29/12/2025

Edson Cáceres - Bosques e Catacumbas: Pensamentos Jüngerianos

 por Edson Cáceres

(2025)


 

"Os filósofos da história consideram o passado como antítese e etapa prévia a nós, vendo em nós o produto de uma evolução. Nós nos fixamos no que se repete, no constante, no único, como algo que encontra eco em nós e é compreensível para nós". (Jacob Burckhardt)

A literatura enquanto ciência histórica, apresentada dessa forma por Immanuel Kant em sua Lógica, expressa figurativamente uma constelação de ideias que são convertidas em motivos seguidos na realidade literal: o mundo dos fatos é insuflado por meio de lendas e mitos. A história ocidental é um composto de formas de pregar a epopeia, seu tema principal é a conquista do herói em peregrinação iniciática rumo ao seu triunfo transformativo, uma enteléquia com seu início e fim retilíneos.

Outra forma de capturar a história está expressa no ordem cósmico oriental, como na religião védica, para a qual o tempo é um eterno repetir-se cuja ciclicidade vai desde uma idade de ouro até a idade de ferro, em degradação de níveis marcados como de prata e bronze. As idades ou yugas determinam o de cima e o de baixo, o movimento dos céus e os temperamentos.

27/12/2025

Giovanni Sessa - Transatualismo e Ultraniilismo nas Filosofias de Julius Evola e Andrea Emo

 por Giovanni Sessa

(2013)


 

Augusto Del Noce, uma das vozes mais instigantes do pensamento filosófico italiano da segunda metade do século XX, na introdução de seu "Giovanni Gentile. Por uma interpretação filosófica da história contemporânea", questionou-se sobre o atualismo: "Esta filosofia representa hoje um passado? Quem escreve está convencido disso; desde que se acrescente que hoje também é passado o que pode ser chamado de mito de 1945; segundo o qual esse neoidealismo teria sido o símbolo do isolamento... da Itália em relação à cultura mundial".[1] Pois bem, parece-nos que essas palavras do pensador católico sejam suficientes para fazer compreender as razões que nos levaram a aprofundar duas experiências, ao mesmo tempo especulativas e existenciais, como as de Julius Evola e Andrea Emo, amadurecidas no interior de um intenso confronto com os pressupostos do gentilianismo. 

21/12/2025

Julius Evola - O Barão Sanguinário

 por Julius Evola

(1973)


 

O livro de F. Ossendowski Bestas, Homens e Deuses, cuja tradução italiana está prestes a ser reimpressa, já alcançou grande notoriedade quando foi publicado, em 1924. Nele, interessam tanto o relato das peripécias da viagem agitada que Ossendowski realizou entre 1921 e 1922 através da Ásia Central para escapar dos bolcheviques, quanto o que ele relata sobre uma figura excepcional que encontrou — o barão Von Ungern Sternberg — e sobre o que ouviu a respeito do chamado “Rei do Mundo”. Aqui, retomaremos ambos os temas.

17/12/2025

Alfonso Piscitelli - Faye: Uma Vida Faustiana entre Evola e Marinetti

 por Alfonso Piscitelli

(2019)



A vida de Guillaume Faye foi uma grande diversão: provocações políticas, alto teor alcoólico, sexo, ideias fortes e até excessivas. Uma vida sob o lema "sexo, drogas e nova direita", parafraseando um velho ditado. Depois, a morte se apresentou a ele em toda a sua seriedade, anunciada pelo embaixador da dor, durante o curso de uma longa doença. Quem o conhece diz que ele enfrentou seu crepúsculo com o mesmo espírito faustiano dos anos de vigor: fazendo planos até o último dia, que foi 7 de março.

13/12/2025

Alberto Lombardo - O Anti-Americanismo "Tradicional" de Julius Evola

 por Alberto Lombardo

(2014)


 

«O processo pelo qual as destruições espirituais, o próprio vazio que o homem, tornando-se "homem econômico" e grande empreendedor capitalista, criou ao seu redor, o obriga a transformar sua própria atividade – lucro, negócios, produtividade – em um fim, a amá-la e desejá-la por si mesma, sob pena de ser tomado pelo vértigo do abismo, pelo horror de uma vida completamente desprovida de sentido»[1].

A posição crítica do filósofo romano Julius Evola (1898-1974) em relação à América merece ser conhecida pela peculiaridade original que a caracteriza, além da influência que exerceu sobre uma área política e intelectual não negligenciável. Em 1929, foi publicado na Nuova Antologia o artigo evoliano Americanismo e bolchevismo, no qual o pensador tradicionalista expõe, pela primeira vez com notável lucidez, uma tese bastante inédita e pioneira, que continuaria a desenvolver nas décadas seguintes. A ideia central é que a Rússia soviética e os Estados Unidos, além das evidentes diferenças culturais, sociais e de organização estatal, são unidos por um mesmo ideal perverso[2]. O ensaio constituirá a base do décimo sexto capítulo da segunda parte de Revolta contra o Mundo Moderno, talvez o livro mais importante e famoso de Evola.

11/12/2025

Marco Maculotti - O Acesso ao Outro Mundo na Tradição Xamânica, no Folclore e nas Abduções

 por Marco Maculotti

 (2018)

 


 

Em um artigo anteriormente publicado no site [1], analisamos o fenômeno, bastante difundido no folclore europeu, dos raptos de bebês e amas de leite pelos Fairies. Já havíamos observado de passagem como muitos elementos apresentavam correspondências singulares com um fenômeno igualmente misterioso, porém muito mais recente, as chamadas abduções alienígenas [2], e com os relatos xamânicos de diversas origens.

10/12/2025

Alberto Lombardo - A Simbologia da Obra Tolkieniana

 por Alberto Lombardo

(2000)


O objeto da minha intervenção é uma breve análise do uso do simbolismo por Tolkien. No entanto, dada a vastidão do tema, o amplo uso de símbolos pelo filólogo de Oxford e a riqueza de referências, correspondências e reflexões que cada símbolo suscita, esta análise será necessariamente limitada a algumas breves menções. Além disso, o próprio levantamento que pretendo apresentar aqui tem uma pretensão meramente "evocativa", ou seja, a de fornecer um conjunto limitado de imagens, aproximações e "visões" simbólicas, com o objetivo de responder a estas perguntas: qual a medida do uso de símbolos por Tolkien? Quais as implicações desse uso? E qual a consciência do autor ao recorrer a esses símbolos — ou seja, qual o "rigor tradicional", a fidelidade ao significado arcaico?

05/12/2025

Naif Al Bidh - A Filosofia da História de Hegel: Um Grimório Faustiano

 por Naif Al Bidh

(2025)


 

A contribuição de Hegel para a filosofia da história é bastante significativa. Embora ele não tenha sido o pioneiro direto desse campo no Ocidente (devemos isso a Kant e Herder dentro do pensamento ocidental), suas Lições sobre a Filosofia da História ainda foram a primeira obra de filosofia especulativa da história a popularizar formalmente o gênero. É interessante notar que o trabalho de Hegel parece sintetizar ideias tanto de Herder quanto de Kant, que produziram filosofias da história quase antitéticas entre si.

30/11/2025

Carl Schmitt - A Renânia como Objeto da Política Internacional

por Carl Schmitt

(1925)


 

É doloroso falar da Renânia como objeto da política internacional. Mas o perigo de a Renânia cair nesse estado e de seu povo ser degradado a mero anexo de um objeto ainda existe, e, no curso de nossa história milenar, a sombra desse perigo já pairou sobre nós mais de uma vez. O terrível período separatista e a crise do outono de 1923 ainda estão frescos na memória de todos. Foi quando não apenas a possibilidade de secessão da Alemanha tornou-se evidente, mas também a profunda imoralidade de uma condição que surge quando a autoridade do Estado se desintegra e o povo é levado ao desespero político. Hoje, felizmente, para muitos, o pior parece ter passado. Outros planos e combinações, cuja realização teria transformado a Renânia em objeto da política externa em igual medida, podemos hoje considerar como inofensivos, como projetos vazios — dos quais há dezenas em tempos turbulentos. Mas não devemos abandonar a cautela, precisamos manter esses projetos e intenções sob vigilância.

28/11/2025

Ernst Jünger - Peças Estrangeiras sobre a Guerra

 por Ernst Jünger

(1930)


 

Passaram-se mais de dez anos desde a Grande Guerra, e ninguém na Alemanha ousou considerar esse grande evento histórico como material para o teatro. O espectador, e sobretudo aquele que conhece a guerra por experiência própria, não pode deixar de pensar que esse período ainda é recente demais, que o tema ainda é sensível demais para ser apreendido com segurança, quanto menos dominado.