"Em meados dos anos 80, a desregulamentação dos mercados e as actividades desenfreadas eram encaradas como a panaceia que curaria as maleitas das decrépitas indústrias tradicionais. A ganância era de bom-tom. Os jovens licenciados marchavam em hordas para os MBA, na esperança de saírem de lá transformados em guerreiros ninja. Foi precisamente o ímpeto empresarial de jovens e brilhantes inovadores que deu origem à magia da indústria informática. Por sua vez, a ascensão dos computadores promoveu a ilusão de que o comércio da informação pura iria ser o substituto havia muito aguardado de todas as actividades decrépitas da economia industrial tradicional. Um país como os Estados Unidos, pensava-se então, já não necessitava de siderurgias, de fábricas de pneus, ou de outras actividades igualmente árduas, sujas e incómodas. As pobres massas da Ásia e da América do Sul que as acolhessem e se libertassem da servidão rural! Os Estados Unidos iriam deslocalizar todas essas actividades económicas antiquadas e usar computadores para orquestrar o movimento dos componentes e a montagem de produtos oriundos de diversos cantos do mundo, vendendo-os, depois, nos nossos Kmarts e Wal-Marts, que se tornariam os mastodontes globais do comércio retalhista. Acreditava-se que os computadores iriam aumentar enormemente a produtividade em todas as fases do processo. Os nichos profissionais abandonados na indústria seriam substituídos por profissões na economia de serviços que caminhariam a par da economia da informação. Transformar-nos-íamos num país de cabeleireiros, de massagistas, de croupiers, de proprietários de restaurantes e de agentes de espectáculos, satisfazendo as necessidades uns dos outros. Ao fim e ao cabo, quem desejaria trabalhar numa laminagem?"
(James Howard Kunstler)