta. Qualquer homem e qualquer cultura possuem seu próprio Dasein. Eles diferem uns dos outros mais estão sempre presentes.

Aceitando isso nós devemos progredir rumo à elaboração da estratégia comum no processo da criação do futuro que deve se encaixar com nossas demandas e nossas visões. Assim tais valores como justiça social, soberania nacional e espiritualidade tradicional podem nos servir como a pista.

Eu creio sinceramente que a Quarta Teoria Política, o nacional-bolchevismo e o eurasianismo podem ser de grande utilidade para nossos povos, nossos países e nossas civilizações. A palavra-chave é "multipolaridade" em todos os sentidos - geopolítico, cultural, axiológico, econômico e daí em diante.

A visão importante do Nous (intelecto) do filósofo grego Plotino que corresponde ao nosso ideal. O Intelecto é um e múltiplo ao mesmo tempo, porque ele possui todos os tipos de diferenças em si mesmo - não uniformes ou mistas, mas tomadas enquanto tal com todas as suas particularidades. O mundo futuro deve ser noético de alguma maneira - a multiplicidade, diversidade deve ser tomada como a riqueza e o tesouro e não como a razão de um conflito inevitável: muitas civilizações, muitos pólos, muitos centros, muitos padrões de valores em um planeta com uma humanidade.

Mas há alguns que pensam de forma diferente. Quem está contra este projeto? Aqueles que desejam impor a uniformidade, o pensamento único, o modo de vida americano. E eles o fazem através da força ou da persuasão. Eles estão contra a multipolaridade. Portanto, eles estão contra nós.