30/08/2017

Alain de Benoist - Jünger & Drieu La Rochelle

por Alain de Benoist



Nos seus Pariser Tagebücher [Diários Parisienses], Ernst Jünger se refere a seus encontros na Paris ocupada com Pierre Drieu La Rochelle (por exemplo, em 11 de outubro de 1941 e em 7 de abril de 1942). Drieu era então o editor-em-chefe da revista La Nouvelle Revue française, publicada por Gallimard. Às quintas-feiras, Jünger usualmente ia ao salão literário de Florence Gould, ao qual ele foi introduzido por Gerhard Heller, e onde ele conheceu Paul Léautaud, Henry de Montherland, Marcel Jouhandeau, Alfred Fabre-Luce, Jean Schlumberger, Jean Cocteau, Paul Morand, Jean Giraudoux, e muitos outros. Depois, Jouhandeau se lembraria dele como "um homem muito simples, de aparência muito jovem, com rosto delicado, e que usava roupas civis, com gravata borboleta". [1]

Em 16 de novembro de 1943, Jünger notou em seu diário que ele havia visto novamente Drieu La Rochelle no Instituto Alemão de Paris, então dirigido por Karl Epting. Ele lhe disse que eles haviam "trocado fogo em 1915. Foi perto de Godat, a aldeia em que Hermann Löns caiu. Drieu também recordou o sino que soava as horas ali: nós dois o havíamos ouvido". Muitos anos depois, em suas discussões com Antonio Gnoli e Franco Volpi, Jünger, agora já com 100 anos de idade, recordou essa memória novamente: "Quando nos encontrávamos, nós usualmente falávamos sobre nossas experiências da Primeira Guerra Mundial: nós havíamos combatido na mesma zona do front, ele do lado francês, eu do lado alemão, e ouvíamos, em lados opostos, o som dos sinos da mesma igreja". [2]

Não deveria surpreender que estes dois homens haviam se aproximado de início por suas memórias da Grande Guerra. Ela marcou ambos mais profundamente que qualquer outra coisa, como com muitos homens de sua geração. Mas entre Jünger e Drieu La Rochelle, houve muitos outros pontos em comum. Profundamente impressionados com a leitura de Nietzsche, ambos aspiravam a uma aventura africana em suas juventudes: Jünger se alistou na Legião Estrangeira Francesa, enquanto em 1914 Drieu requisitou ser designado para os rifleitos marroquinos (em ambos os casos, a experiência foi breve). Acima de tudo, ambos os homens foram teóricos políticos além de escritores, simultaneamente no caso de Drieu, sucessivamente no de Jünger. Ambos poderiam ser justificadamente descritos, em um ponto ou outro de suas vidas, como "nacional-revolucionários". Ambos, finalmente, foram incontestavelmente conservadores revolucionários, ávidos por salvguardar valores que eles consideravam eternos, mas ao mesmo tempo conscientes de que o advento do mundo moderno criou abismos através dos quais era impossível retornar. Ainda assim, apesar de tudo isso, muitos coisas os separavam.




Jünger descreveu a Primeira Guerra Mundial quase sob fogo, enquanto Drieu aguardou vinte anos para escrever La Comédie de Charleroi. [3] (Ademais, tendo sido dispensado em 1939, ele não participou na Segunda Guerra Mundial). Na primeira de seus seis contos desse livro, que é certamente uma de suas obras-primas, ele relembra um assalto contra os alemães em 1914 na área de Charleroi. Essa descrição é feita no esquema de uma visita ao campo de batalha realizada cinco anos mais tarde pelo narrador na companhia de um rico burguês que havia perdido seu filho nessa batalha. Nota-se que 20 anos depois, para além de qualquer justificativa ideológica, Jünger e Drieu percebiam a guerra como uma lei inerente na natureza humana, até como uma reabilitação do "homem natural" na totalidade de seus instintos. "É a vida na forma mais terrível que o criador já lhe deu", escreveu Jünger. [4] Para Drieu como para Jünger, a guerra é, primariamente, o que nos liberta do mundo burguês e revela o homem em sua autenticidade.

Porém, ambos também avaliaram o quanto a Grande Guerra, que começou em 1914 como uma guerra tradicional, se transformou aos poucos em uma guerra de um tipo completamente novo: uma disposição de forças gigantescamente impessoais, um "duelo de máquinas tão formidáveis que ao lado delas o homem não existe mais, por assim dizer". [5] Mas o advento da "guerra técnica" horrorizou Drieu de maneira particular, que a via como uma "revolta malévola da matéria contra o controle humano", uma verdadeira "chacina industrial", enquanto para Jünger ela paria a intuição de um novo tipo humano, completamente oposto ao burguês: o Trabalhador, cujo "realismo heroico" seria capaz de garantir a mobilização (Mobilmachung) do mundo. Para Jünger, os "exércitos de máquinas" inauguravam os "batalhões de trabalhadores", a experiência da guerra tendo conferido ao homem uma disposição (Bereitschaft) para a "mobilização total", isto é, uma vontade de dominação (Herrschaft) expressada por meio da Tecnologia.

Drieu não partilha em nada dessa visão otimista e voluntarista. No período entreguerras, ele se opunha a uma direita que continuava a pregar os velhos "valores guerreiros" sem perceber que estes valores não possuem inimigo pior que a guerra moderna. "A guerra militar moderna é uma abominação em todos os sentidos", ele escreveu em 1934 em Socialismo Fascista. [6] Segundo Drieu, o reino da Tecnologia, longe de prenunciar o advento de um novo homem, implica uma degradação do homem. Como é sabido, foi apenas depois, sob a dupla influência de Heidegger e de seu irmão, Friedrich Georg Jünger, que Jünger começou a refletir criticamente sobre a Tecnologia e sua natureza "titânica", ampliando e aprofundando a reação puramente instintiva de Drieu.

Após terem servido no front, o que lhes trouxe um tipo de experiência mística, ambos escritores acreditavam ser possível reter o que eles haviam adquirido nos campos de batalha na vida civil. "Seremos capazes de estabelecer a paz tal como travamos a guerra", Drieu escreveu em seu primeiro livro, uma coleção de poemas chamada Interrogação. [7] Ao mesmo tempo, Jünger também resolveu transformar a derrota militar em vitória civil. Essa resolução explica seu comprometimento político.

Seu relacionamento com a política, porém, não foi o mesmo. Na década de 20, Jünger se uniu às fileiras nacionalistas a partir de convicções profundas e ígneas. Drieu, porém, mergulhou para afastar suas próprias hesitações. O autor de O Fogo Fátuo [8] pertence àqueles homens que chegam à política partindo da filosofia, com a necessidade de encontrar encarnações concretas de ideias correspondentes à sua cosmovisão. Mais que um ator, ele queria ser um observador. Durante a Grande Guerra, ademais, enquanto Jünger esteve completamente engajado nas "tempestades de aço", Drieu esteve em combate apenas de forma intermitente, apesar de isso não o ter impedido de ser ferido três vezes.

Em muitos sentidos, Drieu foi um diletante. Sobre seu diário dos anos 1939-1945, publicado apenas em 1992, poder-se-ia até mesmo falar sobre sua "indiferença perante qualquer convicção ideológica profunda", de sua "inconstância" (Julien Hervier). Isso não é impreciso, mas não se deve de forma alguma ver qualquer traço de oportunismo nessa atitude. Germanófilo, mas anglomaníaco, assombrado pela decadência mas consciente de que sua própria obra se encaixava em certa definição dela, Drieu é um homem de dúvidas e oscilações - talvez manifestando suas origens burguesas.

Vê-se isso claramente em suas relações com as mulheres. O autor de um belo livro chamado O Homem Coberto de Mulheres (1925), [9] que talvez seja em boa parte autobiográfico, Drieu amava as mulheres, mas não por elas mesmas. Seu "don juanismo", de inspiração quase-platônica, é articulado ao redor do desejo de seduzir e da "ideia insana do belo": "Impossível para mim me apegar a uma mulher, impossível para mim abandoná-la. Eu não acho nenhuma delas bela o suficiente. Bela o suficiente internamente ou externamente". [10] É por isso que este homem "coberto de mulheres" esteve sempre sozinho. O mesmo se aplicava à política: nenhum regime político conseguia atraí-lo completamente, tal como nenhuma mulher era suficientemente "bela" para ele.

Mas é precisamente porque ele é atraído por um ideal inatingível e perpetuamente dividido entre impulsos contraditórios que Pierre Drieu La Rochelle não cessou de lutar contra o que ele considerava como falsas alternativas. Interrogação contém o poema "E Sonhos e Ação". A justaposição dessas duas palavras traduz muito precisamente o que ele buscou reconciliar durante toda sua vida. Drieu quis reconciliar sonho e ação, como ele quis reconciliar alma e corpo, o mundo da guerra e o do espírito.

Ele interpretava a história da Europa como a lenta ascensão da ideologia burguesa que levou à ruptura do equilíbrio entre alma e corpo e sujeitou o homem à influência venenosa da vida nas grandes cidades. Sua grande tarefa foi a reconciliação da alma e do corpo. Em suas Notas para Compreender o Século (1941), [11] ele escreve: "O novo homem participa no corpo, ele sabe que o corpo é a articulação da alma e que a alma não pode ser expressada, não pode se dispôr, senão através do corpo".

A atitude de Drieu é a de um dândi. Mesmo assim, muitos autores também consideram Jünger como um típico representante do dandismo. Nicolas Sombart escreve:

"O dândi representa o tipo de homem que estiliza a si mesmo... Ele sublimou a vontade de poder em uma vontade de estilo... Almejando estilizar a si mesmo, ele estiliza o mundo e realiza essa misão quando captura uma situação em uma formulação elegante... Para isso, ele deve se sujeitar a disciplina, abnegação e um ascetismo rigoroso". [12]

"Distância, beleza , impassibilidade, tais são os elementos do dandismo jüngeriano", escreve Julien Hervier de sua parte. [13] Poder-se-ia pensar aqui no ideal de "impessoalidade ativa" pregado por outro teórico do dandismo, o italiano Julius Evola. Porém, Drieu é mais um dândi que Jünger, porque o primeiro prega o "engajamento pelo engajamento", tal como outros poderiam falar em "arte pela arte".

Drieu dá à história a mesma atenção apaixonada que Jünger dá à botânica ou à entomologia. Mas para ele, a história está essencialmente em fluxo, governada pelo acaso, enquanto Jünger busca ler, por trás das aparências e movimentos superficiais, "a permanência harmoniosa de uma ordem estável" (Julien Hervier). Em Jünger, a história nunca é um fenômeno puramente humano. Ao contrário, ele a associa a uma necessidade invisível, um tipo de metafísica do destino, de forças que a excedem. É por isso que Jünger não está tão interessado na história quanto no que está por trás da história. É por isso que ele está interessado no mito.

Drieu, que havia sonhado em se tornar um padre ou monge, e que, no Prefácio de um de seus romances mais famosos, Gilles (1939), [14] escreveu que se ele pudesse reviver sua vida, ele a devotaria à história da religião, também estava apaixonadamente interessado no mito. Como Jünger, ele se refere constantemente ao sagrado, mas nunca tenta relacioná-lo com alguma religião específica. Para ele, o sagrado é sinônimo do divino, e o divino é mais imanente que transcendente.

Ele já usava termos religiosos para descrever a realidade brutal da Grande Guerra. Quando as bombas explodiam, ele exclamava: "Estes não são homens, é o Bom deus, o próprio Bom deus, o Duro, o Brutal!" (A Comédia de Charleroi). Para ele, a guerra era como a religião: um tipo de teste sagrado. Por toda a sua obra, o elo entre a vida do soldado e o ascetismo, o elo entre ação e religião, é manifesto.

Finalmente, Drieu, como Jünger - que diz que o cosmo para ele possui uma dimensão divina e sagrada - sustenta que "a natureza é animada, falante, inumeravelmente prodigiosa". Jünger raramente emprega a palavra "Deus", diferentemente de Drieu, que a emprega frequentemente. Mas, da afirmação de Nietzsche de que "Deus está morto", ele tira a conclusão de que "Deus deve ser concebido de uma nova maneira".

Jünger definitivamente se distanciou da política no início dos anos 30, enquanto Drieu jamais de desligou. Como Julien Hervier nota, a necessidade de engajamento leva Drieu a uma ética da ação pela ação. Sob a Ocupação, é essa preocupação com o engajamento por princípio que o levou a continuar a escrever artigos políticos, apesar da política o interessar muito pouco à época. Lendo seu diário, vê-se que seus verdadeiros interesses se inclinavam para a espiritualidade oriental.

Podemos dizer que para Drieu, a política jamais foi mais que "uma razão para a curiosidade e o objeto de uma especulação distante" que jamais exerceu mais que uma atração esporádica. [15] Rejeitando o mundo burguês e democrático, ele certamente jamais deixou de crer na possibilidade de um socialismo não-marxista. Mas à sua maneira, ou seja, erraticamente, e não sem uma certa cegueira para com a realidade das coisas.

Jünger se distanciou da política porque ele assumiu a medida plena do espírito "mauritaniano", enquanto Drieu, ao contrário, continuou seu engajamento porque ele acreditava que na vida, é-se obrigado a sujar as mãos. Ao adotar essa atitude, o dândi salva a si mesmo em relação ao colapso que ele observa ao seu redor. Quando a batalha é perdida, permanece ainda apenas a beleza do gesto.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Drieu sentiu que ele testemunhava o fim de um mundo, o fim de uma era: "A França está acabada... Mas todas as pátrias estão acabadas". Deve-se, porém, lembrar que ele constantemente conclamou pela Europa. Em 1931, ele publicou um livro chamado A Europa contra as Pátrias. [16] Em 1934, em A Comédia de Charleroi, ele escreveu: "Hoje, França ou Alemanha, é pequeno demais".

Jünger - que sempre foi um francófilo, como Drieu era um germanófilo - também sabia como se afastar de pertenças nacionais estreitas: Der Arbeiter já propõe o problema do globalismo que após a guerra ele discutiu em seu ensaio sobre o Estado universal.

Drieu sonhava apenas com regeneração. Como Nietzsche, ele pensa que não se deve salvar o que desmorona, mas acelerar seu colapso. Em seu diário, ele declara que deseja a destruição do Ocidente e clama por uma invasão bárbara que varrerá essa civilização agonizante: "É com alegria que eu saúdo a ascensão da Rússia e do comunismo. Isso será atroz, atrozmente destrutivo". [17]

Ao mesmo tempo, ele também escreveu: "Eu considerei o fascismo apenas como um passo rumo ao comunismo". A facilidade com a qual Drieu elogiou o comunismo stalinista tanto quanto o fascismo ou o nacional-socialismo, colocando naquele as esperanças rapidamente desapontadas inspiradas por estes, só surpreenderá aqueles que são completamente ignorantes em relação ao nacional-bolchevismo, encarnado, por exemplo, por Ernst Niekisch, que foi um amigo próximo de Jünger nos anos 20.

Em sua juventude, sob a influência de Niekisch, Jünger também viu os comunistas como os melhores preparadores da "revolução sem qualificações" [18] que ele celebraria em Der Arbeiter. Depois, mas desde uma perspectiva completamente diferente, ele enfatizaria a medida em que comunismo e nacional-socialismo se paralelavam na introdução da Tecnologia na vida política, expressando assim uma adesão comum à modernidade, sob o horizonte de uma vontade de poder que Heidegger havia desmascarado como mera "vontade de vontade". Encontra-se reflexões similares em Genebra ou Moscou (1928), [19] onde Drieu enfatiza que capitalismo e comunismo são herdeiros gêmeos da Máquina: "Ambos são os filhos escuros e flamejantes da indústria". [20]

Porém, Drieu foi ao mesmo tempo tentado pelo recuo, pela fuga para as laterais. Um de seus últimos romances O Homem a Cavalo, [21] publicado em 1943, conta a história de um ditador sul-americano, Jame Torrijos, que, após tomar o poder na Bolívia, tentou criar um império. Incapaz de alcançar seu objetivo, ele se retira da política para ressuscitar os ritos incas.

Como o heroi de O Homem a Cavalo, Drieu sonhou com "algo mais profundo que a política, ou que uma política profunda e rara que se fundisse com a poesia, com a música e, quem sabe, com a alta religião". Mas ele não sabia como avançar nessa direção. Talvez ele não tivesse nele os recursos que o teriam permitido se tornar um Waldgänger ou Anarca.

Jünger também tinha a sensação de que uma época na história mundial estava finalizada. Ela foi completada com o aparecimento do Trabalhador, que inaugurou o reino global do "elemental". Os velhos deuses morreram ou fugiram; os novos deuses ainda estão por nascer. Entramos na era dos Titãs. Para se distanciar, Jünger sucessivamente criou a Figura (Gestalt) do Waldgänger, que assume uma distância, então a do Anarca, que toma altura.

A atitude do Anarca é similar em alguns sentidos à apoliteia pregada por Julius Evola. Mas essa Figura, como a do Waldgänger, claramente apresenta o problema do lugar do indivíduo em relação aos grandes processos históricos que afetam o mundo. Jünger evoca nesse sentido "o indivíduo tomado separadamente, o grande Solitário, capaz de resistir aos desafios espirituais daquilo que inaugurado e se tornará uma nova 'Idade do Ferro'." [22]

Poder-se-ia falar aqui em um "individualismo" jüngeriano. O individualismo de Jünger certamente não é o individualismo hedonista, que reflete o egoísmo e o utilitarismo do mundo burguês, mas a afirmação das prerrogativas do indivíduo isolado (der Einzelne) que pode espontaneamente reconhecer outros de seu tipo.

Em Drieu La Rochelle, por outro lado, há traços inquestionáveis desse individualismo burguês, que ele condena energicamente desde a perspectiva histórica, mas do qual ele nem sempre consegue escapar. A maioria de seus romances não são mais que histórias sobre indivíduos, e seus personagens são usualmente meras expressões dele mesmo. Também, ambos escritores dão papeis diferentes a indivíduos e elites. Enquanto Drieu aspira a uma nova aristocracia política, Jünger se situa em um plano superior: o acordo espiritual que pode ser estabelecido entre homens capazes de dominar espiritualmente a sua época.

Tal como Henry de Montherlant, tal como Yukio Mishima e muitos outros, Pierre Drieu La Rochelle finalmente cometeu suicídio. Mas seria um equívoco explicar seu suicídio meramente como uma derrota política, mesmo que ele próprio encorajasse isso ao dizer, em substância: "Eu joguei, eu perdi, eu reivindico a morte". Na verdade, Drieu havia sido tentado pelo suicídio desde a infância. Ele havia escrito: "Quando eu era adolescente, eu prometi a mim mesmo que permaneceria fiel à juventude: um dia, eu tentei manter a palavra". Ao morrer, como o heroi de seu romance O Fogo Fátuo, [23] Drieu permaneceu fiel a essa tentação de sua infância. Anteriormente, ele havia escrito em seu diário: "A beleza da morte consola uma vida mal vivida. Deus, o que foi minha vida? Algumas mulheres, a investida de Charleroi, algumas palavras, algumas paisagens, estátuas, quadros, e foi isso". [24]

Ernst Jünger escreveu que "o suicídio pertence ao capital da humanidade", e essa é uma máxima que Montherlant havia anotado em seus cadernos quando ele próprio decidiu cometer suicídio em setembro de 1972. Jünger também viu muitos amigos próximos cometerem suicídio, particularmente à época da tentativa de assassinato contra Hitler em 1944 (Hans von Kluge, Heinrich von Stülpnagel) e ao fim da Segunda Guerra Mundial. Mas para ele o suicídio permaneceu uma possibilidade abstrata, negativa em essência, enquanto para Drieu, para quem a morte era "o segredo da vida", o suicídio tinha um valor místico.

Em 7 de setembro de 1944, enquanto ele estava em Kirchhorst, Jünger soube do suicídio de Drieu em Paris. "Parece", ele escreveu, "que sob os termos de alguma lei, aqueles que tinham razões nobres para cultivar a amizade entre os povos caem sem mercê, enquanto os pequenos aproveitadores se safam". Em suas conversas com Julien Hervier, ele depois disse que estar "profundamente perturbado" por Drieu "ter cometido suicídio em um momento de desespero". "A sua morte", ele acrescentou", realmente me feriu. Ele era um homem que havia sofrido muito. Assim há pessoas que nutrem amizade por uma certa nação, como muitos franceses vieram sentir por nós, o que não lhes trouxe sorte alguma". [25] Em 6 de setembro de 1992, ele escreveu a Julien Hervier: "Gallimard me enviou sua edição dos diários de Drieu; lê-los foi comovente. Os críticos, até onde percebo, não entenderam a importância de sua obra. Eu fiz algumas notas sobre isso para o Siebzig verweht IV. Uma cópia está inclusa".

Palavras a recordar. Entre estes dois homens, houve irmandade.

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[1] Marcel Jouhandeau, “Mon ami Ernst Jünger” [“My friend Ernst Jünger”], in Hommage à Ernst Jünger [Homage to Ernst Jünger], ed. Georges Laffly, special issue of La Table ronde, Paris, Winter 1976, p. 9.

[2] Ernst Jünger, Les prochains Titans [The Coming Titans] (Paris: Grasset, 1998), 99.

[3] Pierre Drieu La Rochelle, The Comedy of Charleroi and Other Stories, trans. Douglas Gallagher (Cambridge: Rivers Press, 1973)—Ed.

[4] Ernst Jünger, Le combat comme expérience intérieure, trans. François Poncet (Paris: Christian Bourgois, 1997), 244.

[5] Le combat comme experience intérieure, 243.

[6] Pierre Drieu La Rochelle, Socialisme fasciste (Paris: Gallimard, 1934)—Ed.

[7] Pierre Drieu La Rochelle, Interrogation (Paris: Gallimard, 1917)—Ed.

[8] Pierre Drieu La Rochelle, Le Feu Follet (Paris: Gallimard, 1931)—Ed.

[9] Pierre Drieu La Rochelle, L’homme couvert de femmes (Paris: Gallimard, 1935)—Ed.

[10] Pierre Drieu La Rochelle, Journal (Paris: Gallimard, 1992), 512.

[11] Pierre Drieu La Rochelle, Notes pour comprendre le siècle (Paris: Gallimard, 1941)—Ed.

[12] Nicolas Sombart, “Le dandy dans sa maison forestière: remarques sur le cas Ernst Jünger” [“The dandy in his Forest House: Remarks on the Case of Ernst Jünger”], in Ernst Jünger, ed. Philippe Barthelet (Lausanne: L’Age d’Homme, 2000), 396.

[13] Julien Hervier, Deux individus contre l’histoire : Drieu La Rochelle, Ernst Jünger [Two Individuals against History: Drieu La Rochelle, Ernst Jünger] (Paris: Klincksieck, 1978), 86.

[14] Pierre Drieu La Rochelle, Gilles (Paris: Gallimard, 1939)—Ed.

[15] Journal, 437 and 309.

[16] Pierre Drieu La Rochelle, L’Europe contre les patries (Paris: Gallimard, 1931)—Ed.

[17] Journal, 379.

[18] Die Standarte, November 23, 1925.

[19] Pierre Drieu La Rochelle, Genève ou Moscou (Paris: Gallimard, 1928)—Ed.

[20] Genève ou Moscou, 131.

[21] Pierre Drieu La Rochelle, L’homme à cheval (Paris: Gallimard, 1943).

[22] Les prochains Titans, 102.

[23] Pierre Drieu la Rochelle, The Will o’ the Wisp, trans. Robinson Martin (London: Calder and Boyars, 1966)—Ed.

[24] Journal, 304.

[25] Julien Hervier, Entretiens avec Ernst Jünger (Paris: Gallimard, 1986), 127. In English: Julien Hervier, The Details of Time: Conversations with Ernst Jünger, trans. Joachim Neugroschel (New York: Marsilio, 1995), 106.