por Philip Coppens
"A Rússia sempre se percebeu como um país eurasiático" - Presidente Vladimir Putin, novembro de 2000.
"...uma admissão revolucionária, grandiosa, epocal, que, em geral, muda tudo. A profecia de Jean Parvulesco se cumpre... Haverá um milênio eurasiano" - Aleksandr Dugin, pensador e autor russo.
O principal agente, senão esperança, para mudança global é Vladimir Putin, segundo o visionário escritor francês Jean Parvulesco. Parvulesco afirma que - quer saibamos ou não nos encontramos na encruzilhada da "grande história", onde uma era totalmente nova está para nascer.
Para tal novo período começar, o velho precisa primeiro morrer. Para Parvulesco, esse é o velho "sistema democrático" do politicamente correto, que ele sente ter agora alcançado seus limites e não ser mais suportável. Ele se tornou "um pesadelo total e permanente". Muitos se questionarão como o "novo mundo" deve vir. O melhor exemplo do que pareceu ser um colapso súbito, quase instantâneo é visto na queda da URSS, duas décadas atrás. Ela ilustra que impérios poderosos podem, de um dia para o outro, desaparecer completamente, tornando necessário que uma nova sociedade e estrutura sejam construídas do zero.
Quando notícias do colapso da União Soviética apareceram na televisão, o sistema já havia implodido. Foi apenas a revelação pública de sua morte; a desintegração do sistema comunista já havia ocorrido. Segundo Parvulesco, o colapso da "Europa democrática" já havia ocorrido também, e nós estávamos agora nos anos entre seu colapso e a aceitação pública de seu fim - e o início de uma nova Europa.
Para Parvulesco, a evidência do colapso desse sistema é aparente na história política recente da Itália e da Alemanha, e em alguma medida da França e Grã-Bretanha. Mas em cada caso ele sente que a mesma situação abissal transpirou: um "imenso deserto espiritual", a desolação da "social-democracia". Uma versão local do que ele vê como uma "conspiração global", mas uma que falhou e logo será enviada de volta para o "buraco negro" de onde veio.
Parvulesco sabe o que escrever na certidão de óbito; mas ele também sente que ele sabe o que a Nova Europa será: o "Império Eurasiano dos Últimos Tempos". Ele nomeia nossos tempos como um interregnum onde o que aconteceu à Rússia é efetivamente evidência de que mudança política dramática é possível. A União Soviética foi o primeiro dominó a cair, com os outros na Europa logo em seguida.
Poderia ele estar certo? Em 1976, Parvulesco publicou "La Ligne Géopolitique de l'URSS et le 'Projet Océanique Fondamental' de l'Amiral G.S. Gorchkov" (A linha geopolítica da URSS e o 'projeto oceanográfico fundamental' do Almirange G.S. Gorchkov), que ele chamou "pesquisa político-revolucionária". Nela ele escreveu que a URSS acabaria mudando o curso da história. E mudar o curso da história é, para Parvulesco, o único objetivo que a política deve ter.
Parvulesco portanto fornece um interessante tipo de profecia. Conquanto a maioria dos profetas preveem o fim do mundo em um dado tempo, seu tipo de profecia traz mais detalhes sobre o tipo de mudança e o como. Quanto ao tempo, é muito do tipo "quando for a hora certa".
Assim, o que deve acontecer? Parvulesco afirma que por toda a Europa há grupos geopolíticos atuando - muitas vezes clandestinamente - estabelecendo as bases para a agenda eurasiana. Como o Projeto para um Novo Século Americano, há outros think-tanks trabalhando - e considerando a quantidade de notícias em jornal de que não são objeto, muito mais secretamente - para fazer emergir uma nova Eurásia. Apesar de seu caráter secreto, Parvulesco foi capaz de pôr as mãos em um artigo chamado "O Pacto Eurasiano Imperial". Parecida à idéia posta em prática pelos neocons após o 11 de Setembro (uma agenda que afirmava querer levar paz ao mundo pelo uso do poder bélico americano), esse grupo afirma que, "é o confronto de nossas doutrinas imperiais e católicas [universais] com realidade político-histórica atual [...]]] que verá a emergência final do Grande Império católico que constitui nosso objetivo final, o Imperium Ultimum, o Regnum Sanctum, que deverá comportar, em princípio, três fases operacionais [...]".
A primeira fase é a criação de um Eixo Paris-Berlim-Moscou, esta é considerada como sendo o eixo ao longo do qual essa grande mudança vai ocorrer. Esse eixo ligará o destino de três nações (França, Alemanha e Rússia).
A segunda fase é a integração do que era tradicionalmente conhecido como Europas Ocidental e Oriental, junto de Rússia, Sibéria, Índia e Japão.
A fase final envolve o que é chamado a destruição da "conspiração democrática global", liderada pelos EUA, incluindo uma liberação revolucionária de seu povo, após o que a América como um todo (Norte e Sul) se tornarão uma só entidade. Nós só podemos imaginar se o presente impulso dos EUA de expandirem o NAFTA e criar uma União Norte-Americana são passos nessa direção.
O fim da superpotência planetária que são os EUA é previsto como um ato de autodestruição, uma guerra civil continental parecida com a primeira Guerra Civil. A extrema insatisfação dentro dos EUA, a disparidade extrema entre a comunidade religiosa arquiconservadora e a mais liberal, significa que ser eleito presidente com uma agenda genuína (ao invés de uma de estilo total, mas nenhuma substância) é quase impossível. Para Parvulesco, será primariamente a comunidade católica e ex-européia dos EUA que levará a América a seu novo destino - e causar o fim da atual "conspiração global". Haverá uma nova Europa, mas também uma nova América.
No final, a mudança é um processo social, mas ele não raro precisa de um símbolo. Hitler se tornou a face da Segunda Guerra Mundial, Lênin - mais do que Marx - do comunismo, etc. Assim qual é a nova face da Europa, e quem é o criador desse novo Império Eurasiano? Para Parvulesco, esse "messias" já está aqui: Vladimir Putin. Ainda que Putin não seja mais presidente, sua influência como Primeiro-Ministro Russo permanece virtualmente onipresente.
Vladimir Putin permanece a face da Nova Rússia, um país com um vasto território e recursos naturais que é capaz de manter a Europa refém, a nível energético, caso ele queira fazê-lo.
Quem é Vladimir Vladimirovich Putin? Essa é uma questão que muitos em um universo fora do de Parvulesco também se perguntam. Visto por uns como instrumento do sucesso da KGB, para Parvulesco Putin é a emanação direta dos grupos revolucionários secretos das Forças Armadas da União Soviética. Esses, ele acredita, estão tentando tornar sua batalha secreta de longa data aberta e pública, movendo de um tipo de governo por trás das cenas, para um tipo mais aberto de governo.
Enquanto alguns teóricos da conspiração afirmam que a CIA e várias sociedades secretas como a Skull & Bones são os verdadeiros controladores da política americana, Parvulesco diz que a situação na URSS não era muito diferente. Governada de longa data por mediadores políticos cujos agentes estariam agora entrando em cena para levar o curso da política russa na direção que eles tentavam guiar por trás das cenas por um número de décadas.
Diferentemente dos EUA em que a "conspiração" é normalmente sem face, Parvulesco lista duas pessoas como os conspiradores-mor da Rússia. Um era o chefe do Serviço de Segurança Soviético (GRU) e outrora Comandante-em-Chefe do Pacto de Varsóvia, General S.M. Stemenko (morto em 1976), o outro era o Marechal N.V. Ogarkov, ex-Chefe de Estado Maior do Exército Soviético, que morreu em 1994, que segundo rumores teria estado por trás de uma tentativa de golpe que falou, que por sua vez levou a um tipo de contra-conspiração que levou Mikhail Gorbachev ao poder.
Parvulesco está convicto de que se essa contra-conspiração não tivesse tido sucesso, o fim da URSS teria vindo vários anos antes, com uma transição da URSS para a Nova Rússia que teria sido muito mais dura. De fato, ele sublinha que anos antes do fim efetivo da URSS, o regime estava em coma, à disposição para ser tomado, assim como - aos olhos de Parvulesco - a Europa Ocidental (e os EUA) estão agora.
Parvulesco não está sozinho em sua avaliação desses dois homens. O especialista de inteligência francesa Pierre de Villemarest que escreveu a história da GRU, chamada de "o serviço secreto mais secreto dos soviéticos", diz que o General Sergei Matveevich Stemenko foi "um dos primeiros geopolíticos da URSS, talvez até o primeiro". Ainda que Villemarest chamasse Stemenko de soviético, ele se considerava efetivamente um "Grão-Russo". "Para essa casta", escreve Villemarest, "a URSS era um Império que foi convocado a dominar o continente eurasiático, não apenas dos Urais a Brest, mas também dos Urais à Mongólia, da Ásia Central ao Mediterrâneo".
O "sonho" da Rússia à la Stemenko pode ser visto como um mero retorno aos dias em que a Rússia era um verdadeiro império, antes dos dias da Revolução Bolchevique. Mas para Parvulesco, isso em si é parte de um quebracabeças maior e mais intrigante - uma missão.