21/12/2017

Alberto Buela - Perón e o Peronismo

por Alberto Buela



A pedido de meus amigos espanhois que são muitos e muito bons escrevo este artigo sobre Perón e o peronismo, mesmo sabendo que são milhares os livros e artigos sobre o tema.


Perón e o peronismo nascem para a vida política a partir de seu cargo como Diretor de Trabalho e Previdência no ano 1943. Logo se transformou em Secretário do Trabalho para ser eleito, finalmente, Presidente em fevereiro de 1946. Governou até setembro de 1955 e regressou à Argentina em 1973, falecendo em julho de 1974.


Sobre Perón e o peronismo na Europa já se disse de tudo, desde nazi-fascista até socialista e comunizante, mas o fenômeno deve ser entendido não com categorias políticas europeias, mas com categorias americanas. O sem sentido é tão grande que há poucos anos Pierre Milza falou em "fascismo de esquerda".

Sua formação foi a de um militar industrialista que tem como mentor o general Agustín Pedro Justo, engenheiro recebido na Universidade de Buenos Aires e Presidente de 1932 a 1938.

Seu projeto político o expressou em seu discurso se encerramento do 1º Congresso Nacional de Filosofia de 1949, sob o título de Comunidade Organizada.


A ideia apresenta duas leituras possíveis: a) Como sistema social a construir e b) Como sistema de poder.


a) Como sistema social sustenta que o povo solto, isolado, atomizado inexiste. Só existe o povo organizado e como tal se transforma em fator concorrente nos aparatos do Estado que são específicos a cada organização livre do povo ou corpos intermediários no jargão sociológico.


b) Como sistema de poder sustenta que o poder procede do povo que se expressa através de suas instituições intermediárias. Nem o poder procede do governo, nem do Estado. Nem o povo delega seu poder nas instituições do Estado.


17/12/2017

Aleksandr Dugin - Rumo à Quarta Teoria Econômica

por Aleksandr Dugin

Discurso de Aleksandr Dugin na conferência “Capitalismo e suas Alternativas no Século XXI: a Quarta Teoria Econômica”, realizada em Chisinau, Moldávia, de 15 a 16 de dezembro de 2017.



Preâmbulo:

Em linhas gerais, a Quarta Teoria Política (ou QTP) não confere primazia à economia, e isso não é acidental: o aspecto material da existência é tido como secundário na QTP, assim como é considerado como algo completamente dependente de determinadas perspectivas sociais e filosóficas mais gerais – metafísicas e religiosas, fundamentalmente. A economia não é autônoma, mas uma mera projeção de certas atitudes cognitivas e princípios filosóficos, com os quais devemos lidar.

15/12/2017

Alain de Benoist - A Quarta Dimensão

por Alain de Benoist



A modernidade gerou com sucesso três grandes doutrinas políticas rivais; o liberalismo no século XVIII, o socialismo no século XIX e o fascismo no século XX. Sendo o último na linha, o fascismo também foi o que desapareceu mais rapidamente. Porém, a desintegração do sistema soviético não deu fim às aspirações socialistas e menos ainda às ideias de comunismo. O liberalismo, de sua parte, parece ser o grande vencedor nessa competição. Em todo caso os princípios do liberalismo, encabeçados pela ideologia dos direitos humanos, e prosperando agora dentro da Nova Classe por todo o planeta, são hoje os mais difundidos dentro do esquema do processo de globalização.

14/12/2017

Aleksandr Dugin - A América Latina deve ser um Grande Poder Regional

Entrevista concedida ao jornalista argentino Marcelo Taborda, do jornal La Voz del Interior



Desde a vitória eleitoral de Donald Trump, a Rússia tem sido acusada de ter intervindo nela e em qualquer votação importante que ocorra no planeta: o que há de verdadeiro nisso e o que você pensa a respeito?

Para começar, creio que devemos compreender isto de maneira simbólica. Comparemos o lugar que a Rússia ocupava há 20 anos, quando nada se falava ao seu respeito e seu poder regional era muito limitado – quando seguia o contexto da civilização ocidental, imitando os Estados Unidos, como fez Boris Yeltsin: isso era o fracasso total. O fato de que, hoje, depois de tantos anos, a Rússia é representada como um poder global que pode exercer influência sobre o “Número Um”, seja isso falso ou verdadeiro, que afirmem que ela pode influenciar as eleições americanas, significa que a Rússia retornou. A Rússia está de volta e joga um papel no poder global. Aos olhos dos Estados Unidos e dos Estados que seguem sua a linha globalista e liberal, a Rússia representa o mal absoluto. No entanto, para a maioria da humanidade, representa uma nova potência que ressurge, que reaparece, e que abre a possibilidade de escolha… Eu olho bastante para o Oriente Médio e vejo como o retorno da Rússia à Síria é visto pelos árabes, incluindo os curdos e os sauditas, como algo próximo a um milagre: todos veem que a situação não é unipolar, mas multipolar. É possível fazer alianças ou se unir aos Estados Unidos e seus seguidores, mas também com a Rússia (como poder oposto).

Creio que a ingerência da Rússia nas eleições americanas é exagerada, mas o lugar simbólico está demarcado corretamente. Pessoalmente, propus aos nossos governantes que fossem mais ativos nestas eleições, mas eles escolheram a estratégia tradicional. Os oligarcas russos financiaram a campanha de Hillary Clinton porque a maioria dos analistas pensava que ela venceria. Vladimir Putin tinha simpatia por Donald Trump e eu mesmo o apoiava ativamente, mas isso não é ingerência.

12/12/2017

Aleksandr Dugin - O que é Civilização?

por Aleksandr Dugin



A Demanda por uma Definição Mais Exata

Isso emerge do sentido fundamental de nossa época, transitando da modernidade à pós-modernidade, que essencialmente afeta campos semânticos e formas linguísticas. E, na medida em que nos encontramos na fase de uma transição ainda não terminada, uma confusão inconcebível reina em nossas noções: alguém usa termos costumários em seu antigo sentido; alguém, sentindo a necessidade de substituição semântica, olha para o futuro (que ainda não chegou); alguém fantasia (talvez se aproximando do futuro ou simplemente caindo em alucinações individualistas e irrelevantes); alguém se confunde completamente.

Independentemente de qual seja o caso, para o uso correto de termos, especialmente termos fundamentais, aos quais, indubitavelmente, o conceito de civilização pertence, é necessário hoje realizar, ainda que de forma elementar, uma desconstrução, traçando o significado ao contexto histórico, e rastreando as mudanças semânticas básicas.

11/12/2017

Maurizio Lattanzio - Estado, Partido, Povo, Revolução: O Estado Popular Khmer de Pol Pot

por Maurizio Lattanzio



O epílogo cíclico da decadência ocidental é a extenuação racial da forma antropológica e a deformação "teratológica" do tecido social no qual "se agitam" as massas de indivíduos "pululantes" nas áreas metropolitanas do Ocidente judaicoplutocrático.

A desordem dos indivíduos "possuídos" pelas pulsões consumístico-mercantis correlativas às dinâmicas neocapitalistas predominantes nas democracias usurárias ocidentais é a estação terminal do processo de dissolução antropológica e de fragmentação social induzido pela "decomposição" ontológica da ordem da raça. É o fétido e lamacento "flutuar" antropoide da raça burguesa, a qual tem patologicamente gravada a "marca" repugnante da inferioridade racial sobre a mesma imagem física do "cidadão" ocidental: "Eu sofro - escreve Drieu La Rochelle - por causa do corpo dos indivíduos (...); que coisa horrível caminhar pelas ruas e encontrar tanta decadência, tanta feiura, tanta imperfeição: costas curvas, ombros caídos, barrigas inchadas, músculos frágeis, rostos flácidos". Tal é o desdenhoso "garrancho" descritivo que representa à sub-raça cidadã, imortalizado pela pena de Drieu.

10/12/2017

Ernst Niekisch - Violência e Espírito

por Ernst Niekisch



A princípio, a violência e o espírito são antíteses. O espírito é o primeiro antagonista da violência. O espírito cresceu a tal extremo que, no fim das contas, ele se situa sempre contra a violência. A violência é sentida como ampla e maciça no espaço; o espírito tem ao seu lado o tempo, e em todo caso mostra ir mais longe com ele. Onde a violência se sobrepõe, o espírito mina o terreno em que ela descansa. Quando a pressão da violência cresce de forma desmesurada, o espírito organiza uma contrapressão que não pode ser controlada; onde a sua compulsão não deixa alternativa de escape, ele descobre portas traseiras. Ele destroi a reputação da violência, rouba sua boa consciência e a leva a um estado máximo de ridículo que é fatal para ela. Esta oposição primordial emerge historicamente nas mais variadas formas. Aparece como a polaridade do espírito e da espada, do santo e do heroi, do papa e do imperador, do sacerdote e do guerreiro, do letrado e do soldado. A violência é segura de si, se mantém autossuficiente para a certeza de sua irresistibilidade, ameaça intolerantemente todas as resistências com a destruição existencial; por sua vez, o espírito dá reconhecimento aos valores contra os quais pode resistir por um longo tempo, mas aos quais um dia inevitavelmente acaba se submetendo: ele cede perante ela, mas com um tom ressentido de desprezo como "crua", "desajeitada", "estúpida", "estreita", "intransigente", "bárbara", "imoral", para colocá-la em descrédito.  Este foi o mais decisivo êxito do espírito contra a violência: que ele se impôs como a instância legitimada para julgar. Assim ficou a reputação da violência à sua mercê. É parte de um de seus outros empreendimentos de guerra não lidar suavemente com essa reputação. Mas ao dar prioridade a se tornar seu próprio juiz, ele tomou o cuidado de não ocultar sua luz com modéstia. Ele era tão "superior" quanto a violência era "inferior", tão refinado quanto ela era crua, tão habilidoso quanto ela era desajeitada, tão amplo quanto ela era estreita, tão claro quanto ela era escura, tão perspicaz quanto ela era cega, tão livre quanto ela era escravizada, tão universal quanto ela era confinada.

09/12/2017

Roy Starrs - Dialética Nietzscheana nos Romances de Yukio Mishima

por Roy Starrs



Apesar das ideias de Nietzsche terem tido o mesmo tipo apelo amplo e às vezes superficial para os escritores criativos japoneses que a suas contrapartes ocidentais, entre os principais escritores Yukio Mishima (1925-1970) deve ser considerado como singular tanto pela medida como pela maneira de seu uso daquelas ideias. De fato, qualquer interpretação dos argumentos dialéticos que estruturam seus principais romances filosóficos e mesmo seus ensaios e manifestos morais/políticos pareceria inadequada se ignorasse seu contexto nietzscheano. Não obstante, apesar de Mishima ter sido neste sentido o mais profundo e bem-sucedido nietzscheano japonês - o mais bem-sucedido em dar uma expressão estética original e interessante para algumas das ideias centrais de Nietzsche - ele de modo algum foi o primeiro. E seria difícil compreender a sua recepção de Nietzsche sem alguma consideração, primeiro, de precedentes históricos - do progresso do nietzscheanismo japonês antes dele - já que isso obviamente ajudou a moldar sua compreensão de Nietzsche, ainda que nem sempre, como veremos, de maneira benéfica.

Na história das relações intelectuais entre Japão e Ocidente, Nietzsche ocupa uma posição singular e importante: ele foi o primeiro grande filósofo europeu ucjas ideias alcançaram um impacto profundo quase simultaneamente nas duas culturas. Talvez em parte por essa razão, a sua influência no Japão, especialmente nos escritores criativos japoneses, tem sido mais profunda, mais amplamente sentida e mais duradoura do que a de qualquer outro pensador ocidental excetuando Marx (1). De fato, na literatura a sua influência tem sido bem maior do que a de Marx - se não no sentido de ter afetado mais escritores, pelo menos no sentido de ter gerado frutos mais férteis. Enquanto o movimento da "literatura proletária" marxista das décadas de 20 e 30 do século XX, por exemplo, produziu pouco que possa ser lido hoje - talvez apenas algumas obras de Kobayashi Takiji - entre os escritores criativos significativamente influenciados por Nietzsche devemos nomear algumas das maiores figuras da literatura japonesa moderna, incluindo Mori Ôgai, Hagiwara Sakutarô, Akutagawa Ryûnosuke, Satô Haruo, Nishiwaki Junzaburô e, é claro, o próprio Mishima. Isso não quer dizer que os escritores japoneses tenham tido uma predileção ou afinidade incomuns por Nietzsche. Poderíamos facilmente fazer toda uma convocatória semelhante de grandes escritores ocidentais do século XX que foram similarmente influenciados - inclusive o romancista favorito de Mishima entre os ocidentais, Thomas Mann. De um jeito ou de outro, as ideias de Nietzsche tem tido um apelo irresistível à imaginação literária. Sem dúvida isso é parcialmente por causa da elevada qualidade literária de sua prosa - uma raridade entre filósofos modernos - mas também isso deve ter alguma relação com a natureza de suas próprias ideias: suas tensões dialéticas parecem aptamente transferíveis para o tipo de tensões dramáticas que estruturam uma obra literária.

08/12/2017

Aleksandr Dugin - É necessário que nos livremos da globalização das mentes

por Aleksandr Dugin

Tradução por Helena Kardash



A multipolaridade é um olhar para o futuro (como nunca antes feito). Um projeto de organização da ordem mundial sobre princípios completamente novos. Uma revisão profunda dos axiomas sobre os quais a modernidade está assente – em termos ideológicos, filosóficos e sociológicos.

A série de livros Noomaquia é fruto do desejo de estabelecer uma base sistêmica para a Teoria do Mundo Multipolar, que se fundamenta no fato de não haver apenas uma, mas muitas civilizações – cada qual sendo capaz de forjar o seu próprio destino. Não há uma humanidade única e nem tampouco progresso e direitos humanos: tudo isso não passa de uma forma de dominação ocidental. O Ocidente, que busca impor um sistema de valores (derivados da modernidade) e transformar a diversidade das civilizações em uma única civilização pós-humana tecnocrática.

07/12/2017

Esteban Montenegro - Superar o Populismo

por Esteban Montenegro



Considerações críticas a partir da visita de Alain de Benoist

Na Argentina há visitas intelectuais que, como a de Ortega y Gasset em 1916, despertam não só um grande interesse mas também uma participação ativa na marcha do pensamento. É necessário dizer em primeiro lugar que aos argentinos nos invade um especial entusiasmo quando aterrisa em nossa terra o intelectual estrangeiro ou quando fazemos nós a viagem que nos permitirá conhecê-lo. E isso vai mais além da importância e estatura do personagem em questão, pois temos em realidade a sensação de que a duras penas nos tornamos pensadores sem a aprovação do estrangeiro. Por exemplo, segundo esta perspectiva a filosofia de Carlos Astrada ostenta um plus de valor por sua relação discipular com Martin Heidegger e Max Scheler. Nenhum mérito do próprio Astrada poderia, segundo esta visão, suprir o que lhe foi dado pelo contato pessoal com os mestres alemães. Esta visão fetichista que em boa medida atravessa quase todos os argentinos é um efeito de nossa situação periférica, para superar a qual não basta cantar loas à liberação dos oprimidos. Como diria Nietzsche, ser livre não é um valor em si mesmo. O importante é para quê se quer liberdade e se temos realmente a força para fazê-lo.

05/12/2017

Aleksandr Dugin - Cesarismo Político, Hegemonia e Contra-Hegemonia

por Aleksandr Dugin



Em todo o mundo, inclusive na Rússia, está surgindo uma crescente demanda por uma verdadeira alternativa ao globalismo. Neste sentido, os conceitos de cesarismo e contra-hegemonia (retirados da filosofia do comunista Gramsci) possuem um enorme valor teórico e ajudam a explicar muitas coisas.