23/10/2011

Líbia: Contrainformação de Combate

por Xosé Currás/Rafael Fernandes Veiga

Antes de começar, nos gostaria informar aos leitores que as coisas que logo serão ditas, poucas vezes serão vistas ou lidas sobre o conflito líbio. Desde a verdade sobre os “bombardeios à população civil” em fevereiro, até a conformação das filas “rebeldes”. Ou, como chama Al Jazeera, “pro-democracy fighters”. Digo, se quiserem seguir notícias objetivas de verdade sobre Líbia, podem ler http://leonorenlibia.blogspot.com/ e terão a melhor informação, não somente pelo blog, mas por todas as ligações e comentários que ajudam Leonor Massanet a pôr algo de luz nesse assunto.

É que, afinal, os rebeldes são como Josep Conrad disse em sua novela “El Corazón de lãs Tinieblas”: “Rebeldes, que qualificação me dava por ouvir? Os chamaram inimigos, criminosos, trabalhadores e, a estes, rebeldes(...)”, e embora seu discurso chega por outro motivo, a comparação vem à tona.

Se especulado muito sobre as verdadeiras razões da intervenção imperialista nas arenas líbias. E muitos se hão acordados das armas de destruição massiva que “possuía” Sadam Hussein, armas que ainda estão buscando, para ver se aparecem. E no fundo, sim que coincidem os motivos, os incofessáveis motivos: não render fidelidade ao Dólar nas transações comerciais, posto que Hussei e Gaddafi coincidiam nisto: o passo pelo euro frente a independência econômica e, no caso africano, a criação do dinar de ouro como moeda pan-africana, baseada no velho e abandonado padrão-ouro nas valorações das divisas. O do petróleo é secundário: Líbia só vende uns 2% do comércio mundial de bruto!



Como todas as coisas têm um princípio, o da revolta da Gran Jamahiryia se perde na noite da descolonização. Na existência de dezenas de tribos naquele território, de sua união em torno a Muammar Gaddafi, que inclusive se casou com uma mulher de Bangazi, de outra tribo que não a dele, que é a Gaddafa. E teve filhos e sobrinhos casados em outras tribos, ao estilo das uniões medievais européias. A fonte do conflito se perde na existência do Sultanato de Darna, ao leste, na Cirenaica, que Anuar Al Sadat tentou ressucitar invadindo o território, para pôr abaixo o império de Egito (e, aliás, dos Estados Unidos). E vem a coisa de longe, faz uns 35 anos: não recorda, leitor?

Na Cirenaica as revoltas são/eram cíclicas. A última, pacífica, foi em Fevereiro. Dias depois de terminada apareceram os “rebeldes” com armas nas mãos.

O bombardeio de civis – uma das mentiras mais extendidas é que tudo isto se deve a que a aviação governamental bombardeou os pacíficos protestos do leste, incluindo Trípoli e outras cidades. Não apareceu, até hoje, três meses depois do acontecido, nem uma só imagem, documento sonoro ou prova física qualquer da existência desses bombardeios sobre a população civil e correspondentes mortos. Nem uma só foto. Nada de nada. Sim que aconteceram bombardeios sobre pólvoras que os mercenários e membros da Al Qaeda tentavam assaltar. Porque isso é assim e tem sido reconhecido pela própria CIA: as armas que roubaram e que entregaram aos “lutadores pela democracia” estão, em parte, em poder da Al Qaeda do Magreb Islâmico.

Talvez a melhor testemunha seja o governo russo, que assinala que seus satélites não registraram nenhum bombardeio de aviões líbios sobre seu território. Mas a mentira, entretanto, se mantém hoje e é o mesmo que há provas do contrário e nenhuma dos bombardeios.



Portanto, o motivo para a adoção da resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU é falso. Mas Líbia teria a esperança posta na China, Rússia, para que não permitissem o nascimento do que está acontecendo. Porém quanto pior o futuro social, melhor eles vão.

As mentiras na televisão. São tantas e tantas as mentiras e falsidades plantadas nos Media, das que principalmente Al Jazeera foi responsável de sua edição, incluindo vídeos manipulados, que não é suficiente este pequeno artigo para que se conheça. Desde vídeos “de protesto”, com feridos, que foram cortados para aparecer a bandeira líbia (verde) na mão dos manifestantes para dizer que o ferido era de outra bandeira, até contar que sucessos que ocorriam em Yemen se passavam na Líbia, ou assinalar que os soldados assassinados nos primeiros dias haviam sido pelas tropas leais ao Povo Líbio, quando haviam sido pelos terroristas rebeldes: uma e outra vez contaram mentiras, ocultaram as barbaridades dos “rebeldes” com a povoação defensora da legalidade em Bengazi ou Tubruc...que terminaram com a renúncia do diretor da cadeia, farto de tanta manipulação (http://www.rebelion.org/noticia.php?id=127135). Sobram vídeos em www.youtube.com a respeito desses assuntos, incluindo a tortura de um menino de 9 anos, mais ou menos, por gritar “Viva Gaddafi!” e andar com a bandeira verde.

Lockerbie: Voltaram a pôr tornar atual esse assunto. Mas desde a demolição por aviões da OTAN em 27/jun/1980 de um avião DC-9-15 de ITAVIA (filial de ALITALIA) ao confundi-lo com outro igual, em que supuseram viajar Muammar Al Gaddafi e que morreram 81 pessoas, a perseguição ao líder da revolução líbia parece não ter fim. O assassinato de seu filho Saif Al Arab de três netos é outro algo a mais.

O assunto de Lockerbie, em 21/dez/1988, ainda é mais complicado (vid: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=58308). Dos acusados, Abdelbaset Ali Mohmed Al Megrahi, um agente da inteligência líbia e chefe de segurança das Aerolinhas Árabes Líbias (LAA), e Khalifa Fhimah, diretor da estação das LAA no aeroporto de Malta, só foi condenado o primeiro (depois de atender as 15.000 testemunhas) pela “memória” de um alfaiate de Malta como única prova e que, surpreendentemente, a Frente Popular para a Liberação da Palestina negou toda relação com a bomba como vingança pela derrubada de um Airbus iraniano em junho de 1988 por disparos yankees no Golfo Pérsico: os autores foram condecorados!

A maioria das vozes que seguiram os assuntos a fora dos canais oficiais assinala como culpáveis os palestinos traidores, ao serviço do Mossad, e ao comerciante de armas Al Kassad, relacionado com o narcotráfico. O pagamento de indenizações por parte da ONG de Saif Al Islam Gaddafi serviu para liberar a imensa quantidade de dinheiro que a ONU retinha em Suiza no Estado Líbio e assim poder desenvolver o país. Mas embora andam com isso a voltas a opinião pública não tem nem idéia da verdade.



A resolução 1973 da ONU. A famosa resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU graças ao que dizem que estão a atuar na Líbia, viola todas as normas, incluída a Carta Fundacional das Nações Unidas.

Assim, seu artigo 2.7 estabelece que “nenhuma disposição desta carta autorizará a ONU a intervir nos assuntos que são essencialmente da jurisdição interna dos Estados”. Reprimir uma insurreição armada é a responsabilidade de um Estado e se bombardear rebeldes armados é um crime, o quê dizer do que fizeram os USA no Iraque e Afeganistão.

O artigo 39 da Carta que se cita limita os casos em que a atuação militar está permitida: “A ameaça para a paz, quebra da paz ou ato de agressão contra outro país”, casos que não se dão na Líbia. E não digamos nada do artigo 1 do Tratado da OTAN: “As partes se comprometem, tal como está estabelecido na Carta da ONU, a resolver por meios pacíficos qualquer controvérsia internacional nas que puderam ver-se implicadas”. Tanto faz, dá na mesma para eles.

Portanto, é necessário ressaltar que a resolução 1973 não autoriza bombardeios sobre território líbio e muito menos sobre a população civil, que é o que está fazendo a OTAN, com o Estado espanhol incluído. E muito menos tomar partido na rebelião, defendendo os terroristas que querem trocar o governo líbio e as condições econômicas.

Bombas de fragmentação. Em uma dessas imagens “reveladoras” que estamos acostumados por causa de muitas histórias, apareceu uma foto com restos de bombas de fragmentação sobre uma mão anônima dizendo a informação que haviam sido jogadas sobre Misurata pelas tropas de Gaddafi. Essas bombas tem de ser lançadas de aviões, e não se reportou, em nenhum momento, informação de vôo de aviões governamentais que as arremessassem. Se não há avião, não há bombas! Por cima, só era isso: umas fotos de mãos com uns troços de bombas, que poderia ser feito em Misurata ou em Faluyia ou no Paquistão.


O assunto das testemunhas é algo que deveria fazer corar aos Meio de Comunicação: com freqüência se dá a audiência a qualquer que chama e diz que está em determinado lugar e que denuncia...qualquer coisa: os escritórios das agências destes três meses estão cheios de “testemunhas” dessa qualidade, com notícias que nunca foram contrastadas nem serão nunca.

Enquanto isso, a repressão que está a causar dezenas de mortes de leais em Bengazi ou de Shias em Bahrein está escondida.

As causas econômicas. Ler o seguinte link: http://elproyectomatriz.wordpress.com/2011/04/21/libia-%C2%BFpetroleo-o-bancos-centrales/ (em espanhol) e conhecer as verdadeiras razões do ataque ao Estado líbio disfarçado de proteção ao povo, um povo que teria uma qualidade de vida que queríamos em Galiza! Só ao lembrar-nos de 1951, a data oficial da independência tinha apenas 16 graduados universitários, compreenderemos o gigantesco trabalho na Líbia.

Seria conveniente perguntar sobre o Banco de Compensações Internacionais, sistema a que Líbia não está aderida, já que com suas reservas de ouro não necessita. Quiçá por isso a primeira medida de importância (já na primeira semana da revolta) que adotaram os “rebeldes” foi a criação do Banco de Bengazi como novo Banco Nacional da Líbia e, por suposto, integrar-lo na estrutura do BIC, que estabelece como ponto fundamental que os bancos centrais não podem outorgar créditos aos seus próprios governos.

E passa o mesmo que no Iraque: a razão última da agressão está em não querer cobrar o petróleo em dólares, uma moeda que só tem, basicamente, vida financeira internacional e que quando a necessita o governo dos Estados Unidos, simplesmente lhes dão a fotocopiadora e já está, dito seja de forma muito popular e simples.

Os países progressistas da América Latina que estão no caminho de criar uma moeda comum (o sucre) deveria estar precavidas...mesmo que já estejam.

Os rebeldes. Recentemente, os “lutadores pela democracia” se viram na obrigação de abrir as portas da prisão de Darna, colocar uma arma na mão dos presos e enviar à Misurata. Não acreditam? Pois é certo, já que os “rebeldes” estão divididos entre eles (os Al Qaeda, os financiados pela OTAN diretamente e os que acreditaram de verdade que aquilo era uma revolução). Hoje, domingo, primeira de Maio, se disse por Trípoli que os líderes dos “rebeldes” fugiu de Bangazi para Tubruc. A anistia que ofertou Gaddafi, legítimo representante do Estado líbio, ficará aquém e cair sob a ira do povo que, com as armas na mão, está marchando até Misurata, de cujo porto foram eliminados os “terroristas”, que se concentram ao redor do aeroporto.

Egípcios, sudaneses, etíopes...conformam as filas dos golpistas. Se no exército regular líbio há alguns não-líbios seria ridículos chama-los mercenários: só há que ver os exércitos da Europa conformados por “profissionais” de muitos países. Os latinoamericanos das tropas espanholas são um exemplo que não necessita explicação.

Ao final, aparte da base econômico-financeira da agressão imperialista, subjace um desejo de dizer que o quê não tem que fazer Muammar Gaddafi é convocar eleições livres, permitir a existência de partidos e aplicar as receitas européias ao seu país. Não existe nada mais além de Montesquieu e da democracia liberal!

Fonte: http://yrminsul.blogspot.com/2011/10/libia-contrainformacao-de-combate.html