por Esteban Montenegro
Comemorando o centenário da revolução russa fazemos esta contribuição ao diálogo dos povos, em face da visita de Aleksandr Dugin à Argentina.
I
Introdução
O Ano Novo do Espírito
Universalização e Filosofia da História
A tendência à unificação do globo terrestre acontece com a força de um destino. Todos sentimos, em um primeiro momento, que se trata do impulso com que a globalização liberal-capitalista atravessa a tudo. Mas o sentimento de todos, o sentido comum, nem sempre acerta. Apear desse processo ter hoje um signo negativo, isso não quer dizer que não se possa orientar seu rumo em outro sentido. Podemos ver então, neste momento crítico, uma oportunidade. Assim o fez Perón quando antecipou que o mundo caminhava rumo à universalização. Introduziu, assim, um conceito, que tentava compreender e oferecer uma orientação para o que estava no porvir. Não se resignava o General, pois não é indefectível que o mercado feche suas mãos sobre o planeta, se tivermos a inteligência e a força para disputar o rumo das grandes integrações entre povos e nações. Aqui tentaremos seguir a linha aberta por este conceito, o processo de universalização, abrindo perspectivas para o exercício de uma geopolítica consciente que responda aos desafios da hora, para que essa hora seja a hora dos povos. A existência de cada um deles depende em grande medida do que aconteça a nível global, de grandes linhas de ação que transcendem os centros de poder local. O maior grau de autonomia passará então por participar na tomada de decisões global da forma mais ativa possível. Só assim alcançará um povo a sua própria conservação.
Esta situação nos empurra ao reconhecimento mútuo. Mas longe disso pressupor outro chamado vazio à paz mundial, necessita tomar como base o conflito e a tensão. Não é esperável que este trânsito ao continentalismo e ao universalismo seja um longo período paulatino e harmonioso, sem tropeços, como pretendeu o mito do progresso no apogeu da modernidade. Ao contrário, a universalização se mostra para nós como profundamente conflituosa porque a própria história o é; ainda que isso não signifique que não alcance em algum momento um novo equilíbrio, e a isso deve apontar. Mas para alcançá-lo, deverá lutar e perseguir sua vocação - e assim a sua própria preservação e a do resto - antes que a paz. Porque o que está em jogo aqui é a própria sobrevivência de todos e cada um dos povos, ameaçada pelo atual rumo globalista. E não obstante, esta luta pela sobrevivência tampouco é uma luta agônica de todos contra todos, como imagina a modernidade liberal. Esta luta é, também, e fundamentalmente, uma luta pelo poder mundial, pelo sentido da história universal.