O movimento Eurasiano, que busca restaurar o poder
e o prestígio da Rússia, é uma forma de Nacional Bolchevismo baseada na teoria
geopolítica em que Moscou, Berlim e Paris formam um eixo político natural e um
centro de poder em potencial. Alexander Dugin, o fundador do Partido da
Eurásia, escreve: O novo império Eurasiano será construído sobre o princípio
básico de oposição ao inimigo em comum: o Atlantismo e a Nova Ordem Mundial
Americana. Um mundo multipolar deve substituir o atual mundo unipolar dominado
pelos Estados Unidos.
Nos últimos anos, muito tem sido escrito sobre o
professor universitário Russo Alexander Dugin, que se tornou um proeminente
conselheiro de Putin, embora ele não tenha uma posição oficial no governo, nem
credenciais acadêmicas para chefiar o Departamento de Sociologia da
Universidade Estatal de Moscou. Seu papel de conselheiro como intelectual
residente sem portfólio parece basear-se em sua experiência em assuntos
relacionados com filosofia política e formas de governo. Embora a Federação Russa
tenha uma Constituição, o Governo é muito novo e inexperiente em muitos
aspectos. Um intelectual como Alexander Dugin certamente poderia ser útil para
aconselhar o Presidente sobre as leis fundamentais e os princípios que
prescrevem a natureza, função e limites tanto do governo Russo, quanto dos
governos estrangeiros.
Dugin é
um autodidata que aprendeu nove línguas estrangeiras e mergulhou na história do
século XX e nas filosofias políticas, bem como em alguns temas arcanos,
raramente mencionados. Ele é associado principalmente com os defensores de uma
ampla coalizão Vermelho-Marrom, consistida por comunistas Russos e admiradores
de certos aspectos do Nacional-Socialismo Alemão. Dugin, apesar de sua origem
informal e pouco ortodoxa, é um indivíduo altamente erudito e inteligente,
visto pela maioria como um comentarista e ativista político, geopolítico,
publicitário, e porta-voz dos Eurasianistas da Rússia. Outros, em menor número,
julgam-no como místico, ocultista, e ex-membro de uma família privilegiada do
antigo regime Comunista.
Eurasianos, como o Dugin, não têm nenhum problema
em admirar os Czares da Rússia Imperial e Josef Stalin ao mesmo tempo, já que
sua principal preocupação é que a Rússia continue poderosa, independentemente
da forma de governo. Dugin merece atenção constante por seus contínuos esforços
para reunir todas as forças (extremas,
moderadas e liberais) na Rússia e no exterior que se opõem à globalização e à
Nova Ordem Mundial Americana. Dugin: “Se você é a favor da hegemonia liberal
global, você é o inimigo.”
Durante vários séculos, o Império Russo, e
posteriormente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, foi o maior
império da Terra com fronteiras contíguas. O Império Britânico era mundial, mas
disperso. Ao longo da história da Rússia, que em muitos aspectos foi paralela
aos Estados Unidos (ambas as nações são produtos da Europa, o Império Russo
expandiu-se para o Leste, enquanto os Estados Unidos se expandiu para o Oeste e
para o Norte até o Alasca russo). Ambos os povos — russos e americanos — têm um
senso de “destino manifesto”, ou seja, de alguma forma estão predestinados a
ocupar um lugar especial entre as nações do mundo.
O povo Russo sempre esteve dividido sobre qual
caminho seguir para alcançar esse lugar especial no mundo. Aqueles que têm
favorecido uma estreita cooperação com o Ocidente mais desenvolvido e um ritmo
acelerado de modernização na Rússia são tradicionalmente referidos como
Ocidentalizadores. Pedro, o Grande, um dos primeiros, foi desprezado por seus
contemporâneos como um anticristo por se atrever a mudar algumas das tradições
mais antigas. O povo comum da Rússia, se não os Eurasianistas, na maioria das
vezes desprezaram os Comunistas, os últimos defensores da modernização imediata
e implacável, por causa dos seus impopulares projetos de industrialização em
larga escala. Devido ao fato dos Judeus estarem entre os modernizadores mais
ávidos do mundo, ou seja, críticos entusiastas e difamadores do passado
Europeu, e por serem tão proeminentes na liderança comunista, atraíram a
animosidade do povo comum para o apoio e promoção de projetos de modernização,
que muitas vezes eram imprudentes. Dugin, no entanto, não é um anti-Semita no
sentido familiar da palavra, embora ele tem um interesse permanente na questão
Judaica, especialmente na Rússia, e tem escrito extensivamente sobre o assunto.
No passado, os adversários da modernização
Ocidental na Rússia eram chamados de Eslavófilos, porque eles acreditavam que a
própria natureza da identidade Eslava era de alguma forma predestinada a
gerenciar e controlar o progresso da Rússia. O grande nacionalismo Russo foi
prevalente e temido pelos vizinhos da Rússia, assim como era a propagação do Pan-Eslavismo
na Europa. A ocidentalização e a modernização, especialmente quando geridas por
não-russos, acreditavam os Eslavófilos, foi sempre acompanhada pela corrupção
da Pátria. Eslavófilos de ontem são os Eurasianos de hoje.
Os Eurasianos, incluindo Dugin, acham a Nova Ordem
Mundial Americana destruidora de tudo o que eles defendem: sua história, sua
soberania, os costumes, a religião ortodoxa, as tradições sagradas e a cultura.
Eles continuam a respeitar Josef Stalin por manter a Rússia forte, independente
e especial.
Dugin nasceu em 1962 em uma privilegiada família
Bolchevique. Seu pai, Gelizh, era um coronel-geral da inteligência Militar
Soviética e sua mãe, Galina, uma médica. Quando Alexander saiu do Instituto de
Aviação de Moscou, seu pai arranjou uma posição para ele nos arquivos da KGB.
Foi lá que Dugin recebeu sua verdadeira educação no trabalho de inteligência.
De importância primordial para o desenvolvimento dos seus posteriores pontos de
vista geopolíticos, Dugin estudou os trabalhos de Halford John Mackinder, Carl
Schmitt, e especialmente de Karl Haushofer e suas teorias de que a história do
mundo sempre foi uma luta contínua entre as forças da Terra (tradição,
religião, coletivismo) e do Mar (progresso, ateísmo, individualismo). Foi
Haushofer que havia opinado na década de 1930:
“O dia em que os Alemães, Franceses e Russos se unirem será o último dia
da hegemonia Anglo-Saxã”. Foi essa política de tentar formar uma aliança firme
entre a Rússia e a Alemanha, que Ribbentrop e Molotov, com o apoio de muitos
oficiais de alta patente da Wehrmacht e funcionários alemães de serviços
estrangeiros localizados em Moscou, estavam buscando no final da década de 1930
e no início da década de 1940, sabendo (ou acreditando) que o Reino Unido e os
EUA seriam relutantes em engajar uma guerra contra uma aliança de duas fortes
potências Continentais.
Após a primeira união de forças com Gennady
Zyuganov, Alexander Prokhanov, e Eduard Limonov, todos comunistas impenitentes,
Dugin ajudou a formar a Frente Nacional Bolchevique e, eventualmente, o Partido
da Eurásia. Mas esses associados e seus partidos políticos, apesar de populares
entre os muitos russos que favoreciam o antigo sistema Comunista ao invés do
“Capitalismo de Cassino” introduzido por Boris Yeltsin e seus assessores de
Harvard, não faziam parte do novo governo e, portanto, tinham pouco poder. Foi
nesse período que Dugin escreveu uma série de artigos sobre os Judeus Russos.
Como um seguidor da Escola Tradicionalista de René
Guénon, Dugin afirma ser contrário ao anti-Semitismo, talvez porque compartilha
uma base ideológica comum com os Judeus em sua Cabala. Ele elogia Gershom
Scholem como o maior pensador Tradicionalista. Dugin sobre o anti-Semitismo:
“Eu simplesmente não posso acreditar nisso. Alguns ‘maçons’ imaginários, os
Judeus por trás de qualquer coisa, paranoia, mania de ser constantemente
perseguido”.
Como um Eurasianista, Dugin é plenamente consciente
de que certas partes da Rússia, nas planícies ao norte do Mar Negro, foram o
antigo berço dos povos falantes das línguas Indo-Europeias da Europa e do
Oriente Médio, os chamados indo-europeus. Os Judeus chegaram à Rússia muito mais tarde,
mas por volta do início do século XX conseguiram usurpar o poder através da
Revolução Comunista. Dugin escreve sobre a diferença metafísica fundamental
entre as mentalidades indo-europeia e judaica que têm causado dificuldades no
passado:
Os Judeus possuem uma cultura religiosa que é
profundamente distinta de todas as demonstrações históricas de espiritualidade
Indo-Europeia — desde os antigos cultos pagãos indo-europeus até o Hinduísmo e
Cristianismo. A apreensão voluntária ou forçada da diáspora Judaica a partir
dos povos Indo-Europeus não foi um episódio ocasional da história, e nenhum
Judeu Ortodoxo jamais negará a razão teológica subjacente da
"distinção" Judaica. Os Judeus são uma comunidade que guarda o
segredo das suas diferenças radicais em relação a outros povos. Se não
admitirmos essa distinção, então simplesmente não há sentido falar sobre o
problema Judaico...
O Judaísmo enxerga o mundo como alienado de Deus,
como um exilo, como um labirinto mecânico, no qual vaga o povo escolhido, cuja
verdadeira missão não é encontrada nas famosas vitórias de Josué, filho de Num,
ou no profeta Ezra, mas nos trágicos levantes da dispersão. Em particular, a
diáspora corresponde exatamente ao espírito do Judaísmo clássico, criando um
abismo intransponível entre o Criador e a Criação...
Tradições Indo-Europeias, incluindo o Cristianismo,
que se espalhou principalmente entre os Indo-Europeus, sustentam uma visão de
mundo completamente diferente. O mundo Indo-Europeu é uma realidade viva, que é
conectada diretamente com Deus ou, pelo menos, com o Filho de Deus. Mesmo nos
tempos mais escuros, na Idade do Lobo, sobre a qual a tradição Nórdica fala, a
conexão entre a Criação e o Criador, os habitantes do Espaço e o Caos primal,
não é quebrado. Ele continua através do milagre da Eucaristia. A consciência
religiosa Indo-Europeia é uma consciência predominantemente indígena, uma
consciência conectada com o solo ao invés da dispersão, com a posse ao invés da
perda, e com a conexão ao invés da separação.
Foi essa distinção fundamental relacionada ao seus
respectivos Weltanschauung que inicialmente traçou uma linha de demarcação
entre a visão de mundo Judaica e o entendimento Indo-Europeu do Sagrado. Os
Judeus Ortodoxos, de acordo com sua própria visão religiosa e mística,
consideram os não-judeus como “gentios”. Em grande parte de sua literatura de
língua Inglesa, os Indo-Europeus são notados como “otimistas ingênuos e
infantis”, não percebendo os terríveis segredos do Abismo, o drama teológico da
dispersão e os terríveis segredos da diáspora...
A diferença entre a guerra metafísica e a guerra
física é que a primeira aspira a uma vitória da síntese tradicional da verdade,
enquanto a segunda aspira a fazer um dos dois lados combatentes vitorioso.
Nenhum dos métodos físicos são aceitáveis nessa dramática oposição histórica. O
campos de concentração Alemães poderiam destruir os Judeus, mas não foram
capazes de extirpar a judiaria. Por outro lado, os comissários Hassídicos não
poderiam, apesar de todo o seu genocídio sangrento, dizimar a população do
eterno “Império Russo”...Esses exemplos só mostram que tanto a questão Judaica,
quanto a questão Goy, não podem ser resolvidas com força física...
O mundo Judaico é um mundo hostil para nós. Mas o
nosso sentimento de justiça indo-europeia e a gravidade da nossa situação geopolítica
exigem compreensão de suas leis, regras e interesses...A elite Indo-Europeia
encontra-se atualmente diante de uma tarefa titânica —compreender aqueles que
não são apenas diferentes cultural, nacional e politicamente, mas também
metafisicamente. E, nesse caso, “entender” não significa “perdoar”, mas “derrotar” — “derrotar com a Luz da Verdade”.
(To Understand is Defeat - arctogaia.com/public/eng/defeat.html)
Nesse escrito, Dugin deixa claro o ponto importante
que os Judeus em geral não compartilham o mesmo senso de “espiritualidade”
(respeito, veneração, reverência, devoção) que os Cristãos, Muçulmanos, Hindus,
e outras religiões têm em suas crenças religiosas e tradições sagradas, porque
os Judeus não acreditam que pode haver alguma conexão pessoal entre a divindade
e o homem. Essa divisão metafísica fundamental, Dugin acredita, impede os
Judeus de compartilharem as crenças dos gentios no que diz respeito ao
“sagrado”.
Em outro livreto, Os Judeus e a Eurásia, escrito durante esse mesmo período, Dugin explica como foi possível para os Judeus:
• terem sido em grande parte responsáveis tanto pelo surgimento, quanto pelo desaparecimento do Comunismo;
• serem tanto inimigos quanto aliados do Capitalismo;
• serem os fundadores e os críticos do Cristianismo, Trotskistas e Stalinistas; e terem representantes de ambos os lados de quase todas as questões importantes
Em outro livreto, Os Judeus e a Eurásia, escrito durante esse mesmo período, Dugin explica como foi possível para os Judeus:
• terem sido em grande parte responsáveis tanto pelo surgimento, quanto pelo desaparecimento do Comunismo;
• serem tanto inimigos quanto aliados do Capitalismo;
• serem os fundadores e os críticos do Cristianismo, Trotskistas e Stalinistas; e terem representantes de ambos os lados de quase todas as questões importantes
Dugin atribui essa habilidade incomum a uma
dualidade inata na natureza Judaica – uma observação que ele compartilha com
estudiosos Judeus Jacov Bromberg e Mikhail Agursky. Esses experientes
pesquisadores Hebraicos afirmam que um número considerável de Judeus podem, com
base em suas ações e opiniões, serem referidos como Judeus Orientais, enquanto
os Judeus remanescentes, devido às suas crenças muito diferentes e antagônicas,
podem ser chamados de Judeus Ocidentais.
Among the traits of the
Oriental Jews are: the Hassidic-traditionalist attitude, mysticism, and
cabbalism, religious fanaticism, extreme idealism, anti-materialism, and a
tendency to abstraction and theorizing. It was members of this group, mostly
East European Jewry that became communists, Marxists, revolutionaries,
Stalinists and national Bolsheviks — the true believers.
O segundo grupo (geralmente Judeus Alemães),
fortemente oposto ao primeiro, pode ser chamado de Judeus Ocidentais. As
características incluem: racionalismo, tendências burguesas, Talmudismo, a
linha Aristotélica-racionalista na religião Judaica, orientação para os
negócios e para a economia, atração forte pelo dinheiro.
Segundo Dugin, foram principalmente os “não
mundanos” Judeus Orientais que estabeleceram, impuseram e perpetuaram o Stalinismo
com fervor religioso e terror. É claro que alguns Judeus Ocidentais mais
mundanos e melhor educados (banqueiros, professores universitários, tipos
altruístas mal orientados) apoiaram seus primos pobres do Oriente na propagação
do Comunismo. O conflito entre esses dois grupos de Judeus existiu na União
Soviética ao longo de sua história, finalmente culminando durante e depois a
Segunda Guerra Mundial, quando os Judeus Orientais consorciaram e partilharam
suas opiniões com os seus parentes mais ricos do Ocidente.
O momento decisivo absoluto, Dugin afirma, veio em
1948, quando o Estado de Israel foi estabelecido. Traços burgueses como o
nacionalismo, patriotismo, desejo de melhores condições de vida, a valorização
da liberdade de expressão e de imprensa, alimentação melhor e entre outras
coisas infectaram os Judeus Orientais a ponto de Stalin já não poder contar
mais com sua lealdade.
Quando Stalin convenientemente encontrou a morte em
1952, o sistema que ele e seus seguidores fundaram e construíram ao status de
superpotência entrou em colapso e se desintegrou. Ironicamente, como observa
Dugin, um número considerável de Judeus Soviéticos, agora ocidentalizados,
permaneceram no lugar e continuaram a cooperar com seus irmãos no Ocidente,
especialmente nos Estados Unidos e Israel. O
resultado foi o controle oligárquico dos recursos naturais da Rússia.
O desprezo de Dugin pelo atual sistema oligárquico
que explora os recursos minerais da Rússia para o benefício das empresas
Ocidentais fica evidente em seus recentes comentários sobre o caso Mikhail
Khodorkovsky:
Khodorkovsky apoia o crime organizado na Rússia. É
inimaginável que um homem como Khodorkovsky , mesmo em um país Ocidental, não
fosse preso. Ele é tão criminoso como todos os outros oligarcas que se tornaram
milionários da noite para o dia... Khodorkovsky assumiu cada vez mais posições
pró-ocidentais, como clamar pela diminuição do apoio ao Exército Russo. Ele
apoiou as forças liberais Ocidentais na Rússia. Para Khodorkovsky, o
desarmamento da Rússia era uma importante forma de abrir o país ao
desenvolvimento liberal Ocidental. A independência e a soberania da Rússia
seriam trocadas por maiores laços com o Ocidente. Como o homem mais rico da
Rússia, Khodorkovsky anunciou que ele poderia não só comprar o parlamento, mas
os resultados da votação também. Khodorkovsky chegou ainda mais longe. Ele
chantageou Putin, ameaçando vender “Yukos”, a maior empresa de petróleo da
Rússia, para os Americanos. De fato, Khodorkovsky declarou guerra contra Putin.
Putin reagiu ao trazer o oligarca ao tribunal, onde foi condenado por seus
crimes, não por suas opiniões políticas. O Ocidente tornou Khodorkovsky um
herói, porque ele queria fazer da Rússia uma parte do Ocidente. (Zuerst http://www.zuerst.de/2012/05/23/„putin-steht-fur-souveranitat“/,
Mai 2012)
Somente após Dugin se familiarizarcom Yevgeny
Primakov e Vladimir Putin que suas ideias ganharam maior popularidade. Dugin
tem grande estima por Putin. De acordo com Dugin, Putin pessoalmente é um
político liberal, completamente pró-Ocidental que acredita profundamente que a
Rússia deve proteger sua soberania e independência. Negociações frutíferas com
o Ocidente só são possíveis quando a soberania da Rússia, e a determinação do
Estado em defendê-la, é compreendida e respeitada. Se até nesse ponto o
movimento de Dugin tem sido um assunto interno estritamente Russo, ele tomou
recentemente rumos internacionais com planos para um pacto Russo-Islâmico,
incluindo o Irã e o Iraque, e uma aliança Turco-Eslava na esfera Eurasiana.
Tanto Árabes quanto Turcos ainda continuam
inteligentes em relação ao tratamento que receberam nas mãos dos Franceses e
Britânicos após a Primeira Guerra Mundial e a dissolução do Império Otomano.
Como resultado, eles podem ser mais passíveis de melhorar as relações com
Moscou. Além disso, os Eurasianistas reconhecem que os Islâmicos já estão em
guerra com os Estados Unidos em todo o Norte de África, no Oriente Médio, e
abaixo da costa Leste Africana. Alguns Eurasianistas propuseram unir todo o
mundo Cristão Ortodoxo e incentivá-los a se unirem com o Islã radical para
enfrentar o materialismo Americano com os valores e tradições espirituais do
Velho Mundo.
Mas é claro, a Europa, especialmente a França e a
Alemanha, continua a ser o foco crucial dos planos Eurasianos de Dugin, para um
eixo político Paris-Berlim-Moscou. Após a vitória na Segunda Guerra Mundial, os
Aliados tinham cegamente concedido a Stalin a maior parte da Europa Oriental e
toda Prússia, bem como as Ilhas Kurilas e as fronteiras contíguas com a China
Vermelha depois que o Japão se rendeu. Os Soviéticos agora usam esses
territórios como isca para atrair o Japão e a Alemanha de volta sob seu
controle ou para humilhar as antigas potências do eixo como sátrapas dos EUA.
Por exemplo, há dez anos em seu livro Princípios de Geopolítica Dugin
escreveu:
Seria sensato retornar a região de Kalininegrado
(Koenigsberg, Prússia Oriental) para a Alemanha a fim de eliminar o último
símbolo territorial de uma terrível guerra fratricida. Para que essa ação não
seja vista apenas como mais uma capitulação geopolítica Russa, faria sentido
para a Europa concordar em fazer outras mudanças territoriais e outras formas
de expandir a zona de influência estratégica da Rússia... (ver Robert Logan. “Terrorismo, Eurasianismo & Cooperação
Russo-Americana”, The Barnes Review,
n º 6, de 2004.
E mais recentemente:
A Alemanha é um país ocupado governado por um poder
estrangeiro. Os Americanos exercem controle real. A própria elite política da Alemanha não é
livre. Como resultado dessa situação, Berlim não pode agir para o bem do país
como deveria. De fato, a Alemanha atualmente está sendo governada contra seus
próprios interesses. Nós, os Russos, podemos ajudar os Alemães porque
entendemos melhor a situação de Berlim e poderíamos melhorá-la. Por exemplo,
estamos construindo redes Russo-Germânicas em muitos níveis diferentes. Nós
podemos trabalhar juntos com diferentes grupos na República Federal e
aprofundar nossas relações culturais. Eu acredito firmemente que um dia haverá
uma Alemanha livre, forte e independente na Europa para desempenhar o papel de
intermediário importante entre o Oriente e o Ocidente. O destino da Alemanha
não será o de um vassalo de Bruxelas e Washington. (Entrevista
com Dugin. Zuerst. Alemanha, n ° 10,
2012, p. 12)
Para conter a notável interferência provocativa dos
EUA em assuntos internos da Rússia, o colega
e conselheiro mais próximo de Dugin no Departamento de Sociologia na Universidade
Estadual de Moscou, Leonid Savin, o editor-chefe da revista Geopolitika, foi encarregado de
monitorar as atividades de todas as ONGs estrangeiras (Organizações Não
Governamentais). Dugin descreve várias atividades patrocinadas por Americanos
que interferem e tentam distorcer a vida Russa. O único objetivo desses grupos,
que são financiados pelos governos dos EUA e da Europa, é desestabilizar o
Estado Russo e incorporá-lo ao sistema ocidental:
O milionário Norte-Americano George Soros, por
exemplo, cujos fundamentos apoiam maciçamente grupos pró-Ocidentais na Rússia,
tem um papel importante em tais atividades. Além disso, outras organizações
Americanas, como a “Freedom House”, que obtém 80% de seu apoio financeiro do
governo dos EUA, distribui o livreto político de Gene Sharp The Politics of Nonviolent Action que
influenciou de forma explícita os revolucionários na Ucrânia.
O recente ultrajante golpe publicitário do Pussy
Riot foi imediatamente presumido pelos Russos ter sido apoiado por ONGs
Norte-Americanas. Nesse caso lamentável, muitos Americanos, incluindo várias
celebridades, confundindo os comportamentos obscenos e atos políticos desse
grupo em particular como demonstrações pelos direitos humanos, aplaudiram a
performance.
Dugin e seus Eurasianistas estão plenamente
conscientes de que muitos Europeus também desaprovam o domínio Americano, a
homogeneização das culturas, e a perda de tradições antigas com o mesmo fervor
dos Russos. Já em 1959, Charles de Gaulle declarou: Oui, c’est l’Europe, depuis l’Atlantique jusqu’à l’Oural, c’est toute
l’Europe, qui décidera du destin du monde. (Sim, é a Europa, do Atlântico
aos Urais, é a Europa, é a Europa inteira que vai decidir o destino do mundo.)
E recentemente, em 2002, Henri de Grossouvre escreveu Paris-Berlin-Moscow: The Way of Peace and Independence, sobre o
qual General Pier Marrie Gallois, principal pensador geoestratégico da França,
disse: “A Europa nunca irá recuperar sua soberania até que jogue fora a
suserania Americana e faça uma aliança com a Rússia”. (Michael
O'Meara, Ref. 2 )
Durante as últimas décadas, as agressivas aventuras
diplomáticas e militares dos Estados Unidos na Europa Oriental e no Mundo
Muçulmano poderia ter levado a Europa virar-se bruscamente contra as aventuras
da globalização Americana. Por exemplo, Alain de
Benoist, fundador da “Nova Direita”, um movimento também conhecido como
“Identitarianismo”, declarou:
O que representa a maior ameaça às identidades
coletivas atualmente é o sistema “que mata os povos”, ou seja, a imposição de
um sistema de homogeneização global que elimina toda a diversidade humana, a
diversidade dos povos, das línguas e das culturas... O maior perigo é o
surgimento de indistinção, a extinção das diferenças, a destruição das culturas
populares e estilos de vida em um mundo globalizado, no qual os únicos valores
reconhecidos são os expressos pelas etiquetas de preço... Como muitos Europeus,
fico espantado em saber que conservadores Americanos defendem quase por
unanimidade o sistema capitalista, cuja expansão metodicamente continua
destruindo tudo o que querem conservar. (Alain de
Benoist ,“Sobre a Identidade”. Discurso proferido nas reuniões do Instituto
Nacional de Política, Washington, DC, no dia 2 de Novembro de 2013)
Trinta anos antes, durante a Guerra Fria, de
Benoist deixou claro o mesmo ponto, mas de uma maneira que fez os Franceses
ficarem animados, “É melhor usar o elmo de um soldado do Exército Vermelho, do
que viver em uma dieta de Hambúrgueres no Brooklyn”.
Enquanto Alexander Dugin gostaria muito de ser
associado ao público e unir forças com os Europeus, assim como aqueles
envolvidos com a Nova Direita, o sentimento não é recíproco. Os Europeus da
França e entre outros simplesmente não confiam nos Russos. Salvo com alguma
catástrofe inesperada, como a desintegração social ou colapso financeiro dos
Estados Unidos, a possibilidade de uma grande aliança Europeia com a Rússia é
nula. Consequentemente, a filosofia e teorização de Dugin, uma especialidade
Russa, continuará.
Na sua Quarta Teoria Política, Dugin propõe que as
melhores características das três ideologias fracassadas do século XX – liberalismo, comunismo e fascismo – podem ser selecionadas e unidas para formar a
ideologia política do século XXI. No entanto, antes das características das
ideologias fracassadas consideradas úteis para o novo Partido serem
selecionadas, outras características, consideradas tóxicas, devem ser
cuidadosamente expurgadas. Assim, todos os traços de racismo são excluídos do
Fascismo (Nazismo); o determinismo econômico e anti-espiritualidade do Marxismo
(Comunismo) e o individualismo do Liberalismo. O que
resta pode ser útil para a quarta teoria política.
A “Ideia Eurasiana” é apresentada como uma
alternativa à hegemonia global dos EUA e põe o chamado “ Mundo Multipolar” em
oposição à universalidade liberal Ocidental. Dugin insiste que no Mundo
Multipolar todos os povos teriam o direito de formar seu próprio futuro com as
raízes de sua própria história intactas. Isso ocorreria no âmbito de alianças
entre os diferentes povos do Continente. Tal aliança é a Eurásia. A ideia
Eurasiana é um conceito geopolítico desenvolvido por intelectuais Russos como
Nikolai Trubetzkoy, Piotr Savitzky e Lev Gumilov no início do século passado
(Dugin, Zuerst. N º 8-9, 2013, p. 52-53).
Bibliografia:
1) Registros
da Wikipedia e Metapedia para personalidades e eventos pertinentes.
2)
Michael O’Meara. Boreas
Rising: Nacionalismo Branco e a Geopolítica do Eixo. The Occidental Quarterly, Vol. 4, Nº 4, 2005
3)
Charles Clover, “Sonhos do Reduto Eurasiano”.”Foreign Affairs, Vol. 78,
Nº 2, 1999
4)
Israel Shamir. Putin’s Wise Counsellor. Direita Alternativa, Nº 6, p. 25, 2013