A segurança de que a história estava ao seu lado foi um grande fomento para os revolucionários. Eles aprenderam com júbilo que a causa pela qual eles estavam impelidos de qualquer modo, por motivos desde um senso de injustiça até ressentimentos invejosos, estavam predestinados ao triunfo. Essa crença é essencialmente uma fé religiosa. Não obstante todas as suas possibilidades como instrumento analítico, o marxismo tornou-se, acima de tudo, uma mitologia popular, baseada em uma visão da história que postulava que os homens estavam fadados pela necessidade, porquanto suas intituições estavam determinadas por métodos de produção evolutivos; baseava-se também na fé de que a classe trabalhadora era o povo eleito, cuja peregrinação por um mundo terrível terminaria com o estabelecimento de uma sociedade justa na qual as necessidades da lei de ferro deixariam de existir. Os revolucionários poderiam, assim, ficar confiantes de possuírem argumentos cientificamente irrefutáveis em direção a um progresso irrefutável para um novo milênio socialista, enquanto se empenhando em um ativismo social que parecia mesmo desnecessário. (...)
Essa nova religião foi uma inspiração para a organização da classe trabalhadora; a primeira organização internacional de trabalhadores surgiu em 1863. Embora composta por muitos que não seguiam as idéias de Marx (anarquistas, entre outros), sua influência era grande nela (ele próprio era seu secretário). Seu nome assustava os conservadores, dentre os quais havia aqueles que o culpavam pela Comuna de Paris. Quaisquer que fossem seus motivos, seus instintos estavam corretos. O que se deu após 1848 foi que o socialismo tomou a tradição revolucionária dos liberais, e a crença no papel histórico da classe trabalhadora industrial, ainda pouco visível fora da Inglaterra (sem falar longe de ser predominante noutros países), estava baseada na tradição que mantinha que, de modo geral, a revolução não teria erro. Formas de pensar a Política que evoluíram da Revolução Francesa foram assim transferidas para sociedades nas quais elas mostrar-se-iam crescentemente inapropriadas. Quão fácil tal transição poderia ser mostrava-se pelo modo como Marx tomou o drama e a exaltação mítica da Comuna de Paris para o socialismo. Numa poderosa brochura ele a anexou a suas próprias teorias, embora ela fosse, na verdade, o produto de muitas forças complicadas e diversas, expressando pouco no sentido de igualitarismo, muito menos de socialismo ‘’científico’’. A Comuna emergiu, ainda, em uma cidade na qual, embora enorme, não era um grande centro manufatureiro, para os quais Marx predisse que a revolução proletária se desenvolveria. Os proletários, em vez disso, mantiveram-se persistentemente quiescentes. A Comuna foi, de fato, o último e maior exemplo do radicalismo revolucionário tradicional parisiano, que resultou em um grande fracasso (e o socialismo sofreu por isso, em virtude das medidas repressivas decorrentes), que não dissuadiu Marx de fazê-la ponto central na mitologia socialista.
(ROBERTS, J.M. ''History of The World'')