01/12/2011

Jason-Adam Tonis - Juche: A Filosofia da Vitória

por Jason-Adam Tonis


Juche, a filosofia estatal oficial da República Democrática da Coréia, é muito pouco conhecido no Ocidente mas precisa ser seriamente estudada por todos os revolucionários aqui por duas importantes razões: 1) De todas as nações socialistas e anti-capitalistas que já existiram, a RDC é a única que jamais foi derrotada em combate ou destruída por dentro; diferentemente do marxismo ou do fascismo, o Juche demonstrou-se resistente a ataques e duradouro. 2) De todos os inimigos dos EUA, a RDC tem sido sujeita à maior quantidade de propaganda, de modo que pode ser dito que a RDC é o maior inimigo da América agora, e como o escritor eurasianista russo Andrei Ignatiev disse "A RDC é uma imagem espelho da América". Para aqueles entre nós que buscam construir uma nova sociedade esse país então é digno de ser estudado.

O que é Juche?

Na língua coreana, Juche é uma combinação de dois caracteres - Ju significando "Senhor" e Che significando "Ser como" ou "ser como um Deus" como definição. O líder coreano Kim Jong Il define-o como "Juche significa que o homem é mestre do seu próprio destino". Essa filosofia está em oposição tanto ao idealismo como ao materialismo pois ambos sistemas de pensamento essencialmente dizem que o homem está sujeito a forças externas para além de seu controle enquanto o Juche diz que não há nada que o homem não possa fazer se ele assim o desejar - como um livro Juche afirma "um homem pode mover uma montanha mesmo que sua fé seja tão pequena quanto um grão de arroz". Para mim esse sistema parece-se essencialmente ao ideal faustiano - a incorporação pura da vontade de poder nietzscheana. Ademais essa idéia de fazer de si mesmo um Deus lembra-me o "caminho da mão esquerda" de Julius Evola e sua idéia de deificação como o objetivo da vida e especialmente do homem-guerreiro. Ignatiev diz que o "homem" mencionado nas obras Juche não é a simples humanidade moderna da filosofia ocidental mas sim o "homem superior duas vezes nascido" da doutrina esotérica asiática, o homem que alcançou a auto-realização.

Características do Homem

O Juche diz que o homem é um ser superior aos animais, sendo inatamente superior e não simplesmente uma forma superior evoluída como dizem os marxistas. O homem possui três características especiais que o separam e colocam acima dos animais - independência, criatividade, e consciência. A independência significa que o homem deseja controlar sua própria vida e despreza ser escravizado ou controlado por outro homem ou pela natureza, a criatividade significa que o homem possui a capacidade de pensar fora de sua própria realidade e visualizar uma outra (um conceito importante no âmbito iniciático) e consciência significa que o homem nasce com compaixão e cuidado pelo próximo - uma afirmação que concorda com o confucionismo mas está em oposição às religiões ocidentais que veem o homem como maligno por natureza. O homem também e definido como um ser social sob o Juche, significando que os homens não existem para serem solitários mas para serem assimilados em uma sociedade. O objetivo da ciência política então é criar uma forma de governo que atraia as pessoas para junto umas das outras e ao mesmo tempo não suprima sua liberdade de serem elas mesmas.

A Visão Juche da História

A história é então vista como um conflito contínuo travado pela humanidade para formar uma sociedade que respeito a independência individual, cada fase na história sendo vista como mais livre que a precedente, as forças impulsoras desse conflito sendo idéias criadas por líderes. O Juche portanto é hegeliano e dialético, ainda que não seja materialista. É interessante que um sítio discutindo o Juche e o Marxismo diz que enquanto Marx derivou sua visão da história de uma combinação de Hegel com Feuerbach, o Juche inclina-se na direção de Hegel e descarta Feuerbach, que é exatamente a mesma posição que Aleksandr Dugin assumiu ao criar seu Nacional-Bolchevismo.

Juche, Socialismo, Nacionalismo

O socialismo é visto como a forma mais elevada de desenvolvimento econômico, porque ele unifica todo o povo de uma sociedade sem qualquer divisão classista iminente, ao mesmo tempo garantindo ao homem tudo que ele necessita na vida, como comida gratuita, moradia, cuidados médicos, vestuário, e educação bem como os direitos ao trabalho e ao lazer. Através dessas medidas, sob o socialismo o homem agora possui tempo e habilidade para começar o próximo passo de seu desenvolvimento, trabalhando sobre si mesmo apra superar sua humanidade e alcançar níveis de existência cada vez mais elevados. 

Ao afirmar que o homem é um ser social, a próxima questão é como o homem forma a sociedade? O Juche responde a isso dizendo que a etnicidade é o material de construção da sociedade. As nações são vistas pelo Juche como formas orgânicas autônomas que transcendem divisões econômicas; como Kim Jong Il disse em sua obra Sobre Possuir uma Compreensão Correta do Nacionalismo "um coreano burguês e um coreano proletário são ambos coreanos e possuem interesses comuns contra estrangeiros que queiram controlar a Coréia"; essa visão não é de modo algum marxista (Marx era completamente contrário ao nacionalismo vendo-o como nada além de um artifício burguês) e é mais próxima de Giovanni Gentile e das doutrinas do fascismo italiano. Uma história curiosa relata que quando Kim Jong Il aos 18 anos estava estudando o Manifesto Comunista na universidade, ele ficou furioso quando leu a linha "o proletário não possui pátria" e imediatamente riscou-a e escreveu nas margens "Eu sou um coreano, eu sou um socialista, eu não vejo contradição". O Juche define uma nação como um povo que compartilha de uma língua, território, e linhagem racial comuns - uma definição que aterrorizaria esquerdistas ocidentais e talvez confortaria alguns nacionalistas revolucionários. Na medida em que etnia e nação fazem parte do caráter de um homem, qualquer tentativa de roubar do homem suas afinidades étnicas é vista como retirando do homem sua independência; o Juche até mesmo enxerga como a contradição primária do mundo atual aquela entre globalismo/capitalismo que busca destruir etnoculturas únicas e socialismo/nacionalismo que busca preservar a natureza única de todas as nações e povos.

O Líder

Ainda que o Juche reconheça a igualdade de todos os homens em termos de direitos e deveres uns com os outros, ele não acredita que todos os homens sejam iguais em habilidades. O Juche é um sistema meritocrático por meio do qual todos realizam as funções para as quais possuem aptidões naturais - exatamente como na República platônica. Como mencionado acima, o Juche vê a história como sendo feita por idéias criadas por líderes. O líder é visto como uma pessoa que naturalmente nasceu para governar e é de algum modo diferente em essência da massa; ele ama a massa e serve à massa mas ele não é parte dela e ainda que isso jamais seja afirmado tão diretamente, o Juche afirma que as massas devem adorar aos líderes porque o líder não tinha que ser necessariamente bom para elas...de modo que cada regalia vinda do líder para o povo é uma benção que deve ser agradecida.

Qualidades de liderança podem ser transmitidas hereditariamente, de modo que escritos coreanos expõem a noção de que a família de Kim Il Sung, seu filho e sucessor Kim Kong Il e o herdeiro aparente Kim Jong Un compartilham uma "linhagem sanguínea superior". De fato, pode-se dizer que o Juche é monarquista, e um eco das antigas idéias tradicionais de monarquia sagrada.

Auto-Confiança

Como para da construção de um país independente, o Juche vê qualquer tipo de dependência do comércio externo como levando à dominação estrangeira, assim a RDC trilha uma rígida política de autarquia econômica; se os coreanos não podem fazer algo na Coréia com materiais coreanos, então eles ficarão sem. Enquanto em um país pequeno como a Coréia isso leva a uma forma de vida extremamente dura, para aqueles dentre nós que são guerreiros e leram os elogios de Evola à austeridade econômica em Homens Entre as Ruínas, esse sistema é muito admirável na medida em que é baseado no sacrifício dos ganhos materiais em prol de um princípio superior. O Juche vai ainda mais longe e diz que o sucesso da revolução depende de cada cidadão do Estado, de modo que cada coreano acima dos 18 anos de idade recebe uma arma de modo a ser esperado de todos que lutem por seu país, mesmo que o governo e o exército sejam derrotados e o povo tenha que lutar até a morte sem qualquer estrutura de comando na pior das hipóteses. A auto-confiança também significa que cada indivíduo é ultimamente responsável por seu futuro.

O que tudo isso significa para nós?

Os coreanos sempre afirma que sua ideologia é apenas para sua nação e seu povo e não pode, nem deve ser exportado e aplicado em outros lugares. Assim um partido juche americano seria um non sequitur, porém mesmo assim há coisas com as quais podemos aprender: 1) Nós podemos admirar seu espírito de luta e disponibilidade para morrer ao invés de entregarem-se ao mundo ocidental; 2) Nós podemos recuperar um senso do quão importante são nossas identidades étnicas para nossa própria estrutura; 3) Nós podemos aprender como é possível ter orgulho de nosso próprio povo sem sermos chauvinistas, imperialistas, e odiosos em relação aos outros; 4) Nós podemos ver como é possível construir um Estado que não tenha ligações com o mundo exterior, uma economia que não é controlada pelos banqueiros, e um sistema educacional que ensina valores ao povo, e não hedonismo; e 5) Nós podemos aprender o quão importante uma liderança forte é na política.