12/01/2016

Aleksandr Dugin - Iniciantes Absolutos

por Aleksandr Dugin



1 - David Bowie, o Iniciado

David Bowie é conhecido como músico e ator; poucas pessoas sabem que ele é membro de uma organização iniciática que adere aos princípios do "Caminho da Mão Esquerda" e à "Thelema". Portanto, não é surpreendente que suas canções, vídeos e designs estéticos possuem uma dimensão oculta.

Sua canção "Absolute Beginners" (Iniciantes Absolutos) - é um exemplo típico desse tipo de mensagem em múltiplos níveis onde a estética emocional e psicológica externa oculta um núcleo esotérico secreto.

2 - Falsificação

"Absolute Beginner" - literalmente "iniciante absoluto" - uma frase que contem dentro de si uma contradição lógica completa. O que é absoluto não "inicia", porque algo verdadeiramente absoluto não possui início ou fim, não surge ou desaparece. E inversamente, o que tem um início essencialmente não é absoluto, mas relativo. É uma questão filosófica.

Há já uma controvérsia em um nível puramente quotidiano: uma tentativa de "recomeçar" por parte de nossos contemporâneos, seu protesto fraco e inexpressivo contra sua própria degeneração, envelhecimento, estonteamento, contra o pano-de-fundo de uma civilização que rapidamente vai se congelando, onde ninguém se opõe ou tenta se opôr à entropia, é algo extremamente questionável. As crianças, como Hesíodo predisse, já nascem hoje com cachos acinzentados e desde o berço almejam lavar carros e abrir contas bancárias. Todos os sinais do fim da Idade do Ferro. Que "novo início" há aqui? Um absoluto também.

O próprio Bowie, apesar de sua inteligência e talento, dificilmente poderia afirmar ser seriamente uma alternativa. Ele fascina exatamente como um decadente, como aprofundado em uma perversão narcisista perturbadora, como um esquisitão melancólico anglossaxão, mas certamente não como um heroi ou portador do "novo". Não há nele qualquer "absoluto" ou "início", mas sim o odor exótico da decomposição da carne, envolvida em bugigangas globalistas.

Iniciante Absoluto é um conceito tomado por David Bowie do arsenal de doutrinas gnósticas. Ele inspirou uma boa canção e um clip estranho.

3 - Doutrina da Estrela

Iniciante Absoluto, aquilo que não é e não pode ser, é porém o eixo do proibido, o conhecimento heroico que é partilhado por meio de uma corrente secreta. Através da imagem estática banal da metafísica, no fundo do relativo mutável, no topo do constante absoluto, a vontade paradoxal especial de certos devotos verão no risco para a mente e para a vida uma perspectiva excitante. Há algo que corta através do dualismo lógico e religioso - há um Início Eterno, um raio misterioso que está "fechado" de um lado e "aberto" no outro. Nesse raio todas as grandes proporções e o encontro dos três mundos perdem seu significado. Cima e baixo se invertem, o incrível e impossível casamento do céu e do inferno ocorre, sobre o qual escreveu o gênio Blake.

A isso se dá o nome de "Doutrina da Estrela".

Os seguidores "thelemitas" do francês Rabelais e do inglês Crowley (nomeadamente deles Bowie tomou emprestado o conceito da música, ele próprio sendo membro da OTO) acreditam que "todo homem e toda mulher é uma estrela". A personificação da finitude e da relatividade, um claro perdedor tipológica, termina sua história repleto da vulgaridade do Banco Mundial e do Mercado Global, imitação biológica aberta do ser angélico puro e orgulhoso - o homem da outra mão ("thelêmica"), carregando dentro de si uma "estrela", um raio de gelo. Através da confusão miserável de sua pequena e frágil alma pulsa uma luz estranha, impossível, estonteante.

É a luz de um Início Absoluto, aquele que não pode ser.

4 - Raios Negros

O solo foge sob os pés. Os valores tradicionais se degeneram e se profanizam de tal forma que não há mais como confrontar o apático niilismo. Conservadorismo e progresso, as duas faces do mesmo processo de degeneração. De uma outrora vibrante história restam a fome, a luxúria e a polícia. Todos os sinais indicam que estamos muito longe do Início. Seja velho ou novo. A paixão está completamente exaurida.

O que tem em mente, os "thelemitas", cujas ideias perturbadoras estão longe do otimismo "new age" e dos teósofos aposentados, quando eles dizem que cada uma das "estrelas" possui a possibilidade paradoxal de "um novo início"? É claro que essa não é qualquer "iluminação" vulgar, "descoberta da verdade", etc. Olhe para esses "convertidos" de todas as religiões e cultos, um olhar amedrontado, lampejos de uma feliz estupidez, gestos estranhos, corpos claramente doentios por dentro... eles se afastam, sibilando e em convulsões, sem conquistar nada.

O raio negro da estrela thelêmica desliza por uma trajetória diferente. Ela não está fixa a partir de fora, ela não é apreendida por ferramentas familiares. Ela deliberadamente assusta e repele, disfarçando-se (provocativamente) em trajes antinômicos. Ela rapidamente abandona aquele que quer enquadrar a inspiração intitiva transfiguradora em um sistema. Ela não pode ser institucionalizada. Mas ela sempre e absolutamente tremeluz em seu ritmo aeônico contra a vontade dos ciclos e da massa concentrada das eras sombrias. Ela própria escolhe formas e corpos para se manifestar, buscar por ela é inútil, sua escolha é arbitrária e espontânea, não depende de méritos, virtudes ou feitos, é indiferente a "perspectiva moral" e avanços em exercícios de respiração. Início Absoluto sem sexo, idade, ocupação, posição. Rasgando como uma navalha o véu da tola pilha de átomos, um despertar cristalino.

5 - Alternativa Traída

A questão é, de fato, central. Sem futuro, não é apenas uma tese grotesca cativante de movimento juvenil, que agora já perdeu completamente o fôlego. A tese do "fim da humanidade", desenvolvida por Francis Fukuyama, na verdade é o mesmo, apenas tomado em uma nota otimista. A exaustão é a principal descoberta da pós-modernidade. O triunfo da simulação, a alegria doentia. Predadores maliciosos da mentira eletrônica estupram tanto a realidade que acabarão sua manipulação social na campanha de máquinas insanas. No fim, toda a literatura fantástica do século XIX se tornou lugar-comum técnico no século XX, o mesmo podemos esperar do século XXI. Especialmente quando consideramos que a maioria dos principais escritores de ficção científica (de Jules Verne a Lovecraft) foram membros de poderosas organizações esotéricas ativamente envolvidas em dar a aparência já posta à civilização.

Nenhum dos escritores de ficção científica e futuristas prevê um "Novo Começo". As previsões são terríveis, quanto mais distante o futuro é, mais horrível ele parece. E o homem se apressa no narcisimo não-salvífico, sob a colcha de fórmulas claramente espúrias e consoladoras. Enquanto isso, abutres coloridos pairam sobre o colapso dos banqueiros e da TV. Encantadores de corpos. Acreditar em mitos televisivos é se tornar um idiota, não acreditar é ficar louco de solidão (todos ao seu redor acreditam). No star in sight, nenhuma estrela à vista.

O sistema soviético reagiu de forma muito indiferente e tosca à tentativa desesperada da "nova esquerda" de oferecer uma ideologia alternativa à ordem burguesa, por meio de uma modernização (e revisão) das doutrinas anticapitalistas tradicionais. Preguiçosos apparatchiks ignoraram as tentativas desesperadas de inconformistas de irromper com um projeto positivo. Já então, percebendo a derrota inevitável do sistema soviético, a "nova esquerda" se voltou para o esoterismo, para o gnosticismo, as outras disciplinas (não-ortodoxas para esquerdistas).

A "Nova Direita" se desenvolveu em uma trajetória similar, tendo rejeitado o chauvinismo, a xenofobia e a orientação mercadológica da "velha direita" e descobrindo para si os valores da revolução e do socialismo. Mas os partidocratas soviéticos (futuros "democratas" ou "comunistas do PCFR") acusaram o "novo", tanto da direita como da esquerda, de "niilismo", enquanto eles próprios rapidamente afundavam o país em pântanos de "reformas" e traições nacionais. Novamente, como milhares de vezes na história, os verdadeiros niilistas acusaram de niilismo os que buscavam superar o niilismo.

O resultado foi triste. Sem a ajuda de Moscou, "novatos" inteligentes e honestos, porém impotentes, foram esmagados pelo Sistema. Debord cometeu suicídio, Foucault e Deleuze morreram no obscurantismo. Os outros se degeneraram em "policiais do pensamento" (Bernard Henri Levy, Glucksmann, Habermas e outros vermes). Sem o doloroso espírito da revolta flamejante, a própria Moscou escorregou para os braços do Governo Mundial.

Em tudo, sem qualquer Início, qualquer sugestão, qualquer chance. Na melhor das hipóteses, pessimistas inteligentes esperam que o desastre iminente será suave, como uma eutanásia. O que, em princípio, todos os "democratas" e "patriotas" tem contra o "homem unidimensional" de Marcuse? Como "os muitos" no início do "Zaratustra" de Nietzsche ansiando pelo "último homem", todos os setores de nossa sociedade colocariam o "homem unidimensional" no comando da "coalização governamental".

E as músicas de Bowie seriam ouvidas por ex-jovens (agora já na casa dos trinta), bebericando Heineken.

6 - Fim da Ilusão

Sem Alternativa, sem Novo Início. Nada fora (tudo ao redor é falso). Nada dentro (as forças da alma foram esfriadas). Não obstante, as vinhas da ira estão maturando e as redes de conspiração estão se tecendo, uma conspiração global contra esse presente odioso.

É uma conspiração da Estrela. Em qualquer idade, em qualquer lugar, em qualquer estado, em qualquer momento, em qualquer situação, em qualquer posição, "todo homem e toda mulher" pode começar, pode abrir o Início Absoluto, ser perfurado pelo Raio Negro, sem fim, passando pelos ciclos e eras em oposição a toda lógica, toda predisposição externa, todo sistema causal. Qualquer impulso vital, qualquer busca apaixonada, qualquer estado estridente pode subitamente transbordar, se tornado excessivo, desenfreado. Ganância e generosidade, ascetismo e devassidão, ciúme e lealdade, raiva e ternura, doença e saciedade, podem se tornar um Início Absoluto, um terrível acorde trovejante de uma Nova Revolução, uno e indivisível, direita e esquerda, exterior e interior.

Só é imperativo não permitir que após o ápice venha uma nova recessão. A intensidade só deve se elevar, após o clímax deve vir um clímax ainda maior, o superaquecimento das individualidades deve incendiar o mundo exterior com o fogo da rebelião, rebelião que é (segundo Sartre) o único poder capaz de salvar o homem da solidão.

O Início Absoluto é independente da objetividade, porque ele não tem noções de "cedo" ou "tarde", "aqui" e "lá". Melhor ainda se não houver "nada a oferecer, nada a tomar".

O fim do ciclo é, no fim das contas, o fim de uma ilusão, como disse Guénon.

A canção de Bowie acomapnha a leitura do "Livro da Lei" (Liber Al vel Legis), o amargor do absinto, que Crowley chamava de única substância iniciática entre as bebidas alcoólicas ("Deusa Verde"), um rebote inesperado de ero-comatismo, fanatismo belo e doloriso da célula política extremista, sombra acidentalmente caída, como uma Cruz Celta.

O Início Absoluto está à distância de uma mão (esquerda).

06/01/2016

Leonid Savin - A Globalização para Bem dos Povos: Perspectivas da Nova Teoria Política

por Leonid Savin



A questão da globalização, que se começou a analisar ativamente na década de 90 do século passado, continua atual, fato comprovado pelos desenvolvimentos na arena global. Por trás das tentativas das corporações transnacionais e de diversos projetos mundialistas se descobrem não só o afã do lucro, mas também de controle e domínio mundial. A origem é uma filosofia política que bebe das fontes da Grécia Antiga, onde originariamente se deram os dispositivos que posteriormente se adotaram e se interpretaram como indiscutíveis. Concordando inteiramente com uma série de argumentos de Jacques Derrida sobre que "o modelo ideal e eufórico da globalização, como um processo de abertura de fronteiras que faz o mundo mais homogêneo, deve se discutir com seriedade absoluta e extrema atenção. E isso não é apenas porque a homogeneização indicada - onde ela foi levada a cabo ou assim se supõe - tem um anverso e um reverso (de risco aterrorizante, muito óbvio para mim para perder tempo em sua descrição), mas porque a homogeneização visível muitas vezes escondidos em outras formas antigas e novas de desigualdade ou hegemonia (que eu chamo de homo-hegemonização), devemos saber reconhecê-las em suas fisonomas novas e combatê-las "[1], destacaremos apenas de passagem alguns marcos diretamente relacionados com as questões da globalização.

A primeira onda de globalização está relacionada com a época de grandes descobertas anteriores à Primeira Guerra Mundial. A segunda, de 1947-1991, é a época do mundo pós Yalta e da Guerra Fria. A terceira começou nos anos 90 e continua até o momento atual gerando uma infinidade de efeitos, como a virtualização da economia, a relocalização, a emergência de sociedades em rede. Embora o historiador americano Hopkins, junto do editor da publicação "Foreign Policy", Moises Naim [2], afirmam que a globalização já tinha começado já em tempos do pré-modernismo com a migração dos povos, esta declaração - que toma em conta o significado das tradições, ritos e religiões que tinham as pessoas da pré-modernidade - não parece convincente. Quão justamente assinalou Luke Martell, examinando o espectro completo de modelos de globalização e das novas escolas e ensinamentos relacionados a ela, que a globalização neste contexto histórico não significa internacionalização [3]. Vários pesquisadores agora assinalam que a onda reversa da globalização, com origem nos países em desenvolvimento, promove as mudanças econômicas nessas regiões e produz o desequilíbrio dos sujeitos da política mundial, e que, se esta tendência continuar, pode conduzir a consequências imprevisíveis. É provável que discordem de mim os partidários da teoria do caos e fundamentem que tais mudanças são intrinsecamente inerentes a um sistema complexo e dinâmico, como é, certamente, qualquer Estado, e tanto mais o são os blocos e uniões. No entanto, o caos controlado também pode ser usado como um instrumento da globalização do qual se valem os estrategistas do Ocidente em prol de seus interesses, coisa que propôs o diplomata americano Steven Mann nos anos 90 do século passado [4].

Era necessário recordar as três ondas de globalização para que possamos realizar certa comparação com as três teorias políticas. Em um ou outro período dominaram determinadas ideologias, apoiadas não só na violência revolucionária, mas mais ainda em uma plataforma político-filosófica. No último século observou-se que três ideologias fundamentais estavam lutando entre si, disputando exclusividade e dominação. Primeiro apareceu o liberalismo, que considera sujeito da história o indivíduo desembaraçado do complexo da herança cultural e das relações intersociais. Em reação ao sistema capitalista burguês, expresso pelo liberalismo, apareceram o comunismo e o marxismo. Finalmente apareceu o fascismo, e o nacional-socialismo como uma versão daquele, mas foram os primeiros a desaparecer do cenário internacional imediatamente após a derrota da Alemanha em 1945. Em 1991, após a queda da URSS, o mundo soube da derrota da segunda teoria, que pretendia ser universal (embora em algumas regiões, por exemplo, na América Latina, o marxismo foi modificado e na sua nova forma, demonstrou a sua eficácia), e por um tempo se impôs a vitória do liberalismo [5]. Em relação a tudo isso o embate das três teorias se dava no marco da época do modernismo, fato que assinalou magnificamente o filósofo húngaro Georg Lukács em seu livro "O Fim do Século XX e o Fim do Modernismo."

Hoje, na era do pós-modernismo, nos encontramos com a onda da globalização relacionada com o liberalismo, que afirma o primado da economia sobre outras esferas; portanto, seria lógico tocar alguns modelos e planos alternativos que estão do outro lado da economia, mas que em grande parte a pré-determinam.

Definitivamente, entre os modelos comportamentais e econômicos existe uma relação de forma inequívoca. O ethos de um povo determinado, ligado a dispositivos conceituais, influencia na formação de modelos de comportamento social e de regime económico. Por exemplo, a economia islâmica nega o crescimento percentual, fato observado pelo filósofo russo Vladimir Soloviev falando sobre o princípio do "trabalho saudável" no Islã. Na Ortodoxia a economia, em primeiro lugar, é domostrói (economia doméstica na velha Rússia ou oikonomía na Grécia antiga). De acordo com a doutrina cristã, as pessoas que, mesmo depois do pecado devem continuar a ganhar o pão com o suor do seu rosto, "cooperam com o criador" sem duvidar de sua vontade. Tais opiniões foram distorcidas pelo protestantismo e Max Weber [6] mostrou de forma convincente que grande parte da economia de mercado liberal atual é construída sobre a base da ética protestante. Ernst Schumacher desenvolveu a doutrina absolutamente única da "economia budista", propondo novos princípios em relação ao trabalho e, com razão, indicando que "os economistas, da mesma forma que outros especialistas, sofrem de cegueira metafísica" [7].

Mesmo abstraindo-se das várias crenças religiosas, contra as quais lutaram representantes de determinadas ideologias políticas, os arquétipos e o inconsciente coletivo permanecem. Carl Gustav Jung sintoniza com Max Weber sobre a crítica do liberalismo, embora o faça como um psicólogo. "O Mundo sem símbolos do protestante levou a um sentimentalismo doentio no início, em seguida, a um agravamento dos conflitos morais" [8]. A questão não é apenas de distúrbios sexuais e psicológicos que analisava o cientista suíço. Os arquétipos e símbolos estão totalmente inscritos no modelo econômico. O pesquisador norte-americano Bernard Lietaer argumenta que o atual sistema monetário e financeiro mundial baseia-se no arquétipo patriarcal, onde o dinheiro é um meio de acumulação [9]. Ao mesmo tempo os outros arquétipos há muito que estão deprimidos e, portanto, devido a este desajuste, se produzem booms financeiros, falências, quebras do mercado de ações e outros desastres. Na história, no entanto, tem operado outro arquétipo, com base no princípio matrifocal - Egito Antigo, Idade Média, etc. - onde o dinheiro agia segundo o princípio da moratória e era um meio de troca. Até agora, infelizmente, não há uma extensa pesquisa relacionada à influência dos arquétipos nas teorias econômicas heterodoxas desenvolvidos nos séculos XIX e XX, que são uma alternativa ao atual sistema central enraizado no projeto político concreto. Mas várias dessas teorias se apoiam em experimentos práticos, por exemplo o projeto de dinheiro de Silvio Gesell, o qual produziu um efeito colossal que influenciou diretamente o bem estar das comunidades. Os sistemas "dinheiristas" condicionais LETS [10], Time Dollar [11], WIR [12], sendo instrumentos de crédito mútuo e, naturalmente sem juros, todavia representam um modelo maravilhoso de economia solidária dentro da sociedade.

No Japão existe a "moeda de saúde", que é medida em horas de trabalho e pode ser usada em programas de saúde pública do Estado. A eficácia de tais sistemas tem sido observada por pesquisadores contemporâneos. Mesmo aplicando mecanismos econômicos e bancários, no mundo há muitos exemplos dessa abordagem de distribuição de meios e investimentos, que não se inscrevem nos esquemas liberais. Por exemplo, organizações tais como Triodos Bank (Holanda), Cultura Bank (Noruega), La Nef (França) e outros, se manejam com princípios éticos muito claros que podem ser resumidos com a frase comum de anti-globalistas "as pessoas são mais importante do que os lucros ". Além disso, vários especialistas e analistas tem proposto esquemas de estabilização econômicas baseadas no princípio da democracia direta. Bello Walden, analista sênior do Instituto Focus on the Global South, de Bangkok, propõe as seguintes formas de superar a globalização por meio da economia:

1 - A produção para o mercado interno, em vez do externo, deve ser o centro de gravidade da economia novamente.

2 - Na economia deve se dar o princípio da subsidiariedade.

3 - A política comercial deve proteger a economia local a partir do impacto econômico destrutivo de estruturas corporativas e dos preços baixos.

4 - A política industrial deve regenerar e fortalecer o setor manufatureiro.

5 - As tarefas de longo prazo, destinadas a uma justa distribuição de renda, podem criar um mercado interno forte para assumir o papel de âncora econômica e criar recursos financeiros locais para investimento.

6 - A correção do crescimento econômico vai aumentar a qualidade de vida, e maximizando a abordagem objetiva irá reduzir o desajuste relacionado com o ambiente circundante.

7 - A elaboração e propagação de tecnologias ecologicamente favoráveis na indústria e na agricultura devem ser estimuladas.

8 - A tomada de decisões estratégicas sobre a economia não pode ser deixada apenas nas mãos de tecnocratas e marqueteiros. Pelo contrário, deve-se introduzir a possibilidade de que assuntos tais como o desenvolvimento da indústria, a parte do orçamento do Estado alocados para a agricultura, etc., sejam produto de discussão democrática e eleições.

9 - A sociedade civil deve continuar e monitorar continuamente o setor privado e o Estado. Isso deve ser institucionalizado.

10 - A propriedade deve ser transformada em uma "economia mista", o que inclui cooperativas comunitárias, empresas privadas e empresas estatais, mas exclui as corporações transnacionais.

11 - As organizações globais centralizadas do tipo FMI ou Banco Mundial devem ser substituídas por outras, construídas não de acordo com o princípio do livre comércio e da mobilidade de capitais, mas nos princípios de uma cooperação que - nas palavras de Hugo Chávez, descrevendo o projeto ALBA  - "supere a lógica do capitalismo." [13]

É importante também aplicar à globalização a análise social. A metodologia de Jean Baudrillard [14] nos permite observar como os mercados financeiros especulativos conduziram à criação de simulacros econômicos que minaram a vitalidade dos sistemas sociais. Não menos interessante é o modelo de Georges Bataille, mostrando como a concorrência econômica, característica do modelo liberal, está diretamente ligada ao risco de guerra. O sociólogo francês observa que o excesso de energia, que é transformado em riqueza, deve ser gasto no desenvolvimento do sistema. Caso contrário, se a energia não é removido a tempo, inevitavelmente, ela é utilizado para produzir desastres.

Ao tema que investigamos devemos acrescentar o fato de os entusiastas da globalização, dos US e da Europa Ocidental, apontavam que a interação estreita entre países e povos, que propiciem os processos de unificação das normas e homogeneização de culturas, deve conduzir a uma baixa probabilidade de conflitos; no entanto, o parto de novos modelos levou a novas formas de guerra [15]. E agora o sujeito ativo dos conflitos resultam ser não apenas os Estados, mas as corporações transnacionais, ONGs, sindicatos, grupos religiosos, agrupamentos criminosos criminais e partidos políticos. O bellum omnium contra omnes de Hobbes se espalhou pelo mundo, enquanto que os EUA pretendem exercer a função de Estado absoluto.

Na crise atual do sistema liberal, da qual são testemunhas a crise financeira de 2008, o reconhecimento da sua inadequação pelos economistas reconhecidos, e as iniciativas dos vários países em termos de reformar a ordem mundial, corresponde mudar o enfoque das ciências que afetam a formação da cosmovisão da elite futura para práticas socioculturais que, para além da sua importância, por um longo tempo não receberam a atenção de grande política. A crise ecológica que se aproxima, que ocorre sobre um fundo de crescente auto-consciência política de muitos povos aborígenes - que antes haviam sido removidos da tomada de decisões (do socialismo boliviano Sumak Kawsay com projetos indígenas latino-americanos a tentativas africanas de libertar-se da escravidão neoliberal) - também pode contribuir para esses processos. A mudança de raciocínio deve ser complexa, com uma ativação de camadas arquetípicas permitindo a atrofia dos memorandos velhos e a instalação de fundamentos de uma nova ordem mundial onde, em um marco de florescente complexidade, se codesenvolvam sociedades de abundância estável.

Tal como já observamos no início, há uma série de dispositivos filosóficos que estabeleceram uma determinada direção no desenvolvimento das ciências, os quais foram tomados como algo rígido que não pode ser submetido à crítica. O paradigma científico do Iluminismo produziu um racismo gnoseológico euro-ocidental que foi projetado sobre outros povos, países e continentes. Aqui também se pode tomar em conta o fato de que o corpus da filosofia da Grécia antiga veio para a Europa Ocidental através do mundo árabe, e foi submetido a distorções, mas poucos foram aqueles que se atreveram a repensar os fundamentos da existência. Sobre isto é um exemplo a herança de Martin Heidegger, cujos trabalhos, mais além de sua relativa complexidade, podem servir como base para o desenvolvimento de uma nova teoria universal. Este é um processo que deve ser realizado também a partir da perspectiva da desconstrução para dissipar as estratificações especulativas e os envelhecidos mecanismos de construção sócio-política.

Pode-se dizer, em conclusão, que depois das três teorias políticas (liberalismo, marxismo e fascismo) e depois das três ondas de globalização (substituição de três sociedades - tradição, modernismo e pós-modernismo, e também de modelos econômicos) se faz indispensável para a elaboração de uma nova teoria política que conforme uma quarta onda, qualitativamente distinta das anteriores, onde o sujeito ativo fundamental do mundo. Enquanto isso, é importante a formação de uma oposição e um movimento que se baseie no princípio "anti", a elaboração de um anti-credo construtivo que, de acordo com o pensamento de Zbigniew Brzezinski, possa destruir o domínio global dos EUA [16]. Nesta teoria, ou como chama o filósofo francês Alain de Benoist "o Quarto Nomos da Terra" [17], os sujeitos da história devem ser as pessoas no seu processo puro de existência, com toda a riqueza de suas relações culturais mútuas, tradições, especificidades étnicas e cosmovisões. No cujo caso os modelos alternativos e das tentativas de muitos analistas, especialistas e opositores da globalização ocidental (que tem os EUA na liderança) poderão encontrar uma ampla aplicação.

Notas

1. Jacques Derrida. A Globalização, a Paz e o Cosmopolitismo. Cosmópolis № 2 (8), M., 2004, c.126.

2. Naim, Moises. Think Again: Globalization, Foreign Policy, March/April 2009.

3. Martell, Luke. The Third Wave in the Globalisation Theory. International Studies Review, 9, 2, Summer 2007, p 177.

4. Mann, Steven. Theory of Chaos and Strategic Thought, Parameters, Vol. XXII, Autumn 1992, p.62.

5. Alexander Dugin. A Quarta Teoria Política. San Petersburgo. de. Amfora. P.10-11.Año 2009.

6. Max Weber. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Ivano-Frankivsk 2002.

7. Schumacher E. F., Small Is Beautiful: Economics as if People Mattered. Anthony Blond Ltd., London, 1973.

8. Carl Gustav Jung, Michel Foucault. A Loucura da Matriz. Moscou: Penguin Books, 2007. P.99 .

9. Bernard Lietaer. A Alma do Dinheiro. Moscou: Olimp AST: Astrel de 2007.

10. http://ru.wikipedia.org/wiki/LETS

11. http://www.timebanks.org/

12. http://www.wir.ch/index.cfm?DC86BF333C1811D6B9950001020761E5&o_lang_id=1

13. Bello Walden B. The Virtues of Deglobalization. http://www.fpif.org/fpiftxt/6399

14. Jean Baudrillard. Crítica da Economia Política do Signo. Moscou: Biblion. 2004. O Intercâmbio Simbólico e a Morte. Tomsk: Dobrosvet, 2009.

15. Georges Bataille. A Parte Maldita. Moscou: Ladomir de 2006, sec. 116-118.

16. Zbigniew Brzezinski. O Dilema dos EUA. Dominação global ou liderança global? Moscou: Relaciones Exteriores.

17. Alain de Benoist. Contra o Liberalismo. A Quarta Teoria Política. Amphora. P.18 .

02/01/2016

Mao Tsé-Tung: Realpolitik e Revolução

por I.S.



«Na posição concreta de Mao reúnem-se diversos tipos de hostilidade, que se elevam até atingir a hostilidade absoluta. O racismo contra o explorador branco colonial; a luta de classes contra a burguesia capitalista; a hostilidade nacional contra o invasor japonês da mesma raça; a hostilidade há muito resultante das guerras civis encarniçadas e crescentes contra o próprio irmão de nacionalidade – tudo isto não se paralisava ou se relacionava reciprocamente, como seria de imaginar, mas, pelo contrário, confirmava-se e intensificava-se numa posição concreta. Estaline conseguiu, durante a II Guerra Mundial, aliar a guerrilha telúrica nacional à luta de classes do comunismo internacional. Mao precedeu-o em muitos anos. Também prosseguiu, na sua consciência teórica, a fórmula de Lenine da guerra como consequência da política» - Carl Schmitt, Theorie des Partisanen.

Mao Tse-tung foi uma figura singular dentro do movimento comunista. Tendo frequentado, em sua juventude, os círculos tradicionalistas da Escola de Estudos de Wang Fu Qi, em 1917, publicou um enigmático artigo intitulado A Study of Physical Education – texto repleto de citações de Confúcio, onde se encontram considerações sobre a importância dos exercícios e do aprimoramento físico na formação guerreiro-militar e na saúde da nação.  

Seus escritos políticos e, em especial, sua Teoria das Contradições, refletem aquilo que se poderia denominar de realpolitik marxista: existem contradições inerentes não só aos fatos políticos e sociais, mas também a toda estruturação ontológica da realidade. Em seu Sobre a Contradição, Mao afirma:

«A universalidade ou caráter absoluto da contradição tem um duplo significado: primeiro, que as contradições existem no processo de desenvolvimento de todos os fenômenos; segundo, que no processo de desenvolvimento de cada fenômeno, o movimento contraditório existe desde o princípio até ao fim».

No entanto, partindo do pressuposto básico a cerca da universalidade e da imanência da contradição, não se pode simplesmente concluir que toda contradição seja inerentemente idêntica e equivalente em seus respectivos planos; assim, Mao afirma: 

«No problema da luta dos contrários está incluída a questão de saber o que é o antagonismo. A nossa resposta é que o antagonismo constitui uma das formas, e não a única forma, da luta dos contrários.
Na história da humanidade o antagonismo entre classes existe como expressão particular da luta dos contrários. (...) Certas contradições revestem o caráter dum antagonismo aberto, outras não. Segundo o desenvolvimento concreto dos fenômenos, certas contradições, primitivamente não antagônicas, desenvolvem-se em contradições antagônicas, enquanto outras, primitivamente antagônicas, desenvolvem-se em contradições não antagônicas».

Ora, uma vez assumido que nem toda contradição é política e ontologicamente antagônica e sendo o antagonismo apenas uma das modalidades da contradição absoluta, Mao desloca a dialética das classes sociais e a insere nas categorias analíticas das Contradições Antagônicas e da Contradição Não-Antagônicas e, assim, formula um modo específico de interpretar o marxismo em termos mais amplos, formal e realisticamente estruturados a partir de circunstâncias históricas e políticas particulares e que admitem antagonismos, inimizades e hostilidades mais amplas – ora entre o campesinato e o latifúndio; ora entre a nação e o invasor nipônico; ora entre o indígena sino-mongol e o colono branco-europeu; ora entre a civilização chinesa e a civilização ocidental. A inimizade política, para nos expressarmos de modo schmittiano, cinge-se, no pensamento político de Mao Tse-tung, a partir de diversas tonalidades que podem se manifestar em contradições de classe, em lutas raciais, em antagonismos intra e extra nacionais e em embates civilizacionais e geopolíticos na arena das relações internacionais. E assim como na perspectiva de Carl Schmitt – onde o hostis é definido nos termos formais de uma inimizade pública –, a categoria maoísta das Contradições Antagônicas não pressupõe, em absoluto, quais serão as substâncias políticas constitutivas destas mesmas contradições – antes, tais substâncias devem ser delineadas em termos realistas, na situação concreta da inimizade: a hostilidade pública contra o imperialismo japonês, para mencionarmos um exemplo histórico, aglutinou os comunistas chineses e os nacionalistas do Kuomintang – a despeito de suas ideologias de base e a despeito da arrastada guerra civil travada por e entre ambos – em uma batalha comum, em um núcleo politicamente condicionado de amizade pública contra um inimigo igualmente público.

Foi a partir desta compreensão básica, ainda, que a Revolução Chinesa, com Mao, promoveu e introduziu o modo de produção conhecido como Fanshen – o contar com as próprias forças: tratou-se de um modelo produtivo que, recapitulando as antigas tradições comunitárias chinesas e fundado sobre o princípio da reforma agrária e da cooperação nacional orgânico-produtiva, implicou na destruição do latifúndio, na redistribuição de terras e na formação de comunidades produtivas autônomas de pequenos e médios camponeses (que passaram a ocupar 90% das terras aptas ao cultivo) com o objetivo de garantir a subsistência destes grupos e de aumentar as receitas produtivas do Estado: neste sentido, admitia-se que agremiações econômico-produtivas diversas, das mais ricas as mais pobres, a despeito das contradições de classe inerentes entre elas, cooperassem em prol do bem comum da nação: eis aí o cerne daquilo que se poderia chamar de cooperativismo maoísta – cooptar diferentes classes; alocá-las em um mesmo processo revolucionário geral; desaburguesar o pequeno proprietário e retirar a mera condição de proletário do camponês pobre, criando uma gestalt dialeticamente perene, no genuíno espírito do ethos confuciano, mediada e plasmada politicamente em torno do Estado socialista e da propriedade socialista dos meios de produção.

Cabe ainda ressaltar que Mao, além de marcadamente anticapitalista e antiburguês, foi também uma figura antiliberal, comprometida com o combate ao liberalismo em suas formas espirituais mais sutis. Em seu texto Contra o Liberalismo, Mao enumera cerca de onze comportamentos e atitudes típicas do liberalismo, dentre as quais estão o individualismo, o egoísmo pequeno-burguês, a falta de disciplina, a insubmissão hierárquica, além da tolerância burguesa e do caráter excessivamente passivo do liberalismo – contra o qual Mao contrapõe a atividade revolucionária.

«O liberalismo rejeita a luta ideológica e preconiza uma harmonia sem princípios, o que dá lugar a um estilo de vida decadente, filisteu, e provoca a degenerescência política de certas entidades e indivíduos (...). O liberalismo é a passividade. Objetivamente, serve o inimigo (...)». 

Assim considerado, o pensamento de Mao Tse-tung – o maoísmo – pode bem ser identificado como a menos moderna das teorias marxistas. Se é possível estabelecer graus de distanciamento e de aproximação em relação aos paradigmas da modernidade no que diz respeito às três teorias políticas modernas (liberalismo, socialismo e fascismo), também é possível fazer semelhante consideração sobre as diversas subdivisões internas a tais teorias. É deste modo que se pode considerar o liberalismo clássico (Terceiro Estado) como sendo menos moderno que o neoliberalismo ou que o pós-liberalismo (Quinto Estado). Ou o nacionalismo místico-ortodoxo da Guarda de Ferro romena como menos moderno que o populismo mussoliniano – que chegou a pôr organizações esotéricas na clandestinidade. Do mesmo modo, o maoísmo, pelo seu manuseio realista das contradições como atualização da psicologia confuciana e, acima de tudo, pelo seu caráter telúrico, camponês e guerreiro – a guerrilha telúrica como elite vermelha concreta, na expressão de Carl Schmitt – pode ser considerado menos moderno em relação ao trotskismo ou até mesmo ao leninismo e ao stalinismo. 

É certo que a prática política de Mao contou com erros e pode ser criticada desde uma perspectiva política identitária, por exemplo, quando reprimiu as formas tradicionais de religiosidade chinesa durante a Revolução Cultural. No entanto, também houveram aspectos notadamente positivos em sua prática. Mao, com sua linha de massas, conseguiu, junto ao Partido Comunista, erradicar o vício nas drogas em poucos anos, a partir de uma política de execução de grandes traficantes e da repressão ao consumo, algo muito distinto das propostas legalizacionistas e filo-oligárquicas das esquerdas liberal-libertárias ocidentais. 

Mao também preservou – talvez inconscientemente – certos aspectos do simbolismo solar e imperial chinês na estrutura estético-doutrinária da Revolução Cultural. Em seu artigo Para aprofundar a grande revolução cultural proletária, Mao sustenta, recapitulando a noção sino-tradicional da simetria entre o Imperador e o Sol, que «O desenvolvimento de todas as coisas depende do Sol e o fazer a revolução depende do pensamento de Mao». Além do mais, sua Teoria das Contradições, além do que já assinalamos, pode bem ser considerada, com as devidas ressalvas, como uma versão moderna e uma atualização da dialética dos contrários Taoísta, assim sua noção de heroísmo revolucionário, exposta em seu Livro Vermelho, pode ser considerada como uma atualização marxista do ethos guerreiro tradicional. 

Em suma, o maoísmo configura-se de um modo de encarar o político repleto de idiossincrasias locais e de formas narrativas e compreensivas embebidas em um complexo psico-cultural de fundo e de natureza tradicional. A China contemporânea pós-maoísta, mesmo que internamente dominada por elites liberais, assume hoje um papel importante na correlação de forças e nas contradições da ordem internacional – ao lado de países como a Rússia e o Irã. Pode-se dizer seu lugar na história está hoje em aberto: ela pode tanto sucumbir a uma forma aberta de liberalismo e de capitalismo predatório e parasitário, como pode, a sua maneira, alcançar suas pretensões socialistas. Seja como for, poucos discordarão que o futuro da política internacional se não depende, ao menos passa, para o bem ou para o mal, do Império do Meio. E se tivermos sorte, o que hoje se chama de República Popular da China alcançará, junto às demais nações antiimperialistas, os meios para levar o mundo a uma verdadeira Lex Pluriversalis, a uma configuração global multipolar, tal como décadas atrás enunciara Mao poeticamente:

«Se o céu fosse o meu poiso, puxaria  
da espada  
E cortar-te-ia em três pedaços:  
Ofereceria um à Europa,  
Outro à América,  
Guardando, porém, um para a China,  
E a Paz dominaria o Mundo».
Bibliografia:

Schmitt, Carl. Teoria da Guerrilha: observações para esclarecimento político. Lisboa: Arcádia, 1975.
Pomar, W. O Enigma Chinês: capitalismo ou socialismo. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1987.
Tse-tung, Mao. Política. FERNANDES, F. (org.). Rio de Janeiro: Ática, 1982.
___________. Selected works of Mao Tse-tung: Vol. I e II. Oxford: Pergamon Press, 1965.
Quaderni del Veltro, 1973. Maoismo e Tradizione. Disponível em (em português): <>