Oswald Spengler nasceu em Blankenburg (Harz) na Alemanha central em 1880, o mais velho de quatro filhos, e o único menino. O lado materno de sua família possuía uma forte tendência artística. Seu pai, que originalmente havia sido técnico em mineração e veio de uma longa linhagem de mineradores, era um oficial na burocracia postal alemã, e garantia para sua família um lar de classe média simples, porém confortável.
O jovem Oswald jamais desfrutou do melhor da saúde, e sofria de enxaquecas que o perseguiriam por toda sua vida. Ele também tinha um complexo de ansiedade, ainda que não lhe faltassem pensamentos grandiosos - os quais, por causa de sua constituição frágil, tinham que se aplicados apenas em seus sonhos despertos.
Quando ele tinha dez anos de idade a família se mudou para a cidade universitária de Halle. Aqui Spengler recebeu uma educação clássica, estudando grego, latim, matemática e ciências naturais. Aqui também ele desenvolveu sua forte afinidade pelas artes - especialmente poesia, drama e música. Ele experimentou com algumas criações artísticas juvenis suas, poucas das quais sobreviveram - elas são indicativas de um tremendo entusiasmo, mas não muito mais que isso. À essa época ele caiu sob influência de Goethe e Nietzsche, duas figuras cuja importância para Spengler, o jovem e o homem, não pode ser subestimada.
Após a morte de seu pai em 1901, Spengler aos 21 entrou para a Universidade de Munique. Segundo os costumes estudantis alemães da época, após um ano ele seguiu para outras universidades, primeiro Berlim e depois Halle. Seus principais cursos de estudo foram nas culturas clássicas, matemática e ciências físicas. Sua educação universitária foi financiada em grande parte por um legado de uma tia falecida.
Sua dissertação doutoral em Halle foi sobre Heráclito, o "filósofo obscuro" da Grécia antiga cuja linha mais memorável era "A Guerra é o Pai de todas as coisas". Ele não conseguiu passar em seu primeiro exame por causa de "referências insuficientes" - uma característica de todos os seus escritos posteriores que alguns críticos sentem um enorme prazer em apontar. Porém, ele passou em um segundo exame em 1904, e então partiu para escrever a segunda dissertação necessária para se qualificar como professor de segundo grau. Esta se tornou "O Desenvolvimento do Órgão da Visão nos Âmbitos Superiores do Reino Animal". Ela foi aprovada, e Spengler recebeu seu certificado de licenciatura.
Seu primeiro posto foi em uma escola em Saarbrücken. Então ele se mudou para Düsseldorf e, finalmente, Hamburgo. Ele ensinava matemática, ciências físicas, história e literatura alemã, e segundo todos os relatos era um instrutor bom e consciencioso. Mas seu coração não estava realmente aí, e quando em 1911 a oportunidade se apresentou para ele "seguir o próprio caminho" (sua mãe havia morrido e deixado para ele uma herança que lhe garantia uma medida de independência financeira), ele a tomou, e abandonou a profissão de educador para sempre.
Explicação História de Tendências Atuais
Ele se assentou em Munique, para viver a vida de um filósofo/estudioso independente. Ele começou a escrever um livro de observações sobre a política contemporânea cuja idéia lhe havia preocupado por algum tempo. Originalmente a ser chamado Conservador e Liberal, ele havia sido planejado como uma exposição e explicação das tendências atuais na Europa - uma corrida armamentista em aceleração, um "cerco" da Entente à Alemanha, uma sucessão de crises internacionais, a crescente polaridade das nações - e para onde elas levavam. Porém ao fim de 1911 ele foi subitamente acometido pela noção de que os eventos do dia só poderiam ser interpretados em termos "globais" e "culturais-totais". Ele via a Europa como marchando rumo ao suicídio, um primeiro passo na direção da destruição final da cultura européia no mundo e na história.
A Grande Guerra de 1914-1918 apenas confirmou em sua mente a validade de uma tese já desenvolvida. Sua obra planejada continuava aumentando em escopo, para muito além das fronteiras originais.
Spengler havia amarrado a maior parte de seu dinheiro em investimentos estrangeiros, mas a guerra havia de modo geral os invalidado, e ele foi forçado a passar os anos de guerra em condições de genuína pobreza. Não obstante, ele se manteve trabalhando, muitas vezes escrevendo à luz de vela, e em 1917 estava pronto para publicar. Ele encontrou grandes dificuldades em achar um editor, parcialmente por causa da natureza de sua obra, parcialmente por causa das condições caóticas dominando à época. Porém no verão de 1918, coincidente com o colapso alemão, finalmente apareceu o primeiro volume de O Declínio do Ocidente, subtitulado Forma e Atualidade.
Sucesso Editorial
Para não pouca surpresa tanto de Spengler como de seu editor, o livro foi um sucesso imediato e sem precedentes. Ele oferecia uma explicação racional para o grande desastre europeu, explicando-o como parte de um processo histórico-mundial inevitável. Leitores alemães especialmente o levaram no coração, mas a obra logo se provou popular por toda Europa e foi rapidamente traduzida para outras línguas. 1919 foi o "ano de Spengler", e seu nome estava em muitos idiomas.
Historiadores profissionais, porém, lidara com enorme ressentimento com essa obra pretensiosa de um amador (Spengler não era um historiador treinado), e suas críticas - particularmente de vários equívocos factuais e da abordagem única e incontritamente "não-científica" do autor - encheram muitas páginas. É mais fácil agora do que à época dispor dessa linha de rejeição-crítica. Mas de qualquer forma, em relação à validade de seu postulado sobre o rápido declínio ocidental, o spengleriano contemporâneo só precisa dizer uma coisa a seus críticos: Olhe ao seu redor. O que você vê?
Em 1922 Spengler publicou uma edição revisada do primeiro volume contendo pequenas correções e revisões, e o ano seguinte viu o aparecimento do segundo volume, subtitulado Perspectivas da História Mundial. Ele daí em diante permaneceu satisfeito com a obra, e todos os seus escritos e pronunciamentos posteriores são apenas ampliações sobre o tema disposto em Declínio.
Abordagem Direta
A idéia básica e os componentes essenciais de Declínio do Ocidente não são difíceis de compreender ou delinear. (Na verdade, é a própria simplicidade da obra que era excessiva para seus críticos profissionais). Primeiro, porém, uma compreensão adequada demanda um reconhecimento da abordagem especial spengleriana. Ele próprio a chamava de abordagem "fisiogmática" - olhar para as coisas diretamente na face ou coração, intuitivamente, ao invés de uma forma estritamente científica. Vezes demais o sentido real das coisas é obscurecido por uma máscara de "fatos" científico-mecanicistas. Daí a cegueira do historiador profissional "científico", que em uma grande falta de imaginação vê apenas o visível.
Utilizando sua abordagem fisiogmática, Spengler estava confiante em sua habilidade de decifrar o enigma da História - mesmo, como ele afirma na primeira frase de Declínio, predeterminar a história.
O que segue são seus postulados básicos:
1 - A visão "linear" da história deve ser rejeitada, em favor da cíclica. Até então a história, especialmente a história ocidental, tem sido vista como uma progressão "linear" do inferior para o superior, como plataformas em uma escada - uma ilimitada evolução para cima. A história ocidental é assim vista como se desenvolvendo progressivamente: Grega > Romana > Medieval > Renascentista > Moderna, ou, Antiga > Medieval > Moderna. Este conceito, insistia Spengler, é apenas um produto do ego do homem ocidental - como se tudo no passado apontasse para ele, existisse tão somente para que ele possa existir como uma forma mais aperfeiçoada.
Esse "esquema sem sentido e incrivelmente infantil" pode finalmente ser substituído por um agora discernível desde o ponto de vantagem dos anos e de um maior e mais fundamental conhecimento do passado: a noção da História como se movendo em ciclos definidos, observáveis e - exceto de pequenas maneiras - não relacionadas.
Altas Culturas
2 - Os movimentos cíclicos da história não são aqueles de meras nações, Estados, raças ou eventos, mas de Altas Culturas. A história gravada nos dá oito dessas "altas culturas": a indiana, a babilônica, a egípcia, a chinesa, a mexicana (maia-azteca), a árabe (ou "magiana"), a clássica (grega e romana), e a européia ocidental.
Cada Alta Cultura possui como traço de distinção um "símbolo primário". O símbolo egípcio, por exemplo, era o "Caminho", que pode ser visto na preocupação dos egípcios antigos - na religião, arte e arquitetura - com as passagens sequenciais da alma. O símbolo primário da cultura clássica era a preocupação com o "ponto-presente", ou seja, o fascínio pelo próximo, o pequeno, o "espaço" da visibilidade imediata e lógica: note aqui a geometria euclidiana, o estilo bidimensional da pintura clássica e da escultura em relevos (você jamais verá um ponto de fuga no fundo, isto é, onde até mesmo haja algum fundo), e especialmente: a ausência de expressão facial dos bustos e estátuas gregos, significando nada além ou por trás do exterior.
O símbolo primário da cultura ocidental é a "alma faustiana" (do conto do Doutor Faustus), simbolizando o anseio dirigido para cima rumo a nada menos que o "Infinito". Este é basicamente um símbolo trágico, pois ele busca alcançar até mesmo aquilo que se considera inalcançável. É exemplificado, por exemplo, pela arquitetura gótica (especialmente os interiores das catedrais góticas, com suas linhas verticais e aparente "falta de teto").
O "símbolo primário" afeta tudo na Cultura, se manifestando na arte, ciência, técnica e política. Cada alma-símbolo de uma cultura se expressa especialmente em sua arte, e cada Cultura possui uma forma de arte que é mais representativa de seu próprio símbolo. No clássico, eram escultura e drama. Na cultura ocidental, após a arquitetura na era gótica, a grande forma representativa foi a música - atualmente a expressão mais perfeita da alma faustiana, transcendendo como o faz os limites da visão pelo mundo "ilimitado" do som.
Desenvolvimento "Orgânico"
3 - Altas Culturas são coisas "vivas" - orgânicas em natureza - e devem passar pelas fases de nascimento-desenvolvimento-plenitude-decadência-morte. Daí uma "morfologia" da história. Todas as culturas anteriores passaram por essas fases distintas, e a cultura ocidental não pode ser exceção. Na verdade, sua fase atual no processo de desenvolvimento orgânico pode ser precisada.
O ponto alto de uma Alta Cultura é sua fase de plenitude - chamada de fase "cultural". O início do declínio e decadência em uma Cultura é o ponto de transição entre sua fase "cultural" e a fase "civilizacional" que inevitavelmente segue.
A fase "civilizacional" testemunha drásticas reviravoltas sociais, movimentos massivos de povos, guerras contínuas e crises constantes. Tudo isso se passa paralelamente ao crescimento das grandes "megalópoles" - imensos centros urbanos e suburbanos que sugam os interiores circundantes de sua vitalidade, intelecto, força e alma. Os habitantes dessas conglomerações urbanas - agora o grosso da população - são uma massa desenraizada, desalmada e materialista, que não amam nada além de seu panem et circenses. Desses vem os sub-humanos fellaheen - participantes dignos nos estertores finais de uma cultura.
Com a fase civilizacional vem o mando do Dinheiro e seus instrumentos gêmeos, Democracia e Imprensa. O Dinheiro governa sobre o caos e só o Dinheiro lucra com isso. Mas os verdadeiros portadores da cultura - os homens cujas almas ainda estão unidas à alma-cultural - se sentem enojados e repelidos pelo poder-dinheiro e seus fellaheen, e agem para rompê-lo, como se fossem compelidos a isso - e conforme a alma-cultural das massas compele finalmente ao fim da ditadura do dinheiro. Assim a fase civilizacional conclui com a Era do Cesarismo, onde grande poder chega às mãos de grandes homens, ajudados nisso pelo caos do mando do Dinheiro. O advento dos Césares marca o retorno de Autoridade e Dever, de Honra e "Sangue", e o fim da democracia.
Com isso chega a fase "imperialista" da civilização, na qual os Césares com seus bandos de seguidores se enfrentam uns aos outros pelo controle do mundo. As grandes massas são incompreensíveis e indiferentes; as megalópoles lentamente se despovoam, e as massas gradativamente "retornam à terra", para se ocuparem lá com as mesmas tarefas rurais que seus ancestrais séculos antes. A tormenta de eventos se dá por cima de suas cabeças. Agora, em meio a todo o caos dos tempos, vem uma "segunda religiosidade"; um retorno nostálgico aos velhos símbolos da fé da cultura. Fortificadas dessa forma, as massas em um tipo de contentamento resignado enterram suas almas e seus esforços no solo a partir do qual eles e sua cultura emergiram, e contra esse pano de fundo a morte da Cultura e da civilização que ela criou se desenrola.
Ciclos Vitais Previsíveis
O ciclo vital de cada Cultura parece durar por volta de mil anos: a clássica existiu de 900 a.C. a 100 d.C.; a árabe (hebraico-semítica islamo-cristã) de 100 a.C. a 900 d.C.; a ocidental de 1000 d.C. a 2000 d.C. Porém, essa extensão é a ideal, no sentido de que uma expectativa de vida ideal de um homem é 70 anos de idade, ainda que ele possa nunca alcançar essa idade, ou viver muito além dela. A morte de uma Cultura pode na verdade se desenrolar por centenas de anos, ou pode ocorrer instantaneamente por causa de forças exteriores - como no fim súbito da Cultura Mexicana.
Também, ainda que cada cultura possua sua Alma única e seja em essência uma entidade especial e separada, o desenvolvimento do ciclo vital é paralelo em todas elas: Para cada fase do ciclo em uma dada cultura, e para todos os grandes eventos afetando seu curso, há uma contraparte na história de cada outra cultura. Assim, Napoleão, que inaugurou a fase civilizacional da ocidental, encontra sua contraparte em Alexandre da Macedônia, que fez o mesmo para a clássica. Daí a "contemporaneidade" de todas as altas culturas.
Em um rascunho simples esses são os componentes essenciais da teoria spengleriana dos ciclos culturais históricos. Em umas poucas frases ela pode se resumir assim:
A história humana é o registro cíclico da ascensão e queda de Altas Culturas não relacionadas. Essas Culturas são na realidade super formas vitais, isto é, elas são orgânicas em natureza, e como todos os organismos devem passar pelas fases de nascimento-vida-morte. Ainda que entidades separadas em si mesmas, todas as Altas Culturas experimentam desenvolvimento paralelo, e eventos e fases em qualquer uma encontram seus eventos e fases correspondentes nas outras. É possível desde o ponto de vantagem do século XX deduzir do passado o sentido da história cíclica, e assim prever o declínio e queda do Ocidente.
Desnecessário dizer, tal teoria - ainda que mais ou menos prenunciada na obra de Giambattista Vico e no russo oitocentista Nikolai Danilevsky, bem como em Nietzsche - estava destinada a abalar as fundações do mundo intelectual e semi-intelectual. Ela o fez parcialmente devido ao momento oportuno, e parcialmente ao brilhantismo (ainda que não sem falhas) com o qual Spengler a apresentou.
Estilo Polêmico
Há livros mais fáceis de ler do que Declínio - há também mais difíceis - mas uma grande razão para seu sucesso popular (para esse tipo de obra) sem precedentes foi a mesma razão para sua desconsideração geral da parte dos críticos acadêmicos. Desprezando o tipo de "eruditismo" que demandava somente afirmações cautelosas e judiciosas - cada uma apoiada por uma nota de rodapé - Spengler deu vazão a suas opiniões e juízos. Muitas passagens estão ao estilo de uma polêmica onde nenhuma discordância é tolerada.
Certamente, os dois volumes de Declínio, não importa quão cheio de opiniões o estilo e quão pouco convencional a metodologia, são essencialmente uma justificativa compreensiva das idéias apresentadas, retirada das histórias das diferentes Altas Culturas. Ele usou o método comparativo que, é claro, é apropriado se de fato todas as fases de uma Alta Cultura forem contemporâneas com as de qualquer outra. Nenhum homem poderia ter um conhecimento igualmente amplo de todas as Culturas examinadas, daí o tratamento de Spengler ser desigual, ele gasta relativamente pouco tempo na mexicana, indiana, egípcia, babilônica e chinesa - se concentrando na árabe, na clássica e na ocidental, especialmente essas últimas duas. A porção mais valiosa da obra, como mesmo seus críticos reconhecem, é a delineação comparativa dos desenvolvimentos paralelos das culturas clássica e ocidental.
O vasto conhecimento de Spengler sobre as artes lhe permitiu enfatizar sua importância para o simbolismo e sentido interior de uma Cultura, e as passagens sobre formas de arte são geralmente consideradas como estando entre as mais instigantes. Também notável é um capítulo (o primeiro, na verdade, após a Introdução) sobre "O Significado dos Números", onde ele afirma que mesmo a matemática - supostamente o único campo certamente "universal" do conhecimento - possui um significado diferente em diferentes culturas: números são relativos aos povos que os usam.
A "verdade" é similarmente relativa, e Spengler concedeu que o que pode ser verdadeiro para ele pode não ser verdadeiro para outro - mesmo para outro completamente da mesma cultura e era. Assim uma das maiores inovações de Spengler pode ser talvez sua postulação da não-universalidade das coisas, a "diferencialidade" ou distintividade de diferentes povos e culturas (apesar de seu fatídico fim comum - uma idéia que está começando a se enraizar no Ocidente moderno, que começou este século supremamente confiante na sabedoria e possibilidade de moldar o mundo a sua imagem e semelhança).
Era de Césares
Mas foi a sua colocação do Ocidente atual em seu esquema histórico que despertou mais interesse e mais controvérsia. Spengler, como o título de sua obra sugere, viu o Ocidente como fadado à mesma extinção eventual que todas as outras Altas Culturas haviam conhecido. O Ocidente, ele disse, estava agora no meio de sua fase "civilizacional", que havia começado, aproximadamente, com Napoleão. A vinda dos Césares (dos quais Napoleão foi apenas o prenúncio) estava talvez apenas há décadas de distância. Ainda assim Spengler não aconselhou qualquer tipo de resignação pesarosa ao destino, ou aceitação desleixada da derrota e morte vindouras. Em um ensaio posterior, "Pessimismo?" (1922), ele escreveu que os homens do Ocidente devem ainda ser homens, e fazer tudo que puderem para perceber as imensas possibilidades ainda abertas. Acima de tudo, eles devem abraçar o único imperativo absoluto: A destruição do Dinheiro e da democracia, especialmente no campo da política, este imenso campo de atividade.
Socialismo "Prussiano"
Após a publicação do primeiro volume de Declínio, os pensamentos de Spengler se voltaram cada vez mais para a política contemporânea na Alemanha. Após experimentar a revolução bávara e sua curta república soviética, ele escreveu um pequeno volume chamado Prussianismo e Socialismo. Seu tema era que um equívoco trágico dos conceitos estava em andamento: Conservadores e socialistas, ao invés de estarem nas antípodas, deveriam se unir sob o estandarte de um verdadeiro socialismo. Este não seria a abominação marxista-materialista, ele disse, mas essencialmente a mesma coisa que o Prussianismo: um socialismo da comunidade germânica, baseado em sua ética de trabalho, disciplina e hierarquia orgânica singulares ao invés do "dinheiro". Esse socialismo "prussiano" ele contrastou marcadamente tanto à ética capitalista da Inglaterra como ao "socialismo" de Marx, cujas teorias se resumiriam a "capitalismo para o proletariado".
Em suas propostas corporativistas Spengler antecipou os fascista, ainda que ele nunca tivesse sido um, e seu "socialismo" fosse essencialmente o mesmo que o dos Nacional-Socialistas (mas sem o racialismo völkisch). Sua apreciação por uma corporação da qual o Estado teria o controle diretivo mas não a propriedade ou a responsabilidade direta sobre os vários segmentos privados da economia soava muito como a posterior avaliação favorável da economia Nacional-Socialista por Werner Sombart em sua Uma Nova Filosofia Social.
Prussianismo e Socialismo não teve uma reação favorável da crítica ou do público - ainda que o público estivesse inicialmente ansioso para conhecer suas opiniões. A mensagem do livro era considerava muito "visionária" e excêntrica - ela desafiava muitas linhas partidárias. Os anos de 1920-23 viram Spengler voltar à preocupação com a revisão do primeiro volume de Declínio, e ao término do segundo. Ele ocasionalmente dava palestras, e escrevia alguns ensaios, poucos dos quais sobreviveram.
Envolvimento Político
Em 1924, após a reviravolta sócio-econômica da terrível inflação, Spengler entrou na briga política em um esforço para trazer o general da Reichswehr Hans von Seekt ao poder como líder nacional. Mas o esforço não rendeu. Spengler se provou totalmente ineficaz na prática política. Era a velha história do "rei-filósofo", que era mais filósofo do que rei (ou fazedor de reis).
Após 1925, no início do breve período de estabilidade relativa da República de Weimar, Spengler devotou a maior parte de seu tempo a sua pesquisa e à escrita. Ele estava particularmente preocupado com o fato de ter deixado um vazio importante em sua grande obra - o da pré-história do homem. Em Declínio ele havia escrito que o homem pré-histórico estava basicamente sem uma história, mas ele revisou essa opinião. Seu trabalho sobre o tema foi apenas fragmentário, mas 30 anos após sua morte uma compilação foi publicada sob o título Período Primitivo da História Mundial.
Sua principal tarefa como ele a via, porém, era uma grande e compreensiva obra sobre sua metafísica - da qual Declínio havia dado apenas indícios. Ele jamais a terminou, ainda que Questões Fundamentais, basicamente uma coletânea de aforismas sobre o tema, tenha sido publicado em 1965.
Em 1931 ele publicou O Homem e a Técnica, um livro que refletia seu fascínio com o desenvolvimento e uso, no passado e no futuro, do técnico. O desenvolvimento de tecnologia avançada é único ao Ocidente, ele previu para onde isso levaria. O Homem e a Técnica é um livro racialista, ainda que não no sentido "germânico" estreito. Ao invés ele alerta as raças européias ou brancas do perigo crescente das raças de cor. Ele prevê um tempo em que os povos de cor da Terra usarão a própria tecnologia do Ocidente para destruir o Ocidente.
Reservas em relação a Hitler
Há muito no pensamento de Spengler que permite que ele seja caracterizado como algum tipo de "proto-nazi": seu chamado por um retorno à Autoridade, sue ódio à democracia "decadente", sua exaltação do espírito do "Prussianismo", sua idéia da guerra como essencial à vida. Porém, ele jamais se uniu ao Partido Nacional-Socialista, apesar de repetidos convites de luminares como Gregor Strasser e Ernst Hanfstängl. Ele considerava os Nacional-Socialistas como imaturos, fascinados com marchinhas de banda e slogans patrióticos, brincando com a bola do poder mas não percebendo a significância filosófica e os novos imperativos da era. De Hitler se supõe ter dito que o que a Alemanha precisava era de um herói, não de um tenor. Ainda assim, ele votou em Hitler contra Hindenburg nas eleições de 1932. Ele se encontrou com ele pessoalmente apenas uma vez, em julho de 1933, mas Spengler saiu pouco impressionado de sua longa conversa.
Suas opiniões sobre os Nacional-Socialistas e a direção que a Alemanha deveria estar tomando apareceram ao fim de 1933, em seu livro A Hora da Decisão. Ele começa afirmando que ninguém poderia ter desejado pela revolução Nacional-Socialista tanto quanto ele. No curso da obra, porém, ele expressou (às vezes de forma velada) suas reservas sobre o novo regime. Ainda que ele fosse certamente germanófilo, não obstante ele via os Nacional-Socialistas como muito estreitamente germânicos em caráter, e não suficientemente europeus.
Ainda que ele continuasse o tom racialista de O Homem e a Técnica, Spengler fez pouco do que ele considerada como a exclusivismo do conceito Nacional-Socialista de raça. Em face do perigo exterior, o que deveria ser enfatizado é a unidade das várias raças européias, não sua fragmentação. Para além de um reconhecimento prático do "perigo das raças de cor" e da superioridade da civilização branca, Spengler repetiu sua própria concepção "não-materialista" da raça (que já havia sido expressa em Declínio): Certos homens - qualquer seja sua origem - possuem "raça" (um tipo de vontade de poder), e estes são os fazedores da história.
Prevendo uma Segunda Guerra Mundial, Spengler alertou em A Hora da Decisão que os Nacional-Socialistas não estavam suficientemente vigilantes em relação às poderosas forças hostis fora do país que se mobilizariam para destruí-los, e a Alemanha. Sua crítica mais direta foi expressa dessa forma: "E os Nacional-Socialistas acreditam que eles podem ignorar o mundo ou se opôr a ele, e construir seus castelos em nuvens sem criar uma possivelmente silenciosa, ainda que muito palpável reação vinda de fora". Finalmente, mas após já ter alcançado uma ampla circulação, as autoridades proibiram a distribuição continuada do livro.
Oswald Spengler, pouco após prever que em uma década não haveria mais um Reich Alemão, morreu de um ataque cardíaco em 8 de maio de 1936, em seu apartamento de Munique. Ele foi para a morte convicto de que ele havia estado certo, e que os eventos estavam se desdobrando em cumprimento do que ele havia escrito em Declínio do Ocidente. Ele estava certo de que ele viveu no período crepuscular de sua Cultura - que, apesar de suas previsões agourentas e sombrias, ele amava profundamente até o fim.