por Aleksandr Dugin
(2017)
Sociedade Humana após a Crise: O Inferno na Terra pela Lente da Sociologia das Profundezas
Sociologia das profundezas
Uma sociedade concreta (fenomênica) sempre consiste em duas partes – a superfície e o subterrâneo. A parte da superfície é o que normalmente chamamos de "sociedade", significando uma esfera de atividade racional onde o logos (λόγος) prevalece. Este é o domínio do "diurno". A parte subterrânea é a ilha escura e submersa do inconsciente coletivo, a região da noite social (o “noturno”), onde o mito (μύθος) governa.
Por um tempo, a ciência progressista acreditou que essas duas partes estavam situadas em ordem diacrônica. Nos tempos antigos (e entre os povos "primitivos", o infeliz "resíduo" dos tempos antigos), o mito predominava. Mas o progresso da civilização gradualmente suplantou a ordem mitológica e a substituiu por uma ordem baseada no logos. A comunidade, ou Gemeinschaft, foi superada pela sociedade, ou Gesellschaft (F. Tönnies). Mas essa exaltação otimista não durou muito. Enquanto a fé cega no progresso suposto reinava quase indiscutivelmente na Europa Ocidental dos séculos XVIII e XIX, o subconsciente, onde as leis eternas e imutáveis do mito predominam, foi descoberto no início do século XX.