23/06/2013

Andrew Tait - De Istambul ao Brasil: Neoliberalismo, Democracia e Resistência

por Andrew Tait



Três semanas atrás, a polícia avançou para limpar um campo de manifestantes em um parque urbano, para abrir espaço para um shopping.

Os manifestantes eram de vários tipos: esquerdistas, ambientalistas, até arquitetos, que sentiam não possuir outra opção que a ação direta para deter a destruição de outro pedaço de história, outro parque, outro espaço social partilhado. A polícia avançou com brutalidade, com força quase letal. Imagens de sua violência foram partilhadas na internet e instantaneamente despertaram a raiva de centenas de milhares de pessoas, especialmente os jovens. Após três semanas de protestos e contraprotestos, a polícia conseguiu limpar e ocupar a praça e os protestos se silenciaram. Mas após a polícia ter avançado, operários avançaram, plantando árvores e flores - talvez um sinal de que a construção do shopping havia sido abandonada.

Em outro lugar, um protesto contra o preço dos transportes públicos foi atacado pela polícia, fazendo transbordar a raiva e protestos e levantes análogos. Em uma cidade, um prédio da polícia foi incendiado e a Prefeitura foi atacada. O governo recuou e os aumentos de preço foram descartados, mas os protestos estão continuando - agora contra o gasto de bilhões em sediar um evento desportivo ao invés de financiar saúde e educação.

O primeiro país é a Turquia e o segundo é o Brasil. Os mesmos eventos poderiam ter ocorrido em quase qualquer país desenvolvido - em Auckland, Jo'burg, Paris, Pequim. Ainda que cada país tenha sua cultura e história, há uma convergência política massiva em operação de Istambul ao Brasil.

Uma razão muitas vezes sugerida para essa convergência é a internet. A habilidade de compartilhar não apenas mensagens, mas imagens, filmes e música erodiu as fronteiras tradicionais entre jovens em diferentes países e rompeu as amarras do monopólio midiático.

Mas ainda que essa tecnologia seja muito importante, há uma razão mais profunda: o neoliberalismo globalizou a produção, o que significa que o trabalho e salários são similares em mais países do que jamais antes, e o neoliberalismo privou a democracia de conteúdo real porque "não há alternativa" ao mercado e à austeridade. Há mais países supostamente democráticos no mundo do que em toda a história - mas a amplitude de escolhas políticas e de participação dos cidadãos está declinando.

Tanto Brasil como Turquia são "novas democracias", que somente emergiram de ditaduras militares na década de 80. Ambos possuem economias florescentes. O Brasil emergiu do status terceiromundista semicolonial para se tornar a sétima maior economia do mundo. Ele é comumente citado, junto da Rússia, Índia e China, como uma potência emergente. A Turquia, apesar de menor, também tem desfrutado de um elevado crescimento do PIB recentemente, mas o benefício desse crescimento, como no Brasil, não tem sido bem distribuído. Ele é agora um dos países mais desiguais na OECD.

Os protestos no Brasil e na Turquia demonstram que nem tudo vai bem. Porém, seus governos estão ávidos por desmentir qualquer idéia de que uma revolução esteja no ar. O Presidente turco Abdullah Gul recentemente garantiu a empresários ansiosos que estes eventos não eram comparáveis às revoluções que eclodiram na Tunísia e no Egito em 2011. Se dirigindo a um encontro da Associação de Investidores Internacionais da Turquia apenas um dia depois do mercado de ações de Istambul cair 10.5% em resposta à reviravolta popular, Gul disse: "Dois anos atrás em Londres, carros foram queimados e lojas foram saqueadas por causa de razões similares.

"Durante revoltas na Espanha devido a crise econômica, as pessoas encheram as praças.

"O Movimento Occupy Wall Street continuou por meses nos EUA. O que acontece na Turquia é similar a esses países".

Gul está ansioso por demonstrar que a Turquia, que é um país candidato a membro da União Européia, é mais similar ao Ocidente do que é à Síria. Isso é verdade, mas diz mais sobre a fragilidade da democracia ocidental do que da força da democracia turca.

A Nova Ordem Mundial: Estados falidos e Estados de Polícia

Durante a Guerra Fria, Estados autoritários, muitas vezes militarizados, eram a regra por todo lugar - mesmo em países sofrendo com guerras civis. Desde o fim da Guerra Fria, o colapso estatal tem se tornado cada vez mais comum - no Afeganistão, Somália, Mali, Congo, Iugoslávia, Iraque e mais recentemente, Síria.

No mundo bipolar da Guerra Fria, o colapso de um Estado era visto como uma oportunidade para o lado oposto - seja os EUA ou a URSS para avançar e estabelecer um regime cliente. No Terceiro Mundo, regimes autoritários, ou pró-EUA ou pró-URSS foram encorajados e a democracia formal sofreu. Brasil e Turquia foram regimes autoritários pró-EUA. As ditaduras militares das décadas de 70 e 80 foram estabelecidas em relação ao movimento de 1968, a mais recente rebelião mundial da juventude e dos trabalhadores para abalar o capitalismo.

Na França, Espanha, Portugal e Grécia, os movimentos populares foram bem sucedidos em derrubar governos de estilo autoritário e deram início a uma era mais liberal, mas na Turquia e no Brasil, a democracia era vista como um luxo desnecessário, pelo medo de que eleições levariam esses países a se unirem ao "Lado Negro" - a URSS.

Brasil e Turquia, como o Chile, se tornaram campo de testes para uma nova teoria econômica - o neoliberalismo - que pregava a privatização e a austeridade ao invés de welfare e desenvolvimento industrial liderado pelo Estado. As Forças Armadas forma capazes de esmagar sindicatos e a oposição campesina e abrir partes da economia mundial para a finança internacional - principalmente americana mas também de outros jogadores, tais como o Desafio de Fletcher na Nova Zelândia.

Inicialmente, esses experimentos pareceram ter sucesso. Riqueza massiva foi criada - para as elites - em um round renovado de acumulação primitiva conforme salários são cortados, e a segurança ambiental desconsiderada. O neoliberalismo cresceu de modo prolífico conforme foi lavado com o sangue de centenas de milhares de ativistas da oposição, camponeses e trabalhadores.

Então o "tiro saiu pela culatra" no Primeiro Mundo conforme os assessores militares e financeiros ocidentais dos regimes neoliberais militares no Terceiro Mundo - Negroponte por exemplo - começaram a voltar sua atenção para o que poderia ser alcançado pelo neoliberalismo no Primeiro Mundo também.

Margaret Thatcher foi eleita em 1979 no Reino Unido e Ronald Reagan em 1980 nos Estados Unidos. Ambos visaram destruir o movimento sindical, acabar com a previdência social e privatizar tudo que se movesse. Seus métodos foram copiadas por todo o Primeiro Mundo, e na Nova Zelândia sob David Lange.

Os resultados foram uma ampliação massiva na disparidade entre ricos e pobres, e um enfraquecimento da democracia. Muito simplesmente, no passado, muito mais da vida estava ou sob controle estatal (por exemplo, a antiga Câmara de Eletricidade neozelandesa) ou não estava nem sob controle estatal ou de mercado - as pessoas eram donas das próprias casas, cultivavam mais a própria comida, participavam em esportes e grupos comunitários que erram independentes do mercado ou do Estado. Isso significava que as comunidades possuíam maior autonomia sobre suas vidas do que hoje.

Uma ilustração clássica do neoliberalismo são as medidas do Governo Nacional que forçam mães solteiras a trabalhar. Se espera de mulheres que recebem auxílio e que tem outro filho que entreguem a criança para uma creche e vão trabalhar. O Estado força as mulheres a voltarem ao mercado de trabalho e a usarem assistência infantil privatizada.

Outro efeito tem sido a perda de empregos, especialmente na manufatura, para o outrora Terceiro Mundo. Capitalistas chineses, turcos e brasileiros tem todos eles se beneficiado do outsourcing de fábricas para economias que pagam salários baixos.

A estabilidade do Primeiro Mundo, com democracia, partidos trabalhistas, sindicatos e empregos vitalícios está cada vez mais se parecendo com algo do passado. Enquanto isso, nos países em desenvolvimento, a riqueza material que supostamente deveria garantir um melhor padrão de vida e mais liberdade para todos ao invés tem sido sugada pelos ricos - locais e ultramarinos.

Isso por sua vez tem significado que os padrões de vida dos jovens por todo o mundo começam a se tornar parecidos.

Resistência

Como resultado, a resistência parece mais e mais a mesma, de Wall Street à Praça Gezi. Não só estamos usando a mesma tecnologia, nós também estamos trabalhando nos mesmos tipos de empregos (até para as mesmas companhias), com segurança do trabalho cada vez mais similar, enfrentando as mesmas lutas para pagar por comida e moradia, e manter nosso débito privado sob controle.

Politicamente, enquanto as pessoas no antigo Terceiro Mundo tem que lidar com o legado antidemocrático do autoritarismo - milhares de pessoas tem sido presas em batidas matinais - na Nova Zelândia e em outros lugares no antigo Primeiro Mundo nós também temos cada vez menos controle sobre a política.

Na turquia, o Ministro da União Européia Egemen Bagis disse "De agora em diante o Estado infelizmente terá que considerar todos que permanecem aqui [na Praça Gezi] um apoiador ou membro de uma organização terrorista". Na Nova Zelândia, o governo trabalhista introduziu legislação anti-terror afirmando que ela não seria usada contra neozelandeses, mas então a usou (obviamente) contra os maori.

Nós temos cada vez menos controle sobre a política, a política partidária decaiu e nós somos mais do que nunca um Estado de Polícia - de todas as maneiras.

Isso quer dizer que os protestos acontecem com menos frequência, mas quando ocorrem eles são mais explosivos e imprevisíveis.

Há grandes perigos aí. Até então tenho falado sobre Estados autoritários que foram transformados na década de 80 em democracias neoliberais, mas em muitos outros países, os Estados autoritários jamais se transformam, eles apenas entram em colapso.

Saddam Hussein, Assad, Mubarak e Gaddafi regiam regimes capitalistas ou nacional-capitalistas, e agora todos com exceção do Egito estão se dissolvendo no caos. A loucura do mercado que substitui trens por caros e destrutivos carros e caminhões privados e falha de novo e de novo em fornecer as necessidades básicas pode levar a um tipo de loucura mais cruel e mais atávico, onde as pessoas dependem do patronato e de redes comunitárias para sobreviver em uma competição violenta.

A maior parte da África é mantida nessa condição, com pouca esperança de um Occupy Wall Street ou de uma Praça Tahrir romper o controle oligárquico, por causa do nível de violência e tribalismo. Essa não é uma crítica cultural. Isso poderia acontecer em qualquer lugar.

A Iugoslávia já foi uma economia próspera, ao estilo ocidental, altamente educada e industrializada, com comunidades bem integradas, que do dia para a noite decaiu na selvageria tribalista. A combinação de austeridade neoliberal com política nacionalista se provou aguda demais para que aquele país suportasse.

A chave, como sempre, é a classe trabalhadora organizada. No Egito a revolução derrubou Mubarak rapidamente, por causa do poder da classe trabalhadora organizada. Na Turquia, a classe trabalhadora organizada, sofrida e ferida por anos de repressão e leis anti-sindicais, não foi capa de se mobilizar em números convincentes em apoio aos protestos de Gezi. Sem a classe trabalhadora, nos sobra a visão do "Homem Em Pé", um indivíduo solitário confrontando o Estado de uma maneira bastante estética, mas puramente simbólica.

13/06/2013

Noam Chomsky - Como Destruir um Planeta Quase sem Querer

por Noam Chomsky



O que será do futuro, provavelmente? Uma ideia razoável para saber pode ser olhar para a espécie humana de fora. Então, imagine que você é um observador extraterrestre que está tentando descobrir o que está acontecendo aqui, ou imagine que você é um historiador daqui a 100 anos – supondo que existirão historiadores daqui a 100 anos, o que não é óbvio – e você estará olhando para o que está acontecendo hoje. Você veria algo bastante notável.

Pela primeira vez na história da espécie humana, nós claramente desenvolvemos a capacidade de nos destruir. Isso tem sido verdadeiro desde 1945. Agora estamos finalmente reconhecendo que há processos de mais longo prazo, como a destruição ambiental que conduz na mesma direção, talvez não a destruição total, mas pelo menos a destruição de uma existência decente.

E há outros perigos, como pandemias, que têm a ver com a globalização e a interação. Portanto, há processos em andamento e instituições ideais, como sistemas de armas nucleares, para levar-nos a sério golpe, ou talvez o término de uma existência organizada.

Como destruir um planeta sem querer

A questão é: o que as pessoas estão fazendo sobre isso? Nada disso é um segredo. Na verdade, você tem que fazer um esforço para não ver.

Tem havido uma série de reações. Há aqueles que estão se esforçando para fazer alguma coisa sobre essas ameaças e outros que estão agindo para sua escalada. Se você verificar quem eles são, esse historiador do futuro ou observador extraterrestre iria ver algo realmente estranho. Tentando mitigar ou superar essas ameaças estão as sociedades menos desenvolvidas, as populações indígenas, ou o que restou delas, sociedades tribais e as primeiras nações do Canadá. Eles não estão falando de uma guerra nuclear, mas do desastre ambiental, e estão realmente tentando fazer alguma coisa.

Na verdade, em todo o mundo – Austrália, Índia, América do Sul – há batalhas acontecendo, por vezes, guerras. Na Índia, é uma grande guerra sobre a destruição ambiental direta, com sociedades tribais que tentam resistir a extrações de recursos que são extremamente prejudiciais localmente, mas também tem suas conseqüências gerais. Em sociedades onde as populações indígenas têm uma influência, muitos estão tomando uma posição. O movimento mais forte no que diz respeito ao aquecimento global está na Bolívia, que tem uma maioria indígena e normas constitucionais que protegem os “direitos da natureza”.

O Equador, que também tem uma grande população indígena, é o único exportador de petróleo onde o governo está buscando ajuda para manter o petróleo no solo, em vez de produzir e exportar – e o chão é o lugar onde ele deveria estar.

As sociedades mais ricas e poderosas da história do mundo, como Estados Unidos e Canadá, estão correndo a toda velocidade para destruir o meio ambiente o mais rápido possível.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, que morreu recentemente, foi objeto de zombaria, insulto e ódio de todo o mundo ocidental quando participou de uma sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, há alguns anos, em que chamou George W. Bush de diabo. Ele também fez um discurso bastante interessante. Claro, a Venezuela é um grande produtor de petróleo. O petróleo é praticamente todo o seu produto interno bruto. Nesse discurso, ele alertou para os perigos do uso excessivo de combustíveis fósseis e pediu aos países produtores e consumidores para se reunir e tentar descobrir formas de reduzir o uso de combustíveis fósseis. Isso foi muito surpreendente vindo de um produtor de petróleo. Você sabe, ele era parte indígena. Ao contrário das coisas engraçadas que disse, esse aspecto de suas ações na ONU nunca foi sequer relatado.

Assim, em um extremo você tem as sociedades indígenas, tribais, tentando conter a corrida para o desastre. No outro extremo, as sociedades mais ricas e poderosas da história do mundo, como Estados Unidos e Canadá, correndo para destruir o meio ambiente o mais rápido possível.

Ambos os partidos políticos americanos, o presidente Obama e a mídia internacional parecem estar olhando com grande entusiasmo para o que chamam “um século de independência energética” nos Estados Unidos. A independência energética é um conceito quase sem sentido, mas deixemos isso de lado. O que eles querem dizer é: teremos um século para maximizar o uso de combustíveis fósseis e contribuir para destruir o mundo.

Na verdade, quando se trata de desenvolvimento de energia alternativa, a Europa está fazendo alguma coisa. Enquanto isso, os EUA, o país mais rico e poderoso na história do mundo, são a única nação entre as 100 mais relevantes que não tem uma política nacional para restringir o uso de combustíveis fósseis e nem sequer tem metas para as energias renováveis. Não é por que a população não queira. Os americanos estão muito perto da norma internacional em sua preocupação com o aquecimento global. Interesses comerciais não permitem isso e são esmagadoramente poderosos na determinação da política.

Então é isso o que o futuro historiador – se houver – veria. Ele também pode ler revistas científicas de hoje. Mas cada uma que você abre tem uma previsão mais terrível do que a outra.

“O momento mais perigoso na História”



A outra questão é a guerra nuclear. É sabido há muito tempo que, se houvesse um primeiro ataque de uma grande potência, mesmo sem retaliação, provavelmente isso destruiria a civilização apenas por causa das conseqüências do inverno nuclear que se seguiria. Você pode ler sobre isso no Boletim de Cientistas Atômicos. Assim, o perigo sempre foi muito pior do que pensávamos que era.

Acabamos de passar o 50º aniversário da Crise dos Mísseis de Cuba, que foi chamado de “o momento mais perigoso da história” pelo historiador Arthur Schlesinger, assessor do presidente John F. Kennedy. E era mesmo. Era um alerta, e não o único. Em alguns aspectos, no entanto, a coisa mais desagradável é que as lições não têm sido aprendidas.

O que aconteceu na crise dos mísseis em outubro de 1962 foi enfeitado para parecer que atos de coragem abundavam. A verdade é que todo o episódio era quase insano. Houve um momento, quando a crise chegava ao auge, que o premiê soviético Nikita Khrushchev escreveu a Kennedy oferecendo-se para liquidar a crise em troca do anúncio público da retirada dos mísseis russos de Cuba e dos mísseis americanos na Turquia. Na verdade, Kennedy nem sabia que os EUA tinham mísseis na Turquia naquele momento. Eles estavam sendo retirados de qualquer maneira porque seriam substituídos por submarinos nucleares Polaris, mais letais e invulneráveis.

Essa foi a oferta. Kennedy e seus assessores a consideraram – e rejeitaram. Kennedy estava disposto a aceitar um risco muito elevado de destruição em massa, a fim de estabelecer o princípio de que nós – e só nós – temos o direito de ter mísseis ofensivos além das nossas fronteiras, na verdade em qualquer lugar que quisermos, não importa o risco. Nós temos esse direito e mais ninguém.

Khrushchev tinha de ser humilhado e Kennedy tinha de manter sua imagem de macho. Ele é muito elogiado por isso: a coragem e a frieza sob ameaça e assim por diante. O horror de suas decisões não é sequer mencionado.

Um par de meses antes de a crise explodir, os Estados Unidos tinham enviado mísseis com ogivas nucleares a Okinawa. Estes foram apontados para a China durante um período de grande tensão regional.

Bem, quem se importa? Temos o direito de fazer o que quisermos em qualquer lugar do mundo. Essa foi uma lição cruel daquela época, mas outras viriam.

Dez anos depois, em 1973, o secretário de Estado Henry Kissinger fez um alerta nuclear de alto nível. Era a sua maneira de advertir os russos para não interferir no curso da guerra árabe-israelense. Felizmente, não aconteceu nada.

O que fazer com as crises nucleares iranianas e norte-coreanas

No momento, a questão nuclear é frequentemente noticiada no caso da Coréia do Norte e do Irã.

Tomemos o caso do Irã, que é considerado no Ocidente – não no mundo árabe, e não na Ásia – a mais grave ameaça à paz mundial. É uma obsessão ocidental, e é interessante olhar para as razões disso, mas vou deixar de lado aqui. Existe uma maneira de lidar com a suposta grave ameaça à paz mundial? Uma forma, bonita e sensata, foi proposta dois meses atrás em uma reunião dos países não alinhados em Teerã. Na verdade, eles estavam apenas reiterando uma proposta que existe há décadas e foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU.

A proposta é avançar para o estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares na região. Isso não seria a resposta para tudo, mas seria um passo muito significativo adiante. E havia maneiras de proceder assim. O que aconteceu?

Você não vai ler sobre isso nos jornais porque não foi relatado – apenas em revistas especializadas. No início de novembro, o Irã concordou em participar da reunião. Dois dias depois, Obama cancelou a reunião, dizendo que não era o momento certo. O Parlamento Europeu emitiu uma declaração pedindo para que ele confirmasse a presença, assim como os estados árabes. Nada resultou. Então, avançamos para sanções cada vez mais duras contra a população iraniana – sem ferir o regime — e talvez a guerra. Quem sabe o que vai acontecer?

No nordeste da Ásia, é a mesma coisa. A Coréia do Norte pode ser o país mais louco do mundo. É certamente um bom concorrente para esse título. Imagine a situação dos norte-coreanos.

Tenha em mente que a liderança norte-coreana provavelmente leu os relatórios militares públicos dos EUA explicando que, como tudo na Coréia do Norte tinha sido destruído, a Força Aérea seria enviada para destruir as barragens, enormes represas que controlavam o abastecimento de água – um crime de guerra, por sinal, pelo qual pessoas foram enforcadas em Nuremberg. E esses relatórios oficiais falavam animadamente sobre como era maravilhoso ver a água escorrendo, escavando os vales, e os asiáticos correndo em volta, tentando sobreviver. Os relatos exultavam sobre o que isso significava aqueles “asiáticos”, horrores além da nossa imaginação. Isso significava a destruição de sua cultura do arroz, que por sua vez significava fome e morte. Magnífico! Não está na nossa memória, mas está na deles.

Vamos voltar ao presente. Há uma história recente interessante. Em 1993, Israel e Coréia do Norte caminhavam na direção de um acordo em que a Coreia do Norte iria parar de enviar quaisquer mísseis ou tecnologia militar para o Oriente Médio e Israel iria reconhecer aquele país. O presidente Clinton interveio e bloqueou. Pouco depois, em represália, a Coreia do Norte realizou um teste de mísseis menor. Os EUA e a Coréia do Norte, em seguida, chegaram a um acordo em 1994, que interrompeu o esforço nuclear e foi mais ou menos honrado por ambos os lados. Quando George W. Bush chegou ao poder, a Coreia do Norte tinha talvez uma arma nuclear verificável e não estava produzindo mais nada.

Bush imediatamente lançou seu militarismo agressivo, ameaçando a Coréia do Norte – o “eixo do mal”. No momento em que Bush deixou o cargo, eles tinham de oito a 10 armas nucleares e um sistema de mísseis, outra grande conquista neocon. Nesse meio tempo, outras coisas aconteceram. Em 2005, os EUA e a Coréia do Norte chegaram a um acordo em que a Coreia do Norte acabaria com todas as armas nucleares e o desenvolvimento de mísseis. Em contrapartida, o Ocidente, principalmente nos Estados Unidos, proporcionaria um reator de água para suas necessidades médicas e daria fim a declarações agressivas. Eles, então, firmaram um pacto de não-agressão e se moveram em direção à acomodação.

Foi muito promissor, mas quase imediatamente Bush minou tudo. Ele retirou a oferta do reator de água leve e os programas para obrigar os bancos a interromper o processamento de todas as transações da Coréia do Norte, mesmo as perfeitamente legais. Os norte-coreanos reagiram reavivando seu programa de armas nucleares. E é isso o que vem acontecendo.

O que eles dizem é: é um regime muito louco. Você faz um gesto hostil e nós vamos responder com um gesto louco do nosso próprio país. Você faz um gesto acomodando a discussão e nós vamos retribuir de alguma forma.

Ultimamente, por exemplo, houve exercícios militares da Coreia do Sul e dos EUA na península coreana. Nós achamos que eles estavam ameaçando o Canadá de olho em nós. Os bombardeiros mais avançados da história, de Stealth B-2 a B-52s, estão realizando bombardeios nucleares simulados na fronteira da Coreia do Norte.

Isso certamente desencadeia o alarme do passado. Eles lembram que o que ocorreu e estão reagindo de uma forma muito agressiva, extrema. Bem, o que aparece no Ocidente é quão loucos e terríveis os líderes norte-coreanos são. Sim, eles são. Mas essa é quase toda a história.

Não é que não haja alternativas. As alternativas simplesmente não estão sendo consideradas. Isso é perigoso. Então, se você perguntar para onde o mundo está indo, não verá uma imagem bonita. A menos que as pessoas façam algo a respeito. Nós sempre podemos fazer.

05/06/2013

Keith Stimely - Spengler: Uma Introdução a Sua Vida & Idéias

por Keith Stimely



Oswald Spengler nasceu em Blankenburg (Harz) na Alemanha central em 1880, o mais velho de quatro filhos, e o único menino. O lado materno de sua família possuía uma forte tendência artística. Seu pai, que originalmente havia sido técnico em mineração e veio de uma longa linhagem de mineradores, era um oficial na burocracia postal alemã, e garantia para sua família um lar de classe média simples, porém confortável.

O jovem Oswald jamais desfrutou do melhor da saúde, e sofria de enxaquecas que o perseguiriam por toda sua vida. Ele também tinha um complexo de ansiedade, ainda que não lhe faltassem pensamentos grandiosos - os quais, por causa de sua constituição frágil, tinham que se aplicados apenas em seus sonhos despertos.

Quando ele tinha dez anos de idade a família se mudou para a cidade universitária de Halle. Aqui Spengler recebeu uma educação clássica, estudando grego, latim, matemática e ciências naturais. Aqui também ele desenvolveu sua forte afinidade pelas artes - especialmente poesia, drama e música. Ele experimentou com algumas criações artísticas juvenis suas, poucas das quais sobreviveram - elas são indicativas de um tremendo entusiasmo, mas não muito mais que isso. À essa época ele caiu sob influência de Goethe e Nietzsche, duas figuras cuja importância para Spengler, o jovem e o homem, não pode ser subestimada.

Após a morte de seu pai em 1901, Spengler aos 21 entrou para a Universidade de Munique. Segundo os costumes estudantis alemães da época, após um ano ele seguiu para outras universidades, primeiro Berlim e depois Halle. Seus principais cursos de estudo foram nas culturas clássicas, matemática e ciências físicas. Sua educação universitária foi financiada em grande parte por um legado de uma tia falecida.

Sua dissertação doutoral em Halle foi sobre Heráclito, o "filósofo obscuro" da Grécia antiga cuja linha mais memorável era "A Guerra é o Pai de todas as coisas". Ele não conseguiu passar em seu primeiro exame por causa de "referências insuficientes" - uma característica de todos os seus escritos posteriores que alguns críticos sentem um enorme prazer em apontar. Porém, ele passou em um segundo exame em 1904, e então partiu para escrever a segunda dissertação necessária para se qualificar como professor de segundo grau. Esta se tornou "O Desenvolvimento do Órgão da Visão nos Âmbitos Superiores do Reino Animal". Ela foi aprovada, e Spengler recebeu seu certificado de licenciatura.

Seu primeiro posto foi em uma escola em Saarbrücken. Então ele se mudou para Düsseldorf e, finalmente, Hamburgo. Ele ensinava matemática, ciências físicas, história e literatura alemã, e segundo todos os relatos era um instrutor bom e consciencioso. Mas seu coração não estava realmente aí, e quando em 1911 a oportunidade se apresentou para ele "seguir o próprio caminho" (sua mãe havia morrido e deixado para ele uma herança que lhe garantia uma medida de independência financeira), ele a tomou, e abandonou a profissão de educador para sempre.

Explicação História de Tendências Atuais

Ele se assentou em Munique, para viver a vida de um filósofo/estudioso independente. Ele começou a escrever um livro de observações sobre a política contemporânea cuja idéia lhe havia preocupado por algum tempo. Originalmente a ser chamado Conservador e Liberal, ele havia sido planejado como uma exposição e explicação das tendências atuais na Europa - uma corrida armamentista em aceleração, um "cerco" da Entente à Alemanha, uma sucessão de crises internacionais, a crescente polaridade das nações - e para onde elas levavam. Porém ao fim de 1911 ele foi subitamente acometido pela noção de que os eventos do dia só poderiam ser interpretados em termos "globais" e "culturais-totais". Ele via a Europa como marchando rumo ao suicídio, um primeiro passo na direção da destruição final da cultura européia no mundo e na história.

A Grande Guerra de 1914-1918 apenas confirmou em sua mente a validade de uma tese já desenvolvida. Sua obra planejada continuava aumentando em escopo, para muito além das fronteiras originais.

Spengler havia amarrado a maior parte de seu dinheiro em investimentos estrangeiros, mas a guerra havia de modo geral os invalidado, e ele foi forçado a passar os anos de guerra em condições de genuína pobreza. Não obstante, ele se manteve trabalhando, muitas vezes escrevendo à luz de vela, e em 1917 estava pronto para publicar. Ele encontrou grandes dificuldades em achar um editor, parcialmente por causa da natureza de sua obra, parcialmente por causa das condições caóticas dominando à época. Porém no verão de 1918, coincidente com o colapso alemão, finalmente apareceu o primeiro volume de O Declínio do Ocidente, subtitulado Forma e Atualidade.

Sucesso Editorial

Para não pouca surpresa tanto de Spengler como de seu editor, o livro foi um sucesso imediato e sem precedentes. Ele oferecia uma explicação racional para o grande desastre europeu, explicando-o como parte de um processo histórico-mundial inevitável. Leitores alemães especialmente o levaram no coração, mas a obra logo se provou popular por toda Europa e foi rapidamente traduzida para outras línguas. 1919 foi o "ano de Spengler", e seu nome estava em muitos idiomas.

Historiadores profissionais, porém, lidara com enorme ressentimento com essa obra pretensiosa de um amador (Spengler não era um historiador treinado), e suas críticas - particularmente de vários equívocos factuais e da abordagem única e incontritamente "não-científica" do autor - encheram muitas páginas. É mais fácil agora do que à época dispor dessa linha de rejeição-crítica. Mas de qualquer forma, em relação à validade de seu postulado sobre o rápido declínio ocidental, o spengleriano contemporâneo só precisa dizer uma coisa a seus críticos: Olhe ao seu redor. O que você vê?

Em 1922 Spengler publicou uma edição revisada do primeiro volume contendo pequenas correções e revisões, e o ano seguinte viu o aparecimento do segundo volume, subtitulado Perspectivas da História Mundial. Ele daí em diante permaneceu satisfeito com a obra, e todos os seus escritos e pronunciamentos posteriores são apenas ampliações sobre o tema disposto em Declínio.

Abordagem Direta

A idéia básica e os componentes essenciais de Declínio do Ocidente não são difíceis de compreender ou delinear. (Na verdade, é a própria simplicidade da obra que era excessiva para seus críticos profissionais). Primeiro, porém, uma compreensão adequada demanda um reconhecimento da abordagem especial spengleriana. Ele próprio a chamava de abordagem "fisiogmática" - olhar para as coisas diretamente na face ou coração, intuitivamente, ao invés de uma forma estritamente científica. Vezes demais o sentido real das coisas é obscurecido por uma máscara de "fatos" científico-mecanicistas. Daí a cegueira do historiador profissional "científico", que em uma grande falta de imaginação vê apenas o visível.

Utilizando sua abordagem fisiogmática, Spengler estava confiante em sua habilidade de decifrar o enigma da História - mesmo, como ele afirma na primeira frase de Declínio, predeterminar a história.

O que segue são seus postulados básicos:

1 - A visão "linear" da história deve ser rejeitada, em favor da cíclica. Até então a história, especialmente a história ocidental, tem sido vista como uma progressão "linear" do inferior para o superior, como plataformas em uma escada - uma ilimitada evolução para cima. A história ocidental é assim vista como se desenvolvendo progressivamente: Grega > Romana > Medieval > Renascentista > Moderna, ou, Antiga > Medieval > Moderna. Este conceito, insistia Spengler, é apenas um produto do ego do homem ocidental - como se tudo no passado apontasse para ele, existisse tão somente para que ele possa existir como uma forma mais aperfeiçoada.

Esse "esquema sem sentido e incrivelmente infantil" pode finalmente ser substituído por um agora discernível desde o ponto de vantagem dos anos e de um maior e mais fundamental conhecimento do passado: a noção da História como se movendo em ciclos definidos, observáveis e - exceto de pequenas maneiras - não relacionadas.

Altas Culturas

2 - Os movimentos cíclicos da história não são aqueles de meras nações, Estados, raças ou eventos, mas de Altas Culturas. A história gravada nos dá oito dessas "altas culturas": a indiana, a babilônica, a egípcia, a chinesa, a mexicana (maia-azteca), a árabe (ou "magiana"), a clássica (grega e romana), e a européia ocidental.

Cada Alta Cultura possui como traço de distinção um "símbolo primário". O símbolo egípcio, por exemplo, era o "Caminho", que pode ser visto na preocupação dos egípcios antigos - na religião, arte e arquitetura - com as passagens sequenciais da alma. O símbolo primário da cultura clássica era a preocupação com o "ponto-presente", ou seja, o fascínio pelo próximo, o pequeno, o "espaço" da visibilidade imediata e lógica: note aqui a geometria euclidiana, o estilo bidimensional da pintura clássica e da escultura em relevos (você jamais verá um ponto de fuga no fundo, isto é, onde até mesmo haja algum fundo), e especialmente: a ausência de expressão facial dos bustos e estátuas gregos, significando nada além ou por trás do exterior.

O símbolo primário da cultura ocidental é a "alma faustiana" (do conto do Doutor Faustus), simbolizando o anseio dirigido para cima rumo a nada menos que o "Infinito". Este é basicamente um símbolo trágico, pois ele busca alcançar até mesmo aquilo que se considera inalcançável. É exemplificado, por exemplo, pela arquitetura gótica (especialmente os interiores das catedrais góticas, com suas linhas verticais e aparente "falta de teto").

O "símbolo primário" afeta tudo na Cultura, se manifestando na arte, ciência, técnica e política. Cada alma-símbolo de uma cultura se expressa especialmente em sua arte, e cada Cultura possui uma forma de arte que é mais representativa de seu próprio símbolo. No clássico, eram escultura e drama. Na cultura ocidental, após a arquitetura na era gótica, a grande forma representativa foi a música - atualmente a expressão mais perfeita da alma faustiana, transcendendo como o faz os limites da visão pelo mundo "ilimitado" do som.

Desenvolvimento "Orgânico"

3 - Altas Culturas são coisas "vivas" - orgânicas em natureza - e devem passar pelas fases de nascimento-desenvolvimento-plenitude-decadência-morte. Daí uma "morfologia" da história. Todas as culturas anteriores passaram por essas fases distintas, e a cultura ocidental não pode ser exceção. Na verdade, sua fase atual no processo de desenvolvimento orgânico pode ser precisada.

O ponto alto de uma Alta Cultura é sua fase de plenitude - chamada de fase "cultural". O início do declínio e decadência em uma Cultura é o ponto de transição entre sua fase "cultural" e a fase "civilizacional" que inevitavelmente segue.

A fase "civilizacional" testemunha drásticas reviravoltas sociais, movimentos massivos de povos, guerras contínuas e crises constantes. Tudo isso se passa paralelamente ao crescimento das grandes "megalópoles" - imensos centros urbanos e suburbanos que sugam os interiores circundantes de sua vitalidade, intelecto, força e alma. Os habitantes dessas conglomerações urbanas - agora o grosso da população - são uma massa desenraizada, desalmada e materialista, que não amam nada além de seu panem et circenses. Desses vem os sub-humanos fellaheen - participantes dignos nos estertores finais de uma cultura.

Com a fase civilizacional vem o mando do Dinheiro e seus instrumentos gêmeos, Democracia e Imprensa. O Dinheiro governa sobre o caos e só o Dinheiro lucra com isso. Mas os verdadeiros portadores da cultura - os homens cujas almas ainda estão unidas à alma-cultural - se sentem enojados e repelidos pelo poder-dinheiro e seus fellaheen, e agem para rompê-lo, como se fossem compelidos a isso - e conforme a alma-cultural das massas compele finalmente ao fim da ditadura do dinheiro. Assim a fase civilizacional conclui com a Era do Cesarismo, onde grande poder chega às mãos de grandes homens, ajudados nisso pelo caos do mando do Dinheiro. O advento dos Césares marca o retorno de Autoridade e Dever, de Honra e "Sangue", e o fim da democracia.

Com isso chega a fase "imperialista" da civilização, na qual os Césares com seus bandos de seguidores se enfrentam uns aos outros pelo controle do mundo. As grandes massas são incompreensíveis e indiferentes; as megalópoles lentamente se despovoam, e as massas gradativamente "retornam à terra", para se ocuparem lá com as mesmas tarefas rurais que seus ancestrais séculos antes. A tormenta de eventos se dá por cima de suas cabeças. Agora, em meio a todo o caos dos tempos, vem uma "segunda religiosidade"; um retorno nostálgico aos velhos símbolos da fé da cultura. Fortificadas dessa forma, as massas em um tipo de contentamento resignado enterram suas almas e seus esforços no solo a partir do qual eles e sua cultura emergiram, e contra esse pano de fundo a morte da Cultura e da civilização que ela criou se desenrola.

Ciclos Vitais Previsíveis

O ciclo vital de cada Cultura parece durar por volta de mil anos: a clássica existiu de 900 a.C. a 100 d.C.; a árabe (hebraico-semítica islamo-cristã) de 100 a.C. a 900 d.C.; a ocidental de 1000 d.C. a 2000 d.C. Porém, essa extensão é a ideal, no sentido de que uma expectativa de vida ideal de um homem é 70 anos de idade, ainda que ele possa nunca alcançar essa idade, ou viver muito além dela. A morte de uma Cultura pode na verdade se desenrolar por centenas de anos, ou pode ocorrer instantaneamente por causa de forças exteriores - como no fim súbito da Cultura Mexicana.

Também, ainda que cada cultura possua sua Alma única e seja em essência uma entidade especial e separada, o desenvolvimento do ciclo vital é paralelo em todas elas: Para cada fase do ciclo em uma dada cultura, e para todos os grandes eventos afetando seu curso, há uma contraparte na história de cada outra cultura. Assim, Napoleão, que inaugurou a fase civilizacional da ocidental, encontra sua contraparte em Alexandre da Macedônia, que fez o mesmo para a clássica. Daí a "contemporaneidade" de todas as altas culturas.

Em um rascunho simples esses são os componentes essenciais da teoria spengleriana dos ciclos culturais históricos. Em umas poucas frases ela pode se resumir assim:

A história humana é o registro cíclico da ascensão e queda de Altas Culturas não relacionadas. Essas Culturas são na realidade super formas vitais, isto é, elas são orgânicas em natureza, e como todos os organismos devem passar pelas fases de nascimento-vida-morte. Ainda que entidades separadas em si mesmas, todas as Altas Culturas experimentam desenvolvimento paralelo, e eventos e fases em qualquer uma encontram seus eventos e fases correspondentes nas outras. É possível desde o ponto de vantagem do século XX deduzir do passado o sentido da história cíclica, e assim prever o declínio e queda do Ocidente.

Desnecessário dizer, tal teoria - ainda que mais ou menos prenunciada na obra de Giambattista Vico e no russo oitocentista Nikolai Danilevsky, bem como em Nietzsche - estava destinada a abalar as fundações do mundo intelectual e semi-intelectual. Ela o fez parcialmente devido ao momento oportuno, e parcialmente ao brilhantismo (ainda que não sem falhas) com o qual Spengler a apresentou.

Estilo Polêmico

Há livros mais fáceis de ler do que Declínio - há também mais difíceis - mas uma grande razão para seu sucesso popular (para esse tipo de obra) sem precedentes foi a mesma razão para sua desconsideração geral da parte dos críticos acadêmicos. Desprezando o tipo de "eruditismo" que demandava somente afirmações cautelosas e judiciosas - cada uma apoiada por uma nota de rodapé - Spengler deu vazão a suas opiniões e juízos. Muitas passagens estão ao estilo de uma polêmica onde nenhuma discordância é tolerada.

Certamente, os dois volumes de Declínio, não importa quão cheio de opiniões o estilo e quão pouco convencional a metodologia, são essencialmente uma justificativa compreensiva das idéias apresentadas, retirada das histórias das diferentes Altas Culturas. Ele usou o método comparativo que, é claro, é apropriado se de fato todas as fases de uma Alta Cultura forem contemporâneas com as de qualquer outra. Nenhum homem poderia ter um conhecimento igualmente amplo de todas as Culturas examinadas, daí o tratamento de Spengler ser desigual, ele gasta relativamente pouco tempo na mexicana, indiana, egípcia, babilônica e chinesa - se concentrando na árabe, na clássica e na ocidental, especialmente essas últimas duas. A porção mais valiosa da obra, como mesmo seus críticos reconhecem, é a delineação comparativa dos desenvolvimentos paralelos das culturas clássica e ocidental.

O vasto conhecimento de Spengler sobre as artes lhe permitiu enfatizar sua importância para o simbolismo e sentido interior de uma Cultura, e as passagens sobre formas de arte são geralmente consideradas como estando entre as mais instigantes. Também notável é um capítulo (o primeiro, na verdade, após a Introdução) sobre "O Significado dos Números", onde ele afirma que mesmo a matemática - supostamente o único campo certamente "universal" do conhecimento - possui um significado diferente em diferentes culturas: números são relativos aos povos que os usam.

A "verdade" é similarmente relativa, e Spengler concedeu que o que pode ser verdadeiro para ele pode não ser verdadeiro para outro - mesmo para outro completamente da mesma cultura e era. Assim uma das maiores inovações de Spengler pode ser talvez sua postulação da não-universalidade das coisas, a "diferencialidade" ou distintividade de diferentes povos e culturas (apesar de seu fatídico fim comum - uma idéia que está começando a se enraizar no Ocidente moderno, que começou este século supremamente confiante na sabedoria e possibilidade de moldar o mundo a sua imagem e semelhança).

Era de Césares

Mas foi a sua colocação do Ocidente atual em seu esquema histórico que despertou mais interesse e mais controvérsia. Spengler, como o título de sua obra sugere, viu o Ocidente como fadado à mesma extinção eventual que todas as outras Altas Culturas haviam conhecido. O Ocidente, ele disse, estava agora no meio de sua fase "civilizacional", que havia começado, aproximadamente, com Napoleão. A vinda dos Césares (dos quais Napoleão foi apenas o prenúncio) estava talvez apenas há décadas de distância. Ainda assim Spengler não aconselhou qualquer tipo de resignação pesarosa ao destino, ou aceitação desleixada da derrota e morte vindouras. Em um ensaio posterior, "Pessimismo?" (1922), ele escreveu que os homens do Ocidente devem ainda ser homens, e fazer tudo que puderem para perceber as imensas possibilidades ainda abertas. Acima de tudo, eles devem abraçar o único imperativo absoluto: A destruição do Dinheiro e da democracia, especialmente no campo da política, este imenso campo de atividade.

Socialismo "Prussiano"

Após a publicação do primeiro volume de Declínio, os pensamentos de Spengler se voltaram cada vez mais para a política contemporânea na Alemanha. Após experimentar a revolução bávara e sua curta república soviética, ele escreveu um pequeno volume chamado Prussianismo e Socialismo. Seu tema era que um equívoco trágico dos conceitos estava em andamento: Conservadores e socialistas, ao invés de estarem nas antípodas, deveriam se unir sob o estandarte de um verdadeiro socialismo. Este não seria a abominação marxista-materialista, ele disse, mas essencialmente a mesma coisa que o Prussianismo: um socialismo da comunidade germânica, baseado em sua ética de trabalho, disciplina e hierarquia orgânica singulares ao invés do "dinheiro". Esse socialismo "prussiano" ele contrastou marcadamente tanto à ética capitalista da Inglaterra como ao "socialismo" de Marx, cujas teorias se resumiriam a "capitalismo para o proletariado".

Em suas propostas corporativistas Spengler antecipou os fascista, ainda que ele nunca tivesse sido um, e seu "socialismo" fosse essencialmente o mesmo que o dos Nacional-Socialistas (mas sem o racialismo völkisch).   Sua apreciação por uma corporação da qual o Estado teria o controle diretivo mas não a propriedade ou a responsabilidade direta sobre os vários segmentos privados da economia soava muito como a posterior avaliação favorável da economia Nacional-Socialista por Werner Sombart em sua Uma Nova Filosofia Social.

Prussianismo e Socialismo não teve uma reação favorável da crítica ou do público - ainda que o público estivesse inicialmente ansioso para conhecer suas opiniões. A mensagem do livro era considerava muito "visionária" e excêntrica - ela desafiava muitas linhas partidárias. Os anos de 1920-23 viram Spengler voltar à preocupação com a revisão do primeiro volume de Declínio, e ao término do segundo. Ele ocasionalmente dava palestras, e escrevia alguns ensaios, poucos dos quais sobreviveram.

Envolvimento Político

Em 1924, após a reviravolta sócio-econômica da terrível inflação, Spengler entrou na briga política em um esforço para trazer o general da Reichswehr Hans von Seekt ao poder como líder nacional. Mas o esforço não rendeu. Spengler se provou totalmente ineficaz na prática política. Era a velha história do "rei-filósofo", que era mais filósofo do que rei (ou fazedor de reis).

Após 1925, no início do breve período de estabilidade relativa da República de Weimar, Spengler devotou a maior parte de seu tempo a sua pesquisa e à escrita. Ele estava particularmente preocupado com o fato de ter deixado um vazio importante em sua grande obra - o da pré-história do homem. Em Declínio ele havia escrito que o homem pré-histórico estava basicamente sem uma história, mas ele revisou essa opinião. Seu trabalho sobre o tema foi apenas fragmentário, mas 30 anos após sua morte uma compilação foi publicada sob o título Período Primitivo da História Mundial.

Sua principal tarefa como ele a via, porém, era uma grande e compreensiva obra sobre sua metafísica - da qual Declínio havia dado apenas indícios. Ele jamais a terminou, ainda que Questões Fundamentais, basicamente uma coletânea de aforismas sobre o tema, tenha sido publicado em 1965.

Em 1931 ele publicou O Homem e a Técnica, um livro que refletia seu fascínio com o desenvolvimento e uso, no passado e no futuro, do técnico. O desenvolvimento de tecnologia avançada é único ao Ocidente, ele previu para onde isso levaria. O Homem e a Técnica é um livro racialista, ainda que não no sentido "germânico" estreito. Ao invés ele alerta as raças européias ou brancas do perigo crescente das raças de cor. Ele prevê um tempo em que os povos de cor da Terra usarão a própria tecnologia do Ocidente para destruir o Ocidente.

Reservas em relação a Hitler

Há muito no pensamento de Spengler que permite que ele seja caracterizado como algum tipo de "proto-nazi": seu chamado por um retorno à Autoridade, sue ódio à democracia "decadente", sua exaltação do espírito do "Prussianismo", sua idéia da guerra como essencial à vida. Porém, ele jamais se uniu ao Partido Nacional-Socialista, apesar de repetidos convites de luminares como Gregor Strasser e Ernst Hanfstängl. Ele considerava os Nacional-Socialistas como imaturos, fascinados com marchinhas de banda e slogans patrióticos, brincando com a bola do poder mas não percebendo a significância filosófica e os novos imperativos da era. De Hitler se supõe ter dito que o que a Alemanha precisava era de um herói, não de um tenor. Ainda assim, ele votou em Hitler contra Hindenburg nas eleições de 1932. Ele se encontrou com ele pessoalmente apenas uma vez, em julho de 1933, mas Spengler saiu pouco impressionado de sua longa conversa.

Suas opiniões sobre os Nacional-Socialistas e a direção que a Alemanha deveria estar tomando apareceram ao fim de 1933, em seu livro A Hora da Decisão. Ele começa afirmando que ninguém poderia ter desejado pela revolução Nacional-Socialista tanto quanto ele. No curso da obra, porém, ele expressou (às vezes de forma velada) suas reservas sobre o novo regime. Ainda que ele fosse certamente germanófilo, não obstante ele via os Nacional-Socialistas como muito estreitamente germânicos em caráter, e não suficientemente europeus.

Ainda que ele continuasse o tom racialista de O Homem e a Técnica, Spengler fez pouco do que ele considerada como a exclusivismo do conceito Nacional-Socialista de raça. Em face do perigo exterior, o que deveria ser enfatizado é a unidade das várias raças européias, não sua fragmentação. Para além de um reconhecimento prático do "perigo das raças de cor" e da superioridade da civilização branca, Spengler repetiu sua própria concepção "não-materialista" da raça (que já havia sido expressa em Declínio): Certos homens - qualquer seja sua origem - possuem "raça" (um tipo de vontade de poder), e estes são os fazedores da história.

Prevendo uma Segunda Guerra Mundial, Spengler alertou em A Hora da Decisão que os Nacional-Socialistas não estavam suficientemente vigilantes em relação às poderosas forças hostis fora do país que se mobilizariam para destruí-los, e a Alemanha. Sua crítica mais direta foi expressa dessa forma: "E os Nacional-Socialistas acreditam que eles podem ignorar o mundo ou se opôr a ele, e construir seus castelos em nuvens sem criar uma possivelmente silenciosa, ainda que muito palpável reação vinda de fora". Finalmente, mas após já ter alcançado uma ampla circulação, as autoridades proibiram a distribuição continuada do livro.

Oswald Spengler, pouco após prever que em uma década não haveria mais um Reich Alemão, morreu de um ataque cardíaco em 8 de maio de 1936, em seu apartamento de Munique. Ele foi para a morte convicto de que ele havia estado certo, e que os eventos estavam se desdobrando em cumprimento do que ele havia escrito em Declínio do Ocidente. Ele estava certo de que ele viveu no período crepuscular de sua Cultura - que, apesar de suas previsões agourentas e sombrias, ele amava profundamente até o fim.

04/06/2013

Rudo de Rujiter - O Sistema Bancário em Resumo

por Rudo de Ruijter



O sistema bancário actual funciona de acordo com um princípio muito simples. Aquele que quer tomar dinheiro emprestado promete ao banqueiro que o reembolsará e sobre esta promessa o banqueiro lhe cria um activo. Sobre este activo o tomador do empréstimo deve juros. 

É porque poucas pessoas sabem como isso funciona que quase ninguém vê como o funcionamento bancário baseado no vento parasita a sociedade como um tumor canceroso e reduz as pessoas a rodas dentadas a fim de apaziguar sua fome financeira. 

O Banco Central Europeu (BCE) obriga os bancos a terem na reserva 2 cêntimos para euro que devem aos seus clientes. Nossos activos bancários são agora cobertos por uns poucos por cento de dinheiro real, o resto do dinheiro não existe. Portanto não temos dinheiro no banco, mas sim um activo do banco, uma promessa do banqueiro, de que nos dará dinheiro verdadeiro em contrapartida se lhe pedirmos. 

Os bancos tomam emprestado o dinheiro verdadeiro do BCE. É o dinheiro no nosso porta-moedas. O dinheiro verdadeiro é igualmente utilizado sob forma electrónica nos pagamentos entre bancos. 

Os clientes têm um activo bancário, mas isso não é dinheiro com o qual possam pagar. Eles tão pouco executam pagamentos (se bem que toda gente pense o contrário). Em vez disso, dão ordem de pagamento ao seu banco. Sobre esta, os bancos mudam os activos dos seus clientes e pagam os montantes de um banco para o outro. No tráfego diário de pagamentos interbancários, os bancos anulam os montantes que se devem mutuamente e à noite pagam apenas as diferenças. Assim, com muito pouco dinheiro os bancos, entre si, podem pagar milhões. 

O tomador recebe um activo do seu banco e gasta-o. Assim o activo chega a uma outra conta bancária. O receptor por sua vez irá gastá-lo e assim o activo circula na sociedade e nos serve de dinheiro. E no momento em que o cliente reembolsa o seu empréstimo, o banqueiro deduzirá o montante do seu activo. Deste modo o activo criado desaparece. Portanto é preciso que novos empréstimos substituam aqueles que foram reembolsados a fim de manter suficiente pseudo-dinheiro em circulação. Se a quantidade diminuir, os tomadores já não podem mais reembolsar seus empréstimos e os bancos vão à falência. 

Mas nem todos os activos continuam a circular. Também há pessoas que estacionam uma parte do seu activo numa conta de poupança. Os activos imobilizados em contas de poupança não participam mais na circulação e, em substituição, novos empréstimos devem ser emitidos. Naturalmente, destes empréstimos suplementares haverá igualmente uma parte que acaba como poupança. Para todos os empréstimos, tanto aqueles estacionados como aqueles em circulação, os tomadores devem trabalhar para encontrar dinheiro a fim de pagar os reembolsos e os juros. Eles não podem encontrar este dinheiro nas contas-poupança. Este dinheiro não pode ser ganho. Portanto cada vez mais reembolsos e juros devem ser pagos com o dinheiro em circulação. No fim, estas somas acabariam mesmo por ultrapassar o dinheiro disponível. A solução dos banqueiros? Ainda mais empréstimos! 

Se se aumentar o dinheiro em circulação à mesma velocidade que a poupança, haverá sempre bastante dinheiro para os reembolsos e os juros. É por isso que temos a inflação. No "dinheiro" em circulação, os empréstimos acumulam-se cada vez mais. 

Os juros para os poupadores são pagos pelos tomadores de empréstimos. Estes são frequentemente empresas como lojas, comerciantes grossistas, transportadores, produtores, sub-contratados e fornecedores de serviços. Eles acrescentam estes custos aos preços dos seus produtos. Finalmente, são os consumidores que os pagam. Cerca de 35% de todos os preços consistem de juros e esta percentagem aumenta sem cessar. [1]

Os juros que os poupadores recebem saem, em primeiro lugar, do chapéu do banqueiro como um activo suplementar, acrescentados à sua conta-poupança. Estes juros também acarretam juros. A 3% de juro a poupança duplica em 24 anos, a 4% em 18 anos. Portanto os ricos tornam-se cada vez mais rapidamente mais ricos. Hoje 10% dos europeus mais ricos detêm 90% das riquezas. 

A massa de pseudo-dinheiro não cessa de crescer. Por volta de 1970 ela havia atingido o estágio em que os activos ultrapassam o Produto Interno Bruto. Havia muito mais pseudo-dinheiro do que o necessário para a economia normal. Isso levava ao desenvolvimento de um sector financeiro, onde se ganha o dinheiro com o dinheiro, ou seja, com juros e a inchar bolhas na bolsa. Os banqueiros sabiam que a longo prazo seria cada vez mais difícil manter o crescimento monetário e encontrar suficientes tomadores fiáveis a quem fornecer empréstimos. 

Eles conseguiram convencer os governos de que seria melhor que não tomassem mais empréstimos junto ao seu banco central (o que na prática significava tomar emprestado sem juros) e, ao invés disso, tomar emprestado junto a bancos comerciais, portanto com juros. Em todos os países que aceitaram isso a dívida pública cresceu exponencialmente. Não porque estes governos fizessem mais dívidas, mas devido a juros sobre juros sobre a dívida existente. [2]

Os governos deviam reduzir suas despesas para enfrentar o encargo crescente dos juros. Mas contra o efeito do crescimento exponencial dos juros não se poderá ganhar senão com reduções de despesas. Os governos deviam vender serviços públicos para reembolsar as dívidas. Uma longa vaga de privatizações seguiu-se, uma por um dos grandes empreendimentos, para os quais os banqueiros podiam fornecer empréstimos a tomadores privados. 

Já em 1970 o banqueiro luxemburguês Pierre Werner apresentava um primeiro esboço do euro, que daria aos bancos a possibilidade de fornecer empréstimos numa região muito mais vasta. Economistas eminentes advertiam que uma moeda única numa zona economicamente heterogénea levaria a grandes problemas. Economistas previam que os países cujas possibilidades de produção fossem menores seriam inundados por produtos menos caros vindos dos países mais produtivos, como a Alemanha. As empresas dos países fracos iriam à falência, ao passo que o dinheiro deixaria o país como pagamento dos produtos importados. [3] Exactamente como aconteceu. 

Os países fracos encontram-se endividados, sem possibilidade de saída. Os bancos lucram com estas montanhas de dívidas crescentes e fazem com que os riscos sejam suportados pelos pagadores de impostos. Em 2012 os governos da zona euro estabeleceram o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) alimentado sem limite [4] pelos impostos dos cidadãos, que reembolsará todas as perdas que os prestamistas sofram nos países fracos. 

A solução de todos estes problemas é tão simples como a sua causa. Devemos erguer um banco de todos nós, um banco do Estado, que tenha o direito exclusivo de criar dinheiro. É preciso proibir os empréstimos de dinheiro inexistente. Um banco de Estado não tem necessidade de capital, nem de lucros. Além disso, os juros podem permanecer muito baixos ou serem compensados fiscalmente. Os juros são destinados à comunidade. Um tal sistema de dinheiro não tem necessidade de crescimento [da massa] de dinheiro, nem de competição, nem de exploração e nem de desemprego. Se decidido democraticamente, o governo poderá retomar os serviços colectivos e geri-los no interesse dos cidadãos. Igualmente, poder-se-á privilegiar os investimentos desejáveis para a sociedade e não para aqueles que proporcionam benefícios financeiros o mais rapidamente possível. O governo não estará mais dependente dos bancos. A dívida pública será do passado. Colectivamente podemos tirar proveito de uma sociedade durável e de bem-estar ao invés do afundamento, da dilapidação e da pressão sempre crescente sobre os trabalhadores para agradar os prestamistas de dinheiro. 

Sobrará mesmo dinheiro e tempo para instalar um museu das estátuas de cera, onde poderemos conservar os lobos financeiros e seus cúmplices políticos como uma advertência às gerações futuras: cuidado com os banksters!