18/11/2011

Russia e China: Um Conflito Iminente?

por Dr. Kerry R. Bolton

Uma das mudanças primárias em anos recentes tem sido o relacionamento que aparentemente desenvolveu-se entre dois inimigos históricos, Rússia e China. Discórdia entre as duas potências vem desde séculos de ocupação mongol de território russo, e subsequente anexação de território chinês pela Rússia Imperial. Esse conflito histórico não foi mitigado pelo triunfo do Comunismo na China, apesar do objetivo proclamado de solidariedade proletária global.

Porém, em anos recentes Rússia e China tem desenvolvido relações comerciais e diplomáticas. Mais significativamente, a Rússia tem sido a principal fornecedora de armas da China (seguida de Israel). Líderes chineses e russos tem buscado acordo em face do que eles consideram uma hegemonia global americano seguida ao colapso do bloco soviético.

É a tese desse trabalho que a concordância entre Rússia e China não sustentar-se-á, mais do que as "relações fraternais" entre ambos quando estes eram nominalmente "comunistas". O autor crê que haverá eventualmente conflito entre Rússia e China por terra e recursos. Como demonstrado em outros artigos, a Ásia está replete de potenciais crises por terra e recursos, muitas das quais poderia culminar em conflagrações regionais. (1)

Na década de 60, quando os "comunistas" chineses dissolveram suas "relações fraternais" com a URSS e recorreram a velhas rivalidades étnicas, o jornalista americano Harrison Salisbury escreveu um livro profético de geopolítica The Coming War Between Russia & China. (2) As previsões de Salisbury parecem ter sido demonstradas erradas nos anos recentes com o novo acordo sino-russo, porém certos desdobramentos agora indicam que suas previsões estão desenvolvendo-se, e precisamente à época em que ele previu que elas iriam - o século XXI. Agora outro livro, ainda que não subscrevendo à expectativa de uma guerra, está sendo publicado que não obstante demonstra as tensões crescentes. É Russia and China; Axis of Convenience: Moscow, Beijing and the New Geopolitics, pelo diplomata Bobo Lo. (3)

Tese de Salisbury

O presente autor tem há muito sustentado que o acordo russo-chinês não sustentar-se-ia, mas sim que haveria conflito com possibilidade de guerra. Eu escrevi em 1983:

"O rompimento entre Rússia e China pela ideologia comunista é uma mera fachada, e praticamente irrelevante. O rompimento real é historicamente e racialmente fundado. Nós podemos traçar o distanciamente russo-chinês de volta a 1229 quando a 'Horda Dourada' mongol de Gengis Khan invadiu a Rússia. Os mongóis governaram a Rússia por 250 anos. Mesmo tão tardiamente quanto o século XVIII mongóis ainda governavam o Baixo Volga e a Criméia. Esse governo mongol de séculos resultou em um temor arraigado de conquista oriental. (4)

Harrison Salisbury afirma:
O russo não faz distinção entre os povos orientais. Ele não distingue entre os mongóis que saquearam sua terra há 600 anos e as massas da China que ele crê estarem logo atrás das colinas asiáticas prontos para atacarem novamente. Nenhum russo considera incomum odiar os chineses. Ele não pede desculpas quando diz 'pequenos bastardos amarelos'".

Discórdia Sino-Soviética

Stálin apoiou os nacionalistas de Chiang Kai-Shek. O objetivo soviético primário era uma frente unida entre Chiang e Mao para lutar contra os japoneses, ao mesmo tempo reconhecendo Chiang como o líder da China. Mao levantou um pretexto de lutar contra os japoneses e afirmou estar disposto a trabalhar com Chiang. Salisbury nota que Stalin sempre preferiu Chiang a Mao, que ele considerava um "trotskista". Durante a Segunda Guerra Mundial Chiang foi o foco de apoio soviético, e não os vermelhos sob Mao. Em 1945, os russos prepararam-se para evacuar a Manchúria, mas permaneceram até 1946 a pedido de Chiang de movo a evitar uma tomada de poder maoísta. O embaixador soviético só foi retirado do séquito de Chiang em 2 de outubro de 1949, o dia após Mao anunciar seu governo em Pequim. O apoio continuado da Rússia a Chiang a nível diplomático, até a formação do regime comunista, criou um ressentimento que Mao carregou para sempre.

Mesmo sob a aliança sino-soviético de 1950, o equipamento militar soviético era de segunda-mão e caro. Em 1957 Mao levou uma delegação a Moscou e pediu armas nucleares, mas foi rechaçado.

Tratado Sino-Soviético de Amizade, Aliança e Assistência Mútua de 1950


Os sonhos de Mao de estabelecer a China como uma superpotência sustentava-se na suposição de que ela seria construída com a generosidade russa. Esse não foi o caso. Ao invés, o tratado sino-soviético de amizade, aliança e assistência mútua de 1950, que serviu como a base das relações russo-chinesas por trinta anos, foi humilhante e debilitador. Foi algo, ademais, que foi a causa primária para a invasão da China ao Vietnã em 1979, como será explicado abaixo.

Mao poderia ter cultivado amizade com os EUA, que era favorável a uma tomada de poder maoísta. General George Marshall, por exemplo, era antagônico em relação a Chiang e não via os comunistas chineses como possuindo apoio soviético. Marshall disse a Chiang que a assistência americana cessaria se as forças nacionalistas continuassem perseguindo o Exército Vermelho para o norte de Manchúria. Isso foi em 1946, em uma época quando uma ofensiva tal poderia ter acabado com Mao. Isso deu a Mao uma forte base a partir da qual reunir suas forças e finalmente derrotar Chiang.

Como Chang e Halliday apontam em sua biografia definitiva de Mao, essa assistência americana a Mao e traição em relação a Chiang foi decisiva. (5)

Contrariamente, surpreendente que possa superficialmente parecer, a ajudar de Stalin para Mao foi conseguida a um preço muito alto; o prelúdio ao humilhante tratado sino-soviético. Essa não era de modo algum uma questão de solidariedade comunista, mas de antiga animosidade existente entre Rússia e China, qual fosse a fachada ideológica. Em retorno pela ajuda russa, a China Vermelha estava comprometida a pagar com comida em tais termos a ponto de gerar fome. Em Yenan, por exemplo, 10.000 camponeses morreram de fome. Foi um prelúdio para a futura "Grande Fome", novamente o preço da ajuda da Rússia. (6)

Mao estava determinado a estabelecer a Rússia como uma superpotência, mas ele estava redondamente enganado se ele acreditava uqe poderia garantir suas ambições com ajuda russa. Não obstante ele cortejou Stalin repudiando de modo flagrante as relações americanas e outras relações ocidentais, ainda que suas ações agressivas deixassem Stalin alarmado. Chang e Halliday escrevem: "É amplamente considerado que foram os EUA que recusaram-se a reconhecer a China de Mao. Na verdade, foi Mao quem fez o possível para tornar o reconhecimento impossível, engajando-se em atitudes completamente hostis". (7)

Foi apenas recentemente que os anexos secretos do Tratado Sino-Soviético de 1950 tornaram-se conhecidos. O empréstimo de 300 milhões de dólares estava espalhado por cinco anos. Stalin aprovou 50 grandes projetos industriais, bem menos do que Mao pretendia.

Mao pagou um preço alto em retorno. A Manchúria e Xinjiang seriam reconhecidas como esferas de influência soviética, com acesso russo exclusivo a suas atividades industriais, financeiras e comerciais. "Como essas duas grandes regiões eram as principais áreas como recursos minerais ricos e exploráveis conhecidos, Mao estava efetivamente entregando a maior parte dos ativos chineses comercializáveis". (8)

Mao referia-se às duas regiões em seu círculo interno como "colônias" russas. Esse seria um ponto de choque permanente com a liderança chinesa. Em 1989 o líder chinês Deng disse ao líder russo Gorbachev que,

"De todas as potências estrangeiras que invadiram, humilharam e escravizaram a China desde a Guerra do Ópio (em 1842), o Jaoão foi a que causou o maior dano; mas no fim o país que retirou os maiores benefícios da China foi a Rússia Czarista, incluindo a União Soviética durante um certo período..."

Sober isso, Chang e Halliday ressaltam que "Deng estava certamente referindo-se a esse tratado". (9)
O ironicamente chamado "tratado de amizade" estabeleceu virtualmente um status colonial russo acima por sobre a China. Os chineses tinham que pagar enormes salários para técnicos russos na China, além de extensos benefícios para eles e suas famílias. Compensações tinham que ser pagas a empresas russas pelas perdas dos técnicos que estavam trabalhando na China. A cláusula que Mao particularmente buscava ocultar era a que colocava russos empregados na China fora da jurisdição chinesa. Os comunistas chinesas sempre ralharam contra esse status imposto sobre a China pelas potências imperialistas durante o século XIX como "humilhação imperialista". (10)

O velho imperialismo havia retornado sob a "fraternidade" soviética.

Durante os anos de 1953-54 Mao embarcou no chamado "Programa Superpotência" que haveria novamente de causar caos, especialmente sobre o campesinato. Foi dito aos chineses que o equipamento soviético era "ajuda soviética", sugerindo um presente. Mas tudo tinha que ser pago, principalmente por meio de comida. (11)

Sublinhando a seridade dos termos russos em relação a China, Halliday e Chang afirmam que a China tem apenas 7% da terra arável do mundo, mas 22% de sua população. Porém, isso é algo que também deve ser mantido em mente em relação a desenvolvimentos presentes e futuros.

O repúdio da China pelo tratado foi agressivamente assinalado pela sua invasão do Vietnã em 1979 como desafio direto à URSS. Porém, grandes conflagrações fronteiriças com perda de vida entre tropas chinesas e russas ocorreram mesmo durante os anos nos quais o tratado de "amizade" estava operante.

Conflitos Fronteiriços Sino-Soviéticos


A discórdia sino-soviética ao longo do final da década de 60 resultou da contenda sobre o statos da Mongólia Exterior e de inúmeras disputas territoriais ao longo da fronteira sino-soviética. Esses conflitos haviam alimentado-se sob a superfície das relações russo-chineses por mais de um século, desde que a Rússia Czarista forçou a China a assinar uma série de tratados cedendo vastos territórios. A China de Mao considerava a URSS como uma continuação da Rússia Czarista.

Segundo S.C.M. Paine:

"Para a China, perdas territoriais físicas foram enormes: uma área maior que a dos EUA ao leste do Mississippi oficialmente tornou-se território russo ou, no caso da Mongólia Exterior, um protetorado soviético". (12)

A URSS jamais desejou auxiliar que a China chegasse ao status de superpotência. A política soviética em relação à China era de garantir uma fronte unida entre Chiang e Mao para enfrentar os japoneses. O suposto tratado de amizade entre a China de Mao e a URSS assinado em 1950 era um de subjugação chinesa. Os chineses logo voltaram sua atenção para garantir o retorno das áreas que eles consideravam terem sido roubadas pela Rússia Imperial.

Salisbury afirma que em 1952 um livro escolar foi publicado, A Short History of Modern China, o qual incluía um mapa mostrando a China com as fronteiras do século XIX, designando 19 regiões "perdidas para uma potência européia". Estas estendiam-se da Índia à Indochina. Cinco outras regiões foram tomadas pela Rússia. Mongólia e Tibet eram mostradas como territórios chineses. Dez anos depois a China agiu sobre suas reivindicações com confrontos nas fronteiras da Índia, da Mongólia Exterior e da Rússia.

Em 1964, Uma Concisa Biografia da China foi publicado. Este mostra as fronteiras da China sendo resolvidas com todos seus vizinhos, exceto a Rússia. Fronteiras entre Sinkiang e Cazaquistão, e ao longo dos rios Amur e Ussuri eram desinadas "fronteira nacional indefinida".

Em 1964 Mao disse a uma delegação de socialistas japoneses:

"Há lugares demais ocupados pela União Soviética. Por volta de 100 anos atrás, a área ao leste do Lago Baikal tornou-se território russo e desde então Vladivostok, Khabarovsk, Kamchatka e outras áreas tornaram-se território soviético. Nós ainda não apresentamos nossa prestação de contas por essa lista".

Em 1960 houve aproximadamente 400 confrontos fronteiriços entre tropas russas e chinesas; em 1962 mais de 5.000; em 1963 mais de 4.000.

O maior confronto veio em 2 de março de 1969 quando forças chinesas atacaram tropas russas na ilha desabitada disputada de Zhenbao (Damansky em russo) no Rio Ussuri. O incidente foi planejado por Mao como uma demonstração de desafio. Uma unidade chinesa de elite emboscou tropas russas, matando 32. Os russos responderam na noite de 14-15 de março, trazendo artilharia pesada e tanques, e disparando mísseis 20km adentro da China. Por volta de 60 russos e 800 chineses foram mortos no conflito. Uma fotografia aérea da CIA mostrou que o lado chinês foi bombardeado tão extensivamente que parecia a superfície da Lua.

Mao ficou surpreso com a resposta massiva da Rússia e temeu uma invasão soviética.

Em 13 de agosto os russos atacaram na fronteira entre Cazaquistão e Xinjiang, cercando e destruindo tropas chinesas bem fundo na china. Mao rapidamente ordenou que defesas terrestres fossem construídas caso os russos avançassem para Pequim. (13)

Por volta dessa época, os russos pretendia recrudescer sua ofensiva ao ponto de ataque nuclear, mas foram rechaçados pelos EUA quando sua aprovação foi buscada. O jornalista Victor Louis, associado com a KGB e emissário de Moscou a Taiwan, afirmou que a Rússia pretendia bombardear a área de testes nucleares da China e organizar uma estrutura de liderança alternativa para assumir o controle da China. (14)

As revelações de um adido de Nixon vão ainda mais longe: O Chefe de Gabienete de Nixon, H.R. Haldeman revelou em The Ends of Power que por anos os russos haviam alertado os EUA de que eles não deviam permitir que a China conseguisse capacidade nuclear. Em 1969 os russos aproximaram-se dos EUA para um ataque conjunto contra a China. Nixon rejeitou os russos, mas foi informado de que eles pretendiam seguir com o plano de qualquer maneira. Ele alertou a Rússia de que os EUA e a China partilhavam de interesses globais comuns, e que arremessaria 1.300 bombas atômicas sobre as cidades russas. Os russos voltaram atrás. (15)

A tese de Salisbury era que uma crise comida-população, que é periódica ao longo da história chinesa, resultaria na China buscando espaço vital e recursos na Rússia. Salisbury afirma que a China não ficará sentada esfomeando com as terras da Rússia acenando. "Eles vão - e devem - lutar".

Em 1979, a publicação soviética Soviet-Chinese Relations - What Happened in the 60's, afirmou de modo realista as reais causas para o conflito sino-soviético por trás da fachada do rompimento ideológico:

"O objetivo mais distanta era botar em cheque e, se possível, desafiar a legalidade das fronteiras existentes entre URSS e China, e assim substanciar a afirmação de Mao, feita durante uma reunião com socialistas japoneses em 1964, sobre 'a tomada de 1.5 milhão de quilômetros quadrados de território chinês pela Rússia'...Analisando a posição maoísta nas questões territoriais, deve-se voltar para a história da China e considerar as aspirações expansionistas dos imperadores chineses e as reivindicações chauvinistas dos nacionalistas chineses que sonhavam com o retorno da 'idade dourada' do império chinês quando muitos dos vizinhos da China eram meros vassalos... É claro como cristal que ao pressionarem em suas reivindicações territoriais os maoístas buscam amplos objetivos expansionistas que podem ser resumidos como uma Grande Hegemonia Han..."

Longe de a URSS ter sido uma benévola figura paterna gerando uma cria comunista que alcançaria status de superpotência com armas e tecnologia russa, e que ficaria lado a lado com a URSS confrontando as potências imperialistas e levando o comunismo ao mundo, a China foi relegada ao status de uma colônia. A amargura durou até muito depois da morte de Mao.

Por volta do fim de sua vida, Mao mudou de táticas e buscou uma aliança com os EUA, que as elites empresariais americanas há muito desejavam. A URSS tornou-se a ameaça comum que seria contida por um Eixo Washington-Pequim. Apesar do aparente abrandamento da "guerra fria" entre Rússia e China iniciada recentemente por Putin, o principal foco de poder da China vem de um relacionamento econômico simbiótico entre EUA e China. Isso será considerado em seguida.

Ambições Territoriais Chinesas

Os objetivos expansionistas da China não são necessariamente necessitados pela demanda por "espaço vital" ou Lebensraum no sentido convencional, pelo menos não pelo momento, ainda que Salisbury tenha levantado o prospecto no advento de uma crise alimentar/populacional.

A China, como nós vimos, tem expandido economicamente e isso resultou na migração de cidadãos chineses seguida de penetração econômica. Esse avanço tem sido relativamente pacífico e sutil, como no caso do Extremo Oriente russo.

Porém, não obstante a contenção de Bobo Lo quanto a expansão econômica pacífica da China, a China nos anos seguintes a Mao tem demonstrado estar disposta a conflagrar guerras por território estratégico e mesmo demonstrações de força dirigidos a vizinhos.

Apesar das proclamações e tratados cujo objetivo é mostrar a "boa vizinhança" da China em relação a Rússia, Ásia Central e Índia, a China continua a levantar a questão de fronteiras disputadas. Isso parece contraria a teoria de Bobo Lo de que a China aderirá a uma estrada pacífica de expansão econômica. Demonstra, ao invés, que uma fixação a longo prazo permanece na mentalidade da liderança pós-Mao.

Invasão do Vietnã em 1979


A China invadiu o Vietnã em 1979 como um grande gesto para o repúdio do Tratado Sino-Soviético de Amizade, Aliança e Assistência Mútua, que estava aproximando-se da data de renovação. A cláusula número seis do Tratado afirmava que se nenhum signatário anunciasse sua intenção de terminar o tratado durante seu ano final, a aliança automaticamente seria estendida por mais cinco anos. Como nós vimos, o Tratado foi desenhado não para garantir o statos de superpotência para a China, nem mesmo como um alinhamento amistoso entre dois Estados comunistas supostamente fraternais, mas para manter uma posição de subjugação e humilhação. Os chineses consideravam o Tratado como mantendo a "hegemonia" russa sobre a China.

As tensões que ocorreram entre Rússia e China, incluindo os confrontos fronteiriços resultando em centenas de mortes e a ameaça de confronto nuclear, ocorreram quando o tratado de amizade estava operativo. Bruce Elleman afirma:

"Dever-se-ia lembrar que em 14 de fevereiro de 1950, Pequim e Moscou assinaram um tratado de 30 anos que incluía protocolos secretos apoiando o papel soviético como líder no movimento comunista global. Quando Moscou posteriormente recusou-se a renegociar as disputas territoriais sino-soviéticos, isso levou aos conflitos fronteiriços, sino-soviéticos, principalmente durante o fim dos anos 60.

Acadêmicos ocidentais tem com frequência excessivo esquqecido que mesmo durante esse período de tensões sino-soviéticos, o Tratado Sino-Soviético de Amizade, Aliança e Assistência Mútua de 1950 permaneceu plenamente operante ao longo de todo o período. Do ponto de vista de Pequim pelo menos, o tratado sino-soviético foi um importante instrumento através do qual Moscou havia tentado exercer sua 'hegemonia' sobre a China.
Moscou estava claramente preocupada com o que poderia ocorrer quando o tratado sino-soviético alcançasse seu termo de 30 anos. Começando em 1969, a URSS frequentemente incitou a China a substituir o tratado de 1950 por um novo acordo. Durante 1978, forças soviéticas estavam crescentemente posicionadas ao longo das fronteiros sino-soviéticos e sino-mongóis. Moscou também buscou forçar Pequim a dialogar intensificando as relações diplomáticas com Hanoi, assinando um tratado de defesa de 25 anos com o Vietnã em 3 de novembro de 1978."

A invasão chinesa do Vietnã em 1979 foi portanto intencionada como uma provocação direta para a URSS, que havia assinado um tratado defensivo com o Vietnã em 1978, ele próprio dirigido contra a China. A aliança soviético-vietnamita fez do Vietnã a "peça decisiva" no impulso soviético de contenção da China. (17)
A separação entre China e Vietnã tornou-se aparente quando milhares de chineses étnicos começaram a fugir do Vietnã durante 1978. Disputas territoriais pelas Ilhas Spratly, e a invasão vietnamita do Camboja, elevaram as tensões sino-vietnamitas.

Elleman afirma que longe da China ter enfrentado uma derrota no Vietnça por causa de seu recuo rápido, a invasão objetivava a:

1 - Desafiar a URSS, que havia assinado um tratado defensivo com o Vietnça, mostrando os russos como "ursos polares de papel"; e assim

2 - Repudiar o suposto acordo russo-chinês que não havia sido nada mais que um estorvo e que estava para ser renovado precisamente à época da invasão:

"Ao invés de recuar, porém, a China anunciou suas intenções de invadir o Vietnã em 15 de fevereiro de 1979, exatamente o primeiro dia no qual ela podia legalmente terminar o Tratado Sino-Soviético de 1950 e atacou três dias depois. Quando Moscou não interveio, Pequim publicamente proclamou que a URSS havia quebrado suas inúmeras promessas de auxiliar o Vietnã. A falha da URSS em apoiar o Vietnã deu mais ânimo à China para anunciar em 3 de abril de 1979 que pretendia terminar com o Tratado Sino-Soviético de Amizade, Aliança e Assistência Mútua de 1950.

 ...Após apenas três semanas de combate, a China recuou e as disputas pela fronteira sino-vietnamita permaneceram sem resolução. Para a maioria dos estrangeiros, a ação militar chinesa então pareceu ser uma derrota. Mas, se o real objetivo por trás do ataque chinês havia sido expor  as garantias soviéticas de apoio militar ao Vietnã como uma fraude, então a recusa da URSS em invervir efetivamente terminou o tratado defensivo soviético-vietnamita. Assim, Pequim alcançou uma clara vitória estratégica pelo rompimento do cerco soviético e eliminando a ameaça moscovita de uma guerra de duas frentes".

A China ameaçou a Rússia com guerra se a Rússia ajudasse o Vietnã. Enquanto isso, os chineses desenvolveram uma aliança com os EUA, que ameaçava a URSS em duas frentes.
"Para prevenir uma intervenção soviético em favor do Vietnã, Deng alertou Moscou no dia seguinte que a China estava preparada para guerra em larga escala contra a URSS; em preparação para esse conflito, a China colocou todas as suas tropas na fronteira sino-soviético em um alerta de emergência de guerra, organizou um novo comando militar em Xinjiang, e evacuou aproximadamente 300.000 civis da fronteira sino-soviética" (19)

 A China testemunhou uma falta de vontade da parte da Rússia, apoiada na incapacidade do Politburo de agir na Polônia contra a Solidariedade. (20)

Agressão Continuada

As ambições imperiais chineses em relação ao Vietnã vem desde 208 a.C. quando um general chinês, Trieu Da, proclamou-se imperador da maior parte do país. Em 111 a.C. o Vietnã foi anexado pelos Han e tornou-se o distrito de Giao-chi. Após séculos de resistência, alguma medida de independência foi alcançada, mas o Vietnã continuou pagando tributo à China. Os mongois foram repelidos com sucesso durante o século XII, os vietnamitas tendo sido o único povo a fazê-lo, atestando sua tenacidade. OS chineses ocuparam o país em 1407. A liberação foi conquistada em 1428 após duas décadas de resistência. A China atacou em 1788 e foi repelida.

Em 1909 a China tentou reivindicar as ilhas Paracel, o início de uma série de movimentações agressivas que continuam até agora. Em 1956 a marinha chinesa tomou parte das Paracels, com mais uma invasão acontecendo em 1974. Em 1984 a China estabeleceu a área administrativa de Hainan para controlar os arquipélagos Paracel e Spratly. Em 1988 navios chineses e vietnamitas enfrentaram-se pelo Recife Johnson. Em 1992 houve mais incursões em Spratly. Os chineses entraram em um contrato com a US Crestone Energy Corp. em 1994 pela exploração de petróleo nos arredores de Spratly. Em 2000 o Vietnã fez concessões à China pelas águas territoriais próximas à Baia de Tonkin. Durnate 2004 houve mais de 1000 incursões chinesas em águas vietnamitas, com 80 pescadores vietnamitas sendo detidos em dezembro. Houve perfuração petrolífera chinesa em águas vietnamitas em 2005, e naquele ano a marinha chinesa atirou contra pescadores vietnamitas em águas vietnamitas no Golfo de Tonkin. Em 2007 os chineses atiraram contra pescadores vietnamitas nas Paracels. A marinha chinesa conduziu exercícios na área. O governo chinês ratificou um plano para construir Sansha, uma grande cidade para servir como o eixo para fundir três arquipélagos, incluindo as Paracels e Spratly, sob controle chinês.

A agressão continuiada contra o Vietnã pela China até os dias atuais indica que os tratados de "boa vizinhança" da China com a Rússia, Ásia Central e Índia são máscaras expedientes que cairão caso a China não precise mais alcançar seus objetivos por meios diplomáticos e sutis. A China cobiça as reservas de petróleo e gás vietnamitas, assim como os recursos da Ásia Central e da Sibéria Ocidental. O Vietnã dá o exemplo atual de como a China reage quando objetivos geopolíticos não podem ser conquistados de outro modo senão pela guerra e coerção militar. As ações da China em relação ao Vietnã dão mais indicações de que Bobo Lo erra em pensar que os chineses são pragmáticos e racionais demais para algum dia recorrer a ação militar contra a Rússia novamente.

A Guerra da China com a Índia


As disputas fronteiriças da China com a Índia durante o período de 1960-62 deixram 3000 indianos mortos. Bill Emmott, ex-editor do The Economist e um membro do think-tank elitista da Comissão Trilateral (21) afirma sobre o conflito:

"Em 1962 a China e a Índia travaram uma guerra fronteiriça que humilhou a Índia e deixou um legado duradouro de amargura e suspeitas. Ambos países estão agoram aumentando seus gastos militares e tentando modernizar suas forças armadas. A disputa de fronteira permanece não resolvida. A China reivindica todo um estado indiano, Arunachal Pradesh, que faz fronteira com o sul do Tibet e tem aproximadamente o tamanho de Portugal. A Índia afirma uqe a China está ocupando 15.000 milhas quadradas do que é legalmente a Índia - em Aksai Chin, um planalto quase inabitado nos Himalaias" (22)

Os chineses não estão dispostos a deixar as áreas disputadas descansaram, e novamente há uma lição se for pensado que a China repudiou suas reivindicações contra território russo.

"Em face disso os dois lados desde então tiveram progressos. Uma passagem de fronteira foi aberta para o comércio em 2006 pela primeira vez desde a guerra. Naquele ano, porém, o embaixador chinês em Delhi causou comoção ao publicamente enfatizar as reivindicações chinesas sobre toda Arunachal Pradesh.

Dez meses atrás uma visita de 'construção de confiança' à China por mais de 100 oficiais indianos teve que ser cancelada após a China agir de modo tipicamente provocativo: ela recusou-se a garantir um visto a um membro da delegação indiana de Arunachal Pradesh, afirmando que ele era chinês e não precisava de um". (23)

Longe da liderança chinesa ser pragmática e racional demais para recorrer a guerra, a China tem continuado a usar força mesmo após a morte de Mao. Adicionalmente, a China tem continuado a manter suas reivindicações sobre território disputado com seus vizinhos, incluindo a Rússia, Vietnã, a Índia, invadiu o Tibet, e tem deslocado a influência russa sobre a Mongólia e está fazendo o mesmo na Ásia Central e nas áreas fronteiriças dentro da própria Rússia. Como será considerado abaixo, caso uma ou mais dessas crises emerja em relação a recursos, há pouca razão para esperar que a China não recorra a guerra ou não obrigue a Rússia a uma resposta militar para proteger seus recursos do controle chinês.

Conflito que se aproxima

Uma matéria recente no The Sidney Morning Herald baseado na avaliação de Bobo Lo mostra que os velhos conflitos entre Rússia e China já estão reaparecendo apesar das relações comerciais e da Organização para Cooperação de Xangai:

"...A Rússia está erguendo barreiras legais e ilegais ao comércio chinês em um clima de crescente paranóia expresso na manchete do Pravda: 'Imigrantes chineses a conquistar a Rússia'.

  A ansiedade russa deve-se em parte a um velho temor de que hordas chinesas estão coçando-se para tomar as ricas e pouco povoadas regiões da Sibéria que a Rússia anexou da Dinastia Qing.

'Os russos estão assustados com a idéia de que há 110 milhões de pessoas em apenas três províncias no norte da China e 6 a 7 milhões no Extremo Oriente russo', diz Bobo Lo, autor do livro Axis of Convenience: Moscow, Beijing And The New Geopolitics. 'Eles sentem que não importa quão doce seja o relacionamento político, a natureza abomina vácuos e portanto assim que a China sinta-se brava ou confiante o suficiente para mover-se no extremo orienta, ela o fará'.
Muitos comerciantes chineses na Sibéria tem tido que retornar à China por causa de novos requerimentos de visto e por uma lei que proíbe não-russos de fazer transações em dinheiro em mercados russos.

De sua parte, as autoridades chinesas tem imposto rigorosas exigências de passaporte sobre comerciantes que anteriormente viajavam livremente pela fronteira. Eles também expulsaram milhares de russos do norte da China como parte de uma campanha de segurança zelosa que está expulsando estrangeiros do país antes das Olimpíadas...

...Volumes de petróleo caíram no último ano mas vendas no setor de defesa explodiram, levando analistas a especularem que o Exército de Libertação Popular da China não depende mais de tecnologia russa. A Rússia outrora fornecia a maior parte da maquinaria industrial chinesa mas agora as longas linhas de escavadoras, caminhões e maquinaria estão indo em outra direção.

 Enquanto isso a China está ampliando sua dominação de quase todos os setores do mercado de bens de consumo siberiano. Dois anos atrás o prefeito de Vladivostok fez a afirmação hiperbólica de que todo o comércio a varejo no porto da cidade e metade de seu comércio em serviços era controlado pelos chineses.

 Apesar de todo falatório sobre um eixo Rússia-China contra separatistas islâmicos e contra os escudos de mísseis americanos, o relacionamento está abalado pela insegurança russa e insensibilidade chinesa. É apenas um exemplo de como a ascendência da China está provocando medo e ressentimento ao redor do mundo e particularmente em seus vizinhos imediatos, onde o impacto é mais intenso."

A atual política russa busca abalar a hegemonia global americana, ao mesmo tempo recusando a considerar um "mundo multipolar" como um no qual a China seja uma das três potências mundiais, a despeito do desenvolvimento de relações entre Rússia e China sob a iniciativa de Putin. Um artigo no The National Interest, um jornal "neo-conservador", fala sobre a amizade sino-russa:

"A abordagem de Putin em relação a Ásia é fortemente influenciada por suas preocupações sobre a viabilidade do Extremo Oriente russo e da Sibéria. Cedo em sua presidência, Putin abandonou a visão multipolar da China como potencial aliada em um exercício de balanceamento do poder americano. Em 2000, a Rússia assinou um tratado formal de amizade com a China e logo depois agiu para transformar o Forum Xangai em uma organização regional de segurança. Mas Putin claramente viu os perigos de um relacionamento excessivamente próximo com o vizinho gigante asiático da Rússia. O Kremlim certamente deseja manter um relacionamento genericamente amistoso com a China e desenvolver maiores laços econômicos com ela. Ao mesmo tempo, está tornando-se mais preocupado com o prospecto de migrantes chineses assentarem-se no lado russo da fronteira, dessa forma mudando toda a composição étnica da região e colocando sua identidade russa em questão. O declínio demográfico russo - ao nível de pouco menos de um milhão de habitantes por ano - é um tema constante nos pronunciamentos de Putin. O presidente russo está buscando desesperadamente por modos de defender-se contra uma possível mobilização ameaçadora da China". (25)

A China está atualmente assumindo o controle do Extremo Oriente russo furtivamente, através do comércio. As tensões estão acumulando-se e um dia entrarão em erupção. De que lado ficarão os EUA? Outros Estados asiáticos serão sugados para dentro do conflito. A Índia é tradicionalmente alinhada com a Rússia, o Paquistão com a China.

Organização para Cooperação de Xangai & Ásia Central


Uma análise da Voice of America sobre a Organização para Cooperação de Xangai dá um background relevante sobre as relações sino-russas, e alude a potenciais áreas de tensão e discórdia.

As partes do acordo sino-russo, a Organização para Cooperação de Xangai (OCX) formada em 1996, eram em um primeiro momento conhecidas como "Os Cinco de Xangai", reunindo Rússia, China e três Estados da Ásia Central: Cazaquistão, Quirguizistão e Tadjiquistão, três países que fazem fronteira com Rússia, China ou ambas. Em 2001 o arranjo regional tornou-se formalmente a Organização para Cooperação de Xangai.

Bobo Lo diz que Pequim é a força de impulso por trás da OCX. Ele diz que ser parte da OCX permite a China expandir sua influência na Ásia Central. Ele afirma que sendo parte de uma organização de cooperação regional permite a China retratar-se como um bom vizinho responsável, permitindo a China expandir sua influência sem suspeitas:

"A OCX é realmente o bebê da China. A OCX permite a China fazer na Ásia Central o que ela provavelmente não seria capaz de fazer a nível bilateral porque se a China está lidando apenas com o Cazaquistão ou Quirguizistão, então o Estado menor ficaria assustado. Mas se é em algo como um contexto pan-regional agradável, então a China pode fingir ser um bom cidadão regional, e como um bom cidadão internacional, e os asiáticos centrais sentir-se-ão menos ameaçados", diz Lo. "Assim os chineses veem a OCX como um modo de sanitarizar sua entrada na região". (27)

De Nesnera escreve que ainda que a Rússia e a China estejam atualmente em acordo sobre desejarem minimizar a influência dos EUA na Ásia Central, ambos continuam tendo suas prórias ambições que mesmo agora estão gerando tensão:

"Ao mesmo tempo, muitos analistas dizem que a Rússia ainda vê-se como a potência dominante na região. Robert Legvold da Columbia University diz que por enquanto, Pequim e Moscou estão deferenciais uma em relação a outra.

O prof. Legvold disse:
'Nas questões mais importantes, a China é deferencial à Rússia ao não realmente desafiar o papel historicamente primário da Rússia na área. Mas por causa do dinamismo e da força e do tamanho da economia, inevitavelmente a sombra da economia chinesa na Ásia Central está crescendo e sendo sentida pelos russos', diz Legvold. 'E há um desconforto na Rússia sobre a magnitude do crescimento da influência econômica na área'." (28)

Bobo Lo indica que o atual acordo sino-russo quando a combater a presença americana na Ásia Central não vai obliterar os papéis históricos que ambos veem-se desempenhando como a potência dominante da região. Segundo De Nesnera:

"Bobo Lo do Centro para Reforma Européia diz que ainda que Pequim e Moscou concordem com a necessidade de limitar a presença americana na Ásia Central, eles discordam de um elemento chave. 'Eles possuem visões muito diferentes do que uma ordem mundial pós-americana e uma ordem particularmente regional na Ásia Central pareceriam. A Rússia realmente quer, de certo modo, retornar ao antigo status quo. Agora ela sabe que não pode ser a União Soviética de novo, então ela não tentará. Mas ela ainda vê-se como a potência preponderante na região. Ela possui um certo senso de merecimento histórico e estratégico', diz Lo. 'Os chineses, porém, pensam que eles tem tanto direito a estarem na região. Então eles estão ativamente, realmente ativamente, empurrando seus interesses políticos, de segurança, e principalmente econômicos na região". (29)

E Bobo Lo conclui: "E Rússia e China, em muitos sentidos, são competidores diretos".

De Nesnera conclui que analistas estarão observando para ver em que medida a rivalidade russa e chinesa manifesta-se na Ásia Central: "A maioria dos analistas diz que será fascinante ver nos anos seguintes a medida da competitividade entre Moscou e Pequim na Ásia Central..."

Bobo Lo, em uma entrevista com um think-tank russo chamado Open Democracy, explicou sua perspectiva nas relações sino-russas, que dão maiores compreensões. A entrevista começou com a afirmação pelo entrevistador: "A ameaça chinesa paira na imaginação russa, mas não é justificada pelos fatos, sugere Bobo Lo, escrevendo para a nova colaboração da Open Democracy para a Rússia e o mundo". (31)

Independentemente de se as suspeitas russas sobre os chineses são justificadas, são as percepções que importam, e a percepção é baseada em uma animosidade antiquíssima e na atual busca por recursos que, como previamente aludido, pode inicialmente tornar-se manifesta na Ásia Central, uma região importantíssima na geopolítica, e uma na qual os EUA e o onipresente George Soros tem estado particularmente ativos.

Bobo Lo alude a boa vontade entre Rússia e China que foi iniciada por Putin. Porém ele acrescenta diversas áreas de frustração para os chineses. Uma de importância a longo prazo quanto a atitudes russas é que: "Pequim também frustrou-se pelo cancelamento do Kremlim de um acordo para construir um oleoduto para a China em favor de uma rota nipônica para o Oceano Pacífico".

Bobo Lo não vê isso como um problema duradouro para as relações russo-chinesas, porém afirma muito significativamente que isso é porque a China percebe que a Rússia considera-se como potência europeia mais do que asiática.

Essa percepção chinesa, baseada na compreensão de realidades históricas e geopolíticas, deve ter um impacto significativo nas relações russo-chinesas, como no passado, mesmo quando ambas nonimalmente partilharam de compromissos ideológicos sob o comunismo. Lo afirma:

"...os chineses tem poucas ilusões sobre a Rússia. Eles sabem que normativamente, historicamente, estrategicamente, ela é de modo sobrepujante eurocêntrica. Isso não significa pró-codental, mas sim que a Rússia olha para o Ocidente pelos seus principais pontos estratégicos de referência. A Rússia é uma civilização europeia. A maior parte de sua população vive na parte europeia da Rússia. Os centros de poder político e econômico sempre estiveram lá. Mesmo sob a União Soviética o Extremo Oriente foi um posto avançado europeu, e não parte da Ásia".

Lo, deve-se apontar, não acredita que haverá um confronto militar entre Rússia e China, contrariamente a Salisbury, mas não obstante definitivamente afirma a tensão subjacente entre ambas:
"Pode-se discutir que a Rússia deveria ter uma política externa mais equilibrada. Mas as pessoas são o que são. Os interesses das elites russas estão no Ocidente. Eles querem um bom relacionamento com a China. Mas esse não é o objetivo principal e não será no futuro - não se depender da Rússia."

Pergunta-se a Lo: "Tradicionalmente, os russos tem sentido-se extremamente ameaçados pela China. Isso está diminuindo a luz das novas oportunidades econômicas que abrem-se no Extremo Oriente russo?" Em resposta, Lo repudia a tese de que haverá conflito militar russo-chinês e ameaça de invasão, mas afirma que a rivalidade assumirá a forma de manobras geopolíticas e de realpolitik:

"A ameaça real é essa: a ascensão da China levará a uma constante marginalização da Rússia em relação a tomadas de decisões regionais e globais. Os chineses não pretendem invadir a Rússia militarmente, porque eles pederiam. As consequências seriam horríveis demais para serem contempladas. Eles não vão encher o Extremo Oriente russo com hordas de chineses. Essas regiões do norte sempre foram consideradas uma fronteira bárbara..."

Porém Lo não nega a demografia que poderia levar a população excedente da China a buscar espaço vital às custas da Rússia, conforme a população chinesa cresce e a russa encolhe. Enquanto analistas tais como Lo olham em termos racionalistas, eles não podem negar que é a percepção que é significativa, que fatores racionais não são tão significativos para a dinâmica histórica quanto os irracionais, os instintivos:
"A realidade é que há mais de 110 milhões de pessoas no norte da China (esse é o número mais comum, mas provavelmente é mais) comparados a menos de 7 milhões de russos a leste do Lago Baikal. Mais genericamente, estamos falando de uma população total de 1,3 bilhões e crescendo, contra uma de 142 milhões e caindo. Isso realmente afeta a mentalidade russa.

Se vocês perguntarem as russos como eles veem os chineses, bem, eles veem bem mais favoravelmente do que alguns anos atrás. A China agora é o país número um entre aqueles com os quais dizem que a Rússia tem uma relação amistosa. Por outro lado, se você perguntasse às pessoas se elas são a favor de trabalhadores chineses indo aliviar a demanda por trabalhadores na Rússia, eles diriam absolutamente que não. Se vocês perguntasem se eles importar-se-iam de ter um vizinho chinês, a resposta seria previsível. Ao nível das ruas, as atitudes em relação aos chineses permanecem as de sempre."
A atenção está agora voltada para o papel crucial da Ásia Central no futuro conflito entre Rússia e China:

"Rússia e China possuem objetivos muito diferentes na Ásia Central. A Rússia quer reafirmar sua liderança regional lá. A China, porém, quer ser uma das três presenças estratégicas principais na região, junto com Estados Unidos e Rússia. Moscou e Pequim estão ávidos por ocultar qualquer noção de rivalidade sino-russa na Ásia Central. Mas a rivalidade existe.

A China não fez nada na Ásia Central por duzentos anos e está interessadíssima em voltar ao jogo. Mas ela quer fazer isso de um modo que não ofenda outros, particularmente Estados-chave como Cazaquistão e Uzbequistão. Como, então, empacotar sua reentrada de modo que outros não combinem-se para dete-la. A resposta é agir sob a máscara do pan-regionalismo. Aqui o Acordo para Cooperação de Xangai encaixa-se belamente. Ele faz a China parecer um bom cidadão regional."

Como Lo afirma, há objetivos rivais entre Rússia e China na Ásia Central. A China está usando o acordo de Xangai como meio de penetrar na região pacificamente, sem causar suspeitas quanto a seus motivos. Observe também que a China está confortável com uma presença americana na Ásia Central. Isto é muito diferente da atitude russa. Isso parece retornar ao relacionamento histórico entre Rússia, China e EUA.
Lo continua descrevendo a natureza competitiva dos dois pactos, o de Xangai, e o da OTSC, que é fundamentalmente uma aliança anti-China:

"Os russos entendem o jogo chinês, portanto eles estão mornos em relação à OCX. A OCX faz para a China o que a  Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) faz para a Rússia. A OTSC, que a Rússia estabeleceu em 2002, tem uma virtude redentora do ponto de vista de Moscou: A China não é um membro. A OTSC ajuda a Rússia a reafirmar sua influência na Ásia Central. A OCX e a OTSC são efetivamente organizações competidoras."
Segundo Lo, as principais preocupações da China são a região Ásia-Pacífico, e o controle de suas rotas marítimas a fontes de petróleo.

"O principal interesse da China não é a Ásia Central, mas os EUA e a região do Pacífico Asiático. Seu principal objetivo na Ásia Central é paz e estabilidade. Para alcançar isso, ela está desenvolvendo suas conexões com elites regionais... Uma Ásia Central quieta ajuda a abafar sentimentos separatistas na China. Não estamos falando tanto do Tibet aqui quanto dos uigúres na província ocidental de Xinjiang.
Em outro ponto Lo afirma que a perspectiva militar chinesa está atualmente sendo dirigida para o sul:

...Mas o impulso de seu planejamento militar está dirigido ao sul, não ao norte. Eles focaram em adquirir submarinos Kilo, destróieres Sovremennyy. Na teoria, estes poderiam levar não apenas à recuperação de Taiwan, mas também permitir aos chineses proteger as rotas marítimas pelas quais 80% de suas importações de petróleo passam, e projetar poder no Mar do Sul da China e no Pacífico".
Quando Lo afirma que estabilidade é o objetivo principal dos chineses na Ásia Central, parece que ele está subestimando o potencial para confrontação direta entre Rússia e China, na suposição de que esta estabilidade na Ásia Central durará indefinidamente, agravada por uma miríade de fontes para conflito ao longo de toda a região do Pacífico Asiático. Lo afirma que o aparente acordo sino-russo do presente é desconfortável. Ele afirma que a China busca desenvolver "novas fontes" de energia na Ásia Central. Parece razoável, então, perguntar se haverá conflito direto entre Rússia e China naquela região pela questão dos recursos e incursões chinesas presentemente sendo realizadas por métodos sutis.
"Do ponto de vista chinês, maior interdependência econômica cria um ambiente mais estável, e energia é a ponta-de-lança disso. A China preocupa-se com a segurança de rotas marítimas. Atualmente, ela consegue 50% de seu petróleo do Oriente Médio, mais 25% da Árica, e o resto de vários outros países. Ela gostaria de diversificar, não apenas globalmente mas também a nível regional. Os chineses tem achado muito difícil desenvolver um relacionamento energético com os russos, e eles estão então procurando desenvolver novas fontes na Ásia Central - que é porque laços energéticos com Cazaquistão, Uzbequistão e Turcomenistão são tão importantes".

Posteriormente, Lo reitera que ele não acredita que haverá confronto militar entre Rússia e China, e alude a paranóia russa. Novamente isso assume que a insaciabilidade chinesa em relação a recursos, e o potencial para crises importantes em toda a região, não desenvolver-se-á para além da rivalidade econômica e de mudanças demográficas sutis, ao invés de conflito militar autêntico. Nós já vimos conflitos fronteiriços entre Rússia e China durante as décadas de 60 e 70 por antigas disputas territoriais, em uma época em que ambos supostamente compartilhavam de uma ideologia comum, e ambos supostamente posicionavam-se contra o mundo capitalista. Essas aparências eram enganosas. A história ergueu-se por sobre a ideologia.
"A obsessão com segurança no Extremo Oriente russo reflete paranóia, e não realidade. Essa região dificilmente aparece na lista de prioridades militares chinesas.

Mais geralmente, Pequim compreende que a melhor maneira de tornar-se a próxima superpotência global é através de meios pacíficos. Se ela recorresse a ação armada, poderia perder feio e isso poderia levar o regime comunista ao colapso. Os riscos são enormes.
As pessoas tem uma visão um tanto histérica dos chineses. Mas em realidade eles são bastante pragmáticos. Eles querem sim participar, não porque são 'legais', mas porque participação construtiva é o modo mais eficaz de conseguirem seus objetivos".

Lo afirma as razões fundamentais para divisão ao invés de acordo entre russos e chineses, tanto em termos de economia como de diferenças psicológicas e étnicas inatas, bem como na comunalidade entre Rússia e Europa como distinta de Rússia e China:
"Primeiramente, os russos gostam de fazer negócios com pessoas que eles conhecem. Eles tem feito comércio de gás com vários países europeus desde 1967. Em contraste, eles tem pouco entendimento de como os chineses operam. Em segundo lugar, há a questão do preço. Os europeus pagam em dólar, enquanto os chineses estão sempre procurando por desconto. Em terceiro lugar, a maior parte dos depósitos estão na Sibéria Ocidental, bem mais perto da Europa que da China. Em quarto lugar, a rede de oleodutos é majoritariamente dirigida para a Europa.

A Rússia precisa desenvolver novas tubulações de petróleo e gás. Mas seu foco ainda é majoritariamente em satisfazer as necessidades do mercado europeu em expansão. É lá que está o dinheiro. Incidentemente, petróleo e gás consistem em 60% de todas as exportações russas e mais da metade da receita pública do orçamento federal. Moscou não possui um mercado alternativo esperando. A Rússia e a Europa necessitam uma da outra."

Apesar de rejeitar a noção de uma guerra vindoura entre Rússia e China como per Salisbury, Lo definitivamente afirma que haverá tensão crescente entre Rússia e China conforme esta última busque estender sua influência na Ásia Central. Ele também vê a Rússia em aliança com a Europa:
"O fato de que a China possui uma economia muito mais dinâmica que a Rússia vai, em tempo, levar a tensão crescente entre elas. Por exemplo, os russos não aceitarão suavemente a crescente influência chinesa na Ásia Central. Porém, tais tensões não chegarão a confronto. Eu creio que os russos reagirão à ascensão chinesa gravitando para o Ocidente - em dez anos mais ou menos, talvez antes. Será interessante ver como a liderança em Pequim responderá a isso. Pequim é inteligente o suficiente para não reagir de modo exagerado mas algum resfriamento nas relações com a Rússia será inevitável.

Em meu próximo livro eu chamo seu relacionamento de 'eixo de conveniência'. Ambos países aproximaram-se por causa de seus interesses comuns seletos, ao invés de idéias. Mas interesses mudam."

Extremo Oriente Russo: Expansão Econômica e Demográfica


Como visto acima, a China está buscando seus objetivos na Ásia Central sob uma fachada de "boa vizinhança". As mesmas estratégias estão sendo buscadas no Extremo Oriente Russo. Apesar do aparente acordo entre Rússia e China, da diplomacia de alto nível e comércio, ao comércio de negociantes chineses entulhando os mercados do Extremo Oriente Russo, Putin, o arquiteto das relações russo-chinesas, não oculta suas preocupações sobre a China.
Putin alertou por anos sobre a expansão demográfica da China em relação ao declínio demográfico da Rússia:

"O Presidente Vladimir Putin avisou ano passado que a difusão da influência asiática no extremo oriente russo colocava a própria existência da Rússia em cheque. 'Se nós não fizermos esforços concretos', ele disse, 'a futura população local falará japonês, chinês ou coreano'. (33)

Autoridades locais também expressam essas preocupações:
'O que nós vemos no extremo oriente russo é a colonização lenta e pacífica de todos os territórios russos na área pelos chineses', disse Alexei Bogaturov, o vice-diretor do Instituto de Estudos Americanos e Canadenses aqui. 'Nós temos um problema grave, eu creio'." (34)

O correspondente do The New York Times Michael Wines, escrevendo de Zabaikalsk, uma cidade no extremo oriente russo que faz fronteira com a China e a Mongólia, escreve sobre a penetração chinesa:

"Para uma lição em geopolítica no século XXI, venha a essa cidade fronteiriça, até alguns anos atrás um posto avançado para a infantaria russa aguardando uma invasão chinesa.

As plataformas de armas estão arruinando-se agora mas a invasão está acontecendo mesmo assim: chineses constroem os poucos novos apartamentos na cidade, a Telecom chinesa conecta os celulares, e comerciantes chineses contratam enormes quantidades de russos desempregados para transportarem roupas e eletrônicos chineses através da feonteira. Talvez 1.000 dos 11.000 residentes sejam chineses, também.

A impressão inescapável, aqui e em outros lugares da região, é de uma terra apegando-se fortemente a sua russidade essencial - e lentamente perdendo-a. Ao longo de uma faixa da fronteira russa tão grande quanto a Europa Ocidental, a demografia, a economia e, pela primeira vez, a história estão todas trabalhando contra Moscou."
Wines afirma que o colapso da União Soviética pôs fim aos subsídios que o Estado havia garantido para o extremo oriente, e o colapso econômico foi compensado pela China, preocupando até mesmo aqueles russos - até Putin - que haviam buscado um acordo russo-chinês para contrabalancear os EUA:
"Quando o comunismo entrou em colapso, isso também ocorreu aos subsídios. As forças armadas praticamente desapareceram, também, deixando ruínas de cidades praticamente fantasmas para trás. A China preencheu o vácuo. De Vladivostok a Zabaikalsk, os russos estão vindo a depender dos chineses para tudo, de construções a bananas e a aparelhos de som. E isso é incômodo até para os arquitetos da reconciliação sino-russa.

...O temor do sr.Putin é de que a expansão econômica chinesa afogue o comércio e poder político russos a não ser que Moscou repovoe e reconstrua essa região destruída primeiro. Mas poucos russos querem mudar-se para cá, e dinheiro para reconstrução é escasso".
Em uma brilhante estratégia de guerrilha psicológica dirigida a convencer os russos a abraçarem a soberania chinesa, os chineses construíram uma cidade-modelo, ainda que uma que não reflete a realidade do camponês chinês. Wines escreve:
"Para residentes de Zabaikalsk, o paraído começa 50 jardas depois da fronteira, depois de tanques russos abandonados e cercas de arame farpado enferrujadas. Lá os chineses construíram um reluzente centro comercial, uma pequena cidade de hotéis, grandes lojas e pagodas.

No horizonte, 10 minutos ao longo de uma autoestrada recentemente pavimentada na China, está a cidade de Manzhouli. Dez anos atrás uma versão chinesa de Zabaikalsk, ela é hoje uma área para comércio russo - uma floresta de arranha-céus e cafés "onde até os varredores de rua tem celulares", disse uma russa com inveja. "É uma cidade bonita. Eu gostaria que a nossa fosse assim", disse uma mulher russa que identificou-se apenas como Valentina".

Extremo Oriente Russo: Lebensraum da China


Que admissão mais gritante pode haver de que a China possui planos em território russo que não foram diminuídas desde o tratado de amizade sino-russo, mas ao invés receberam novo ímpeto através do suposto relacionamento sino-russo? As terras e petróleo do extremo oriente russo atraem. Agricultores chineses atualmente alugam e cultivam terra no extremo oriente russo devido à carência de terra na China.

Na região de Primorsky Krai (35), aproximadamente 30.000 chineses possuem residência permanente. A região é um território disputado, com terra fértil que não foi cultivada até a chegada dos russos no início do século XVII. Tratados em 1858 e 1860 moveram a fronteira russo para o sul dos rios Amur e Ussuri (que tornar-se-iam locais de conflito durante as décadas de 60 e 70), dando a Rússia posse da região.

A economia de Primorsky Krai é a mais bem sucedida no extremo oriente russo.

A produção de comida é o setor mais importante, particularmente o processamento de peixes. A pesca anual constitui metade do total do extremo oriente russo. A agricultura é importante, e inclui a produção de arroz, leite, ovos, e vegetais. Grãos, soja, batatas, e vegetais são os elementos primários na agricultura. A criação de animais, especialmente ovelhas, é bem desenvolvida. A indústria madeireira possui uma produção anual de 3 milhões de metros cúbicos e é a segunda aior no extremo oriente russo.

A manufatura de máquinas é o segundo elemento mais importante da economia, e metade da produção é para servir a indústria pesqueira e os portos. A indústira de materiais de construção abastece todo o extremo oriente russo.

A indústria de defesa também é importante; com navios e produção de aviões militares.

A infraestrutura ferroviéria é o dobro da média russa, e está conectada com a China e a Coréia do Norte.

A locação costeira faz da região uma importante rota de comércio marítimo e defesa no Pacífico. Companhias baseadas em Primorsky Krai são responsábeis por 80% dos serviços de transporte marítimo de cargas no extremo oriente russo. (36)

Primorsky Krai é o maior produtor de carvão no extremo oriente russo. Entre os outros minérios encontrados aqui estão: estanho, tungstênio, chumbo, zinco, prata, ouro, fluorita (contendo minérios raros como berílio, lítio, tântalo e nióbio), e o maior suprimento de boro da Rússia (o boro sendo utilizado em têxteis, materiais aeroespaciais, fundição, controle de fissão em reatores nucleares, combustível de foguetes, motor a reação, e centenas de outros usos). (37) (38)

Conforme o extremo oriente russo torna-se cada vez mais dependente de investimentos chineses e conforme a população chinesa expande e a russa declina, uma futura crise alimentar na China poderia ver o extremo oriente russo como a lebensraum da China a ser tomada pela força. A região marítima russa, Primorsky Krai, é um prêmio rico tanto em terra como minerais. O Tibet foi invadido, colonizado e transformado em uma "zona econômica especial" pela China para o controle dos muitos recursos minerais e fontes de água da maior parte da Ásia. Em qualquer um de muitos cenários de crise que poderia afligir a China e a Ásia geralmente, o extremo oriente russo seria irresistível.

Tratado com a Mongólia dirigido à Rússia

A China vê a Mongólia como uma parte integral de seu território, apesar de declarações presentes de "boa vizinhança". A Mongólia tem sido cobiçada pela China há muito tempo. As relações históricas da Mongólia com a Rússia tem sido atrapalhadas pela China.

A China em anos recentes deslocou a Rússia na Mongólia, que havia sido previamente um protetorado soviético. A China está buscando sua integração com a Mongólia por meios diplomáticos. O tratado de amizade com a Mongólia só pode ser interpretado como sendo dirigido especificamente contra a Rússia.

A China subjaz a importância estratégica da Mongólia tanto para si como para a Rússia: "Como o importante vizinho da China a seu norte, e situado entre a China e a Rússia, a Mongólia possui uma posição geográfica única..." (39)

O Ministério de Relações Exteriores da China descreve as relações entre a China e a Mongólia quando esta estava sob o guarda-chuvas soviético como tendo sofrido "altos" e "baixos":

"Em 1962, ambos lados assinaram o Tratado Sino-Mongol de Amizade e Assistência Mútua, e em 1962, assinaram o Tratado Fronteiriço. Dos meados ao fim da década de 60, suas relações sofreram altos e baixos. Na década de 70, os dois restauraram a troca de embaixadores. Na década de 80, suas relações viram uma melhora gradual.

Em 1987, a China e a Mongólia restauraram o intercâmbio científico e tecnológico suspenso por mais de 20 anos, e assinaram o Plano para Cooperação Científica e Tecnológica 1987-1988.

A declaração do Ministério a respeito da Mongólia possui detalhes sobre as relações culturais, econômicas  e educacionais entre as duas, mas menciona meramente em passagem 'desenvolvimentos na área militar':

"Em 1989, o partido governista deles e nosso (Partido Comunista Chinês e Partido Revolucionário do Povo Mongol) tiveram suas relações normalizadas. Desde então, suas relações de amizade e cooperação consolidaram-se e desenvolveram-se em tais áreas como a política, econômica, cultural, educacional e militar. Em 1990, a China e a Mongólia emitiram um comunicado conjunto, revisaram o Tratado Sino-Mongol de Amizade e Assistência Mútua em 1995, e assinaram o Tratado de Amizade e Cooperação entre a China e a Mongólia baseado no tratado anterior... a China é agora o principal parceiro comercial e investidor na Mongólia. Ambos lados compartilham de opiniões idênticas ou similares sobre muitas questões de relações internacionais, apoiam um ao outro e gozam de cooperação frutífera". (40)

O controle soviético da Mongólia foi garantido sob o humilhante tratado sino-soviético de 1950.


Elleman afirma que o controle soviético da Mongólia era uma das principais controvérsias entre a Rússia e a China.

"Em 15 de fevereiro de 1950, Mao também rancorosamente concordou em reconhecer o 'status independente' do MPR. Essa admissão estava longe de reconhecer a independência completa da China, porém, já que Mao acreditava firmemente que o governo soviético havia anteriormente prometido retornar a Mongólia à China. Com base em suas reclamações posteriores, Mao deve ter recebido garantias de Stalin de que o status da Mongólia, bem como a localização exata das fronteiras sino-mongois e sino-soviéticas, seriam discutidas em encontros futuros. Assim, foi a recusa de Moscou em abrir negociações com Pequim que eventualmente levou a embates fronteiriços durante as décadas de 60 e 70. Apesar da fronteira sino-mongol ter sido resolvida em 1962, Mao publicamente denunciou penetrações soviéticas em território chinês e protestou contra o controle soviético da Mongólia: 'A União Soviética, sob o pretexto de garantir a independência da Mongólia, na verdade colocou o país sob o domínio'." (41)

A Mongólia tem sido um ponto de discórdia entre a Rússia e a China mesmo após a morte de Mao e décadas após os conflitos fronteiriços da década de 60. Em 1978, os chineses ainda estavam demandando a retirada russa da Mongólia, apesar de desejos da própria Mongólia por proteção dada pela Rússia:


"Finalmente, em 26 de março de 1978, o Ministério de Relações Exteriores da China demandou que Moscoum além de reconhecer a existência de 'áreas disputadas' junto à fronteira sino-soviética, devia retirar completamente as tropas soviéticas da MPR (42), bem como retirá-las de toda a fronteira sino-soviética". (43)

A União Soviética respondeu aumentando as defesas russas junto às áreas disputadas, enquanto a Mongólia reiterou sua amizade com a Rússia e sua hostilidade em relação a China:


"Em resposta às demandas da China, Leonid Brezhnev, o Secretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, visitou a Sibéria desde o início de abril de 1978, e anunciou que equipamentos novos e mais avançados haviam sido providenciados às unidades de mísseis estacionadas ao longo da fronteira sino-soviética. Essas novas armas, Brezhnev anunciou, seriam instrumentais em 'garantir para nós e nossos amigos socialistas contra possível agressão, independentemente da fonte'. Logo após, em 12 de abril de 1978, Ulan Bator também protestou publicamente contra aas demandas de Pequim, afirmando que mais tropas soviéticas haviam sido estacionadas ao longo da fronteira sino-mongol a pedido da Mongólia de modo a contrabalancear as crescentes concentrações de tropas chinesas ao sul da fronteira". (44)

A China tem perseguido as velhas, poderíamos dizer antigas, políticas em relação a seus vizinhos através da estratégia de subversão econômica, da qual procede agora uma invasão silenciosa de chineses, povoando território russo e deslocando a Rússia na Mongólia através da influência econômica chinesa. Essa é a mesma estratégia que a China está usando através do Pacífico Sul, estendendo sua influência sobre as pequenas porém estrategicaente situadas ilhas-nações através de ajuda e desenvolvimento econômico, seguidos pela abertura ou compra de portos. (45)


A Mongólia, como o Tibet, é rica em minerais. Sua riqueza inclui, carvão, cobre, molibdênio, ferro, fosfatos, estanho, níquel, zinco, tungstênio, fluorita, ouro, urânio e petróleo. A Mongólia é uma presa rica; uma que foi perdida para a Rússia.

Cenários de Guerra

Guerras da Água



A perspicaz perspectiva de Bobo Lo sobre a divergência vindoura de interesses entre Rússia e China não obstante subestima o potencial para a eclosão de uma guerra entre ambas. Uma razão é que a água é um recurso cada vez mais preocupante ao redor do mundo, não mesmo na Ásia e na Rússia.

Conforme fontes de água tornam-se escassas e poluídas, a água tornar-se-á uma fonte de conflitos tanto quanto o petróleo. De fato, paree razoável afirmar que a água será um recurso ainda mais desesperadamente buscado do que o petróleo, já que é um dos elementos mais fundamentais para a sobrevivência de vida.

De grande preocupação são as tentativas chinesas de represar ou redirecionar o fluxo de águas fluviais para o sul do plateau tibetano, onde rios importantes originam-se, incluindo o Indo, o Mekong, o Yang-tse, o Amarelo, o Salween, o Brahmaputra, o Karnali e o Sutlej. Entre os poderosos rios asiáticos, apenas o Ganges começa do lado indiano dos Himalaias.

Porém, nesse cenário estão as movimentações similares da China em relação aos seus desíginos sobre os fluxos d'água na Ásia Central e na Rússia. Nós estamos começando a ver a intransigência e intenção agressiva da China mesmo agora em relação ao controle de recursos aquáticos.

O artigo por Marat Yermukanov referido aqui é digno de ser estudado em detalhe. Ele mostra que a China considera grandes regiões da Ásia Central como território chinês. Ele foi publicado por um think-tank bem informado sobre a região da antiga URSS. Yermukanov escreve:

"Ao longo da última década o Cazaquistão e a China tem conduzido uma grande quantidade de diálogos sobre a segurança ambiental de rios compartilhados e o uso conjunto de recursos aquáticos. Pequim fez uso de cada ocasião para negar em níveis oficiais que a China estaria construindo represas no rio Irtysh, que é partilhado pela China, Rússia e Cazaquista, para desviar águas para propósito de irrigação. O governo do Cazaquistão está bem consciente de que a China enfrente um duro dilema lutando para lidar com crescentes demandas por água em suas províncias ocidentais em rápido desenvolvimento ao mesmo tempo tendo que respeitar acordos internacionais previamente alcançados sobre os rios Irtysh e Ili".

Enquanto Bobo Lo afirma que a China participou no acordo de Xangai com a Rússia e repúblicas da Ásia Central para garantir seus objetivos ao mesmo tempo parecendo ser um "bom vizinho", Yermukanov reporta que a China mostrou sua mão agressiva em sua determinação de garantir os recursos aquáticos na Ásia Central e Rússia:


"A paciência acabou quando Pequim começou a construção de um canal ligando o Irtysh Negro com o rio Karamai no território chinês, dramaticamente baixando o nível de água no rio. A política de administração de águas da China ameaça reduzir drasticamente a produção agrícula nas regiões ambientalmente vulneráveis do Cazaquistão Oriental, Pavlodar e Karaganda".


Já em relação a Rússia, Yermukanov explica as implicações alarmantes: "Tal manobra poderia também causar uma seca severa na região agrícola de Omsk".


Yermukanov afirma que as autoridades locais russas estão em desacordo em relação à praticidade das negociações com a China. Porém, pareceria razoável concluir que aqueles que estão apoiando-se no prospecto de consensos negociados são meramente verbalizando esperanças, ao invés de probabilidades:

"Novembro passado, em uma tentativa desesperada de prevenir um desastre ambiental, o governador da região de Omsk, Leonid Polezhayev, ordenou que 10 bilhões de rublos fossem alocados para a construção de um grande reservatório de água para acumular água de inundação para uso industrial. Ele afirmou que uma solução política para a disputa do rio Irtysh não era possível, já que os chineses não queriam negociar. Porém, Amirkhan Kenshimov, vice-presidente do Comitê de Recursos Aquáticos do Ministério de Agricultura do Cazaquistão, anunciou que a China havia expressado uma disposição de continuar diálogos sobre a divisão dos recursos aquáticos dos rios Irtysh e Ili".

Yermukanov cita o pessimismo dos sinologistas em relação a disposição da China em negociar por qualquer razão além de para o propósito de procrastinar: "Especialistas familiares com o estado das coisas no lado chinês são menos otimistas sobre a determinação de resolver o problema dos recursos aquáticos na bacia do Irtysh-Ili sem arrastar os diálogos por tempo indeterminado".


A China já começou projetos gigantescos tanto nos rios Ili como Irtysh, no que parece ser uma desconsideração pela "boa vizinhança" e pelo objetivo de manter a estabilidade na Ásia Central que Bobo Lo afirma está colocando freios em um conflito aberto entre China e seus vizinhos russo e asiáticos centrais. Ele afirma que o governo do Cazaquistão nem ao mesmo está consciente da situação:

"Muitos no governo aparentemente não estão conscientes de que a China ano passado abriu uma estação hidrelétrica que consome 15% dos recursos aquáticos do rio Ili. Ambientalistas alertam que nos próximos anos a China construirá mais instalações hidrelétricas ao longo dos rios Irtysh e Ili; 65 estações hidrelétricas já foram construídas. Entre as instalações não reveladas à delegação do governo cazaque está o reservatório de água de Kapshagay (uma hidrelétrica no Cazaquistão leva o mesmo nome) com uma enorme capacidade de 380 milhões de metros cúbicos. A China está planejando construir outros 13 reservatórios nos próximos anos".

Yermukanov faz referência à industrialização do noroeste chinês poluindo o Lago Balkhash, e à crescente produção de alimentos no Xinjiang uigur. Ele aponta para a má administração chinesa e para a recusa da China em assinar um acordo sobre recursos aquáticos compartilhados.

"O desenvolvimento industrial forçado do noroeste da China provavelmente poluirá o Lago Balkhash no Cazaquistão com produtos químicos e fertilizantes, já que o rio Ili alimenta o lago. O aumento de arrozais na Região Autônoma do Xinjiang Uigur já levou ao esgotamento dos rios Irtysh e Ili. Segundo os últimos dados, como resultado da má administração a perda anual de água na seção chinesa da bacia do rio Ili chega a 4.4 quilômetros cúbicos, o que equivale a 15% de todos os recursos aquáticos do rio. Isso reduz substancialmente a quantidade do fluxo de água na direção do Lago Balkhash. A raiz do problema é que até agora a China não assinou a convenção internacional sobre águas transfronteiriças".

Yermukanov aponta ominosamente para a dinâmica étnica da região, que ele afirma poderia levar a violência. Os chineses estão modificando a demografia da região com incursões étnicas chinesas, em nome do comércio pacífico. Yermukanov também revela que a China possui desígnos territoriais no Cazaquistão. Enquanto Bobo Lo mantém que a China é pragmática demais e possui muito a perdar para continuar pressionando por suas reivindicações territoriais sobre a Rússia como ela fez sob Mao, seus desíginos atuais sobre as terras cazaques dão pausa para pensar em relação a se ela realmente abandonou suas ambições em relação a China:

"O desenvolvimento acelerado na Região Autônoma do Xinjiang Uigur cada vez mais alarma o governo cazaque. Áreas fronteiriças nas regiões do sul já tornaram-se um caldeirão incongruente de dúzias de grupos étnicos. As faltas de água nessa área densamente povoado poderia levar a eclosões violentas de conflitos interétnicos. Outra preocupação é que, apesar da assinatura de acordos fronteiriços entre Cazaquistão e China, Pequim não abandonou completamente suas reivindicações territoriais sobre algumas regiões do sul do Cazaquistão. Alguns anos atrás uma delegação do Ministério de Relações Exteriores do Cazaquistão ficou surpresa ao ver sua antiga capital, Almaty; Balkhash; e outras áreas do sul do Cazaquistão marcadas como partes da China em um mapa no museu central de Pequim. O Ministério de Relações Exteriores do Cazaquistão emitiu um protesto oficial, e os chineses prometeram corrigir o equívoco. Mas o material escolar sobre a história de Xinjiang lista as mesmas partes do Cazaquistão como território chinês".

Em contradistinção às referências de Bobo Lo sobre a façada de boa vizinhança chinesa, Yermukanov afirma que a China tem mantido tais princípios "em desprezo" frente a questão vital dos recursos aquáticos. Ele aponta que a Rússia ainda está para iniciar uma frente comum com a Ásia Central em relação a China. Porém, isso deve ocorrer eventualmente já que as contínuas penetrações da China nos recursos aquáticos da Ásia Central vão impactar diretamente e significativamente a Rússia.


A atual atitude rígida de Pequim nas questões dos rios internacionais claramente refletem o desprezo manifesto da China pelos princípios de boa vizinhança. Considerada a falta de interação entre a Rússia, o Cazaquistão e o Quirguizistão, Astana não tem alternativa além de estender, ainda que infrutiferamente, os diálogos com a China sobre essa questão de vital importância".

A questão crucial dos recursos aquáticos é um fator que Bobo Lo, apesar de toda sua perspicácia, parece não ter visualizado, e uma que possui potencial significativo para conflito armado.

Enfrentamento Sino-Americano Improvável



"Há aqueles que, por várias razões, aplacariam a China Vermelha. Eles são cegos para a clara lição da história, pois a história ensina com ênfase inequívoca que o apaziguamento apenas gera novas e mais sangrentas guerras. Ela não aponta para nem uma única instância na qual esse fim justifica aqueles meios, em que o apaziguamento levou a mais do que uma falsa paz. Como o suborno, ele estabelece a base para demandas novas e maiores até que, como no suborno, a violência torna-se a única alternativa". (47)  -  Gen. Douglas MacArthur, 1951.

E quanto ao fator americano nas questões sino-russas? Será que os EUA intervirão e confrontarão a China, que é geralmente vista como uma rival geopolítica em sua ambição de garantir portos e rotas marítimas ao redor do mundo? Será que os EUA confrontariam a China por Taiwan? Será que os EUA, talvez em aliança com a Rússia, confrontariam as incursões chinesas na Ásia Central?


Qualquer confronto entre os EUA e a China é improvável. Em um enfrentamento entre Rússia e China, os EUA não intervirão contra a China mais do que os EUA estavam dispostos a ajudar a Rússia em prevenir que a China adquirisse capacidades nucleares.


A atitude americano dificilmente teria mudade desde 1982 quanto o Conselheiro de Segurança Nacional William Clark disse ao Primeiro-Ministro australiano Malcolm Fraser que a Austrália "deveria virar-se sozinha com qualquer conflito local ou regional". A exceção seria se a URSS estivesse apoiando um Estado agressivo. Mas a China foi considerada como uma aliada contra a Rússia. (48) Em 1983 Paul Wolfowitz, posteriormente Vice-Secretário de Defesa dos EUA e presidente do Banco Mundial, quando era Secretário Assistente Para Questões da Ásia e do Pacífico, disse ao Premire chinês Zhao que os EUA "saudavam a crescente influencia estabilizadora chinesa na região, que ele descreveu como uma das mudanças de poder mais dramáticas no sudeste asiático". (49)

Ao longo de décadas desde 1983, o papel da China certamente tornou-se bem mais "dramático".

As mesmas elites políticas e financeiras que governavam os EUA na época ainda controlam as coisas. Sua perspectiva em relação a China tem sido amigável desde a derrubada de Chiang. Paradoxal como possa parecer, os EUA eram tão insistentes de que Chiang devia lidar com os comunistas, quanto Stalin era em relação a Mao comprometer-se com Chiang (50). Como nós vimos, foi Mao que rechaçou os EUA em favor de um tratado debilitante com a URSS.

Quando Mao dramaticamente repudiou o "tratado de amizade" de 1950 com a Rússia, ele assinalou com a invasão do Vietnã que ele buscava uma aliança com os EUA. Essa foi a culminação de um objetivo há muito desejado pelas elites políticas e financeiras nos EUA, particulamente aquelas associadas com a dinastia bancária e petrolífera dos Rockefeller.

Chang e Halliday afirmam que Mao havia buscado uma aliança com os EUA tão cedo quanto 1953, quando Stalin morreu. Porém, a Guerra da Coréia havia tornado tal relacionamento impossível para vender ao povo americano. Em 1969 o Presidente Nixon expressou interesse em buscar relações com a China. (51)

Foi na Coréia que os EUA foi diretamente confrontado pela China. A reação foi um telegrama dos Chefes do Estado Maior aconselhando o Gen. MacArthur a preparar-se para evacuar e deixar a península para os comunistas. Como o documento mostra, os EUA estavam bem conscientes de que a China havia entrado diretamente no conflito. (52)

MacArthur considerou a política americana "derrotista" e fez quatro recomendações:

"(1) Bloquear a costa da China; (2) destruir através de bombardeio naval e aéreo a capacidade industrial bélica da China; (3) garantir reforços da guarnição chinesa nacionalista em Formosa para fortalecer nossa posição na Coréia se decidirmos continuar a luta por aquela península; e (4) liberar as restrições existentes sobre a guarnição de Formosa para ação diversionária contra áreas vulneráveis do continente chinês". (53)

O Presidente Trumam respondeu a oposição de MacArthur em relação a uma política sem vitória - uma política que seria repetida no Vietnã - dispensando o popular comandante militar em 1951. Muito mudou desde aquela época, mas as mudanças fizeram um enfrentamento direto entre os EUA e a China ainda menos provável: a China agora está lidando de uma posição de força muito além de suas capacidades em 1950, e em particular as economias da China e dos EUA estão agora em simbiose, uma questão que ainda será discutida. Qualquer enfrentamento militar teria repercussões globais muito maiores do que as recomendações de MacArthur em 1950.

Retornando ao relacionamento que foi estabelecido entre EUA e China em 1970, o que é notável é que o principal conselheiro de Nixon era o Dr. Henry Kissinger, um protegido da família Rockefeller. A dinastia Rockefeller tem tido um grande interesse na China desde a década de 20. Em 1956, John D. Rockefeller fundou a Sociedade Asiática, um think-tank de alto nível de políticos, diplomatas e líderes empresariais, para promover relações econômicas com a Ásia. (54) (55)

A importância de Kissinger para a família Rockefeller é indicada pela introdução que ele recebeu do embaixador Richard Holbrooke no banquete de gala do 50º aniversário da Sociedade Asiática em honra aos Rockefellers:

"Para discutir o legado Rockefeller, não apenas de John D. Rockefeller III, mas de toda a família, há apenas uma pessoa que poderia fazê-lo, e essa era Henry Kissinger. Henry tem sido um amigo da família Rockefeller como todos vocês sabe, Vice-Presidente Nelson Rockefeller, David Rockefeller, e do resto da família, muitos dos quais estão aqui essa noite, por cinquenta anos. Ele também possui uma forte e profunda conexão com a Ásia. Nós todos sabemos que ele foi o principal arquiteto da história abertura com a China, que resultou em tantas coisas positivas, e permanece uma das relações bilaterais mais complicadas, senão a mais complicada, que nós temos no mundo. Henry foi muito cortês em unir-se a nós esta noite, e eu não tenho outro dever aqui a não ser convidar ao palco o ex-Secretário de Estado, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, nosso amigo, amigo da Sociedade Asiática, Henry Kissinger." (56)

Kissinger, apesar de estar fora do serviço público, permanece profundamente influente nos círculos diplomáticos, empresariais e governamentais como chefe do Kissinger Associates, seu serviço de consultoria privada, e mantém sua conexão com think-tanks de alto nível como o Conselho de Relações Estrangeiras, a Comissão Trilateral, as conferências Bilderberg, e como visto, a Sociedade Asiática.


Porém Mao, posando como o preeminente campião anti-americano diante do Terceiro Mundo, em um conflito ideológico junto à URSS tinha que ser cauteloso como suas contrapartes americanas em vender a idéia do que seria uma aliança sino-americana. A aliança começou nos níveis mais baixos; ping-pong americano e chinês (57), no que seria chamado de "diplomacia ping-pong".

Kissinger fez sua primeira visita a China em 1972 para planejar uma visita de Nixon. Os americanos ofereceram como gesto de boa vontade preliminar o redirecionamento do reconhecimento diplomático de Taiwan para a China de Mao. Os EUA também ofereceram introduzir a China nas Nações Unidas. Adicionalmente, os EUA garantiriam para a China informações em todos os seus negócios com a Rússia. Kissinger também disse aos chineses que os EUA estariam retirando-se do Vietnã do Sul, e que tropas americanas logo seriam retiradas da Coréia do Sul. Não pediu-se à China quaisquer concessões. (59)

Em 1973 Kissinger garantiu a Mao que os EUA viriam em assistência à China se esta fosse atacada pela Rússia. (60)

As fundações também foram estabelecidas para o desenvolvimento tecnológico e industrial da China, e portanto o estabelecimento da força bélica que Mao falhou em alcançar através da URSS. Em 6 de julho Kissinger disse ao enviado de Mao:

"Eu falei com o Ministro de Relações Exteriores francês sobre nosso interesse em fortalecer a República Popular da China. Nós faremos o que pudermos para encorajar nossos aliados a acelerarem pedidos que eles receberem de vocês de itens para a defesa chinesa.

Em particular vocês pediram por algumas tecnologias Rolls-Royce. Sob os regulamentos atuais nós temos que opor-nos a isso, mas nós planejamos um procedimento com os britânicos no qual eles fornecerão assim mesmo. Nós assumiremos uma posição formal de oposição, mas só isso. Não seja confundido com o que nós fazemos publicamente..." (61)


A última frase de Kissinger é uma chave para compreender a história mundial e a política: "Não seja confundido pelo que nós fazemos publicamente". É a maneira pela qual a alta política ocorre por trás das cenas, e tem pouco a ver com o que é circulado pela mídia de consumo público.


O desenvolvimento da China em uma superpotência militar e econômica, cortesia das grandes corporações ocidentais, capitaneada pela dinastia Rockefeller, seria atrasado alguns anos pelo escândalo Watergate que forçou Nixon a sair do cargo, e continuou sob a administração Carter dominada por trilateralistas.

A Administração Trilaterialista de Carter Desenvolve Laços com a China



Este autor descreveu o desenvolvimento das relações entre EUA e China no contexto de uma crescente ofensiva militar e diplomática no Pacífico Sul. Em A Ameaça da China no Pacífico (62), eu descrevo a continuação das relações sino-americanas sob a Administração Carter, após o regime Nixon-Kissinger. A influência Rockefeller, nessa instância via a Comissão Trilateral, permaneceu:

"A 'normalização de relações' entre os EUA e China veio em 1978 sob a Administração Carter. O regime do Presidente Carter era Trilateral.

Preparações prévias haviam sido feitas sob a administração Nixon através da assim chamada 'diplomacia ping-pong' do Secretário de Estado Henry Kissinger...


Após Kissinger ter feito os arranjos preliminares, presidente Nixon viajou para a China em 1972.

Em 1973, David Rockefeller foi à China...e verteu elogios sob o regime de Mao escrevendo: 'O experimento social na China sob a liderança do Camarada Mao é uma das mais importantes e bem sucedidas na história humana..." (63)


A Standard Oil de David Rockefeller obteve direitos exclusivos para a exploração de petróleo na China; seu banco Chase Manhattan para as finanças industriais.

Quando em 1978 Taiwan foi colocada de lado e relações diplomáticas foram formalmente estabelecidas sob o regime trilateralista de Carter, Leonard Woodcock, um antigo membro da Comissão Trilateral, tornou-se o primeiro embaixador americano na China. Tirando os interesses Rockefeller, outras antigas corporações globalitstas cujos chefes executivos eram trilateralistas incluíam: Coca-Cola, considerando o monopólio em refrigerantes (J. Paul Austin, apoiador de Carter), Boeing Aircraft (T.A. Wilson), e Mitsui Petro-Chemical (Yoshizo Ikeda)...


Trilateralistas japoneses também estiveram extremamente envolvidos nas primeiras negociações com a China. Mitsubishi (cujo presidente Chujiro Funjino foi presidente do Comitê Executivo da Comissão Trilateral Japonesa) conseguiu o contrato para modernizar os portos de Xangai, os maiores na China. Hitachi Ltd. (presidente Hirokichi Yoshiyama) conseguiu um contrato de 100 milhões para fornecer equipamento para a siderúrgica Paoshan e para expandir os portos Hungchi. Nippon Steel (Yoshihiro Inayama) esteve envolvido com a construção de uma enorme siderúrgica perto de Xangai". (64)

Simbiose Econômica Sino-Americana


A razão mais convincente pela qual é pequena a probabilidade de um conflito sino-americano é que suas economias desenvolveram uma forte relação simbiótica. Isso não pode ser dito sobre o relacionamento entre China e Rússia ou Rússia e EUA.

Dr. Niall Ferguson afirma: "...Desde abril de 2002 os bancos centrais da China e de Honk Kong compraram 96 bilhões de dólares em títulos do governo americano".

Isso significa que, "os EUA estão confiantes no banco central da República Popular da China para o financiamento de aproximadamente 4% por ano de seus empréstimos federais".

Ferguson menciona a "crescente interdependência" entre as economias dos EUA e da China:

"Longe de serem rivais estratégicos, esses dois impérios possuem o ar de parceiros econômicos. A única questão é qual dos dois é o mais dependente, o qual, para ser preciso, na eventualidade de uma crise em sua relação amistosa, agora com mais de trinta anos..." (65)

Hoje, o comércio global é tamanho na China que a China Business World listou mais de mil companhias americanas apenas em Pequim e Xangai.


Quando em 2006 a organização trabalhista americana AFL-CIO peticionou à Administração Bush para que colocasse restrições econômicas sobre a China em relação às leis trabalhistas chinesas, esta foi diretamente combatida por uma frente unida de grandes associações empresariais. A carta deles para o Presidente Bush é instrutiva em relação à atitude pró-China continuada prevalente entre identidades comerciais influentes. Entre os 14 signatários estão: Business Round Table, Emergency Committee for American Trade, National Foreign Trade Council, US Council for International Business, US Chamber of Commerce, US-China Business Council. (66) Eles demandaram que Bush rejeitasse a petição da AFL-CIO ao Escritório do Representante Comercial Americano. A atitude de um dos seus, Thomas J. Donohue, CEO da Câmara de Comércio dos EUA, foi expressa diante de uma conferência em 2004 da Sociedade Asiática: "O gênio chinês saiu da garrafa, e não há como colocá-lo de volta - nem nós gostaríamos de fazê-lo mesmo se pudéssemos". (67)

Uma das personalidades mais interessantes da elite globalista americana cujas atividades estão intrinsecamente ligadas à China é Nicholas Rockefeller. Ele é de particular interesse porque em 2006 ele mal sucedidamente tentou recrutar o premiado diretor hollywoodiano e cineasta de documentários Aaron Russo para o Conselho de Relações Estrangeiras, com a promessa de ser parte de uma elite que governa o que ele chama de "os servos". (68) Suas revelações sobre como os globalistas buscam o controle mundial, incluindo o objetivo de microchipar toda a população de "servos" do mundo, causou embaraços para a elite global quando Russo expôs as discussões publicamente.

Essa descrição de Nicholas Rockefeller pela Sociedade Asiática, da dinastia Rockefeller, indica quão importante Nicholas é para a hierarquia empresarial global:

"Nicholas Rockefeller é vice-presidente e advogado-chefe do Grupo de Investidores RockVest e está envolvido em vários projetos bancários e comerciais na China e no mundo.

Ele é um membro do Conselho de Relações Estrangeiras, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, do Conselho Consultivo da RAND, do Conselho Consultivo Corporativo do Conselho do Pacífico de Relações Internacionais, do Comitê da Fundação Centro para Justiça Ocidental, e do Conselho Central de Desenvolvimento da China, e já atuou como participante no Fórum Econômico Mundial e no Instituto Aspen. Ele também atua como um diretor da Fundação Cultural Orla do Pacífico, e é um membro dos comitês de visitantes das escolas jurídicas da Universidade de Oregon e da Universidade Pepperdine.


A experiência de Nicholas na China inclui transações com os maiores bancos chineses, com companhias energéticas, com entidades de comunicações e iniciativas imobiliárias bem como com as principais cidades e províncias chinesas. Ele foi escolhido como membro do conselho da Comissão de Construção e Desenvolvimento da China Central e como diretor da Escola Internacional Xiwai da Universidade Internacional de Xangai. Ele apareceu diversas vezes na CCTV e em outras mídias chinesas". (69)

Parece que a elite empresarial nos EUA está intrinsecamente ligada aos interesses de expansão econômica da China. Pode ser dito que as relações comerciais e investimentos por corporações americanas na Alemanha nazista não impediram a guerra entre ambas, ou que as relações de parentesco entre as famílias reais europeias não impediram a Primeira Guerra Mundial. Portanto, a simbiose econômica existente atualmente entre EUA e China não é necessariamente suficiente por si só para impedir a possibilidade de enfrentamento futuro entre EUA e China.

Os fatores são muito distintos em diversos níveis. Não há qualquer lobby poderoso com um interesse em uma guerra com a China. Apesar de alguns contratos comerciais entre EUA e Alemanha (70), o Terceiro Reich estava fundamentalmente em conflito com o sistema bancário e comercial internacional, por suas políticas de crédito estatal e escambo (71). A China, por outro lado, é uma parte intrínseca, de fato principal, do sistema econômico mundial. Não há qualquer tratado ou sistema de alianças que pudesse colocar os EUA enfrentando a China em apoio a qualquer outro país. Como nós já vimos, os EUA não irão confrontar a China por Taiwan. O controle da China sobre o Tibet fez do país uma "zona econômica especial", a qual permite que corporações globais explorem a riqueza mineral do Tibet; então há uma convergência de interesses aqui.

Os EUA veem a Rússia como uma ameaça potencial àquilo que os russos chamam de "hegemonia global" americana. Como citado previamente, a China está disposta a ver os EUA compartilharem sua esfera de influência na Ásia Central, enquanto os russos estão contrários. Mesmo agora, sem qualquer ameaça estratégica real, os EUA desafiam a Rússia deslocando mísseis apontados para a fronteira russa, nas antigas esferas de influência da Rússia na Europa Oriental. A Polônia e a República Tcheca tornaram-se parte da OTAN em 1999. Em 2008 a Rússia afirmou que os planos americanos de posicionar mísseis e sistemas de radares nos dois antigos estados do Pacto de Varsóvia eram uma ameaça à segurança russa. (72) Os EUA tentarão reter e ampliar sua influência sobre a Europa e o Oriente Médio, o que desafiará os interesses russos. Os EUA, particularmente após o vexame no Vietnça, continuarão a render sua posição na Ásia e na região do Pacífico militarmente, mas buscarão reter sua influência econômica em conjunto com a China. Estrategicamente, a Rússia deve perceber-se como estando cercada pelos EUA e pela China em antigas esferas russas; os EUA com seu posicionamento de mísseis na Europa Oriental, e a China com sua aliança com a Mongólia.

A Guerra no Kosovo contra os sérvios também foi um desafio direto à tradicional esfera de influência russa, e uma que garantiu Kosovo, rica em minérios, para a privatização comercial global. Quanto às sutis alianças informais entre EUA e China durante a década de 70 dirigidas contra a URSS, qualquer futura aliança de potências globais será provavelmente entre EUA e China vis-à-vis Rússia. O atual tratado de amizade entre Rússia e China é uma aberração temporária que não vai durar, mais do que o tratado entre URSS e a China maoísta estavam baseados em um real acordo de interesses.

Rússia: Entre Oriente e Ocidente



A "alma racial" russa não é nem oriental nem ocidental (73), porém desde o tempo de Pedro o Grande a Rússia tem buscado seu ímpeto cultural do Ocidente. Por um breve período de tempo sob o Bolchevismo, a tecnologia ocidental foi colocada a serviço do despotismo oriental, e a URSS viu sua missão mundial como a liberação da África e do Oriente em relação ao Ocidente. Porém, mesmo enquanto nominalmente "comunista", a URSS logo encontrou-se confrontada militarmente pela rivalidade chinesa em suas próprias fronteiras e mais longe (Vietnã) e ideologicamente ao redor do mundo. (74)

A Rússia encontra-se presa entre Oriente e Ocidente. Quando confrontada pelo Oriente, a Rússia desempenha o papel de vanguarda da Europa. Como exemplo tem-se a Guerra Russo-Japonesa de 1905. Porém, este também foi um exemplo de sabotagem anti-russa americana. (75)

A inevitável impressão da geopolítica sobre as relações entre Rússia e China levaram o popular estudioso gaullista e jornalista Dr. Peter Scholl-Latour a escrever:

"...Apesar de seu comprometimento com charlatães e falsários ideológicos no Terceiro Mundo, Moscou inevitavelmente terminará liderando a vanguarda branca da Europa na Ásia Central, na Sibéria e no Extremo Oriente. Como de Gaulle outrora profetizou, 'os russos descobrirão um dia que eles também são brancos'." (76)

Hoje, os comprometimentos ideológicos já se foram, e o que resta é uma aliança pragmática temporária entre Rússia e China, que serve apenas para dar tempo enquanto ambas tentam construir suas estruturas econômicas e militares ao mesmo tempo que permanecem inerentemente suspeitas uma em relação a outra.


O estudioso inglês C. Northcote Parkinson (77) era da opinião de que entre EUA e Rússia a maior parte do ônus de defender o Ocidente recairia sobre esta última. Ele citou um trabalho de 1912 escrito por Lancelot Lawton como um exemplo de quão cedo isso havia sido percebido, Lawton escrevendo que, "a Rússia, cujas fronteiras encontram-se ao longo da Manchúria, Mongólia, Turquestão, Pérsia, Afeganistão, e Turquia, foi selecionada pela Natureza para ser a muralha protetora da civilização ocidental. Seu campesinato está despertando em um tempo em que as fronteiras asiáticas, também, agitam-se". (78)

Lawton afirmou que a rússia deve desenvolver e povoar o Extremo Oriente e a Sibéria. Hoje, nós vemos as incursões da China na região, e a inquietude expressa pelos russos. Lawton via o território russo no Extremo Oriente como um posto avançado da "civilização ocidental", e acreditava que o Ocidente tinha sorte pelos russo não terem sido corrompidos à decadência, ainda possuindo a estirpe robusta de camponeses e soldados que poderiam bloquear a onda de agressão asiática. (79)

Parkinson alude à crença na Grã-Bretanha vitoriana de que a Rússia seria uma "potência asiática", e entre observadores mais recentes de que a Rússia havia ido para o "campo asiático" quanto tornou-se comunista. Porém, Parkinson - corretamente como demonstra a história - viu que a URSS como ainda substancialmente parte da Europa, apesar de políticas pragmáticas que poderiam voltar-se temporariamente para a Ásia. Ele observou que apesar de a URSS poderia proclamar-se "asiática" como parte de uma estratégia, "palavras não podem alterar fatos". Ele cita a agressividade russa no Extremo Oriente, e o fato de a Rússia ter tomado a dianteira entre as potências europeias em suprimir a rebelião boxer de 1900 (80), algo que continuou a perturbar os chineses na época de Mao, que, como citado previamente, considerava a URSS como uma continuação europeia imperialista da Rússia Czarista.

Parkinson conclui que, "Como contra a China, a Rússia é a nova Bizâncio. Os russos não possuem mais motivos que os bizantinos para sacrificarem-se em defesa do Ocidente. Mas o que mais eles poderiam fazer? A alternativa é ver os chineses em Irkutsk, em Krzsnoyarsk, em Omsk, ou Magnitogorsk..." (81) Este é precisamente o cenário que desdobra-se hoje.


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  Soros G., (http://www.bangkokpost.com/breaking_news/previousdetail.php?id=125401, Bangkok Post, Jan. 23 2008.

  Yermukanov, Marat, “China obstructs River Management Talks with Kazakhstan,” February 17, 2006 :Eurasia Daily Monitor, Jamestown Foundation, http://jamestown.org/edm/article.php?article_id=2370793.
  1 Appendix: I The Coming War in Asia.
  2 Salisbury Harrison E., The Coming War Between Russia & China, Pan Books, London, 1969. Salisbury was assistant managing editor of The New York Times, and a veteran journalist in Russia and Asia. He was the first American journalist to visit Hanoi during the Vietnam War.
  3 Bobo Lo was second-in-charge at the Australian embassy in Moscow in the late 1990s and is now director of the China and Russia programs at London's Centre for European Reform.
  4 Bolton K. R., The Washington-Peking-Tokyo Axis: Threat to NZ’s Survival, Realist Publications, NZ, 1983.
  5 Chang J., Halliday J., “Saved by Washington,” Mao – the Unknown Story (London: Jonathan Cape, 2005), 304-311.
  6 Chang, Halliday, ibid., 310.
  7 Chang, Halliday, ibid., 362.
  8 Chang, Halliday, ibid., 368.
  9 Chang, Halliday, ibid., 368.
  10 Chang, Halliday, ibid., 369.
  11 Chang, Halliday, ibid., 397.
  12 Paine S C M, Imperial Rivals: China, Russia, and Their Disputed Frontier, NY, 1996. Dr Paine is an expert on Russia and Asia and has studied in Russia, China, Taiwan and Japan. She is associate professor of policy & strategy at the US Naval War College.
  13 Chang & Halliday, op.cit. 570-571.
  14 Chang & Halliday, ibid., 572.
  15 Haldeman H R , The Ends of Power, New York Times Books, 1978.
  16 Elleman Bruce, Sino-Soviet Relations and the February 1979 Sino-Vietnamese Conflict 20 April 1996 http://www.vietnam.ttu.edu/vietnamcenter/events/1996_Symposium/96papers/elleviet.htm Vietnam Center, Texas Tech University, http://www.vietnam.ttu.edu/vietnamcenter/
  17 Scalapino Robert A., “The Political Influence of the USSR in Asia,” in Donald S. Zagoria, ed., Soviet Policy in East Asia (New Haven, Yale University Press, 1982), 71.
  18 Elleman, op.cit.
  19 Elleman, ibid.
  20 Elleman, ibid.
  21 The Trilateral Commission was founded at the behest of David Rockefeller, head of the banking and oil dynasty, as a think tank originally based on a merging of interests between North America, Europe and Japan. The concept now embraces the entirety of the Pacific Rim nations. It draws membership from the elite of business and politics. For example, the Carter Administration had many Trilateralists, from Carter down. The commission’s first director was Zbigniew Brzezinski, Carter’s National Security adviser, and now foreign policy adviser for Democratic presidential nominee Obama. The Trilateral Commission has expanded its membership to China.
  22 Emmott Bill, Rivals: How the Power Struggle Between China, India and Japan Will Shape Our Next Decade (Allen Lane, 2008).
  23 Emmott, ibid.
  24 Garnaut J., “Russia on edge as China grows,” Sydney Morning Herald, June 9, 2008.
  25 Trenin, Dmitri,”Pirouettes and priorities: distilling a Putin doctrine,” The National Interest, Dec. 22, 2003. Trenin is a Senior Associate at the Carnegie Endowment for International Peace and Director of Studies at the Carnegie Moscow Center. The Carnegie Endowment is a long-established globalist think tank influential in US ruling circles, along with other inter-locking think tanks and Foundations, such as the CFR , Trilateral Commission, Ford Foundation, et al.
  26 de Nesnera Andre, Russia and China focus on Central Asia, Washington, 12 June 2008, Voice of America, http://www.voanews.com/english/NewsAnalysis/2008-06-13-voa23.cfm
  27 Bobo Lo, op.cit.
  28 de Nesnera, op.cit.
  29 de Nesnera, ibid. Quoting Lo.
  30 Bobo Lo, Russia-China: Axis of Convenience, 20 - 05 – 2008, http://www.opendemocracy.net/user/511394
  31 The purpose of Open Democracy Russia, as described on its website, is to engage in debate about Russia’s place in the world. www.opendemocracy.net/russia/russia_about
  32 George Soros, the currency speculator, operates an array of think tanks, fronts and foundations across the world, aimed at breaking down traditional cultures and opening up protected economies to globalisation. Agenda include liberalisation of abortion and drug laws, for example. Generally operating under the Open Society Institute, Soros’ networks played pivotal roles in undermining the Soviet bloc by backing Solidarity in Poland, and in Czechoslovakia, for example, and are very active in the old Soviet Republics. Soros’ activities include “training future leaders” through the “Internet Access and Training Program” in Belarus, Azerbaijan, Georgia, Kazakhstan, Kyrgyzstan, Turkmenistan and Uzbekistan. Soros’ networks funded and organised the “colour revolutions” in Georgia and the Ukraine. (See George Soros’ World Revolution: How the currency speculator funds New Left revolutions, Renaissance Press, NZ). Soros was a major backer of Obama for the US presidency, along with numerous other luminaries. Soros is investing heavily in China, along with the other US global coporations; for example: Grand China Air, Chinese car manufacturing. During an interview with the BBC at the World Economic Forum in Davos, Switzerland, Soros stated that, . "I'm not looking for a worldwide recession. I'm looking for a significant shift of power and influence away from the US in particular and a shift in favour of the developing world, particularly China." (http://www.bangkokpost.com/breaking_news/previousdetail.php?id=125401, Bankock Post, Jan. 23 2008.
  33 Wines M., “Chinese Creating a New Vigor in Russian Far East,” NY Times, September 23, 2001.
  34 Wines, ibid.
  35 Russian Maritime Province.
  36 Primorsky Krai, http://en.wikipedia.org/wiki/Primorsky_Krai
  37 Boron http://en.wikipedia.org/wiki/Boron
  38 Natural resources of Primorsky Krai, http://en.wikipedia.org/wiki/Natural_resources_of_Primorsky_Krai
  39 Ministry of Foreign Affairs, Peoples Republic of China, I. Sino-Mongolian Relations in Brief, http://chinese-embassy.org.za/eng/wjb/zzjg/yzs/gjlb/2742/default.htm
  40 Ministry of Foreign Affairs, Peoples Republic of China, II Political Relations, http://chinese-embassy.org.za/eng/wjb/zzjg/yzs/gjlb/2742/default.htm
  41 Elleman B., op.cit.
  42 MPR = Mongolian Peoples Republic.
  43 Elleman, op.cit.
  44 Elleman, ibid.
  45 Bolton K. R., The Menace of China in the Pacific, Renaissance Press, 2004.
  46 Yermukanov, Marat, “China obstructs River Management Talks with Kazakhstan,” February 17, 2006
  Source: Eurasia Daily Monitor, Jamestown Foundation, http://jamestown.org/edm/article.php?article_id=2370793.
  The Jamestown Foundation is a US-based think tank specialising in the analysis of the affairs of the republics of the former USSR, and is staffed by academic specialists. Eurasia Daily Monitor is the Foundation’s publication. Marat Yermukanov is a journalist working for the Russian-language private newspaper Panorama Nedely in Petropavlovsk, North Kazakhstan.
  47 MacArthur, Gen. Douglas, “Farewell Address to Congress,” April 19, 1951.
  48 The Dominion, May 29 1982.
  49 Evening Post, May 3, 1983.
  50 Chang and Halliday, op.cit. ch. “Saved by Washington”, 304-311.
  51 Chang & Halliday, ibid. 601.
  52 Joint Chiefs of Staff telegram to General Douglas MacArthur, December 1950. www.cresswellslist.com/ballots2/hst_maca.htm
  53 General MacArthur to the Joint Chiefs of Staff, December 1950.
  54 Asia Society Gala 50th anniversary dinner speeches, http://www.asiasociety.org/support/specialevents/anniversary_dinner/galaspeeches.html
  55 Other Rockefeller think tanks followed, the most important being the Trilateral Commission, which staffed the Carter Administration, from Carter down. The Trilateral Commission was founded specifically for the purpose of drawing the economies of America, Europe and Asia together. Trilateralists were also to play a key role in fostering relations with China. David Rockefeller, speaking at the Asia Society gala, alludes to his role in developing Sino-American relations, in association with the Trilateral Commission: “Ever since, for example, I had the good fortune to meet in 1973 with Prime Minister Zhou En-lai and subsequently with Deng Xiaoping and Jiang Zemin in connection with the Trilateral Commission.”
  56 Asia Society Gala 50th anniversary dinner speeches, op.cit.
  57 Chang & Halliday, ibid. 602.
  58 However, a united Vietnam within the Soviet orbit was not in China’s interests.
  59 Chang & Halliday, ibid. 604-605.
  60 Ibid., 612.
  61 Ibid., 613.
  62 Bolton, K R, The Menace of China in the Pacific, Renaissance Press, Wellington, New Zealand 2004, 18-19.
  63 Rockefeller D., “From a China Traveller,” NY Times, Aug. 10, 1973.
  64 Antony Sutton, Trilaterals Over Washington, Arizona, 1978. Sutton was a research Fellow with the Hoover Inst.
  65 Niall Ferguson, Colossus: The Rise & Fall of the American Empire, Penguin, Britain, 2004. Ferguson is Herzog Professor of Financial History at the Stern School of Business, NY University, Snr. Research Fellow at Jesus College, Oxford, and Snr Fellow of the Hoover Institution, Stanford.
  66 Dated June 23, 2006.
  67 http://www.asiasociety.org/speeches/donohue04.html
  68 Russo made his revelations on the Alex Jones (radio) Show in 2006, stating he was first approached by Nicholas Rockefeller in 1999 because of his impact at the political level. Russo, winner of Emmy Tony and Grammy Awards, was also a political activist, a “constitutionalist” and “libertarian”; he died in 2007. jonesreport.com/article/05_09/29russo.html
  69 http://www.nicholasrockefeller.net/rand_dinner/
  70 Higham C., Trading with the enemy: how the allied multinationals supplied Nazi Germany throughout World War II, Robert Hale, London, 1983.
  71 For one of the few explanations on how Nazi Germany’s banking and state credit system operated, see Bertram De Colonna, European correspondent for NZ businessman, baking reformer and philanthropist Henry Kelliher’s Mirror magazine, “The Truth about Germany,” The Mirror, Auckland, NZ, April, 1938. This is quoted at length in Bolton, K R., The Banking Swindle, Spectrum Press, NZ, 2000. The policy was basically similar to that of the 1935 First NZ Labour Govt., which used 1% Reserve Bank state credit to fund its famous State Housing programme.
  72 RIA Novosti, Moscow, “Russia says U.S. missile shield will harm European security”, July 15, 2008. http://en.rian.ru/russia/20080715/114016639.html For a Russian response threatening to deploy nuclear bombers in Cuba and Venezuela,see Appendix II attached.
  73 The Western folk soul is “faustian”, looking starward, into infinity. The Russian soul looks towards the horizon; its expansive outlook is land-bound. See Spengler, Oswald, The Decline of the West, Allen & Unwin, London, 1971, Vol. II 192-196; 295, n.1.
  74 However, the Chinese ideological offensive among the colonial peoples and even among Communist parties throughout the world made little headway. See Jung & Halliday, op.cit.
  75 Japan was funded in its war against Russia by the prominent US banker Jacob Schiff, senior partner of Kuhn, Loeb & Co., while the First National Bank and National City Bank sponsored Japanese war loans in the USA. Schiff was awarded the Order of the Rising Sun in Japan by Emperor Meiji for his efforts.
  76 Scholl-Latour, Dr P., Death in the rice fields : an eyewitness account of Vietnam's three wars, 1945-1979, St. Martins Press, NY, 1985. Scholl-Latour is a Franco-German academic and journalist who spent many years in Africa and Indo-China.
  77 C. Northcote Parkinson, the British historian, philosopher and novelist of Parkinson’s Law Fame.
  78 Parkinson, C. N., East & West, John Murray, London, 1963, 264.
  79 Lawton, Lancelot, Empires of the Far East, (1912), vol. 2, 810. Quoted by Parkinson, ibid., 264.
  80 Parkinson, op.cit. 265.
  81 Parkinson, ibid. 267. Where Parkinson errs, however, is in the common insistence that the USA is the ‘leader of the West’ and will lead the West in coming to the assistance of Russia against Chinese aggression. New facts, as shown herein, show the reverse.