14/02/2012

A Involução do Homem ao longo dos Ciclos: O Tradicionalismo Radical sobre a Antropogênese

por Michael Bell



No que concerne a gênese da humanidade moderna, há duas teorias primárias que recebem credibilidade nos círculos antropológicos. Uma é a hipótese "fora da África", que defende que os humanos de hoje são os descendentes evoluídos de uma raça primitiva de hominídios que, 70.000 anos atrás, saiu de seu território original na África e se espalhou pelo globo. Chegando na Ásia e na Europa, esses humanos arcaicos substituíram os neanderthais indígenas através do conflito violento e de taxas de natalidade mais altas. Eles então se adaptaram a seus meios e gradualmente se transformaram nas atuais raças humanas através de um processo chamado de evolução localizada.

A outra teoria é a "evolução divergente", que propõe que as várias raças da humanidade brotaram a partir de misturas contínuas entre os diferentes proto-humanos (homo erectus, cromagnon, neanderthais, etc.) há muitos milênios. Os incontáveis amálgamas híbridos então sofreram uma evolução localizada como o ancestral singular do processo "fora da África".

Ainda que essas hipóteses estejam em contradição uma com a outra, elas estão unidas por um conceito fundamental: a idéia de progresso. Enquanto cada uma dá uma diferente origem à humanidade, ambas parte da hipótese de que conforme o tempo passa, a humanidade se torna melhor. Ainda que a teoria evolucionária não implique que adaptações superiores também sejam superiores em termos de inteligência e beleza, essa noção é particularmente difícil de abalar no que concerne a evolução humana.

O Tradicionalismo radical rejeita a hipótese modernista da evolução humana progressiva, considerando-a o exato oposto de como o universo funciona. Para o Tradicionalismo, todas as coisas começam em seu zênite e gradualmente degeneram, através de uma série de fases, em meras sombras de sua glória anterior, um padrão que não é menos verdadeiro para seres humanos. O propósito desse ensaio é explicar como essa regra tem se aplicado à humanidade, que não ascendeu ao domínio do mundo a partir das origens medíocres de algum ancestral simiesco, mas ao contrário decaiu da divindade em sua atual condição demasiado humana.

Para fazê-lo, primeiro será necessário descrever o entendimento Tradicionalista radical da história. Como todos os princípios do Tradicionalismo, essa concepção é considerada uma verdade revelada transmitida através de uma cadeia iniciática. O que recomenda a perspectiva Tradicionalista ao não-iniciado é sua coerência e poder explicativo. No seguinte ensaio, eu mostro que o Tradicionalismo explica os registros arqueológios e histórios e também se harmoniza com mitos antigos. O empirista moderna provavelmente desprezará tais mitos como fantasias de imaginações primitivas, mas isso seria uma petição de princípio, haja vista que isso seria apenas uma outra versão da tese progressista que o Tradicionalismo rejeita.

História Cíclica



O Tradicionalismo radical compartilha da mesma visão da história humana que nossos antepassados de praticamente cada canto do globo. Em oposição ao modelo linear da história - seja ela governada por um propósito subjacente ou pelo mero acaso - os antigos aceitavam um modelo cíclico. Isso é evidente nos textos de virtualmente cada raça civilizada. Os hindus traçavam o descenso do homem ao longo de quatro eras ou yugas, da idade da Verdade (Satya Yuga) à idade das Trevas (Kali Yuga), com a série compreendendo uma única Grande Idade (Mahayuga). O Hesíodo helênico, em seus Trabalhos e Dias, descreveu a procissão de uma Idade do Ouro às Idades da Prata, Bronze, e Ferro, que correspondem à representação persa dos ciclos. O Velho Testamento revela que os povos semitas também partilhavam desse entendimento cíclico. Em um sonho tido pelo rei caldeu Nabocodonosor, havia uma estátua com a cabeça feita de ouro, o tórax e braços de prata, coxas de bronze, e pernas e pés de ferro e argila, que eventualmente desabou após ser atingida por uma preza. A lista poderia seguir adiante, com discussões sobre povos dos aztecas aos japoneses, mas os exemplos dados são suficientes para revelar a universalidade desse conceito cíclico.

Os antigos também concordavam que com cada era sucessiva, o homem se tornava mais e mais distante de um estado primordial de perfeição. Na Idade do Ouro, o homem vivia em harmonia com seres divinos e segundos princípios absolutos transcendentais que traziam felicidade, plenitude, e quase imortalidade aos indivíduos, ao mesmo tempo que trazia ordem e prosperidade à vida coletiva. Com a chegada da Idade de Prata ocorreu uma queda desse estado de graça e o estabelecimento de uma existência imperfeita, na qual aqueles antigos princípios foram abandonados, os deuses perderam muito de sua natureza divina, e o homem deu um passo para longo da harmonia cósmica e na direção do caos. Para os propósitos desse ensaio, nós abordaremos as Idades de Ouro e de Prata, pois foi nesses períodos pré-históricos que a humanidade passou por processos que nos concederam nossa multitude de formas físicas e mentais contemporâneas.



A Idade de Ouro Hiperbórea

A Idade de Ouro foi um período de perfeição em todos os níveis. A vida humana era diretamente guiada pelos deuses e assim era ordeira, plena, e proveitosa. Ainda que ela tenha sido há muito tempo e sua localização há muito tenha se perdido, sua memória é mantida viva pelas tradições míticas de quase todos os povos do planeta. Hesíodo, escrevendo no século VIII a.C., descreve a Idade de Ouro assim:

"Eram do tempo de Cronos, quando no céu este reinava;
como deuses viviam, tendo despreocupado coração,
apartados, longe de penas e misérias; nem temível
velhice lhes pesava, sempre iguais nos pés e nas mãos,
alegravam-se em festins, os males todos afastados,
morriam como por sono tomados; todos os bens eram
para eles: espontânea a terra nutriz fruto
trazia abundante e generoso e eles, contentes,
tranquilos nutriam-se de seus pródigos bens".

Hesíodo é um dentre poucos escritores a mencionar diretamente a Idade de Ouro e descrever suas qualidades. Usando sua obra como ponto de referência, porém, o estudioso pode detectar alusões ao mesmo período em outros textos antigos. Por exemplo, no Livro 6 do Mahabharata, o autor discute o Monte Meru, "feito de ouro", onde "a medida da vida humana é 10.000 anos" e "os homens são todos de uma compleição áurea...e sem doença, sem pesar, e sempre alegres". Fora da tradição ária, o Livro de Lieh-Tzu (século IV a.C.) descreve o que parecem ser os habitantes da Idade de Ouro:

"Todos eram igualmente intocados pelas emoções do amor e da simpatia, do ciúme e do medo. A água não tinha o poder de afogá-los, nem o fogo de queimá-los; cortes e golpes não causavam ferimento ou dor, coçar ou fazer cócegas não lhes causava reação. Eles caminhavam pelo ar como se pisassem em terra sólida; eles aninhavam-se no espaço como se descansassem em uma cama. Nuvens e névoas não obstruíam sua visão, trovões não atordoavam seus ouvidos, a beleza física não perturbava seus corações, montanhas e vales não atrapalhavam seus passos. Eles caminhavam como deuses".

 Finalmente, nós temos a memória semítica do Jardim do Éden, no qual o homem primeiro se estabeleceu na Terra sob o comando de Deus. Segundo o Livro do Gênese, aqueles que lá habitavam viviam por quase mil anos em um alegre paraíso. As alusões a esse lugar pristino são numerosas, da lembranção avéstica de um período distante no Airyana Vaego, no qual o homem estava sob a proteção do próprio Ahura Mazda, à lembrança budista de Shambhala, traduzida aproximadamente como "terra de paz" ou "tranquilidade".

 Ao se tentar traçar uma antropogênese, é crucial estabelecer a localização física desse paraíso primordial. Infelizmente, nenhuma evidência material arqueológica oferece qualquer indicação a essa questão. Nós ficamos assim forçados a confiar apenas nas memórias mitológicas de nossos ancestrais. Entre os gregos, essa terra "para além do pólo" onde "nem pestilência ou doença chegavam" aos habitantes recebia o nome de Hiperbórea, significando "para além do vento norte".

Em seu livro O Lar Ártico nos Vedas, o nacionalista hindu Bal Gangadhar Tilak, escrevendo no início do século XX, apresenta uma vasta quantia de pistas da literatura védica e a véstica para arguir que o paraíso primordial se localizava no Ártico. Tilak explica que se alguém se posicionasse no Pólo Norte, o céu acima pareceria rodar "da esquerda para a direta, mais ou menos como o movimento de um chapéu ou guarda-chuva virado de cabeça pra baixo". Ele também explica que essa pessoa veria o sol continuamente no céu por aproximadamente seis meses, seguido de um período de crepúsculo, noite, e amanhacer de dois meses cada. Assim para o habitante do ártico, um ano inteiro pareceria desenrolar-se como um único dia.



Com esses fenômenos astrais em mente, Tilak procede a indicar alusões a eles nos textos ários. Por exemplo, no Mahabharata, o Monte Meru é discutido em uma passagem como um lugar no qual o "sol e a lua giram da esquerda para a direita todo dia e assim o fazem todas as estrelas" e "O dia e a noite juntos são iguais a um ano para os residentes do lugar". Ele sustenta isso com uma seleção das Leis de Manú pós-vedicas, que dizem "Um ano (humano) é um dia e uma noite dos Deuses; assim se dividem os dois, a passagem do sol no norte é o dia e no sul é a noite". Tilak corrobora essa evidência com pistas da tradição persa. Do Avesta nós temos uma referência a um "cercado" no Airyana Vaego no qual "as estrelas, a lua, e o sol são apenas uma vez vistos ascendendo e descendendo, e um ano passa apenas como um dia".

As condições árticas atuais tornam isso impensável. Segundo Tilak, porém, cientistas modernas admitem que outrora na distante pré-hitória, talvez em tempos pré-glaciais, a região era habitável, fértil e cheia de vida. Entre esses cientistas está o geólogo James Geikie, que em 1893 afirmou que "durante o período interglacial o clima era caracterizado por invernos amenos e verões frescos de modo que plantas e animais tropicais, como elefantes, rinocerontes, e hipopótamos, habitavam toda a região ártica, e apesar de inúmeros carnívoros, o homem paleolítico não tinha vida desagradável lá". Joscelyn Godwin confirma que tais condições eram de fato possíveis quando, como "inúmeras autoridades" afirmam, "a Terra não era inclinada, mas girava perfeitamente ereta...com seu eixo perpendicular ao plano de sua órbita ao redor do sol", que era o caso em "tempos primordiais".

Como a Idade de Ouro ártica ocorreu muitas eras antes da história registrada, descobrir sua presença real no tempo é problemático. Usando cálculos hindus, o Tradicionalista René Guénon concluiu que essa Idade de Ouro teve lugar quase 65.000 anos atrás. Nós devemos preferir esse número à hipótese de 12.000 anos de Tilak, já que essa colocaria a Idade de Prata subsequente muito perto da história registrada para que isso fosse possível, especialmente considerando que a Idade das Trevas teria começado apenas 6.000 anos atrás. Ademais, seria impluasível colocar as origens humanas apenas 12.000 anos atrás, já que os processos involutivos que o reduziram a sua forma moderna não poderiam ter se desdobrado completamente dentro desse curto espaço de tempo.



Eventualmente, o assento ártico e sua Idade de Ouro encontraram um fim catastrófico por um número de razões, tanto físicas como metafísicas. Em seu magnum opus, Revolta Contra o Mundo Moderno, Julius Evola afirma que o eixo terrestre mudou levemente de posição, dando causa a uma mudança climática catastrófica. Como resultado, as regiões polares tornaram-se inabitáveis para a maioria das formas de vida. Em textos antigos encontram-se inúmeras referências a essa mudança de eixo. A tradição taoísta relembra quando "o pilar que conecta Céu e Terra" partiu (o eixo é essencialmente um pilar invisívei que une o céu com a Terra), explicando "porque o Céu pende para baixo na direção noroeste, de modo que sol, lua e estrelas viajam na direção daquele quarteirão". A história hebréia da derrocada da Torre de Babel, que conectava Céu e Terra, é outro exemplo. O Avesta explica o início da mudança climática em um diálogo entre o deus criador e seu discípulo, o rei Yima: "E Ahura Mazda falou a Yima, dizendo: 'Ó belo Yima, filho de Vivanghat! Sobre o mundo material cairão os invernos fatais, que trarão um duro e sujo congelamento; sobre o mundo material os invernos fatais cairão, que farão a neve cair densa". Como esse evento teria ocorrido dezenas de milhares de anos atrás, isso provavelmente oincidiria com o início de uma das várias eras do gelo.

 Mais um evento, metafísico por natureza, é explicado pelo Velho Testamento. Ele fala sobre como "os filhos de Deus" copularam com "as filhas do homem" e geraram uma raça de poderosos gigantes, cujo comportamento maligno, dirigido pelos apetites da carne, fez Deus lançar as forças elementais contra eles. Esses filhos são prováveis paralelos aos "deuses celestiais" que habitavam em Airyana Vaego, bem como outros deuses e semideuses que os textos antigos dizem que viviam nesse paraíso primordial. Das pistas acima, nós podemos pintar a seguinte imagem relativa ao fim da Idade de Ouro. Seres humanos vivendo harmoniosamente com seres divinos no paraíso ártico até que ambos participaram em uniões sexuais que produziram híbridos poderosos e semidivinos. Essa ação causou uma ruptura no equilíbrio cósmico do universo de modo que o eixo da Terra se alterou, dando início à era de gelo que transformou o paraíso em uma fria desolação.

Após a destruição do Airyana Vaego/Monte Meru/Éden/Hiperbórea, os sobreviventes semidivinos foram forçados a migrar para o sul. Em seu êxodo eles mantiveram a memória de sua origem polar, expressa por símbolos polares como a suástica (uma cruz torta girando ao redor de um ponto fixo) e a Árvore do Mundo, que tradicionalmente liga Midgard (Terra) com os reinos acima. Alguns se assentaram em áreas da América do Norte e do Norte da Europa, mas a maioria se reagrupou em uma localidade atlântica para reconstituir sua civilização.



Se tivermos que fazer conjecturas sobre a raça de nossos hiperbóreos, devemos olhar para aqueles que carregam consigo a memória dessa origem primordial. Por hiperbóreos, eu quero me referir à raça ártica de "homens" que viviam entre os deuses. Discernir os traços deles é impossível, já que eles não eram limitados pela existência material; eles poderiam ser antropomórficos, etéreos, ou capazes de alternar entre ambos. Nossa única pista é que eles eram "áureos", o que pode ser uma alusão a um vibrante blondismo.

Em todas as civilizações discutidas acima, bem como em outras, nossa preocupação seria com as castas superiores, nomeadamente a sacerdotal e a aristocracia militar, que preservavam as memórias de Hiperbórea. Entre os povos indo-europeus da Europa, essa tarefa é mais simples devido à abundância de evidência física disponível, nomeadamente estátuas, afrescos, relevos, e restos físicos. Os ancestrais da Grécia e Roma clássicas, da Germânia, e da Celtia, que trouxeram consigo a celebração de Zeus, Saturno, Tuísto, e Dana, eram evidentemente de uma estirpe alta, robusta, e loira. O médico grego do século IV a.C., Adamantios, nos dá uma imagem dos primeiros helenos, afirmando que "Onde quer que as raças helênica e jônica foram mantidas puras, nós vemos homens altos de compleição ampla e reta, bem feitos, de pele razoavelmente clara e loiros; a carne é firme, os membros retos, as extremidades bem feitas".

Conforme avançamos para o leste, a evidência se torna menos abundante, mas não obstante continua sendo reveladora. Os brâmanes que levaram à Índia os mais antigos relatos da Idade de Ouro no Monte Meru eram da mesma raça nórdica. Se justapormos um brâmin ou kshatriyas modernos com um membro das castas inferiores, não raro parece que os primeiros tem algo de diferente em suas raízes. Ele tende a ser mais alto e mais claro em seus traços e às vezes possui olhos azuis ou verdes e, mais raramente ainda, cabelo claro. Indivíduos das castas inferiores geralmente tendem a ser menores e mais escuros, e ainda que muitos tenham feições caucasóides, outros mostram um fenótipo australóide. Kaiyata, escrevendo no século II a.C., afirma que brâmanes brancos outrora "floresceram em um ciclo de existência prévio" mas "seus descendentes raramente são encontrados hoje". O kshatriya do século VI a.C., Siddhartha Gautama (Buda), é descrito no cânone Pali como tendo abhi nila netto, ou "olhos muito azuis", um traço nórdico típico.

No Extremo Oriente, nós temos um meio inteiramente não-ário. Porém, há ampla evidência genética de que brancos altos e claros vagaram tanto pela China ocidental como oriental muito antes dos atuais mongolóides. Junto com a descrição racial do Buda, nós temos o bastante para supor uma forte influência nórdica ou similar sobre a cultura chinesa. Como o budismo influenciou o desenvolvimento da cultura religiosa japonesa, a mesma regra se aplica ao Japão.

A lista poderia seguir adiante, mas nós já demos prova suficiente de que os portadores dos registros mais antigos da Hiperbórea eram branco altos, claros, de olhos azuis e cabelos claros. Seria então justo concluir que os hiperbóreos, dos quais eles afirmavam descender, eram provavelmente de uma raça proto-nórdica.



A Idade de Prata Atlante

O poema de Hesíodo continua com uma discussão da segunda era, "que os Celestiais chamam de anos de prata". Nesse período, o homem tornou-se sujeito à doença e à mortalidade. Ele não mais vivia segundo os princípios absolutos transmitidos por seus tutores divinos durante a Idade de Ouro, e não prestava honraria alguma aos deuses.

É com a aurora dessa era que os habitantes árticos, agora uma raça mistura com elementos humanos e divinos, viajaram como refugiados a partir de sua Urheimat destruída a uma localização em algum lugar do Atlântico. Lá eles fundaram a famosa cidade de Atlântida em imitação de seu lar original. Após se estabelecerem, eles embarcaram em uma campanha de colonização ao redor do mundo, ultrapassando os "Pilares de Hércules" (os Estreitos de Gibraltar) e chegando longe no Mar Mediterrâneo. Lá eles estabeleceram sua hegemonia, mantendo domínio "sobre a região situado depois dos Pilares tão longe quanto o Egito e o Tirreno". É razoável assumir que eles também enviaram viajantes para as Américas, já que Atlântida teria se situado entre elas e a Europa.



Como essa nova civilização foi construída antes da história escrita, é difícil precisar sua cronologia. Platão afirma que Atlântida sucumbiu 9.000 anos antes de seu próprio tempo, enquanto Guénon, confiando uma vez mais na matemática védica, diz que isso ocorreu milhares de anos antes. Isso colocaria, portanto, suas origens muito mais longe. Não obstante, nossa preocupação é com a condição racial daqueles que habitavam a Atlântida.

A raça boreal que habitava o ártico era provavelmente nórdica em aparência. Quando eles se misturaram com os deuses, porém, eles geraram "homens de tamanho monstruoso" segundo Hesíodo, em paralelo aos Nephilim do livro de Gênese. Considerando que os nórdicos modernos estão entre os homens mais altos, e que eles próprios são apenas descendentes degenerados de algo maior, o testemunho mitológico parece plausível. Assim, os atlantes nascidos da união de deuses e homens eram provavelmente muito mais altos que as pessoas mais altas de hoje e provavelmente mais musculosos; eles teriam sido gigantes temíveis. Mais credibilidade ainda é dada a essa idéia pelo fato de que em Números, os hebreus fazem referência aos Anakim como "Nephilim" devido a sua estatura imensa, que fazia com que os hebreus se sentissem como "gafanhotos".



Esses gigantes não eram a norma, porém. Platão fala deles tornando-se "diluídos demais com a mistura mortal", sugerindo que humanos boreais puros também viviam nas fronteiras da Atlântida. Essa também foi a causa da inevitável queda da Atlântida, como foi a de Hiperbórea. Após diversas gerações de miscigenação irrestrita com seus súditos humanos, os gigantes atlantes perderam sua constituição angélica e "tornaram-se visivelmente degradados, pois eles estavam perdendo o mais belo de todos os seus dons". Quando isso ocorreu, o equilíbrio cósmico novamente se rompeu. Evidências dos mitos, às vezes sugestiva e às vezes afirmativa, leva-nos a acreditar que um massivo terremoto ocorreu, fazendo com que Atlântida, centro da Idade de Prata, afundasse sob o Oceano Atlântico. A história mesopotâmia do dilúvio que submergiu os primeiros centros de culto, ligada ao dilúvio bíblico que Noé superou, é um exemplo.

Com a mistura entre atlantes e humanos surgiu uma raça quase inteiramente desprovida de divindade. Eles eram os ancestrais diretos dos norte-europeus modernos (proto-nórdicos), mantendo a compleição clara e o intelecto aguçado mas perdendo sua força e constituição titânicas. Forçados a abadonar seu reino agonizante, esses povos migraram em uma trajetória leste-oeste, levando números significativos às Américas e Europa.

Há algumas evidências físicas e genéticas para substanciar essa afirmação.

Primeiro, há o elo entre a cultura bélica solutreana antiga de 18.000 anos de idade da França, e a cultura bélica americana de 13.500 anos de idade de Clóvis, no Novo México. Os arqueólogos Bruce Bradley e Dennis Stanford concluíram em 2004 que há uma similaridade assombrosa entre os métodos de manufatura de ambas culturas, particularmente porque ambas usavam uma técnica muito difícil e rara chamada pressão em lascas. Eles também notaram que uma cultura bélica descoberta na Virgínia, datada de 16.000 anos atrás, parecia ser um "intermédio tecnológico entre o estilo solutreano francês e as pontas de Clóvis".



Nossa segunda evidência é genética. Cientistas descobriram que entre os genes das populações nativas americanas, o DNA mitocondrial (mtDNA) dos haplogrupos A ao D, que são comuns na Ásia, predominam. Porém, foi descoberto que um número significativo de nativos americanos no leste dos EUA possui mtDNA do haplogrupo X, que só é encontrada em populações da Europa Ocidental e em algumas partes da Mongólia. Pode-se afirmar que a presença desse mtDNA na Mongólia refuta o argumento de que  brancos teriam chegado à América do Norte primeiro, mas isso simplesmente não é verdade quando combinado com todas as outras evidências dadas aqui. Significativamente, o mtDNA dos esqueletos nativos pré-colombianos foi estudado, revelando que X já estava presente nos genes daquela raça antes da chegada dos conquistadores.

Em terceiro lugar, nós temos o controverso corpo do Homem de Kennewick. Esse esqueleto de 9.300 anos de idade, desenterrado no estado de Washington em 1996, foi descoberto pelo antropólogo James Chatters como sendo de origem caucasóide. Em uma reconstrução em argila a face até mesmo acabou se assemelhando ao ator britânico Patrick Stewart.

Esses pedaços de evidência indicam que uma raça humana anterior aos nativos americanos mongoloides dividiu-se na Europa e na América a partir do Atlântico. Eles levavam consigo os mesmos genes e métodos de manufatura, que eles adaptaram aos recursos disponíveis. Uma possibilidade alternativa seria de que essa raça do paleolítico superior teria primeiro migrado para a Europa, com um grupo então se separando e migrando para o leste até chegar à América.



Os Filhos da Terra

Conforme nossos ancestrais hiperbóreos se aventuraram pelo globo, primeiro ao Atlântico e então em uma trajetória leste-oeste, eles encontraram sociedades pré-existentes nas terras atravessadas por eles. Como a Idade de Ouro e de Prata ocorreram há dezenas de milhares de anos atrás, esses povos indígenas eram provavelmente dos incontáveis tipos de hominídios, incluindo o neanderthalensis e o soloensis. Independentemente do tipo de proto-humanos que eles eram, nossos ancestrais os caracterizaram ou como criaturas ctônicas nascidas da terra ou como criaturas originadas das águas caóticas. Na maioria dos casos, sua interação resultou em conflito, mas em outros eles coexistiram e até procriaram entre si. Esses eventos foram vividamente preservados nos vários mitos de origem hiperbórea: a luta épica entre os Tuatha de Danaan e os Fomori (povo "da água"); as batalhas entre os Olimpianos e os vários monstros paridos por Gaia (Terra); o relacionamento vitriólico entre os Aesir (os deuses celestiais nórdicos) e os Vanir (trolls, gigantes, e outros monstros); mesmo o épico anglo-saxão Beowulf recaptura esse tema na luta entre o herói e Grendel, um demônio humanóide que vive sob um lago.

Onde quer que recém-chegados se assentassem e se misturassem com os nativos, novas raças eram geradas representandos bastardizações gradativas do protótipo ártico semi-divino. Assim, nossa raça de gigante proto-nórdicos teriam se ramificado em diversas linhagens híbridas, cada uma diferindo em aparência e atributos dependendo das áreas nas quais eles se assentaram, as linhagens com as quais eles se misturaram, e o quanto eles permitiram que essa miscigenação continuasse. Dessas uniões teriam nascidos as várias raças mongolóides, semíticas, australóides, e negróides, com as últimas duas representante a maior degradação em relação ao fenótipo hiperbóreo original. Em instâncias nas quais a mistura foi menos pronunciada, ou em que adaptações ao ambiente e outros fatores operaram, as várias raças brancas foram geradas (i.e., nórdicos, mediterrâneos, alpinos, etc.).



Conclusão

Em resumo, a antropogênese foi um processo de involução, e não evolução. 65.000 anos atrás, uma raça de deuses descrita como "áurea" vivia harmoniosamente com uma raça de humanos avançados, caracterizada pela pele, cabelo e olhos claros, em uma alegre e ordeira Idade de Ouro em algum lugar do Ártico. Em algum ponto, as duas raças se misturaram e geraram gigantes semidivinos. Conforme o lar ártico congelou em uma das eras de gelo, esses semideuses lideraram os sobreviventes humanos para o Atlântico, com alguns ficando em diferentes terras pelo caminho. Aqueles que o fizeram, encontraram raças autóctones com as quais eles finalmente se misturaram, degradando sua natureza divina e dando origem a uma nova idade, a da Prata que correspondeu à civilização atlante vividamente descrita por Platão e lembrada por muitas tradições como uma terra "ocidental". Ela enviou exploradores ao redor do mundo das Américas ao Extremo Oriente. Milhares de anos depois essa segunda super civilização foi destruída graças à mistura continuada entre os semideuses e seus companheiros humanos, gerando a raça proto-nórdica do paleolítico superior.

Com o afundamento da Atlântida, esses seres, agora humanos em natureza mas ainda mantendo uma fagulha divina, migraram em uma trajetória leste-oeste. Nesse segundo grande êxodo, correspondendo à Idade de Bronze, alguns se misturaram com povos nativos e degradaram ainda mais sua linhagem enquanto outros mantiveram sua pureza. Estes últimos ergueriam depois as civilizações e impérios mais reverenciados da história escrita, como a Suméria, Índia Védica, Egito, Grécia, Roma, China, e muito depois, os regimes feudais da Europa Ocidental. Os povos misturados seriam lembrados como os pelasgos, minóicos, etruscos, hebreus, arameus, ibéricos, e todas as outras etnias ctônicas que foram subjugadas e restritas à casta plebéia. Infelizmente, os vastos impérios citados acima serviram como pouco mais do que reflexos figudios da civilização hiperbórea original, impedidas de realizar seu potencial verdadeiro pelas condições metafísicas dominantes na era em que elas floresceram.

Nós agora entramos na fase terminal da Idade das Trevas, e o tipo de humanidade que deverá herdar o Mahayuga sucessivo ainda está para ser vista; porém, se as raças do mundo continuarem no caminho da miscigenação indiscriminada, aquela fagulha divina, que levou os povos brancos do mundo a erguer as maiores civilizações da história, e que agora é guardada por tão poucos, será completamente extinta. A humanidade então será forçada a passar a tocha da grandeza a uma outra espécie.