29/12/2013

Jean Thiriart - Os Pretorianos Políticos

por Jean Thiriart



Ou O Preço da Potência Militante

A sociedade plutodemocrática, guiada pelas virtudes da comodidade (facilidade) e não pelas do combate (esforço, risco, compromisso), faz gala de toda uma série de qualidades que em realidade não possui.

A maioria dos resistentes são uns farsantes [refere-se o autor aos membros da Resistência na Segunda Guerra Mundial. NdT], os antigos combatentes igualmente, e o mesmo ocorre com os "heróis da Frente Oriental". Tudo isso é como material contrachapado, trata-se realmente de meio milímetro de bom carvalho sobre trinta milímetros de pinho barato.

O poder da corrupção de uma sociedade hedonista é excessivo, pois afeta inclusive à vida militante dos partidos revolucionários que, por definição, se consideram fora da coletividade degenerada.

Muitos revolucionários são como o material contrachapado. Existem falsos militantes como existem falsos resistentes. Na vida civil, existe todo um ritual da falsa virilidade: as faixas de "rally" pintadas nos carros, os tubos de escape ruidosos, as jaquetas de couro, os bigodes ao estilo dos "mercenários de Katanga". Retiremos esses adornos e só nos ficarão empregados medíocres, homens sem cor, heróis de taverna.

Na vida política, pelo menos nos partidos considerados como duros, sucede o mesmo. Os militantes de contrachapado da extrema-esquerda levam ostensivamente uniformes maoístas, cortam as barbas ao estilo Castro, são intencionalmente repugnantes.

Os pseudomilitantes de extrema-direita também tem seu ritual: as noitadas regadas a cerveja, os discos alemães, as cruzes de ferro compradas em feiras, as boinas ao estilo "Bigeard" [atualmente a estética de uns e de outros variou ainda que sejam igualmente reconhecíveis. NdT]. Isso quanto aos simples. Para os intelectuais, a virilidade consiste em recitar os poemas de Brasillach escritos em Fresnes. Tenho que esclarecer, de passagem, que minha simpatia humana é dirigida a Brasillach e não a seus verdugos. Porém os garotos que quarenta anos mais tarde jogam duro lendo autores fuzilados são, desde o ponto de vista revolucionário, uns impostores. Assim pois, a técnica do contrachapado afeta inclusive os meios revolucionários paraprofissionais.

Seita Política e Seita Juvenil

Mais adiante, farei uma descrição da seita política e das fontes de sua potência. Aqui vamos nos ocupar da seita juvenil.

O adolescente deve passar por um portal psicológico em que está obrigado a se afirmar para poder entrar no mundo dos adultos.

Nas sociedades primitivas (na África e na Amazônia, por exemplo) essa passagem é o objeto de um ritual preciso, imutável, formal, indiscutível. Depois de ter sofrido as provas (geralmente de coragem e mutilações superficiais), o adolescente se faz homem. Uma vez superado isso, seu caráter de adulto não se põe em dúvidas. Nesse aspecto concreto, as sociedades primitivas estão melhor organizadas que as nossas. Posteriormente, na Antiguidade grega, por exemplo, os ritos de adolescência eram também muito precisos, muito ritualizados oficialmente.

Hoje tudo isso foi deixado à iniciativa pessoal. As sociedades plutodemocráticas não se preocupam com esses problemas tão importantes. Assim, os adolescentes criam eles mesmos os ritos: o batismo estudantil, a pornografia verbal, o alcoolismo juvenil, e - o caso que mais nos interessa - o pertencimento a uma seita "dura". Os fenômenos neonazis do pós-guerra são assombrosamente frequentes entre os muitos jovens. Não se trata aqui de opção filosófica, senão de captação de um ritual mágico. Todo um maravilhoso mundo de terror vinculado às lembranças da SS e do NSDAP. Assim, certos jovens atravessam a obrigatória crise de afirmação frente a sua condição de adulto criando frequentes seitas juvenis.

A máquina de propaganda político-científica americano-sionista apresenta essas seitas juvenis como seitas políticas. Essa manipulação é muito rentável para os sionistas, para os meios fanáticos judaicos de extrema-esquerda. A perpetuação do "perigo fascista" é o mito justificativo de sua própria ação. É o pretexto para reclamar umas centenas de milhões de marcos a mais da República Federal Alemã. Todos os círculos denominados de estudantes "nacionalistas" substituem igualmente essas seitas juvenis. Isso dá lugar a que os membros desses grupos se renovem continuamente. O jovem permanece em geral um máximo de um ou dois anos, o tempo necessário para superar sua crise. Uma vez cruzado o umbral, uma vez que se considera adulto, abandona a seita juvenil e se integra facilmente na sociedade adulta e burguesa.

Ocorre às vezes, que à cabeça dessas seitas nos encontramos com alguns homens de idade que não as manipulam para conseguir objetivos políticos, senão para resolver seus próprios problemas psíquicos. A impotência sexual devida à idade ou ao vício em certos quarentões ou cinquentões se vê sobrecompensada por algumas campanhas de imprensa racistas de caráter sexual (a obsessão do negro que tem relações com uma branca). Aqui, ademais, se considera ação política o que é um caso que compete ao sexólogo ou ao psicanalista.

Há que evitar confundir a seita juvenil com uma seita política. A primeira se caracteriza por uma indisciplina interna - o adolescente deve se afirmar e crê ingenuamente que a indisciplina é um ato de maturidade - e pela ausência de uma nova e original ideologia política. A seita juvenil é desordenada, sem hierarquia funcional e busca como referentes mágicos em um passado estimado como prestigioso. Se faz e se desfaz constantemente, seus membros são passageiros efêmeros.

As Seitas Políticas e suas Fontes de Potência

A sociedade em que vivemos, é muito corrupta politicamente, muito fraca devido a suas preocupações economicistas. É uma sociedade sem tensão política. A energia se destina à busca dos meios que proporcionam prazeres. A energia se canaliza na direção do "fazer dinheiro". É uma sociedade hedonista. Por isso, os jovens prefere o carro esportivo ao serviço militar, e os adultos o prestígio de "ter mais" ao de "ser mais". É a sociedade plutodemocrática. Não obstante, a história nos deu a conhecer em épocas passadas formas de sociedades militares ou teocráticas entre outras. Esta sociedade demoplutocrática é extremamente vulnerável à ação de minorias políticas determinadas e organizadas. Não crê no poder puro, crê que todo poder se reduz ao dinheiro e que tudo se soluciona com uma tecnocracia aperfeiçoada. Se equivoca nisso, e se bem em tempos de paz tais sociedades se estabilizam mediante uma espécie de estancamento hedonista, não ocorrerá o mesmo com motivo de uma guerra ou de uma grave crise

A sociedade burguesa demoplutocrática se encontra livre, passiva perante uma ação exterior que irrompa através de um grupo organizado de reformadores decididos. Não confundir reformadores com reformistas. É a analogia entre a faca de carniceiro e a baleia. Com uma pequena faca bem afiada e bem manejada pelo esquartejador, um homem pode esquartejar uma baleia de cinco toneladas. A fonte de potência "da faca", quer dizer, da seita política reside no acúmulo e intensidade das virtudes de que carece a débil sociedade burguesa. Uma das virtudes é a lealdade. É a primeira condição da potência da seita. As seitas políticas extraem suas forças da prática da honestidade interna absoluta. A mentira, o interesse pessoal, a reserva mental, que debilitam tanto à sociedade ordinária como aos vulgares partidos parlamentares, não são admissíveis na seita. A seita obtém sua força de uma virtude real, de uma virtude praticada. Ela possui duas forças morais: uma dirigida à vida interior, outra ao mundo exterior. Assim pois, as virtudes de pureza, de retidão, de lealdade que produzem tanto riso aos burgueses, até o ponto que as qualificam como "moral de escoteiro" é precisamente a fonte da potência da seita política. Aí onde a sociedade está dividida, a seita está integrada; aí onde a sociedade rechaça a força, a seita a glorifica; aí onde a sociedade celebra o prazer, a seita exalta o sacrifício. A sociedade demoplutocrática não toma em consideração aos jovens ambiciosos, aos jovens impacientes, aos espíritos plenos de vida, os grandes sacrifícios.

Para evitar que seja contaminada pelas debilidades da sociedade burguesa, a seita deve se isolar totalmente dela. A seita tem que ter suas próprias forças morais, uma delas muito estrita voltada ao seu interior, e outra muito oportunista para socavar a grande sociedade. Ela deve manter sua organização interna vivendo em um circuito fechado, completo.

Recorrendo a um exemplo, direi que assim como o ovo posto por certos insetos no corpo de um animal de outra espécie, ovo que dará lugar ao nascimento de uma larva que carcomerá inexoravelmente ao animal suporte, a seita política determinada deve ser também um organismo completo inserido em outro organismo. A seita será intransigente e evitará os compromissos com a sociedade, sem isso se dissolveria e paradoxalmente a reforçaria, reviveria o organismo que se propõe a eliminar.

Enfim, a seita estará extremamente "conjurada" (eu entendo por isso que a solidariedade interna total dominará todo o resto de preocupações). É a solidariedade levada até a cumplicidade. Em resumo, a densidade dos comportamentos heróicos multiplicada por uma total cumplicidade cria a seita capaz de se apoderar de uma sociedade moderada, pusilânime, apática. É o Partido Revolucionário.

Por uma parte, há uma imensa sociedade em plena digestão de prazeres que permite todo tipo de concessões para prolongar essa digestão, e por outro lado está a seita determinada, exigente.

Por uma parte, alguns homens que não querem renunciar à menor parte de seus prazeres, e que a priori não estão dispostos a morrer, se chegasse o caso, para ter que defendê-los; por outro lado, alguns homens decididos a buscar sua potência na renúncia a toda uma série de prazeres comuns e que, se chega o caso, porão os pesos de sua vida na balança da luta.

Inevitavelmente ocorre que alguns homens insuficientemente integrados tratarão de dominar a seita não satisfeitos apenas em formar parte dela. Logo deslocados, eles se acabam indo. É o que se denomina na política pelo nome de dissidência e na igreja pelo nome de herege. Em seguida, mais ou menos, esses ramos separados do tronco apodrecem e logo desaparecem.

A explicação do fenômeno é simples. A seita possui uma espécie de aura que lhe outorga poderes especiais no plano psicológico. Essa aura é indivisível. Aquele que abandona a seita levará, às vezes, algum elemento característico dessa aura. Assim, o dissidente, o excluído, o desterrado, o exilado jamais dispõe do elemento paramágico que dá força à seita. Que se chamassem Trotski ou Doriot, não impediu que apesar de seu brilhantismo fossem excluídos e enterrados longe de sua amada terra.

O Preço Humano da Potência Militante

Certos homens podem dispôr de um poder que não é sobrenatural - tal termo os faria rir com muita razão - senão de um poder supranatural (eu entendo por isso tudo que está acima da média). O homem pode dedicar, orientar sua energia a uma ou outra atividade física ou intelectual. É o fenômeno conhecido como "fakirismo" elemental: pode-se dominar a dor física depois de um treinamento adequado. No plano intelectual, pode-se igualmente obter resultados supranaturais. A polarização da energia vital, da vontade, pode proporcionar poderes, resistências. Na vida corrente, a um nível mais trivial, o atleta pode obter resultados inacessíveis ao comum dos burgueses. Porém ao custo de uma disciplina especial: proibindo certos alimentos, proibindo certas distrações, com treinamento diário. Em cada caso concreto é necessário pagar um preço quando se requer um aumento de capacidade.

O aumento da potência em um âmbito se paga com a renúncia em outros âmbitos. Em nenhum caso o crescimento da potência física, psíquica, intelectual vem a se acrescentar à vida ordinária, banal, trivial. Em todos os casos o crescimento da potência se adquiriu a custo de amputações na vida banal, na vida comum. O mesmo ocorre no setor do militantismo revolucionário. Se exige tanto a um militante que resulta impossível conciliar a vida frívola com a vida militante. A vida militante é irreconciliável com a vida normal. A primeira se desenvolverá ao custo da segunda. Existe, pois, certa ascese política. Isso faz pensar injustamente, em muitas ocasiões, que os chefes políticos dessas seitas sejam puritanos. Em primeiro lugar há um abismo entre a ascese e o puritanismo. Ademais, essa ascese não é um fim em si mesmo, senão o meio de adquirir a concentração da vontade indispensável para a posse desses poderes supranaturais aos quais me referia antes. A vida política militante não permite o estilo da sala de festas permanente onde é possível entrar e sair a qualquer momento. Uma revolução vivida e organizada por uma minoria determinada de ascetas implacáveis ou de "monstros frios" exige no plano cronológico, a dedicação de uma vida inteira.

A maioria das pessoas desconhece sempre a longa fase de incubação pois essa fase lhes resulta imperceptível. Só os policiais políticos se dão conta do desenvolvimento das seitas na fase de incubação. Por exemplo, a vocação político-histórica de Lênin se situa no enforcamento de seu irmão em 188, ou seja, trinta anos antes da Revolução de Outubro.

Na vida militante ocorrerá que quando um homem seja excluído, expulso da seita, no mesmo momento perde seus amigos de antes. Não só o partido lhe expulsa com menosprezo, senão também seus amigos de combate lhe rechaçam simultaneamente. É um dos testes que permitem medir a intensidade de uma seita. Se é fraca, o expulso seguirá vinculado a suas amizades pessoais dentro da mesma. Se é forte, o expulso o será duas vezes: uma vez pela seita e outra por cada amigo em particular. Rechaçado pela seita, é simultânea e instantaneamente rechaçado pelos militantes dessa. No militantismo não há lugar para uma amizade que estivesse em contradição com as decisões e atitudes da seita. Essa contradição só é admissível nos meios burgueses onde é possível "conservar uma amizade pessoal" com um excluído, com um expulso. Nos revolucionários, o Partido é cem vezes mais importante que a amizade.

Uma das últimas provas que aguardam o militante em seu noviciado, é a humildade revolucionária que lhe conduz, à diferença do mundo burguês, a se abster sempre de "dar sua opinião" (ato frequentemente estéril em si mesmo, por outro lado) e a se obrigar a executar ordens que sacrifiquem seu amor próprio adquirido em sua antiga educação. Porém essa humildade se compensa amplamente pelo orgulho de pertencer a um grupo eleito, elitista.

Por último, para finalizar, o militante em seu noviciado descobre que a seita é uma sociedade igualitária: ao entrar ali, deve aceitar que à seita não importam as categorias e os cargos obtidos em outros lugares, na vida burguesa. A seita só reconhece suas próprias referências de honra, suas próprias referências hierárquicas.

Assim pois, o preço humano da potência militante é elevado, muito caro, não está ao alcance de todos, nós dizemos inclusive que está ao alcance de muitos poucos. O militante é um tipo de monge político, do mesmo modo que em outro tempo os primeiros templários foram monges-soldados. O que pode e quer pagar o preço humano desejado conhecerá então as sensações estimulantes de participar na conquista de um poder.

A conquista dos demais passa obrigatoriamente e acima de tudo pela conquista de si mesmo. Quem se dirija a si mesmo, dirigirá aos outros. Esse é o primeiro exercício, e com muito, é o mais difícil, o mais duro. Nele está a chave da potência.

24/12/2013

Dan Michaels - Aleksandr Dugin: Oráculo Eurasiano

Por Dan Michaels





O movimento Eurasiano, que busca restaurar o poder e o prestígio da Rússia, é uma forma de Nacional Bolchevismo baseada na teoria geopolítica em que Moscou, Berlim e Paris formam um eixo político natural e um centro de poder em potencial. Alexander Dugin, o fundador do Partido da Eurásia, escreve: O novo império Eurasiano será construído sobre o princípio básico de oposição ao inimigo em comum: o Atlantismo e a Nova Ordem Mundial Americana. Um mundo multipolar deve substituir o atual mundo unipolar dominado pelos Estados Unidos.

Nos últimos anos, muito tem sido escrito sobre o professor universitário Russo Alexander Dugin, que se tornou um proeminente conselheiro de Putin, embora ele não tenha uma posição oficial no governo, nem credenciais acadêmicas para chefiar o Departamento de Sociologia da Universidade Estatal de Moscou. Seu papel de conselheiro como intelectual residente sem portfólio parece basear-se em sua experiência em assuntos relacionados com filosofia política e formas de governo. Embora a Federação Russa tenha uma Constituição, o Governo é muito novo e inexperiente em muitos aspectos. Um intelectual como Alexander Dugin certamente poderia ser útil para aconselhar o Presidente sobre as leis fundamentais e os princípios que prescrevem a natureza, função e limites tanto do governo Russo, quanto dos governos estrangeiros.

Dugin é um autodidata que aprendeu nove línguas estrangeiras e mergulhou na história do século XX e nas filosofias políticas, bem como em alguns temas arcanos, raramente mencionados. Ele é associado principalmente com os defensores de uma ampla coalizão Vermelho-Marrom, consistida por comunistas Russos e admiradores de certos aspectos do Nacional-Socialismo Alemão. Dugin, apesar de sua origem informal e pouco ortodoxa, é um indivíduo altamente erudito e inteligente, visto pela maioria como um comentarista e ativista político, geopolítico, publicitário, e porta-voz dos Eurasianistas da Rússia. Outros, em menor número, julgam-no como místico, ocultista, e ex-membro de uma família privilegiada do antigo regime Comunista.

Eurasianos, como o Dugin, não têm nenhum problema em admirar os Czares da Rússia Imperial e Josef Stalin ao mesmo tempo, já que sua principal preocupação é que a Rússia continue poderosa, independentemente da forma de governo. Dugin merece atenção constante por seus contínuos esforços para reunir todas as forças (extremas, moderadas e liberais) na Rússia e no exterior que se opõem à globalização e à Nova Ordem Mundial Americana. Dugin: “Se você é a favor da hegemonia liberal global, você é o inimigo.”

Durante vários séculos, o Império Russo, e posteriormente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, foi o maior império da Terra com fronteiras contíguas. O Império Britânico era mundial, mas disperso. Ao longo da história da Rússia, que em muitos aspectos foi paralela aos Estados Unidos (ambas as nações são produtos da Europa, o Império Russo expandiu-se para o Leste, enquanto os Estados Unidos se expandiu para o Oeste e para o Norte até o Alasca russo). Ambos os povos — russos e americanos — têm um senso de “destino manifesto”, ou seja, de alguma forma estão predestinados a ocupar um lugar especial entre as nações do mundo.

O povo Russo sempre esteve dividido sobre qual caminho seguir para alcançar esse lugar especial no mundo. Aqueles que têm favorecido uma estreita cooperação com o Ocidente mais desenvolvido e um ritmo acelerado de modernização na Rússia são tradicionalmente referidos como Ocidentalizadores. Pedro, o Grande, um dos primeiros, foi desprezado por seus contemporâneos como um anticristo por se atrever a mudar algumas das tradições mais antigas. O povo comum da Rússia, se não os Eurasianistas, na maioria das vezes desprezaram os Comunistas, os últimos defensores da modernização imediata e implacável, por causa dos seus impopulares projetos de industrialização em larga escala. Devido ao fato dos Judeus estarem entre os modernizadores mais ávidos do mundo, ou seja, críticos entusiastas e difamadores do passado Europeu, e por serem tão proeminentes na liderança comunista, atraíram a animosidade do povo comum para o apoio e promoção de projetos de modernização, que muitas vezes eram imprudentes. Dugin, no entanto, não é um anti-Semita no sentido familiar da palavra, embora ele tem um interesse permanente na questão Judaica, especialmente na Rússia, e tem escrito extensivamente sobre o assunto.

No passado, os adversários da modernização Ocidental na Rússia eram chamados de Eslavófilos, porque eles acreditavam que a própria natureza da identidade Eslava era de alguma forma predestinada a gerenciar e controlar o progresso da Rússia. O grande nacionalismo Russo foi prevalente e temido pelos vizinhos da Rússia, assim como era a propagação do Pan-Eslavismo na Europa. A ocidentalização e a modernização, especialmente quando geridas por não-russos, acreditavam os Eslavófilos, foi sempre acompanhada pela corrupção da Pátria. Eslavófilos de ontem são os Eurasianos de hoje.

Os Eurasianos, incluindo Dugin, acham a Nova Ordem Mundial Americana destruidora de tudo o que eles defendem: sua história, sua soberania, os costumes, a religião ortodoxa, as tradições sagradas e a cultura. Eles continuam a respeitar Josef Stalin por manter a Rússia forte, independente e especial.

Dugin nasceu em 1962 em uma privilegiada família Bolchevique. Seu pai, Gelizh, era um coronel-geral da inteligência Militar Soviética e sua mãe, Galina, uma médica. Quando Alexander saiu do Instituto de Aviação de Moscou, seu pai arranjou uma posição para ele nos arquivos da KGB. Foi lá que Dugin recebeu sua verdadeira educação no trabalho de inteligência. De importância primordial para o desenvolvimento dos seus posteriores pontos de vista geopolíticos, Dugin estudou os trabalhos de Halford John Mackinder, Carl Schmitt, e especialmente de Karl Haushofer e suas teorias de que a história do mundo sempre foi uma luta contínua entre as forças da Terra (tradição, religião, coletivismo) e do Mar (progresso, ateísmo, individualismo). Foi Haushofer que havia opinado na década de 1930:  “O dia em que os Alemães, Franceses e Russos se unirem será o último dia da hegemonia Anglo-Saxã”. Foi essa política de tentar formar uma aliança firme entre a Rússia e a Alemanha, que Ribbentrop e Molotov, com o apoio de muitos oficiais de alta patente da Wehrmacht e funcionários alemães de serviços estrangeiros localizados em Moscou, estavam buscando no final da década de 1930 e no início da década de 1940, sabendo (ou acreditando) que o Reino Unido e os EUA seriam relutantes em engajar uma guerra contra uma aliança de duas fortes potências Continentais.  

Após a primeira união de forças com Gennady Zyuganov, Alexander Prokhanov, e Eduard Limonov, todos comunistas impenitentes, Dugin ajudou a formar a Frente Nacional Bolchevique e, eventualmente, o Partido da Eurásia. Mas esses associados e seus partidos políticos, apesar de populares entre os muitos russos que favoreciam o antigo sistema Comunista ao invés do “Capitalismo de Cassino” introduzido por Boris Yeltsin e seus assessores de Harvard, não faziam parte do novo governo e, portanto, tinham pouco poder. Foi nesse período que Dugin escreveu uma série de artigos sobre os Judeus Russos.

Como um seguidor da Escola Tradicionalista de René Guénon, Dugin afirma ser contrário ao anti-Semitismo, talvez porque compartilha uma base ideológica comum com os Judeus em sua Cabala. Ele elogia Gershom Scholem como o maior pensador Tradicionalista. Dugin sobre o anti-Semitismo: “Eu simplesmente não posso acreditar nisso. Alguns ‘maçons’ imaginários, os Judeus por trás de qualquer coisa, paranoia, mania de ser constantemente perseguido”.

Como um Eurasianista, Dugin é plenamente consciente de que certas partes da Rússia, nas planícies ao norte do Mar Negro, foram o antigo berço dos povos falantes das línguas Indo-Europeias da Europa e do Oriente Médio, os chamados indo-europeus. Os Judeus chegaram à Rússia muito mais tarde, mas por volta do início do século XX conseguiram usurpar o poder através da Revolução Comunista. Dugin escreve sobre a diferença metafísica fundamental entre as mentalidades indo-europeia e judaica que têm causado dificuldades no passado:

Os Judeus possuem uma cultura religiosa que é profundamente distinta de todas as demonstrações históricas de espiritualidade Indo-Europeia — desde os antigos cultos pagãos indo-europeus até o Hinduísmo e Cristianismo. A apreensão voluntária ou forçada da diáspora Judaica a partir dos povos Indo-Europeus não foi um episódio ocasional da história, e nenhum Judeu Ortodoxo jamais negará a razão teológica subjacente da "distinção" Judaica. Os Judeus são uma comunidade que guarda o segredo das suas diferenças radicais em relação a outros povos. Se não admitirmos essa distinção, então simplesmente não há sentido falar sobre o problema Judaico...

O Judaísmo enxerga o mundo como alienado de Deus, como um exilo, como um labirinto mecânico, no qual vaga o povo escolhido, cuja verdadeira missão não é encontrada nas famosas vitórias de Josué, filho de Num, ou no profeta Ezra, mas nos trágicos levantes da dispersão. Em particular, a diáspora corresponde exatamente ao espírito do Judaísmo clássico, criando um abismo intransponível entre o Criador e a Criação...

Tradições Indo-Europeias, incluindo o Cristianismo, que se espalhou principalmente entre os Indo-Europeus, sustentam uma visão de mundo completamente diferente. O mundo Indo-Europeu é uma realidade viva, que é conectada diretamente com Deus ou, pelo menos, com o Filho de Deus. Mesmo nos tempos mais escuros, na Idade do Lobo, sobre a qual a tradição Nórdica fala, a conexão entre a Criação e o Criador, os habitantes do Espaço e o Caos primal, não é quebrado. Ele continua através do milagre da Eucaristia. A consciência religiosa Indo-Europeia é uma consciência predominantemente indígena, uma consciência conectada com o solo ao invés da dispersão, com a posse ao invés da perda, e com a conexão ao invés da separação.

Foi essa distinção fundamental relacionada ao seus respectivos Weltanschauung que inicialmente traçou uma linha de demarcação entre a visão de mundo Judaica e o entendimento Indo-Europeu do Sagrado. Os Judeus Ortodoxos, de acordo com sua própria visão religiosa e mística, consideram os não-judeus como “gentios”. Em grande parte de sua literatura de língua Inglesa, os Indo-Europeus são notados como “otimistas ingênuos e infantis”, não percebendo os terríveis segredos do Abismo, o drama teológico da dispersão e os terríveis segredos da diáspora...

A diferença entre a guerra metafísica e a guerra física é que a primeira aspira a uma vitória da síntese tradicional da verdade, enquanto a segunda aspira a fazer um dos dois lados combatentes vitorioso. Nenhum dos métodos físicos são aceitáveis nessa dramática oposição histórica. O campos de concentração Alemães poderiam destruir os Judeus, mas não foram capazes de extirpar a judiaria. Por outro lado, os comissários Hassídicos não poderiam, apesar de todo o seu genocídio sangrento, dizimar a população do eterno “Império Russo”...Esses exemplos só mostram que tanto a questão Judaica, quanto a questão Goy, não podem ser resolvidas com força física... 

O mundo Judaico é um mundo hostil para nós. Mas o nosso sentimento de justiça indo-europeia e a gravidade da nossa situação geopolítica exigem compreensão de suas leis, regras e interesses...A elite Indo-Europeia encontra-se atualmente diante de uma tarefa titânica —compreender aqueles que não são apenas diferentes cultural, nacional e politicamente, mas também metafisicamente. E, nesse caso, “entender” não significa “perdoar”, mas  “derrotar” — “derrotar com a Luz da Verdade”. (To Understand is Defeat - arctogaia.com/public/eng/defeat.html)

Nesse escrito, Dugin deixa claro o ponto importante que os Judeus em geral não compartilham o mesmo senso de “espiritualidade” (respeito, veneração, reverência, devoção) que os Cristãos, Muçulmanos, Hindus, e outras religiões têm em suas crenças religiosas e tradições sagradas, porque os Judeus não acreditam que pode haver alguma conexão pessoal entre a divindade e o homem. Essa divisão metafísica fundamental, Dugin acredita, impede os Judeus de compartilharem as crenças dos gentios no que diz respeito ao “sagrado”.

Em outro livreto, Os Judeus e a Eurásia, escrito durante esse mesmo período, Dugin explica como foi possível para os Judeus:

• terem sido em grande parte responsáveis tanto pelo surgimento, quanto pelo desaparecimento do Comunismo;

 • serem tanto inimigos quanto aliados do Capitalismo;

• serem os fundadores e os críticos do Cristianismo, Trotskistas e Stalinistas; e terem representantes de ambos os lados de quase todas as questões importantes



Dugin atribui essa habilidade incomum a uma dualidade inata na natureza Judaica – uma observação que ele compartilha com estudiosos Judeus Jacov Bromberg e Mikhail Agursky. Esses experientes pesquisadores Hebraicos afirmam que um número considerável de Judeus podem, com base em suas ações e opiniões, serem referidos como Judeus Orientais, enquanto os Judeus remanescentes, devido às suas crenças muito diferentes e antagônicas, podem ser chamados de Judeus Ocidentais.

Among the traits of the Oriental Jews are: the Hassidic-traditionalist attitude, mysticism, and cabbalism, religious fanaticism, extreme idealism, anti-materialism, and a tendency to abstraction and theorizing. It was members of this group, mostly East European Jewry that became communists, Marxists, revolutionaries, Stalinists and national Bolsheviks — the true believers.

O segundo grupo (geralmente Judeus Alemães), fortemente oposto ao primeiro, pode ser chamado de Judeus Ocidentais. As características incluem: racionalismo, tendências burguesas, Talmudismo, a linha Aristotélica-racionalista na religião Judaica, orientação para os negócios e para a economia, atração forte pelo dinheiro.

Segundo Dugin, foram principalmente os “não mundanos” Judeus Orientais que estabeleceram, impuseram e perpetuaram o Stalinismo com fervor religioso e terror. É claro que alguns Judeus Ocidentais mais mundanos e melhor educados (banqueiros, professores universitários, tipos altruístas mal orientados) apoiaram seus primos pobres do Oriente na propagação do Comunismo. O conflito entre esses dois grupos de Judeus existiu na União Soviética ao longo de sua história, finalmente culminando durante e depois a Segunda Guerra Mundial, quando os Judeus Orientais consorciaram e partilharam suas opiniões com os seus parentes mais ricos do Ocidente.

O momento decisivo absoluto, Dugin afirma, veio em 1948, quando o Estado de Israel foi estabelecido. Traços burgueses como o nacionalismo, patriotismo, desejo de melhores condições de vida, a valorização da liberdade de expressão e de imprensa, alimentação melhor e entre outras coisas infectaram os Judeus Orientais a ponto de Stalin já não poder contar mais com sua lealdade.

Quando Stalin convenientemente encontrou a morte em 1952, o sistema que ele e seus seguidores fundaram e construíram ao status de superpotência entrou em colapso e se desintegrou. Ironicamente, como observa Dugin, um número considerável de Judeus Soviéticos, agora ocidentalizados, permaneceram no lugar e continuaram a cooperar com seus irmãos no Ocidente, especialmente nos Estados Unidos e Israel. O resultado foi o controle oligárquico dos recursos naturais da Rússia.




O desprezo de Dugin pelo atual sistema oligárquico que explora os recursos minerais da Rússia para o benefício das empresas Ocidentais fica evidente em seus recentes comentários sobre o caso Mikhail Khodorkovsky:

Khodorkovsky apoia o crime organizado na Rússia. É inimaginável que um homem como Khodorkovsky , mesmo em um país Ocidental, não fosse preso. Ele é tão criminoso como todos os outros oligarcas que se tornaram milionários da noite para o dia... Khodorkovsky assumiu cada vez mais posições pró-ocidentais, como clamar pela diminuição do apoio ao Exército Russo. Ele apoiou as forças liberais Ocidentais na Rússia. Para Khodorkovsky, o desarmamento da Rússia era uma importante forma de abrir o país ao desenvolvimento liberal Ocidental. A independência e a soberania da Rússia seriam trocadas por maiores laços com o Ocidente. Como o homem mais rico da Rússia, Khodorkovsky anunciou que ele poderia não só comprar o parlamento, mas os resultados da votação também. Khodorkovsky chegou ainda mais longe. Ele chantageou Putin, ameaçando vender “Yukos”, a maior empresa de petróleo da Rússia, para os Americanos. De fato, Khodorkovsky declarou guerra contra Putin. Putin reagiu ao trazer o oligarca ao tribunal, onde foi condenado por seus crimes, não por suas opiniões políticas. O Ocidente tornou Khodorkovsky um herói, porque ele queria fazer da Rússia uma parte do Ocidente. (Zuerst http://www.zuerst.de/2012/05/23/„putin-steht-fur-souveranitat“/, Mai 2012)

Somente após Dugin se familiarizarcom Yevgeny Primakov e Vladimir Putin que suas ideias ganharam maior popularidade. Dugin tem grande estima por Putin. De acordo com Dugin, Putin pessoalmente é um político liberal, completamente pró-Ocidental que acredita profundamente que a Rússia deve proteger sua soberania e independência. Negociações frutíferas com o Ocidente só são possíveis quando a soberania da Rússia, e a determinação do Estado em defendê-la, é compreendida e respeitada. Se até nesse ponto o movimento de Dugin tem sido um assunto interno estritamente Russo, ele tomou recentemente rumos internacionais com planos para um pacto Russo-Islâmico, incluindo o Irã e o Iraque, e uma aliança Turco-Eslava na esfera Eurasiana.

Tanto Árabes quanto Turcos ainda continuam inteligentes em relação ao tratamento que receberam nas mãos dos Franceses e Britânicos após a Primeira Guerra Mundial e a dissolução do Império Otomano. Como resultado, eles podem ser mais passíveis de melhorar as relações com Moscou. Além disso, os Eurasianistas reconhecem que os Islâmicos já estão em guerra com os Estados Unidos em todo o Norte de África, no Oriente Médio, e abaixo da costa Leste Africana. Alguns Eurasianistas propuseram unir todo o mundo Cristão Ortodoxo e incentivá-los a se unirem com o Islã radical para enfrentar o materialismo Americano com os valores e tradições espirituais do Velho Mundo.

Mas é claro, a Europa, especialmente a França e a Alemanha, continua a ser o foco crucial dos planos Eurasianos de Dugin, para um eixo político Paris-Berlim-Moscou. Após a vitória na Segunda Guerra Mundial, os Aliados tinham cegamente concedido a Stalin a maior parte da Europa Oriental e toda Prússia, bem como as Ilhas Kurilas e as fronteiras contíguas com a China Vermelha depois que o Japão se rendeu. Os Soviéticos agora usam esses territórios como isca para atrair o Japão e a Alemanha de volta sob seu controle ou para humilhar as antigas potências do eixo como sátrapas dos EUA.

Por exemplo, há dez anos em seu livro Princípios de Geopolítica Dugin escreveu:

Seria sensato retornar a região de Kalininegrado (Koenigsberg, Prússia Oriental) para a Alemanha a fim de eliminar o último símbolo territorial de uma terrível guerra fratricida. Para que essa ação não seja vista apenas como mais uma capitulação geopolítica Russa, faria sentido para a Europa concordar em fazer outras mudanças territoriais e outras formas de expandir a zona de influência estratégica da Rússia... (ver Robert Logan. “Terrorismo, Eurasianismo & Cooperação Russo-Americana”, The Barnes Review, n º 6, de 2004.

E mais recentemente:

A Alemanha é um país ocupado governado por um poder estrangeiro. Os Americanos exercem controle real.  A própria elite política da Alemanha não é livre. Como resultado dessa situação, Berlim não pode agir para o bem do país como deveria. De fato, a Alemanha atualmente está sendo governada contra seus próprios interesses. Nós, os Russos, podemos ajudar os Alemães porque entendemos melhor a situação de Berlim e poderíamos melhorá-la. Por exemplo, estamos construindo redes Russo-Germânicas em muitos níveis diferentes. Nós podemos trabalhar juntos com diferentes grupos na República Federal e aprofundar nossas relações culturais. Eu acredito firmemente que um dia haverá uma Alemanha livre, forte e independente na Europa para desempenhar o papel de intermediário importante entre o Oriente e o Ocidente. O destino da Alemanha não será o de um vassalo de Bruxelas e Washington. (Entrevista com Dugin. Zuerst. Alemanha, n ° 10, 2012, p. 12) 

Para conter a notável interferência provocativa dos EUA em assuntos internos da Rússia, o colega  e conselheiro mais próximo de Dugin no Departamento de Sociologia na Universidade Estadual de Moscou, Leonid Savin, o editor-chefe da revista Geopolitika, foi encarregado de monitorar as atividades de todas as ONGs estrangeiras (Organizações Não Governamentais). Dugin descreve várias atividades patrocinadas por Americanos que interferem e tentam distorcer a vida Russa. O único objetivo desses grupos, que são financiados pelos governos dos EUA e da Europa, é desestabilizar o Estado Russo e incorporá-lo ao sistema ocidental:

O milionário Norte-Americano George Soros, por exemplo, cujos fundamentos apoiam maciçamente grupos pró-Ocidentais na Rússia, tem um papel importante em tais atividades. Além disso, outras organizações Americanas, como a “Freedom House”, que obtém 80% de seu apoio financeiro do governo dos EUA, distribui o livreto político de Gene Sharp The Politics of Nonviolent Action que influenciou de forma explícita os revolucionários na Ucrânia.

O recente ultrajante golpe publicitário do Pussy Riot foi imediatamente presumido pelos Russos ter sido apoiado por ONGs Norte-Americanas. Nesse caso lamentável, muitos Americanos, incluindo várias celebridades, confundindo os comportamentos obscenos e atos políticos desse grupo em particular como demonstrações pelos direitos humanos, aplaudiram a performance.

Dugin e seus Eurasianistas estão plenamente conscientes de que muitos Europeus também desaprovam o domínio Americano, a homogeneização das culturas, e a perda de tradições antigas com o mesmo fervor dos Russos. Já em 1959, Charles de Gaulle declarou: Oui, c’est l’Europe, depuis l’Atlantique jusqu’à l’Oural, c’est toute l’Europe, qui décidera du destin du monde. (Sim, é a Europa, do Atlântico aos Urais, é a Europa, é a Europa inteira que vai decidir o destino do mundo.) E recentemente, em 2002, Henri de Grossouvre escreveu Paris-Berlin-Moscow: The Way of Peace and Independence, sobre o qual General Pier Marrie Gallois, principal pensador geoestratégico da França, disse: “A Europa nunca irá recuperar sua soberania até que jogue fora a suserania Americana e faça uma aliança com a Rússia”. (Michael O'Meara, Ref. 2 )

Durante as últimas décadas, as agressivas aventuras diplomáticas e militares dos Estados Unidos na Europa Oriental e no Mundo Muçulmano poderia ter levado a Europa virar-se bruscamente contra as aventuras da globalização Americana. Por exemplo, Alain de Benoist, fundador da “Nova Direita”, um movimento também conhecido como “Identitarianismo”, declarou:

O que representa a maior ameaça às identidades coletivas atualmente é o sistema “que mata os povos”, ou seja, a imposição de um sistema de homogeneização global que elimina toda a diversidade humana, a diversidade dos povos, das línguas e das culturas... O maior perigo é o surgimento de indistinção, a extinção das diferenças, a destruição das culturas populares e estilos de vida em um mundo globalizado, no qual os únicos valores reconhecidos são os expressos pelas etiquetas de preço... Como muitos Europeus, fico espantado em saber que conservadores Americanos defendem quase por unanimidade o sistema capitalista, cuja expansão metodicamente continua destruindo tudo o que querem conservar. (Alain de Benoist ,“Sobre a Identidade”. Discurso proferido nas reuniões do Instituto Nacional de Política, Washington, DC, no dia 2 de Novembro de 2013)

Trinta anos antes, durante a Guerra Fria, de Benoist deixou claro o mesmo ponto, mas de uma maneira que fez os Franceses ficarem animados, “É melhor usar o elmo de um soldado do Exército Vermelho, do que viver em uma dieta de Hambúrgueres no Brooklyn”.

Enquanto Alexander Dugin gostaria muito de ser associado ao público e unir forças com os Europeus, assim como aqueles envolvidos com a Nova Direita, o sentimento não é recíproco. Os Europeus da França e entre outros simplesmente não confiam nos Russos. Salvo com alguma catástrofe inesperada, como a desintegração social ou colapso financeiro dos Estados Unidos, a possibilidade de uma grande aliança Europeia com a Rússia é nula. Consequentemente, a filosofia e teorização de Dugin, uma especialidade Russa, continuará.

Na sua Quarta Teoria Política, Dugin propõe que as melhores características das três ideologias fracassadas do século XX –  liberalismo, comunismo e fascismo –  podem ser selecionadas e unidas para formar a ideologia política do século XXI. No entanto, antes das características das ideologias fracassadas consideradas úteis para o novo Partido serem selecionadas, outras características, consideradas tóxicas, devem ser cuidadosamente expurgadas. Assim, todos os traços de racismo são excluídos do Fascismo (Nazismo); o determinismo econômico e anti-espiritualidade do Marxismo (Comunismo) e o individualismo do Liberalismo. O que resta pode ser útil para a quarta teoria política.

A “Ideia Eurasiana” é apresentada como uma alternativa à hegemonia global dos EUA e põe o chamado “ Mundo Multipolar” em oposição à universalidade liberal Ocidental. Dugin insiste que no Mundo Multipolar todos os povos teriam o direito de formar seu próprio futuro com as raízes de sua própria história intactas. Isso ocorreria no âmbito de alianças entre os diferentes povos do Continente. Tal aliança é a Eurásia. A ideia Eurasiana é um conceito geopolítico desenvolvido por intelectuais Russos como Nikolai Trubetzkoy, Piotr Savitzky e Lev Gumilov no início do século passado (Dugin, Zuerst. N º 8-9, 2013, p. 52-53).


Bibliografia: 


1)                 Registros da Wikipedia e Metapedia para personalidades e eventos pertinentes.

2)                  Michael O’Meara. Boreas Rising: Nacionalismo Branco e a Geopolítica do Eixo. The Occidental Quarterly, Vol. 4, Nº 4, 2005

3)                  Charles Clover, “Sonhos do Reduto Eurasiano”.”Foreign Affairs, Vol. 78, Nº 2, 1999

4)                  Israel Shamir. Putin’s Wise Counsellor. Direita Alternativa, Nº 6, p. 25, 2013