30/12/2015

Aleksandr Dugin - A Quarta Teoria Política: Ser ou Não Ser

por Aleksandr Dugin

Tradução por Breno Costa



Hoje o mundo é dominado pela impressão de que a política terminou - ao menos a que nós conhecemos. O liberalismo emplacou um combate tenaz contra seus inimigos políticos que propunham receitas alternativas - o conservadorismo, a monarquia, o tradicionalismo, o fascismo, o socialismo e o comunismo - para finalmente vencer todos no final do século XX. Parecia lógico supor que a política se converteria em liberal e que todos os adversários do liberalismo na periferia começariam a repensar suas estratégias e a construir uma nova frente: a periferia contra o centro, segundo a teoria de Alain de Benoist. Porém, no começo do século XXI, tudo seguiu um caminho diferente.

O liberalismo, que sempre tem buscado a minimização da política, decidiu, depois de sua vitória, eliminar por completo a política. Provavelmente para não permitir a formação de uma alternativa política e eternizar o seu reino ou, simplesmente, devido ao esgotamento da agenda política em razão da ausência de inimigos, que, segundo Carl Schmitt, são necessários para a formação de uma posição política. Em qualquer caso, o liberalismo tem conduzido a um recuo na política. Assim, o liberalismo se transforma, passando desde o nível das ideias, dos programas políticos e das declarações, passando ao nível das coisas e ingressando no miolo da realidade social, convertida em liberal, não a partir de um ponto de vista político, mas de uma maneira cotidiana, normal. 

A partir desse ponto de inflexão na história, todas as ideologias políticas que haviam se combatido ferozmente entre si através dos séculos perderam sua atualidade. O conservadorismo, o fascismo e o comunismo, assim como suas variedade marginais, fracassaram, enquanto que o liberalismo, triunfante, converteu-se na vida vida cotidiana, no consumismo, no individualismo, no estilo pós-modernista de ser sub-político e fragmentado. A política converteu-se em biopolítica e passou do nível individual ao nível sub-individual. Portanto, parece haver deixado a cena não somente as ideologias derrotadas, mas, também, a política como tal, incluindo a política liberal. Precisamente por essa razão é tão difícil a formação de uma alternativa. Os oponentes do liberalismo encontram-se em uma situação difícil: o inimigo triunfante evaporou, desapareceu; lutam contra o vácuo. Como fazer política quando não existe Política? 

Só há uma solução: Rechaçar as teorias políticas clássicas, tanto as derrotadas como as triunfantes, demonstrar imaginação, compreender as realidades do novo mundo global, decifrar corretamente os desafios do mundo pós-moderno e criar algo novo, além das batalhas políticas do século XIX e XX. Este enfoque é um convite para desenvolver uma Quarta Teoria Política além do comunismo, do fascismo e do liberalismo.

Para avançar no desenvolvimento desta Quarta Teoria Política, é necessário:

- Modificar a interpretação da história política dos últimos séculos, adotando novos pontos de vista, além do quadro dos clichês ideológicos habituais das velhas ideologias;

- Dar-se conta da estrutura profunda da sociedade global que aparece diante de nossos olhos;
- Decifrar corretamente o paradigma da era pós-moderna;

- Aprender a não opor-se a uma ideia política, a um programa ou a uma estratégia, mas ao estado das coisas "objetivo", ao tecido social apolítico da (pós) sociedade fraturada;

- Por último, construir um modelo político independente propondo um caminho e um projeto em um mundo de becos sem saída e de infinita reciclagem das mesmas coisas (pós-história segundo J. Baudrillard).

O presente trabalho se dedica a isso e ao desenvolvimento de uma Quarta Teoria Política mediante o exame das três primeiras teorias políticas, assim como das ideologias próximas a elas, o nacional-bolchevismo e o eurasianismo. Não se trata de um dogma ou de um sistema pronto de um projeto acabado. É um convite à criação política, à exposição de intuições e de hipóteses, à análise das novas condições. Por fim, é um intento de reinterpretação do passado. 

Nós não concebemos a Quarta Teoria Política como um trabalho de um só autor, mas como uma tendência de um amplo espectro de ideias, estudos, análises, previsões e projetos. Todas as pessoas que pensam segundo essa perspectiva podem contribuir com algumas de suas ideias. E um número crescente de novos intelectuais, filósofos, historiadores, cientistas e pensadores estão respondendo a esta convocação.

É sintomático que o livro do grande intelectual francês Alain de Benoist, Contra o Liberalismo, publicado em russo pelas edições Amphora, tem o subtítulo de Rumo a uma Quarta Teoria Política. É provável que os defensores da velha direita, assim como os defensores da velha esquerda e, provavelmente, os liberais, tendo em conta a mudança qualitativa em sua plataforma política, onde a política se evapora, tenham muito o que dizer sobre este tema. 

Para o meu país, a Rússia, a Quarta Teoria Política tem, entre outras coisas, uma importância prática considerável. A integração com a comunidade mundial é experimentada pela maioria dos russos como um drama, como uma perda de sua identidade. Na década de 1990, a ideologia liberal se vê quase totalmente rechaçada pela população russa. No entanto, por outro lado, a intuição sugere que o retorno às ideologias políticas não-liberais do século XX - o comunismo e o fascismo - é pouco provável em nossa sociedade, sendo que estas ideologias historicamente demonstraram serem incapazes de resistir ao liberalismo, sem mencionar o custo moral do totalitarismo.

Portanto, para preencher o vácuo, a Rússia necessita de uma nova ideia política. O liberalismo não é adequado, enquanto que o comunismo e o fascismo são inaceitáveis. E se, para alguns, é uma questão de livre eleição, de realização da vontade política, que sempre se pode dirigir tanto à afirmação como à negação, para a Rússia é uma questão de vida ou morte, a questão eterna de Hamlet.

Se a Rússia decidir "ser", significaria automaticamente criar uma Quarta Teoria Política. Do contrário, só permaneceria "não ser" e sairia lentamente da arena histórica, para dissolver-se em um mundo que não é criado e gestionado por nós.

29/12/2015

Aleksandr Dugin - Princípios e Estratégia da Guerra Vindoura

por Aleksandr Dugin



Para falar a verdade, a guerra começou. A guerra "foi começada". Esta guerra, que é a mais importante agora, é o confronto de duas civilizações: a civilização terrestre, representada pela rússia, e a civilização marítima, representada pelos EUA. É um impasse entre um sistema comercialista, e uma civilização heroica, entre Cartago e Roma, Atenas e Esparta. Porém, em certos momentos ela alcança uma fase "quente". Nós estamos neste momento novamente. Estamos à beira da guerra, e uma também já existe. Porém, esta guerra pode se tornar a maior e, talvez, a única batalha de nossas vidas, a qualquer momento. Como os principais jogadores - EUA e Rússia - são potências nucleares, a guerra envolve todas as nações do planeta. Ela possui toda chance de se tornar o fim da humanidade. Obviamente, isso não está garantido, mas tal desfecho não pode ser excluído.

O plano espiritual do grande conflito é compreendido em termos e contextos especiais. Aqui, o equilíbrio de poder está sempre a favor da Luz, apesar da posição dos fieis. Porém, ao nível estratégico pode parecer um pouco diferente. Os papeis na guerra não são simétricos. A Rússia está em uma posição mais fraca, mas tentando recuperar seu status de ator global. Ela busca apenas restaurar seu poder regional potencial para exercer sua influência livremente nas áreas próximas a suas fronteiras. Porém, isso é inaceitável para os EUA, que, apesar de tudo, permanecem com a hegemonia global e se recusam a perder a monopolaridade voluntariamente.

Se levarmos em consideração o pano-de-fundo espiritual da guerra se tornará claro que a escuridão não permite que a luz exista em qualquer proporção, ela só se acalmará quando for capaz de combater a luz por todo lugar, não apenas globalmente, mas também localmente. Um raio é suficiente para transformar a escuridão em trevas. Sem a luz, ela pode fingir ser qualquer coisa. Há uma conclusão importante: as ambições globais do Ocidente tecnocrático-materialista moderno, o próprio globalismo, não são uma contingência, mas a essência da força com a qual lidamos. É ingênuo assumir que você pode negociar com o diabo, ou enganá-lo. Você só pode vencer. Essa é a lei da guerra espiritual. Hoje, um ataca e o outro defende. Portanto, a guerra está quase no território russo, na área de seus interesses nacionais diretos. Ao mesmo tempo, a Rússia tenta ir além de suas fronteiras; a guerra é defensiva para ela. Atualmente, ela só tem objetivos regionais. Porém, o poder nuclear global a impede de atingi-los. Isso complica a situação e eleva o conflito a um nível global. Em qualquer coisa, a Rússia é atacada e se defende. Isso é importante.

Agora vamos nos voltar para as frentes da guerra.

Primeira Frente: Síria

Desde o início do conflito sírio, Moscou tem apoiado Assad, que foi atacado por Washington, Europa Ocidental e pelos proxies americanos no Oriente Médio: Arábia Saudita, Catar e Turquia. Cada um dos países, porém, seguia seus próprios interesses. A ferramenta para derrubar Assad eram grupos islâmicos radicais: ISIS, Al Qaeda (a Frente Al-Nusra), etc. Porém, a Rússia tornou-se plenamente envolvida em operações militares apenas em 2015, quando um Assad exausto pediu por apoio militar aberto. Neste caso, Moscou recebeu aliados, representados pelo eixo xiita: Teerã - Iraque xiita - e o Hezbollah libanês; eles não apenas cooperam, mas até lutam lado-a-lado. O mundo xiita é estritamente anti-americano, mas ao mesmo tempo, ao nível regional, se opõe ao financiamento sunita saudita e catari de grupos salafistas extremistas.

Na Primeira Frente, a Rússia enfrenta os EUA e os países da OTAN, não diretamente, mas indiretamente. Os próprios países ocidentais estão em guerra com o ISIS, como eles dizem, mas em verdade apoiam vigorosamente os grupos islâmicos radicais que querem derrubar Assad. As mesmas táticas foram usadas para derrubar Gaddafi na Líbia.

Ademais, a presença de jihadistas salafistas no Iraque, bem como do Talibã no Afeganistão, parece justificar a presença continuada de tropas americanas. Portanto, a Primeira Frente é um desafio vital para a Rússia: ela combate indiretamente os EUA e OTAN, e quase abertamente Turquia, Arábia Saudita e Catar. Portanto, a guerra na Síria não pode ser considerada como uma operação antiterrorista ordinária: ademais, os salafistas agora controlam a maior parte da Síria, possuindo uma impressionante quantidade de apoio direto e indireto. Mas a Rússia é a potência nuclear. Portanto, seu envolvimento na guerra síria mudou dramaticamente a situação, trazendo-a do nível local ao nível global. Com seu envolvimento, ela colocou muito em jogo. Agora isso não é apenas um problema de Assad, seus inimigos são forçados a lutar contra a Rússia. Não obstante, o oposto também é verdadeiro: a Rússia desafio não apenas a rede extremista do ISIS e da Al-Nusra, mas a hegemonia americana e o salafismo médio-oriental, com sua base importante nas monarquias do petrodólar no Golfo. Isso é importante: como Moscou compreende a seriedade da situação da Primeira Frente, e quão longe está disposta a ir em um cenário muito difícil, com uma coalizão impressionante do outro lado. Afinal, os EUA e OTAN estão ali, não importa o que digam.

Segunda Frente: Turquia

Se envolvendo cada vez mais na guerra síria, a Rússia se depara, como é evidente, com a Turquia - que está essencialmente ocupando o norte da Síria, habitada por tribos turcomanas, e começou um conflito militar com os curdos sírios. Erdogan tem estabelecido uma aliança com o rico Catar por um longo tempo, financiando grupos salafistas (como a "Fraternidade Muçulmana" no Egito) e começou uma luta ativa contra Assad. Portanto, quando o exército russo na Síria começou a bombardear as posições dos salafistas no norte da Síria, ela se envolveu em um conflito direto com Ancara. A derrubada do avião militar e o assassinato brutal dos pilotos russos foi apenas um pretexto para a escalada da tensão. Quando a Rússia começou a atuar de forma decisiva e a se envolver no conflito, não havia outro rumo, a guerra com a Turquia se tornou um evento muito real.

Então há a ruptura das relações comerciais, a proibição do turismo e a expulsão de companhias de construção da Turquia, que na esfera econômica é o ataque mais forte e doloroso, que levou a perdas e vários bilhões de dólares. Ancara está ameaçando constantemente fechar o Bósforo para navios russos, o que seria cortar uma artéria vital para tropas russas em Latakia.

Os turcos enviaram, em semanas recentes, uma parte considerável de suas tropas da fronteira com a Grécia para a fronteira com a Síria, e isso pode ser considerado como preparação para uma invasão militar. Todos esses fatos ampliam fortemente o risco de uma nova guerra turco-russa. Quão provável isso seria? É mais provável do que já foi alguma vez no século XX e nas primeiras décadas do século XXI. A Segunda Frente já está aberta. Quando um conflito direto vai começar, ninguém pode dizer com certeza. Teoricamente, isso poderia acontecer a qualquer momento. Aqui novamente, vale a pena lembrar que a Turquia é um Estado-membro da OTAN, e que ela coordena suas ações na Síria com Washington. Isso significa que a Rússia enfrentará a coalizão ocidental (com os EUA na liderança) atuando no lado turco em uma nova guerra potencial, como na Guerra da Crimeia. Assim novamente, um conflito regional obviamente teria impacto global. Isso é especialmente verdadeiro porque na Turquia há uma base militar nuclear americana. Seria difícil uma guerra direta com a Turquia não ser o início da Terceira Guerra Mundial.

A Terceira Frente: Ucrânia

A reunificação da Crimeia com a Rússia não é reconhecida por ninguém no mundo. A RPD (República Popular de Donetsk) e a RPL (República Popular de Lugansk) são uma ferida sangrenta com status desconhecido. A posição de Poroshenko em Kiev é bastante instável, e uma mudança real na situação econômica e social na Ucrânia em geral, até mesmo teórica, é impossível. Portanto, em um certo momento, Kiev só tem um caminho: uma nova rodada de tensão e escalada no leste, e mesmo uma invasão da Crimeia.

Se a Ucrânia enfrentasse a Rússia nessa situação, isso seria suicídio para Kiev.

Porém, nós devemos levar em consideração os EUA e a OTAN. O Ocidente estava por trás do golpe de Estado do inverno de 2014. Ademais, em algum momento, um ataque contra a posição consolidada dos militantes novorrussos e mesmo na Crimeia, pelo exército ucraniano, é bastante possível mesmo por razões ucranianas domésticas, ainda mais no contexto da lógica do confronto global entre Rússia e EUA.

É importante notar que todas as três frentes estão situadas perto das fronteiras russas, na área que separa Eurásia e Rússia, o espaço continental da Heartland, de seus territórios ocidentais. É a área em que civilizações do Oriente e do Ocidente se encontram. Usualmente, disputas por estes territórios iniciam guerras mundiais e conflitos globais. Todas as três frentes estão em antigos territórios otomanos, já que a Rússia ganhou a Nova Rússia e a Crimeia dos turcos, e a Síria era parte do Império também. Anteriormente, essas haviam sido áreas do mundo ortodoxo-bizantino. Portanto, as três frentes possuem um enorme sentido histórico e civilizacional.

Agora vamos olhar para os problemas domésticos da Rússia. Há três frentes também.

Quarta Frente: Terrorismo Salafista na Rússia

As estruturas em rede do Islã radical, ligadas a Arábia Saudita, Catar e Turquia há muito tem estado dispostas na Rússia, tanto no norte do Cáucaso como em outras regiões. Conforme o influxo de população muçulmana em cidades russas e na capital continua, as redes se espalham e amarram todo o espaço russo. Elas não estão limitadas a áreas densamente povoadas por muçulmanos, mas expandem ativamente sua zona de influência em outros ambientes sociais. Usando uma variedade de problemas domésticos, o Islã sunita radical se tornou razoavelmente popular como uma alternativa à agenda ideológica oficial incoerente e letárgica de Moscou e seus representantes puramente conformistas nas regiões. Isso alimenta a preparação e treinamento de grupos terroristas e de ramos diretos do ISIS.

Se os serviços especiais se tornam tecnicamente menos envolvidos com a tarefa de dissuasão grupoa, o plano estratégico e o programa mais ideológico para combater o fenômeno não existirão, o que ao longo do tempo só tornará a Quarta Frente mais importante. A Quarta Frente foi de fato o foco nas campanhas da Primeira e Segunda Guerras da Chechênia; a vitória na Segunda foi alcançada apenas após se usar uma linha patriótica linha-dura na política doméstica.

Quaisquer novas tentativas de enfraquecer o discurso nacional automaticamente fortalece as tendências centrífugas e os grupos extremistas. A Quarta Frente está aberta e em operação, mas a escala dos problemas que ela causa não sabemos. Sem semear pânico entre a população, os serviços de segurança ocultam das pessoas comuns a quantidade de ataques terroristas evitados e outras medidas preventivas, que, na verdade, é impressionante mesmo hoje. Como os EUA e seus centros estrangeiros, os proxies americanos no Oriente Médio, apoiam a Quarta Frente, nós podemos esperar apoio financeiro sério e, mais importantemente, o apoio de uma nova escalada.

 Quinta Frente: Quinta Coluna

Esta frente é uma rede de forças de oposição cujo núcleo consiste nos liberais pró-americanos que sonham em retornar à década de 90, o período do saque óbvio da Rússia e da venda de todos os seus bens para clientes estrangeiros, bem como da onipotência das elites liberais que possuem, como sua bucha-de-canhão, os nacionalistas radicais e neonazistas russos insatisfeitos com as autoridades russas e sua política passiva perante a migração e a ausência completa ou inarticulação da ideia nacional.

Os liberais sozinhos não são suficientes para organizar protestos de grande escala, assim os nacionalistas radicais russos desempenham um papel de apoio massivo na coalizão. Porém, os liberais pró-americanos são o centro principal para coordenar esforços e tomar grandes decisões, e são responsáveis pelo contato com Washington.

Os próprios EUA apoiam oficialmente o movimento "democrático", dando a ele somas substanciais de seu orçamento. Porém, o financiamento de outras fontes, menos evidentes, da Quinta Coluna da Rússia são muito maiores do que os dados abertos demonstram. Na Praça Bolotnaya, na primavera de 2012, a Quinta Coluna mostrou o que podia fazer. No caso do agravamento das consequências das sanções e possíveis conflitos militares, a Quinta Frente pode se tornar um fator significativo no enfraquecimento da Rússia. Ela está preparando uma facada pelas costas que pode ser decisiva se a ineficiência do sistema administrativo (e nada mostra que ele será mais eficiente no futuro próximo) continuar. Sob certas circunstâncias, seções de pessoas comuns desapontadas podem se unir à Quinta Frente, criando uma ameaça séria.

Sexta Frente: Liberais Pró-Ocidente e Agentes de Influência no Governo

Este grupo foi recentemente chamado de Sexta Coluna. São os liberais e pró-ocidentais que se integraram ao poder no novo milênio ou permanecem lá desde a década de 90, aceitando as novas regras do jogo. Em contraste com a Quinta Coluna, os representantes da Sexta Coluna são formalmente leais às autoridades, e inquestionavelmente obedecem e agem em um espírito de total conformidade. Porém, a Sexta Coluna segue a ideologia ocidental, vendo os EUA e a OTAN como a vanguarda do tipo humano progressista, com a economia sendo guiada exclusivamente através de métodos e abordagens liberais. Muitas vezes, as fortunas e famílias de altos funcionários russos estão em países ocidentais. Nessa situação, lealdade e patriotismo contido ocultam a sabotagem consistente da orientação sobre soberania nacional e a implementação de estratégias econômicas, administrativas e de informação, levando, eventualmente, à desmoralização da sociedade, uma economia enfraquecida e mais desideologização populacional. A Sexta Frente consiste em uma sabotagem sistemática, deliberada e muito habilidosa do renascimento russo, a contenção e substituição genuína da reforma patriótica, criando simulacros e falsificações eficientes. A Sexta Coluna não é diferente em sua ideologia da Quinta, já que ela também está orientada para o Ocidente, mas ela o esconde, preferindo atacar o regime de dentro, não de fora. Ademais, tal como a Quinta Coluna, a Sexta Coluna é controlada desde um centro externo, de Washington, ainda que isso seja mais sutil e dotado de nuances do que com a Quinta Coluna. O Conselho de Relações Exteriores (CFR) coordena a Sexta Coluna de forma que a estrutura esteja quase oficialmente representada nos níveis mais altos do governo russo. Em geral, este tipo consiste em uma grande parte do "governo liberal" bem como de um segmento significativo de outras instituições do governo.

Agora vamos nos colocar nos sapatos dos estrategistas americanos. A escalada das relações dos EUA-OTAN com a Rússia é óbvia. Moscou se comportou como uma potência regional soberana nos casos da Ossétia do Sul e da Abkhazia em 2008, da Crimeia e Nova Rússia em 2014 e finalmente da Síria em 2015 e se necessário, usará esse poder para insistir em seus interesses nacionais em certas áreas. É incompatível com a continuação da hegemonia americana que ainda é global. Moscou teria que construir sua política em acordo com Washington e com a OTAN e, é claro, essas ações não apaziguariam a força das sanções. Portanto, apesar da cortesia superficial e da retórica liberal, a Rússia está fora do controle ocidental. Isso é um fato. E Washington deve de alguma forma responder a isso. Se isso for admitido, seria equivalente à negação da hegemonia. Mas no evento de declínio, o Império Americano não se deterá necessariamente nas fronteiras que ele ainda controla firmemente hoje. Encorajados pelos sucessos dos russos, podemos querer olhar para a força dos americanos. Portanto, na posição dos estrategistas de Washington, seria lógico ativar todas as seis Frentes. Especialmente porque, em todos os seis casos, a América não superará a si mesma: mesmo o pior resultado não causaria seu colapso fatal, já que ela está protegida por uma vasta zona europeia, norte-africana, seguida pelos Oceanos Atlântico e Pacífico no oeste (especialmente já que não há atividades russas em seu lado oriental). Ademais, será bem razoável sincronizar os golpes contra a Rússia de todos os lados: militantes na Síria, apoiando a Turquia, fazendo Kiev começar uma nova rodada de combates (e mesmo atacar a Crimeia), influenciando as estruturas terroristas salafistas domésticas da Rússia, apoiando a Quinta Coluna (encontrando a ocasião social apropriada) e colocando mais sanções para encorajar a Sexta Coluna a sabotar de forma mais ativa e eficiente.

Ao mesmo tempo, seria igualmente lógico por um lado manter e talvez até fortalecer as sanções, reduzir os preços do petróleo em alguns pontos, e, ao mesmo tempo, começar atacando a liderança russa com trollagens conciliatórias como "o Ocidente te ajudará", "os terroristas são um problema comum" (comum porque alguns lutam com eles, e outros os apoiam) e "o principal problema é a China" (deixem os russos negar seu arsenal nuclear, e nós os protegeremos, colocando nossos mísseis nucleares em seus territórios) etc.

Porém, a simples estimativa analítica oculta algo muito sério. Guerra. Uma verdadeira com mares de sangue, chamas, tortura, sofrimento e dor. A guerra em que estaremos envolvidos. E, como as três frentes estão fora da Rússia, é provável que a guerra em territórios estrangeiros estará acompanhada por guerra civil. Isso, porém, nós sabemos muito bem da história.

Estratégia Vitoriosa: Inimigo Interno

Imaginemos que nós, muito objetivamente, estimamos os riscos, e nossa análise está correta. O que deve a Rússia fazer em tal situação? Ao travar a guerra ou pelo menos ao estarmos próximos dela, nós não devemos reagir apenas situacionalmente, mas também ter um plano para como travar a guerra e vencê-la. É bastante lógico ter o desejo de vencer, não é? Agora é importante encontrar uma maneira de como alcançá-lo, mesmo que apenas na teoria.

É óbvio que só se pode travar guerra efetivamente com um inimigo externo se a sociedade está bastante consolidada e mobilizada internamente. É desejável estar mentalmente preparado para a guerra. Para fazê-lo, as pessoas devem compreender quem é o inimigo e quem não é, e, mais importantemente, por que este é o caso e não é de outra forma. Você não deve demonizar o inimigo no início da guerra. A imagem do inimigo deve ser formada com antecedência e deliberadamente.

Portanto, a primeira tarefa para alcançar a vitória seria uma campanha completa para criar uma imagem inteiramente negativa, monstruosa e satânica dos Estados Unidos e do Ocidente em geral. Portanto, o Ocidente é o lugar em que o diabo reside. É o centro dos tentáculos capitalistas globais. É a matriz da perversão cultural degeneradora e da posse feroz da falsidade e do cinismo, violência e hipocrisia. A Rússia já faz isso, mas como a Sexta Coluna é a responsável pela propaganda anti-ocidental, ela é uma caricatura ou algo miserável e muito pouco convincente. É esta sabotagem que descreve a essência da Sexta Frente. Seus "soldados" não se recusam a obedecer às ordens do governo, até pedindo mais e mais, mas sua execução se tornou uma farsa, estultificando e sutilmente desacreditando todas as iniciativas. Propaganda esquisita e pouco sincera não raro gera o efeito contrário. Portanto, ao criar as imagens do inimigo americano e seus satélites (que nós de fato temos que combater), seria lógico acusar aqueles que pensam exatamente dessa maneira e puni-los com máxima clareza e cogência para as massas adormecidas. Enquanto isso, os agentes de influência ocidental recebem o encargo de criticar o Ocidente. com resultados previsíveis. Tal abordagem é incompatível com a "estratégia para a vitória" e deve ser reconsiderada (se a Rússia quiser ter pelo menos uma chance de vencer na guerra vindoura).

Do primeiro ponto nós movemos logicamente para a próximo. É importante desmantelar as estruturas da Sexta Coluna tão rapidamente quanto possível, removendo os liberais e os pró-ocidentais de todas as posições centrais. Junto com isso, o liberalismo na economia será abolido, o que permitirá:

* O estabelecimento de controle nacional sobre o Banco Central.
* Se afastar do dólar no comércio exterior para qualquer moeda de reserva diferente (como o yuan).
* A conquista da soberania financeira plena.
* A condutibilidade de mobilização da economia no tempo de guerra.
* Em paralelo, é necessário formar o Comitê Nacional para a Comunicação Social que irá reconstruir o trabalho de informação de acordo com as necessidades de emergência.

A eficiência da atividade puramente destrutiva da Quinta Coluna está amplamente ligada à eficiência da sabotagem da Sexta Coluna. A Quinta e a Sexta Frentes estão inextrincavelmente ligadas. Portanto, a destruição do poder de Sexta Coluna vai enfraquecer drasticamente a Quinta Coluna cujos líderes, em situações de emergência, poderiam ser ou internados (a propósito, as medidas de prisão domiciliar já foram administradas a alguns deles), ou expulsos. Claro, quaisquer meios legais da disseminação liberal ou de propaganda nacionalista destrutiva.

A Quarta Frente é um problema, já que o Estado não possui políticas étnicas e nacionais. No momento, só existe a mesma Sexta Coluna ou os burocratas cognitivamente inadequados. É por isso que os verdadeiros desafios da imigração descontrolada e tensões étnicas e religiosas são aprovados pela burocracia com slogans vazios e sem sentido, para a sociedade russa, de "sociedade civil" e "tolerância". Sem um sistema coerente de estratégia étnica e nacional contra o extremismo islâmico e o terrorismo, as questões na Rússia não serão resolvidas. Algumas medidas de segurança não são suficientes; ela precisa eliminar ou alterar permanentemente o ambiente social. Operações de força contra o fundamentalismo terrorista devem ser correlacionados em escala, incluindo um modelo ideológico de política étnica e nacional.

Estratégia Vitoriosa: Inimigo Externo

Ucrânia - a Terceira Frente - deve-se estar pronta para provocações armadas de Kiev e para repeli-las. Mais cedo ou mais tarde, a Rússia terá que resolver radicalmente a questão novorrussa pois contar com o fato de que Kiev vai cair por si ou vai abandonar a sua política pró-americana e anti-russa é um pouco irresponsável. Para proteger eficazmente a Criméia e resolver o problema do Donbass, todo o espaço da Nova Rússia deve ser libertado, e, se a guerra é inevitável, Moscou terá apenas uma tarefa - ganhar o mais rapidamente possível e da forma mais eficiente possível. Criar uma zona russa amigável de Odessa para Kharkov, seja criando de Estados independentes ou incluí-los em parte das terras russas, é o objetivo que poderia ser considerado como uma vitória. O destino da Ucrânia Central e Ocidental não tem grande valor.

Em relação à Segunda Frente turca, ali, além do desenvolvimento operacional militar que é a tarefa da liderança militar e não pode ser discutidos por analistas, a Rússia deve prestar atenção a dois fatores principais: a oposição política ao regime de Erdogan que, na circunstância atual, tornou-se um aliado natural, e o problema fundamental para a Turquia, os curdos. Ambos os fatores são cruciais para o sucesso no conflito russo-turco. É extremamente importante realizar propaganda anti-turca na sociedade russa, constantemente salientando que os EUA e seus apoiantes (Erdogan) são responsáveis ​​pela escalada do conflito na região, e que Moscou não considera os turcos como seu inimigo histórico. Portanto, quaisquer paralelos com a guerra russo-turca, mesmo nos casos internos, só vai unir os turcos com Erdogan e fortalecer o inimigo. Em contraste, o apoio aos políticos turcos que não compartilham pontos de vista de Erdogan do neo-otomanismo poderia ser decisivo. Ao mesmo tempo, é claro, a Rússia deverá intensificar a cooperação com os curdos, pois é uma força imponente na Turquia.

Finalmente, a Primeira Frente, na Síria. Nós não a colocamos acidentalmente no final da "estratégia vitoriosa". A forma de confronto mais aguda é sempre a mais prático e cheio de detalhes técnicos e militares. No entanto, ela sempre depende dos elementos da sociedade, e dos sucessos locais - no ambiente externo, muitas vezes global.

Vimos que a Rússia tem um importante aliado regional, o mundo xiita, que é representado principalmente pelo Irã e pelo Hezbollah libanês. Estes são "irmãos de armas" russos, e ela deve fazer o seu melhor para aprofundar a aliança. Obviamente, não são só os russos que entendem o seu valor, mas até mesmo as forças pró-americanas na Rússia e no Irã, então eles vão tentar fazer todo o possível para trazer a divisão entre os aliados. Isso deve ser cortado pela raiz, pelo menos, na Rússia, e concisa esclarecido nas negociações com os xiitas.

Em seguida, os russos precisam do apoio político, preferencialmente militar e econômico, dos países do clube multipolar planejado, BRICS. A China desempenha um papel especial lá, preferindo não vir para a frente da oposição dos Estados Unidos, mas estando pronta para apoiar Moscou, permanecendo à margem. Muitas coisas na Síria agora dependem das relações Moscou-Pequim, e ela precisa de atenção máxima.

A Rússia não tem chance de fazer dos países europeus os seus aliados de pleno direito na Síria, na medida em que a influência dos Estados Unidos sobre eles é muito grande. No entanto, qualquer distanciamento de Washington pelas potências europeias (especialmente França, Alemanha e Itália) ao lado de diferenças na OTAN serão muito úteis para Moscou. Se a Europa tiver que continuar a crescer a sua onda de partidos e movimentos da direita conservadora, que geralmente são leais à Rússia, ela irá reforçar significativamente a sua posição na Síria. A propaganda russa na Europa durante a guerra tem particular importância.

Como na Síria, a Rússia enfrenta forças abertamente apoiadas pela Arábia Saudita e Catar. Como o Catar está envolvido no acidente de avião com turistas russos sobre o Sinai, a Rússia deve prestar especial atenção para a desestabilização máxima desses regimes. Sob certas circunstâncias, um ataque direto ao Catar e apoio militar para os Houthis no Iêmen, bem como para os xiitas no Bahrein, não pode ser excluída. O convite das tropas russas no Iraque e no Líbano pelos respectivos governos é estrategicamente crucial; ele vai ajudar a travar uma guerra em grande escala contra as principais bases dos terroristas do ISIS e quebrar sua conexão de infraestrutura com a Turquia e os países do Golfo.

Em geral, a Rússia já está em guerra no Oriente Médio, por isso deve ser reconhecido como um fato consumado que, usando todo o arsenal de meios disponíveis, em primeiro lugar, as redes de inteligência que visam promover, usando formas diferentes, interesses russos na região tais como informacionais, econômicos, ideológicos, etc, devem urgentemente ser revividos.

O último argumento nessa esta guerra vai envolver armas nucleares russas, que, graças a Deus, os reformistas liberais da década de 90 não conseguiram destruir. É senso comum não usá-las nunca. No entanto, isso não significa que elas não podem impor restrições graves no principal inimigo da Rússia, os Estados Unidos da América. Temendo destruição completa, os Estados Unidos vão ter de jogar contra a Rússia respeitando certas regras.

Sétima Frente. Americanos Contra o Governo Federal

Além disso, em termos dos Estados Unidos, é importante abrir a Sétimo Frente. Na verdade, os EUA têm muitas pessoas que estão insatisfeitas com a elite dominante que professa a ideologia globalista, arrastando os EUA em guerras sangrentas, destruindo a identidade cristã europeia tradicional. A Nova América, onde nada resta dos próprios Estados Unidos, e que serve os interesses da oligarquia financeira global que não tem cultura ou identidade, destrói a Velha América. Por isso, o apoio ao tradicionalismo dos EUA e do conservadorismo da identidade americana é uma tarefa importante para a Rússia. Seu aliado nos EUA é o povo americano. Além disso, muitas contradições têm se acumulado na esfera social, nas relações inter-étnicas.

A maioria da sociedade americana não aceita a degeneração moral. O governo federal usa cada ocasião conveniente para começar a abolição da segunda emenda da Constituição que permite que os norte-americanos mantenham e portem armas. As proporções crescentes da população latina, em sua maioria católica, trazem para o público americano uma nova identidade que não é hostil à Rússia. A Rússia deve participar ativamente na luta pela influência na sociedade americana, fortalecendo a explicação da posição espiritual da Rússia na guerra, mostrando que russos e americanos têm um inimigo comum: a elite satânica maníaca que usurpou o poder e está levando toda a humanidade, incluindo os americanos, para a inevitável catástrofe. Os resultados da elite são evidentes: todo o Oriente Médio já está coberto de sangue, eles não são mais capazes de estabelecer qualquer ordem, a elite globalista (o CFR, os neocons, os representantes da oligarquia financeira internacional de Wall Street) implantam em todos os lugares apenas o caos, devastação, morte e dor. A destruição de tal câncer da humanidade é uma questão para o mundo inteiro, incluindo os americanos, que não são apenas os seus instrumentos, mas também vítimas.

Onde Está a Cidade?

Está longe de ser fácil de ganhar neste jogo. Como o nome deste jogo é a Grande Guerra. No entanto, quando a Grande Guerra vem, ela só pode ser evitada através da escravidão e do reconhecimento deliberado como perdedor. A história russa não teve tais momentos. Por mais que pareça difícil, de alguma forma os russos lidaram com ele.

Nós não estamos falando apenas sobre o confronto geopolítico, sobre a redistribuição de esferas de influência ou do cumprimento de interesses nacionais. Trata-se de algo muito mais profundo e mais importante.

Todas as religiões têm uma seção que trata do fim dos tempos e da batalha final. Os cristãos, assim como os judeus e os muçulmanos, associam os eventos do ciclo com a Grande Guerra. Além disso, invariavelmente, todas as três religiões descrevem o Oriente Médio como o lugar da Grande Guerra, como o campo de Armageddon e os territórios vizinhos. Para os muçulmanos, Damasco, Mesquita Omíada, é considerada como o lugar onde a Segunda Vinda de Cristo será realizada. Portanto, a guerra na Síria tem francamente um sentido escatológico. Afinal de contas, a Síria é uma parte da Terra Santa, onde o Salvador pisou no chão. Para os judeus, esperando a iminente chegada de Mashiach, a escalada da violência em suas fronteiras, em áreas críticas para a existência de Israel, tem um significado escatológico. Os protestantes americanos, dispensacionalistas, veem a última batalha como a invasão do exército do norte, de Gog (entendido como a Rússia) à Terra Santa. Finalmente, os monges de Athos e santos gregos, como Cosmas Aeolian [1] ou São Paisios do Monte Athos, repetidamente previram o lançamento de tropas russas e o colapso de Constantinopla e da Turquia. Assim, Santo Arsênio de Capadócia em Faras disse aos fiéis que eles vão perder sua terra natal, mas em breve irão encontrá-la novamente: "As tropas estrangeiras virão, em Cristo crerão, a língua eles não saberão ... Eles vão perguntar: Onde está a cidade? "[2] Entende-se como referência para o exército russo se aproximando de Constantinopla. Em uma de suas conversas São Paisios disse:

"- Saiba que a Turquia vai entrar em colapso. Haverá dois anos e meio de guerra. Seremos vitoriosos porque nós somos ortodoxos..

- Gerontius, nós toleramos danos na guerra?

- Hey, no máximo, um ou dois da ilhas serão tomadas, mas vamos retomar, e Constantinopla. Você vai ver, você vai ver! "[3]

Recentemente, um ou dois anos atrás, todas essas predições teriam causado apenas um encolher de ombros, que conto de fadas! Mas...hoje: sangue está sendo derramado no Oriente Médio; há operações militares nos arredores de Damasco; os russos não estão apenas presentes, mas lutam na Terra Santa; o conflito com a Turquia já começou e não se pode excluir que ele vai levar a uma guerra real. A partir de uma perspectiva escatológica, é hora de voltar para os lugares santos, a Terra Santa, Constantinopla e Kiev. A afirmação de que não estamos vivendo no Fim dos Tempos agora parece não científica. Como Ancião Paísio disse: "Você vai ver, você vai ver". Então, vamos ver.

Assim, onde está a cidade?

20/12/2015

Martínez de Pisón - A Montanha Simbólica

por Martínez de Pisón



Resumo

A montanha contém valores de notável profundidade cultural em seus significados. Estão propostos como exemplos expressivos: 1º, o caráter analógico de determinados conteúdos da própria montanha e da aproximação ao seu sítio e à sua altitude; 2º, o sentido metafórico do vulcão na grande literatura europeia; 3º, o marcado símbolo espiritual da ascensão em nossa literatura; e 4º, a intensa interpretação religiosa de algumas montanhas da Ásia. Cabe, pois, ao interesse geográfico fixar-se e aprofundar-se em tais conteúdos, ainda que não estejam formalizados em seu restrito território como componentes do sentido das paisagens. Portanto, se o pensamento geográfico estabeleceu como limite de seu interesse específico um ponto prévio a esses conteúdos, o que ficaria amputado é o próprio conceito de paisagem.

A montanha análoga

Há valores visíveis; explícitos nas paisagens, que convivem com outros ocultos, invisíveis, frequentemente tanto ou mais significativos. Estes requerem perscrutar aquilo que não está à vista. A condição oculta da paisagem é uma referência necessária de valor e determinadas paisagens ficam ás vezes estreitamente enlaçadas a essa carga simbólica. Assim, no valor oculto da ascensão reside o símbolo espiritual de seu itinerário e do encontro com o alto. O olhar se lança desde uma perspectiva que por acaso pode encontrar-se melhor nas bibliotecas e nos museus do que no próprio terreno. Há novelas que exploram esse mundo simbólico expressamente, como A montanha análoga, de Daumal, uma alegoria do diálogo interior com a natureza, cuja realidade é melhor que a fantasia, O Odor da Altitude, de Jouty, que remete inclusive ao inalcançável e inexpressável, mesclando a ascensão real e a espiritual pela paisagem própria do estranho, aonde a valia moral conta mais que a capacidade física, porque o cume verdadeiro não se corresponde com o cume material. Significam não só enlaces com aspectos sublimes da realidade senão mais concretamente com a cultura, ou com alguns de seus componentes específicos: por exemplo, o inexpressável da montanha envolve com Senancour, ou a mística da ascensão com suas metáforas poéticas. E assim sucessivamente. Estão sendo invocados aqui, com clareza para quem transite por esses mundos, ainda que sem dizê-lo, órbitas próprias das letras e das artes.

Porém, a ascensão da montanha real é sempre o percurso de uma paisagem, o percurso apropriado ao declive e à rugosidade naturais, no qual é preciso um trato direto com a paisagem, que opõem sua resistência e oferece suas possibilidades. Em todo o processo de ascensão se sopesam as forças e habilidades do ascensionista com as forças estáticas e dinâmicas da montanha.

Ao mesmo tempo, não é menos verdadeiro que há, ademais, uma constante experiência espiritual que pode tomar uma expressão religiosa, inclusive mística, presentes na literatura alpina de modo abundante. Mas a relação entre montanha e religião é ampla, mais ampla que o alpinismo, e tem suas raízes no mais antigo e profundo de nossa cultura. O Himalaya é chamado por isso a morada dos deuses. O Monte Kailash, no Transimalaia tibetano, tem um caráter religioso em si mesmo e como objeto de peregrinação esse caráter é ainda mais intenso e vigente, estendido a budistas, hinduístas e bon. O forte simbolismo destas montanhas e de seus chorten ou stupas, principalmente no budismo tântrico, adquire uma dualidade significativa da montanha como templo e do templo como montanha. A forma do chorten, além de seu sentido geral como túmulo e ponto de devoção, tem significados cósmicos estratificados da terra ao céu, de modo que sua base corresponde à terra e se refere a um tipo de saber, o da identidade, seu domo central é símbolo da água e do saber ver, seu mastro faz referência ao fogo e ao saber discriminar, sua culminação significa o ar e o saber dos atos, e finalmente os símbolos solar e lunar que o completam evocam o éter e a sabedoria da lei. O chorten é, pois, também um símbolo do eixo ancorado no solo, e que se lança ao céu. O nosso Teide foi considerado pelos clássicos como “trono dos deuses” e talvez como eixo do mundo entre os aborígenes. E sem falar do alcance cultural tão intenso dos signos mitológicos do Olimpo ou do Parnaso. A outra grande raiz da relação montanha e religião em nossa cultura procede dos conhecidos acontecimentos bíblicos do Monte Sinai. O Símbolo religioso da ascensão é, portanto, explícito, e prosseguiu em diversas propostas ascéticas ou místicas. A subida é então exposta como um método religioso e uma das maneiras de realizar a viajem da prova que leva à iluminação ou à revelação, que não são o mesmo. O ermitão significa genericamente o desejo de retirada, de afastamento na natureza e de adentrar-se na montanha, porque esta proporciona amplamente ambos requisitos: natureza e solidão. Desprovida destas a montanha deixa de ser, portanto, desde um ponto de vista simbólico e não só naturalista, um bem maior.

As raízes universais das relações entre altitude, montanha, ascensão e experiência religiosa possuem muitas de suas chaves catalogadas. Algumas, por Samivel, com a capacidade de sugestão tão característica desse escritor da montanha alpina, e com as numerosas referências eruditas que ele era capaz de aportar, nesse caso sobre as múltiplas modalidades que adotam as concepções religiosas da montanha na história e na geografia. Ao abordar o simbolismo da altitude demonstrava Samivel a associação primária entre o baixo -com menos- e o alto -com mais-. A altitude e a verticalidade, escrevia, são geralmente qualificadas positivamente, de tal modo que à altitude correspondem conceitos de transcendência e à ascensão, de progresso e crescimento. No alto se encerram signos do que é bom e leve, do que vence o peso, do celeste; o espiritual ascende; em contrapartida, a matéria pesa e a vida precisa lutar contra o peso. A elevação é, portanto, uma qualidade e o cume é o seu êxito, a vitória sobre os obstáculos materiais mediante um esforço, sua recompensa moral. Tudo isso sacraliza a montanha e a sua ascensão. É o esforço que consegue a entrada em um domínio alheio e aberto entre linhas aéreas -sugestão do infinito-, em espaços grandes, no distanciamento progressivo do basal e de seus labirintos. De modo que a dualidade baixo-alto se polariza em dois ambientes contrapostos, o alto como cenário de natureza, solidão e individualização; e o baixo como mecanizado, massificado e gregário. Tudo isso são modelos culturais. Mas o baixo também é o terreno, o mundano, o subterrâneo, inclusive o infernal e, em contrapartida, o alto é o celeste e o divino. Sem distanciar-nos, vemos o mesmo em culturas populares, em misteriosos ambientes exóticos, em difíceis poetas místicos ou no próprio Dante.

Ademais, está claro que há um sentido moderno da ascensão, impregnado de valores científicos, artísticos e exploratórios, que banham culturalmente e ideologicamente o ato de ascender à montanha. Na Espanha é o que aconteceu, em sua melhor versão, sobretudo por influência da Instituición Libre de Enseñanza (“Instituição Livre de Ensino”) no excursionismo, com sua qualidade particular. A soma de ambos os modelos e sentidos constitui o produto cultural que o alpinista recebe e mantém. Não vamos mais nos estender sobre esse aspecto, que requer um tratado próprio. Portanto, agora vamos nos concentrar em três exemplos muito característicos do simbolismo herdado e às vezes esquecido. Não são os únicos, mas são suficientemente expressivos para revelar a existência e a importância do lado imaginário de toda a montanha e, por derivação, irão auxiliar-nos na busca de outros aspectos simbólicos que pesam na cultura. Trata-se, portanto, de um percurso fugaz pela outra vertente da geografia dos objetos, que suponho também ser geografia, como transitar pelo lado oculto da lua, naturalmente, considerando que ela seja redonda e não plana.

Primeiro exemplo: a erupção como metáfora.

Vamos começar com a raiz, com a origem simbólica da montanha no antro do fogo e do cataclisma. Não é exato, evidentemente, só é parcialmente verdade, mas assim tem sido prazeroso a mais de um poeta. Um caso é o de Gabriel e Galán, quem em Gredos escrevia: “Te engendrou trepidante o terremoto / [...] a terra te pariu de suas entranhas, / rugindo de dor em seu seio rompido. / [...] E transpiraste em teu alentar imenso / espirais soberbas / que cegaram o éter de fumo denso. / e tua louca infância, brava e ardente / envolveu-se em fraldas / que eram manto de lava incandescente...”. Não explicaria dessa forma a origem de Gredos, evidentemente, mas a licença poética nos serve perfeitamente para entrar no tema.

Nossa cultura nasceu junto ao vulcão. Os grandes mitos clássicos se associaram em casos como esse, com naturalidade no geográfico e com lógica no dinâmico, às formas vulcânicas e às destruições próprias das erupções. É o que se conhecia empiricamente nas forças terrestres presentes no mundo mediterrâneo e é o que transmitiram os escritores a seus contemporâneos e aos tempos posteriores. Logo se transportaram também no espaço ao aplicar-se por distintos descobridores em parte ao atlântico e ao continente americano. Vieira e Clavijo propôs, a modo de exemplo, “se as Ilhas Canárias foram parte da Atlântida de Platão”. A marca da cultura mediterrânea estendendo-se pelo Globo também estava composta por suas antigas considerações míticas e naturalistas, logicamente.

As referências a vulcões na mitologia clássica são, como se sabe, abundantes: nada mais explícito que Efestos ou Vulcano, deus do fogo profundo, como principio tanto criador como destruidor. A ativa proximidade do Etna, do Vesúvio, de Vulcano, entre outros vulcões, fará habitual sua presença na literatura, por exemplo, em Homero, Hesíodo, Lucrécio, Virgílio, e algumas de suas ideias iriam persistir até o Renascimento como explicação dos fenômenos telúricos, como no caso dos breves, porém insistentes, discursos expressados por Aristóteles com respeito aos terremotos e vulcões. As fúrias atribuídas aos Titãs no antro desde o século VIII antes de Cristo, o alento do Titã enterrado no submundo das sombras, nas profundas câmaras de castigo, serão as forças do Etna, vinculando contendas próprias dos homens, agigantadas, aos deuses e às forças naturais. E, ao ar livre, outro gigante elevado até que sua cabeça desapareça na altitude, o Atlante castigado, também haverá de suportar o céu sobre seus ombros. É, em suma, a figura do vulcão completo, com as raízes no inferno e sua cúspide celeste. O eixo, a coluna inquieta e viva do universo. A erupção, a força convulsa de sua base, é uma titanomaquia. De modo que, nesse drama –pois a terra é entendida dramaticamente-, a cratera central do Etna foi algo mais que o abismo em direção ao interior da Terra, o que já é inquietante: foi a órbita esvaziada do olho do ciclope. A via vertical, profunda, até a residência das fráguas nas cavernas, aonde se escutam as marteladas dos ciclopes. Deste modo, em nossa raiz a paisagem era pura força. Perto estava, não esqueçamos, do Vesúvio ameaçante, a paisagem imediata era o perigo. Podem ler Plínio o Jovem se acreditam que exagero.

Porém, como sabemos, há duas tradições culturais nossas acerca dos vulcões: aparte da cultura clássica está a bíblica, também alegórica, que se soma às anteriores raízes com sua própria intenção e seu âmbito, como chave de conhecimento, símbolo ou parábola bem influentes e que inclusive se estenderam por muito tempo na cultura popular (não agora, pois duvido que alguma dessas duas raízes possua um grande número de adeptos nesse momento). Tais lugares, clássicos e bíblicos, passaram a ser chaves, modelos de referência na linguagem cultural e ritos de viagem. Tal modelo cultural, como antes apontei, será levado com os europeus até a América, à Filipinas e aos arquipélagos, de modo que sua extensão não chegou a ser universal mas quase conseguiu. Ainda que não só em nosso continente e em suas prolongações culturais, mas em todas as partes, os vulcões foram interpretados a partir de conteúdos religiosos, e só é preciso dar uma volta pelo mundo habitado para acumular notas sobre essas atribuições, aqui nos bastará recordar agora dois cenários.

De um lado, em outras ocasiões destaquei como a Teofania da revelação a Moisés no Sinai parece descrever uma erupção: suas trovoadas, o estrondo, a nuvem densa que cobria o monte, o fogo ardente que abrasava o cume, “fumegando por haver descendido a ele o Senhor em meio às chamas”, o fumo que subia como se fosse de um forno. A imagem do vulcão em atividade. No momento culminante da revelação, portanto, o cenário reclama a força telúrica e o aparato do vulcão. E, por outro lado, na destruição de Sodoma não faltam tampouco ressonâncias aos efeitos destrutivos de algumas erupções. Além disso, as erupções serviram repetidamente, primeiro, para insistir no mesmo ensinamento: a interpretação do desastre natural como castigo divino aos pecadores. E, segundo, para evocar o inferno, cuja imagem se concretiza nas crateras incandescentes, nos piroclastos e na lava ígnea. Um autor espanhol piedoso muito conhecido chegou a pensar no final do século XVI se aquilo que se via em certas crateras ativas da América poderia ser realmente o fogo do inferno, e não lhe faltaram partidários. Para outros, de espírito mais prático, a dúvida residia em descobrir se tal magma era ou não ouro derretido. Como é compreensível, esse aspecto atraiu um número maior de pessoas dispostas a obter amostras e analisá-las. É evidente que ninguém pode comprovar com certeza suas respectivas hipóteses.

Mas sigamos até o âmago. Quando Dante ascende em sua viagem literária à montanha dos antípodas figurada como o Purgatório, diz que se trata do “monte que ao céu mais se eleva em meio às águas”. Na viagem ao Inferno, Ulisses havia contado que em sua navegação atlântica avistou tal montanha: “uma montanha obscura pela distância e tão alta como nunca havia visto outra”. A importância do clássico Atlas parece evidente, e a companhia de Virgílio se enlaça com a raiz cultural, mas a montanha é sobretudo uma referência com conteúdo ascético cristão e a moral localizada na sombra de uma referência imprecisa na época de uma alta montanha erguida sobre o oceano. E como sua culminação leva ao possível acesso ao Paraíso, tudo se reúne, a raiz profunda cuja entrada é uma caverna que acessa os andares do Inferno até o centro da Terra, enquanto a montanha imprecisa de maneira oposta leva até às nuvens e ao céu na altitude. Essa geografia sem fundamento orográfico, baseada nas máximas clássica e religiosa de interpretação simbólica da montanha é, no entanto, um fundamento clássico de nossa cultura. Como essa montanha imaginária elevada no Atlântico tem todas as probabilidades de estar baseada em uma imagem geográfica um tanto apagada do Teide, própria do século em que foi escrito o poema, podemos nos permitir aceitá-la seguramente entre os vulcões e suas metáforas.

Mais tarde há outras traduções literárias deste tipo e há uma que possui suficiente envergadura para que ao menos possamos mencioná-la brevemente nesse texto. Trata-se da aparição de imagens vulcânicas no Fausto de Goethe, em oposição alegórica com as paisagens alpinas. Os Alpes alegres mostram o pulso da vida como um ensinamento, enquanto o antro infernal, do fogo eterno com o “acre denso do enxofre”, provém da demolição, dos escombros da montanha, de modo que aqui, mais uma vez, mas a seu próprio modo, o vulcão desolado é novamente metáfora do Diabo, mas nesse caso porque nada conhece da maneira esperançosa de ver o mundo. Século após século, a montanha volta a ser, de uma maneira ou outra, repetidamente tanto rocha como metáfora.

Não deixa de ser agradável e instrutivo passear pelas geografias de Homero, de Dante ou de Goethe. Deveria o geógrafo abster-se disso?

Segundo exemplo: a metáfora espiritual

Parece-nos conveniente dedicar aqui mais uma vez, de maneira breve, ao menos para quem não haja lido nossos velhos trabalhos, uma referência especial à imagem tradicional que possui em nossa literatura o símbolo da ascensão. Essas questões possuem, com efeito, sua medula literária fortemente arraigada em nossas letras, concretamente em São João da Cruz, e em seu centro a Subida do Monte Carmelo, obra escrita entre 1578 e 1582. A referência geográfica ao Monte Carmelo se remonta aos ermitões da época das Cruzadas, instalados no século XII na franja deste monte, situada em Haifa, próximo ao mar e que alcança os 600 m. de altitude. Logo, a visita ao Monte Carmelo foi sendo incluída de modo habitual no caminho dos peregrinos à Terra Santa, entre os lugares de Jerusalém, Nazaré e São João do Acre. Mas tudo isso não é mais que um ponto de arranque. Trata-se, mais uma vez, no que elegemos aqui, uma geografia simbólica, de grande entidade literária, que joga com seus elementos como se fosse uma base real, mas evidentemente com absoluto distanciamento de uma análise ou de um guia alpino.

A subida, o escrito do poeta, tem uma boa parte de seu sentido gravitando na montanha como metáfora espiritual. Esta obra contém um sistema de chaves expressado por todos os meios: desenho, comentários, poesia e prosa. A ascensão é utilizada como símbolo com intenção explicitamente ascética e mística, ainda que tais atributos acabem por impregnar a ascensão real com caracteres sublimados. São João fala da ascensão simbólica, e a ascensão real se contagia com tais símbolos.

O gráfico que acompanha o texto permite hoje, que se faça inclusive uma leitura montanhista dos valores espirituais da ascensão ou uma leitura religiosa de seus valores montanhistas ou uma leitura literária de seus valores poéticos. O croqui do santo está exposto como um esquema de ascensão moderno, com as vias de escalada em direção ao cume e seus comentários, como poderia ser um bosquejo alpinista. Além disso, o croqui foi desenhado pelo próprio escritor, inicialmente de modo esquemático, ainda que logo os carmelitas o tornaram mais elaborado nas edições sucessivas, com maior realismo, mas sem variar as bases topográficas fundamentais nem o percurso nem as intenções espirituais do santo poeta.

O desenho está composto sobre uma citação do Evangelho: “que restrita é a porta e quão estreita é a senda que conduz à vida eterna”. O croqui representa, por isso, o itinerário gráfico da ascensão, com suas chaves espirituais. Uma observação geográfica de seus componentes internos nos permite decompô-lo em andares sucessivos. De baixo para cima, eles são: Colinas basais, com caminhos e senda. Montanhas desnudas intermediárias. Montes com árvores espalhadas. Escarpa pronunciada e elevada. Colina superior com arbustos. Cume arredondado. Iniciemos a marcha: na base do monte há três caminhos possíveis, o do “espírito imperfeito”, o do “espírito errado” e o da “senda estreita da perfeição”, a via difícil, a escalada monte acima, fora dos caminhos trilhados. Cada qual tem seu guia de itinerário e possui seu valor e recomendação. Em suma, o caminho central é o correto, a chave do monte, mas tal caminho está justamente onde não há caminho, só a senda estreita. Despojado de superficialidades, consistirá no essencial. O piso intermediário alcançado tomando somente a direção correta é a montanha desnuda. Pela senda estreita se chega aonde não há nada. A via de escalada se adentra e atravessa o “monte-nada” e se dirige diretamente ao cume, e o desenho adverte “já por aqui não há caminho”. E acrescenta, “que para o justo não há”. A leitura espiritual é a da solidão interior. Mas a leitura da ascensão é a da rota diretamente pela montanha desnuda como quadro de realização pessoal, com suas exigências de negação, esforço, risco e renúncia. A isso se segue uma faixa superior de árvores com uma escarpa. As virtudes desta parte do percurso são, entre outras, fortaleza, prudência e temperança. As referências virtuosas se tornam abundantes e sem elas não haveria passagem em tal ponto. Desde o ponto de vista religioso são essas virtudes sustento e alcance. Desde o ponto de vista da escalada parecem objetivos, e também assistências e condições daquele que ascende em sua relação entre a fortaleza própria, a vinculação reta com sua equipe e a resistência do lugar. Ao término superior da escarpa fica a depuração espiritual transpassando o obstáculo. Como culminação, por cima da escarpa, estão finalmente uma colina superior e o cume. Na ampla colina elevada e suspendida “só mora a glória e honra de Deus”. É o fim buscado, a meta, a união com Deus, o estado de perfeição e, de certo modo, a recompensa moral do escalador. Isto é, se consegue um sentido espiritual explícito e máximo.

Essa leitura montanhista da “subida” de São João que acabamos de fazer contém um valor literário e teológico oculto, geralmente inconscientes, mas com frequência bastante latente nos valores habituais da ascensão do monte. Conhecê-lo, portanto, só esclarece acerca das qualidades escondidas em nossos atos, insólitos e rituais, e de nossas paisagens. E São João conclui: “dessa maneira, desnudo, encontra o espírito quietude e descanso... no centro de sua humildade”. Por isso escreveu: para evitar que as almas não entendam “por falta de guias idôneos e corretos, que as levem até o cume”. Deste modo manifesto, São João executa a primeira “guia” de ascensão a uma montanha em língua espanhola, guia sem dúvidas profundamente espiritual e simbólica, nem prática nem geográfica, mas cuja luz transcende no “como ir”, tanto a Deus no religioso, com voz direta, como à montanha no profano, como eco cultural. Ou a ambos simultaneamente.

Podemos nos permitir ler, então, só as guias de por onde ir e não de como ir? Os significados profundos das coisas nos escaparão ou não, mas depende do quão importante é isso para nós; tudo reside, portanto, na trama do enredo teórico do geógrafo, de maneira que só se crivem dados territoriais ou que sua ferramenta permita passar também os símbolos e conteúdos que constroem a profundidade das paisagens.

Terceiro exemplo:

Quando se viaja e quando se lê aprende-se que, no âmbito em que temos discorrido, as montanhas sagradas se estendem pelo mundo inteiro. Tomavam ou tomam diversos modos religiosos, naturalmente, e por isso convém observar igualmente os cumes distantes, em outras cosmogonias tradicionais. Antes apareciam em quase todas as culturas e ainda seguem sendo invocadas e cultuadas em montanhas distantes e símbolos devotados a elas encontram-se inclusive nas que estão próximas. Na Ásia estão presentes frequentemente, mas são encontradas igualmente na África, na América, em ilhas distantes. São montanhas sagradas, algumas tão famosas como o Everest, o Kilimanjaro ou o Monte Fuji. Entretanto, montanhas europeias muito significativas, como o Aneto e o Cervino, que são estritamente sagradas, concluem com uma grande cruz superior cujo simbolismo é evidente. E há certas montanhas que adquirem caráter sagrado de modo especialmente intenso, como ocorre com o monte Kailas, no Tibet.

Porém, na ampla continuidade geográfica entre o Tibet e Qinghai, por cima dos altiplanos que vão do Himalaia ao Kunlun, se estendem as cordilheiras de outras montanhas que participam de similares modos de entendimento e de expressão religiosa, como nas digitações do Kunlun e os sistemas transversais de Hengduan. Entre elas há um translado de conceitos e rituais, ainda que invocados de maneira particular ou conformando representações de deidades específicas. O modelo é o Kailas, como pilar do mundo cujo topo sagrado é intocável, mas há muitas outras que constituem centros espirituais de similar intensidade. Entre elas, no espaço mencionado, devemos unir ao Kailas (6.714 m.), no Transimalaia, ao menos o Meili ou Kawakarpo (6.740 m.) e ao Gongga Shan (7.556 m.), ambas na cordilheira Hengduan, e ao Amne Machin (6.282 m.) no extremo oriental do Kunlun. Há mais pela região, porém, não tão intensamente consideradas, na atualidade, como montanhas sagradas e inclusive divinas. Ao possuir características simbólicas tão profundas, ao menos as mencionadas devem ter seu lugar neste escrito, ainda que de maneira concisa.

Tanto no Tibet como em Qinghai há uma profusão de templos, em geral templos budistas que se encontram ativos. Alguns, como o de Kumbum ou Taersi, é um monastério de lamas de grande entidade, indicador de sua potência real na sociedade local, de sua influência espiritual e de sua persistência apesar das inúmeras tempestades da história recente da China. No entanto, além destes centros monásticos, as próprias montanhas são núcleos de religiosidade, com suas duras peregrinações ao redor dos montes que atraem a numerosos fiéis. Nem todas essas marchas ou “koras” são de idêntica exigência física: algumas são tão pequenas que só supõem uma volta ao redor de um chorten; algumas são de distância média, por exemplo, ao redor do monastério de Kumbum; algumas são grandes, como ao redor de uma montanha, que pode ter grandes desníveis, alcançar altitudes elevadas e, como a do Amne Machin, prolongar-se por 180 km de percurso. De modo derivado, em função da carga espiritual da montanha podem aparecer também monastérios locais, altos, isolados, em um vale alto do maciço Meili, em uma elevada plataforma junto ao Gongga Shan ou ao pé do Amne Machin, que são os centros espirituais dessa montanha tutelar, desse deus protetor feito montanha.

Entretanto, essa inserção da montanha na paisagem geral não é tudo. Os tibetanos leem suas paisagens de amplos horizontes também com referências espirituais, e de fato estão repletos de lugares santos e simbólicos que ordenam os espaços com significados transcendentes. O território tibetano é entendido mediante constantes dualidades: o alto e o baixo, cume e vale, sombra e luz, casa e porto, e nele há uma série de símbolos espirituais que o enriquecem de ordem e de centros significativos. Esses centros ou lugares principais que concentram valores e a partir dos quais se dividem os demais, são frequentemente montanhas com características divinas. O Kailas inclusive ordena o mundo inteiro, reúne a geografia mítica da Ásia e agrupa os espíritos de meio continente. É um formidável relevo, um indivíduo geográfico sobressaliente, pilar do mundo, é fonte de águas que se dispersam por tal continente em todas as direções, é o centro de uma mandala expressiva da harmonia do cosmos, está composto por quatro faces invioláveis que guardam os espíritos do solo e que possuem portas imaginárias para o mundo subterrâneo aonde habitam forças complementárias, e seu vértice se prolonga no céu em uma pirâmide inversa, intangível morada dos deuses. Ademais, cada detalhe, cada recordação, cada caminho, cada pedra, cada contraforte possui um significado religioso próprio. Essas montanhas não são, portanto, simplesmente conglomerados amontoados e abertos pela erosão glacial pleistocena; essas montanhas condensam o espírito complexo da espiritualidade da Ásia.

As peregrinações que circundam ao redor das montanhas são realizadas por centenas, inclusive milhares de fiéis hoje em dia, que podem remontar a colinas situadas a mais de 5.000 m. de altitude. Normalmente são feitas a pé, às vezes a cavalo, em certas ocasiões com prosternações contínuas. Deixam oferendas, repetem mantras, dão voltas no moinho de orações, atiram ao ar estampas do cavalinho do vento ou sopro de vida à galope, estendem bandeiras com as cores do céu, das nuvens, do sol, da água e da terra, impressas com preces e imagens de cavalos, que são agitadas pelos ventos da colina, rodeiam no sentido da esquerda os túmulos de pedra, que possuem o gravado: “Om Mani Padme Hum”.

Além da kora do Kailas, as mais renomadas são as do Kawakarpo e do Amne Machin. Kawakarpo é em realidade um deus benevolente, porém zeloso de seu retiro nas alturas e aqueles que o veneram não desejam que seus recintos, gelos e cumes sejam perturbados e nem profanados por estranhos. Ele é representado armado sobre um cavalo branco e é o dono do trovão. Igualmente, a divindade do Amne Machin é equestre, vigiando do alto com sua família divina, e protegendo aos pastores de yaks que vivem a seus pés. Conta-se que quem contemple o pico do Gongga Shan (só o podem ver os corações puros) ficará limpo de pecados e sua vida será então como um renascimento. Tais montanhas personificam, portanto, um “poder tutelar”, são a encarnação de uma divindade, de modo que cada uma é uma montanha-deus individualizada, ainda que todas possuam características similares.

Na origem desta doutrina está também a ideia tão comum da montanha cósmica, o eixo do mundo ou, ao menos, da região circundante. Sabemos que é próprio de diversas culturas o princípio do eixo do mundo aplicado a montanhas concretas, destacadas e inacessíveis, colunas do céu e centros de organização espiritual das coisas do território, mas a força que adquire esse conceito no Tibet é bastante especial. Este papel, similar ao do Kailas em escala regional, foi atribuído, por exemplo, ao Amne Machin pelos goloks que habitam seus flancos. Segundo as suas tradições, sua culminação tocaria a lua e o sol enquanto sua raiz se afundaria na profundidade subterrânea. É portanto, como a figura de um chorten gigantesco. Esse eixo, tão alto, iria cobrir-se de cristal que serviria de relicário gigantesco do deus denominado Machin Pomra, que estaria pelas cumes acompanhado por centenas de seus irmãos, concretizados fisicamente pelos cumes secundários repartidos profusamente por todas as suas arestas. É possível, portanto, fazer um mapa da família divina.

Logicamente, ideias tradicionais semelhantes de sacralização das montanhas se estendem pela cordilheira de Kunlun, aonde também reaparece outro eixo cósmico, dessa vez com sentido geográfico e fundo espiritual. No cume, já celeste, habitaria “O Uno”, imortal, ou em outras ocasiões, a deusa da imortalidade, ou ali se guardariam as espadas protetoras que vencem aos maus espíritos. O fato é que isso também é uma montanha paralela que eu vejo, e é a mesma que vê quem está ao meu lado. O que ocorre é que, se faço um esforço, eu posso também entender a sua montanha sem esquecer a minha.

Enfim, há nessas montanhas uma geografia religiosa muito intensa própria desses lugares, razão pela qual emigraram as ilusões, fazendo-se locais, mas não são diferentes das ilusões universais dos homens, decantadas em histórias, lugares e personagens individuais. A montanha dirige o espaço no interior dos homens. A paisagem é entendida então por suas histórias, por suas vontades, por suas respostas, em um tecido que se plasma em comportamentos. Ao protetor dos homens, ao deus-montanha, lhe corresponderá enfrentar ao tenebroso. A ti, o respeito. Tudo isso e muito mais ensinam as montanhas simbólicas, muito além de sua materialidade tangível.

Se trataria então de abarcar todos os conteúdos? Se uma parte dos homens, quando aceita valores espirituais na paisagem, vive mais perto dos que estão ocultos, mas se movem em ativos fios invisíveis, do que daqueles que poderiam decantar apreços culturais de outra ordem, aonde deveria se deter então o pensamento do geógrafo? Eu intentaria chegar até o fundo. Creio que, depois do que foi dito, me acompanham razões muito boas.

Bibliografía

MARTÍNEZ DE PISÓN, E. (2000): El territorio del leopardo, Madrid, Desnivel.

MARTÍNEZ DE PISÓN, E. (2009): “Valores escondidos de los paisajes. Calidades ocultas de la ascensión a la montaña”, en MARTÍNEZ DE PISÓN, E. y ORTEGA CANTERO, N., eds. (2009): Los valores del paisaje. Madrid,
Universidad Autónoma de Madrid y Fundación Duques de Soria, pp. 9-44.

MARTÍNEZ DE PISÓN, E. y ÁLVARO LOMBA, S. (2002): El sentimiento de la montaña. Doscientos años de soledad, Madrid, Desnivel.

MARTÍNEZ DE PISÓN, E., ROMERO RUIZ, C. y FERNÁNDEZ PALOMEQUE, P. (2011): Volcanes de papel, La Laguna, Universidad de La Laguna.

MARTÍNEZ DE PISÓN, E., TOMÁS, R., ÁLVARO, S. y PALLÁS, J. (2012): Más allá del Everest: las montañas escondidas
de Asia, Madrid, Desnivel.

13/12/2015

Eric Paulson - Bio-História

por Eric Paulson



Bio-História é o estudo da história informada pela biologia. A bio-história compreende a biologia humana e o ambiente natural como agentes que moldam eventos históricos (1).  Ainda que a bio-história não seja reconhecida pela American Historical Association como uma categoria separada no âmbito da disciplina, o termo é usado pelos estudiosos, incluindo historiadores acadêmicos.

As Raízes da Bio-História

As raízes intelectuais da bio-história podem ser traçadas desde o desenvolvimento da biologia evolutiva no final do século XIX. Seus antecedentes podem ser encontrados na geografia humana, na Escola dos Annales, na história ambiental, e na sociobiologia. A historiografia tradicional do século XIX estava preocupada principalmente com os feitos dos reis, papas e generais. Mas no início do século XX, a teoria da evolução estava influenciando o trabalho de muitos historiadores, geógrafos e cientistas sociais. Em 1901, o presidente da American Historical Association, Charles Francis Adams (irmão de Henry, que também serviu como presidente da AHA), declarou que o conhecimento da teoria de Darwin, "foi a linha divisória entre nós [historiadores contemporâneos] e os historiadores da velha escola"(2). Geógrafos como Ellsworth Huntington desenvolveram idéias sobre o determinismo racial e ambiental que mais tarde foram descartados, mas jamais refutados (3). Um ano depois de Huntington publicar Civilização e Clima, Madison Grant saiu com sua história racial da Europa (4). No entanto, no anos seguintes o campo nascente da bio-história foi estrangulado no berço pela antropologia boasiana e outras forças intelectuais e políticoas, tais como a Escola de Frankfurt (5).

Uma força contrária anti-liberal foi a Escola dos Annales, desenvolvido na França durante o período entre guerras. Liderados por Lucien Febvre e Marc Bloch, os Annalistes procuraram escrever o que chamaram de "história total" (6). Para conseguir isso eles adotaram uma abordagem interdisciplinar que incorporasse a geografia e as ciências sociais e físicas em seu trabalho. Isso era especialmente verdadeiro para Fernand Braudel, um estudante de Febvre, que liderou a segunda geração de Annalistes depois da guerra. Braudel acreditava que era necessário para os historiadores considerar os seres humanos como organismos vivos, e não perder de vista "a realidade biológica do homem." (7)

Começando na década de 1970 e 80 a história ambiental se transformou em um grande subcampo dentro da disciplina. Isso ajudou a situar o homem histórico no contexto do mundo natural, e estabeleceu o ambiente, tanto o natural como o modificado pelo homem, como um agente da história. À primeira vista, poderia parecer que os historiadores ambientais provavelmente cairiam no lado ambiental do debate meio-ambiente versus hereditariedade. Alguns sim, como Jared Diamond discutido abaixo. Mas porque o ambiente é um grande fator na equação evolutiva, é lógico para os historiadores ambientais serem receptivos à teoria darwiniana. Como Alfred Crosby, o decano dos historiadores ambientais americanas coloca, "A ideologia da história ambiental é, na sua raiz, biológica." (8) Ainda assim, muitos historiadores se preocupam com o temido rótulo do "determinismo biológico". Em janeiro de 2001 Edward O . Wilson, fundador da sociobiologia, dirigiu-se à 115ª conferência anual  da American Historical Association em Boston. Ele causou uma grande celeuma quando ele previu que a próxima geração de historiadores usaria a ciência biológica para responder a muitas das questões mais importantes da história (9).

Exatamente 100 anos (1901-2001) separar os pronunciamentos de Adams e Wilson, ambos previram que a biologia iria revolucionar o estudo da história. No entanto, o progresso tem sido lento. Não vai ser surpresa para os leitores deste jornal que a relutância dos historiadores em desafiar a ortodoxia ideológica do igualitarismo tem sido um obstáculo à integração da biologia, especialmente o estudo da variação humana, na historiografia.

Bio-História Sem Raça

A maioria dos historiadores que incorporaram a biologia em seu trabalho também se esforçaram para separar o conceito de raça da idéia de seres humanos como entidades biológicas. Um desses contorcionistas é Robert McElvaine, um professor de história na Millsap College (10). Segundo McElvaine, "a bio-história procura iluminar aspectos da história através de uma melhor compreensão da natureza humana - os traços fundamentais e predisposições que todos os humanos compartilham e que nos tornam iguais" (11). McElvaine limita a sua consideração às características que todas as pessoas compartilham. Mas não são as diferenças pelo menos tão interessantes e relevantes como as semelhanças? Se um historiador escrevesse uma história econômica do mundo ele poderia começar por referir características que todos os sistemas econômicos compartilham, mas certamente isso serviria apenas como ponto de partida para um estudo de como os sistemas se diferenciam.

Outra versão truncada de bio-história pode ser visto na obra de Jared Diamond. Diamond, um acadêmico não-historiador judeu, escreve sobre agência histórica e é crítico da historiografia acadêmica. Sua crítica se justifica na medida em que muitos historiadores acadêmicos negligenciam o nexo de causalidade em suas pesquisas. Em Armas, Germes e Aço Diamond, estabelece uma explicação igualitária para ascendência ocidental baseada no determinismo ambiental (12). Ele está preocupado que as teorias racistas que explicam domínio ocidental, embora oficialmente desacreditadas, mantenham seu controle do imaginário popular, de modo que "os ocidentais continuam a aceitar explicações racistas, privada ou inconscientemente" (13). Diamond acha essas explicações "repugnantes", mas no passado ele foi incapaz de oferecer uma refutação satisfatória para elas. "Até que tenhamos uma explicação convincente, detalhada e consensual para os amplos padrões da história, a maioria das pessoas continuará a suspeitar que a explicação racista biológica está correta afinal. Este parece ser, para mim, o argumento mais forte para escrever este livro".(14) Tendo apresentado os seus argumentos, Diamond conclui Armas, Germes e Aço, com uma sugestão para uma grande mudança na metodologia historiográfica. Ele apela para o desenvolvimento d "história humana como uma ciência, a par com ciências históricas reconhecidas como astronomia, geologia e biologia evolutiva." (15)

Em particular, muitos historiadores acadêmicos se ofenderam com as críticas de Diamond de que sua disciplina carece de rigor científico; outros descartaram seus comentários como os de um diletante que não entende seu campo. Ele, porém, não é facilmente ignorável. Seus dois livros mais recentes sobre bio-história ambiental tornaram-se bestsellers. Eles são anunciados em revistas de história e vendidos em conferências de história. Ele agora é um intelectual público entrevistado na NPR e similares. Ironicamente, a ciência que Diamond insta os historiadores a abraçar pode acabar minando sua ideologia anti-racial.

Em seu segundo livro, Colapso, (16) Diamond dedica vários capítulos para a ascensão e queda dos nórdicos da Groenlândia, os escandinavos que colonizaram a ilha no final do século X. Por meio milênio eles ganharam a vida naquele remoto posto avançado da civilização ocidental. Na época das viagens de Colombo a Groenlândia Nórdica havia desaparecido. Não há nenhum registro escrito do que aconteceu com eles, mas historiadores e arqueólogos concordam que a Pequena Idade do Gelo (cerca de 1300-1750) desempenhou um papel em sua morte. A Groenlândia foi colonizada durante o Período Quente Medieval (800-1250). Os nórdicos construíram uma economia baseada no pastoreio, caça e comércio, principalmente com a Islândia e a Noruega. Uma vez que o clima esfriou, a criação de gado já não era possível, e gelo sufocava as rotas de navegação, o que dificultou o comércio. Os assentamentos nórdicos morreram lentamente e foram substituídos por inuits (esquimós). Diamond escreve que, se os nórdicos tivessem sido flexíveis o suficiente para adotar a cultura dos inuit, incluindo uma dieta de peixes além de mamíferos marinhos, eles poderiam ter sobrevivido. Mais do que qualquer outra coisa, foi a recusa obstinada daos nórdicos em abandonar o pastoreio que levou à sua queda. Se os nórdicos tivessem se integrado fisicamente e culturalmente com os inuit, como Diamond propunha, eles teriam, naturalmente, deixou de ser nórdicos. Além deste fato óbvio, existem fortes dúvidas de que esse caminho estava aberto para eles.

A Relevância da Raça

Os historiadores ambientais agora percebem que as expansões e contrações demográficas dos povos ao longo da história, muitas vezes tem sido moldadas por fatores biológicos e ambientais (17). Se Diamond houvesse consultado o Imperialismo Ecológico de Alfred Crosby antes de escrever Colapso ele poderia ter chegado a uma conclusão diferente sobre a Groenlândia Nórdica. Crosby cunha o termo neo-europeus para descrever os povos europeus que se instalaram fora de suas terras natais do Velho Mundo. Ele sugere que os neo-europeus não poderiam dominar demograficamente novos territórios a menos que e até que eles fossem capazes de modificar o ambiente físico para atender suas necessidades bio-culturais. Para prosperar, os neo-europeus precisavam estabelecer um regime agrícola misto. Para sobreviver, eles precisavam, pelo menos, sustentar seus animais domesticados. Crosby escreve: "Os neo-europeus eram descendentes, culturalmente e, muitas vezes geneticamente, de indo-europeus...um povo que estava praticando agricultura mista com uma forte ênfase no pastoreio 4.500 anos antes Columbo (18). Desde seu início as sociedades indo-europeias tem sido pastorais. É provável que depois de 2.000 gerações, as sociedades europeias não podessem satisfazer as suas necessidades nutricionais sem seus animais doméstico (19). Em um livro anterior, Crosby observou que, mesmo um pobre camponês irlandês necessitava de "um pouco de leite", além de batatas, "para manter uma família calorosa (20)".

A alegação de Crosby de que os europeus precisavam de seus animais para sobreviver está em linha com a descoberta da mutação da tolerância à lactose que permite que a maioria dos europeus para digiram o leite enquanto adultos, diferentemente da maioria dos asiáticos, africanos e ameríndios. A mutação surgiu aproximadamente no mesmo tempo que a cultura indo-européia começou nas estepes do sudeste da Europa. Este é um exemplo do que  sociobiologistas chamam de co-evolução gene/cultura. A disponibilidade de produtos lácteos, juntamente com fontes alternativas limitadas de nutrição evoluíram na capacidade de digerir leite durante toda a vida. Dada a falta de variedade na dieta da Groenlândia Nórdica, produtos lácteos poderiam ter se tornado um imperativo nutricional. Por nem mesmo considerar a possibilidade de que os nórdicos não pudessem satisfazer suas necessidades nutricionais sem animais domésticos, Diamond revela um ponto-cego analítico produzido por sua ideologia igualitária rígida . Somente ao ignorar as diferenças genéticas entre etnias poderia Diamond ter defendido que os nórdicos adotassem a dieta livre de produtos lácteos do inuit.

Então, o que aconteceu com a Groenlândia Nórdica? É improvável que eles simplesmente morreram de fome. É provável que, como as condições se deterioraram, os nórdicos mais jovens e mais enérgicos tenham emigrado de volta à Islândia e à Noruega, e a população velha e decrépita remanescente morreu. Cerca de 200 anos depois de terem abandonado a ilha, os nórdicos retornaram na forma de colonizadores dinamarqueses. Assim, a lição da Groenlândia Nórdica não é a que Diamond queria que aprendêssemos (ou seja, os benefícios da assimilação racial/cultural), mas sim que em momentos de estresse social extremo uma retirada e re-unificação estratégicas poderiam ser o melhor curso para sobrevivência (21).

Raça e Ecravidão nas Américas

A obra de Alfred Crosby é um exemplo de como bio-história geneticamente ligada  tem, ao longo das últimas décadas, pingado na historiografia mainstream. Há outros exemplos. Imunidade e resistência a doenças também têm sido um tópico importante na bio-história. Estes desempenharam um grande papel no estabelecimento da escravidão africano na América. Os historiadores têm sido particularmente interessados em como a escravidão tornou-se estabelecida nas colônias britânicas muitos séculos depois da instituição ter morrido nas ilhas britânicas.

Durante o início do século XVII os ingleses começaram a colonizar o continente norte-americano e o sul do Caribe. Inicialmente, os plantadores usavam trabalho escritural inglês e irlandês em suas propriedades. Esses trabalhadores não eram livres, mas eles também não eram escravos. Por exemplo, durante a década de 1630 o plantador pioneiro Sir Henry Colt usava trabalhadores ingleses para estabelecer suas plantações em São Cristóvão. Em 1631, ele escreveu para casa pedindo "mais de quarenta servos" para expandir seus campos (22). Presumivelmente, se ele queria mais trabalhadores ingleses, os já presentes eram, pelo menos, adequados à tarefa de limpar as florestas tropicais para o plantio - trabalho pesado em sob calor escaldante. No entanto, dentro de cinqüenta anos da carta de Colt, a força de trabalho de São Cristóvão tinha sido transformada de branca para negra. Em parte, isso foi devido a uma relativa escassez de trabalhadores brancos e a disponibilidade de escravos negros (23). Havia também, no entanto, fatores biológicos envolvidos nesta mudança.

Quando os europeus conquistaram e se estabeleceram no Novo Mundo, eles encontraram terras ricas em recursos com relativamente baixa densidade populacional (24). Grande riqueza poderia ser produzida se o trabalho pudesse ser encontrado. Em regiões tropicais e subtropicais, os trabalhadores eram frequentemente escravos africanos. As explicações para esta escolha tem mudado ao longo do tempo. No século XVII, os europeus consideravam negros como selvagens pagãos necessitados da civilização cristã e especialmente adequados para trabalho servil. No século XX, os historiadores marxistas europeus viam os europeus como pessoas especialmente intolerantes e gananciosas que exploravam os vulneráveis africanos. Este ponto de vista estava implícito em The Peculiar Institution de Kenneth Stampp, uma história da escravidão americana escrita no auge da mentalidade "raça é apenas superficial". De acordo com Stamp, "os negros são, afinal, apenas homens brancos com pele negra, nada mais, nada menos (25)". Menos de uma década depois de Instituição Peculiar de Stampp, Philip Curtain documentou que fatores epidemiológicos estiveram envolvidos na seleção de trabalho escravo africano (26). Na década de 1980, pelo menos, alguns historiadores reconheceram que características fisiológicas, epidemiológicas e  nutricionais dos negros da África Ocidental lhes deram uma vantagem adaptativa como trabalhadores nos trópicos. Em uma mudança considerável do pronunciamento de Stampp o historiador afro-americano Kenneth Kiple argumentou que, "negros e brancos de fato diferem por natureza, em muitos aspectos importantes", e que cientificamente, "raça continua a ser um conceito viável (27)".

É agora amplamente aceito que características físicas, tais como a pele escura, um grande número de glândulas sudoríparas, e outros "traços negróides" são adaptações para a atividade física em ambientes quentes, úmidos e ensolarados (28). Além disso, a doença inexoravelmente selecionou os negros para o trabalho nos trópicos (29)". Os dois principais patógenos peculiares ao Velho Sul foram febre amarela e malária falciparum. Duas aflições menores foram bouba e tênias. Estas infecções são de origem africana e afetaram europeus e ameríndios de forma desproporcional (30). Assim, uma vez que escravos africanos e doenças africanas tivessem sido introduzidos nas Américas, estas últimas reforçaram a decisão de usar aqueles.

Outro fator racial que favoreceu o uso de escravos africanos foram suas necessidades nutricionais mais baixas. Animais domésticos geralmente não prosperam nos trópicos. Isto é particularmente verdadeiro para o gado leiteiro (31). Este é de pouca importância para as pessoas de ascendência africano ocidental, porque após a infância eles não têm a capacidade de digerir leite devido à intolerância a lactose (32). De fato, os africanos ocidentais têm tradicionalmente subsistido com uma dieta muito baixa em proteína. Assim, "mesmo a dieta miserável de escravos nas Américas era superior (ou, pelo menos, mais rica em proteína) a de seus primos africanos (33)". A capacidade dos africanos para sobreviver em uma dieta de baixa proteína desprovida de produtos lácteos os ajudou a subsistir, onde os trabalhadores brancos contratados não podiam. Com o tempo, "a América das plantations tornou-se uma extensão dos ambientes nutricionais e epidemiológicos da África (34)". Porque a África Ocidental é "a casa das doenças mais perigosas do homem e das áreas mais nutricionalmente empobrecidas do mundo", os africanos ocidentais tinham as adaptações físicas para sobreviver ao calor abrasador, juntamente com os "rigores nutricionais e epidemiológicos que os aguardava" nas plantations americanas (35).

Em resumo, o processo que estabeleceu a escravidão africana nas colônias anglo-americanas começou com uma escassez de mão-de-obra branca que levou alguns plantadores a importar escravos africanos. Esses escravos trouxeram com eles doenças africanas que tiveram um impacto desproporcional sobre os brancos e índios, que não tinham sido previamente expostos a elas. O trabalho africano ocidental também foi capaz de subsistir com menos comida e roupas do que os trabalhadores brancos. Além disso, os trabalhadores brancos eram contrários a labuta ao lado de escravos negros. Brancis se tornavam rebeldes e improdutivos em grupos de trabalho mistos. Assim, uma vez que alguns plantadores tomaram a decisão de importar mão-de-obra negra, fatores ambientais, genéticos, culturais e econômicas levaram à substituição de brancos com negros como trabalhadores de campo em plantações coloniais inglesas.

Perspectivas para a Bio-História

A agência de características epidemiológicas, nutricionais e outras fisiológicas geneticamente baseadas de etnias desde há muito, pelo menos parcialmente, embora com relutância, tem sido aceita pela historiografia oficial. Mas o que dizer de características psicológicas, incluindo a inteligência? Em Compreendendo a História Humana Michael Hart interpreta o passado em termos de apenas estas características (36). Sua obra ainda não tem atraído muita atenção, muito menos aceitação de historiadores acadêmicos. Mas, embora os historiadores acadêmicos tenham evitado a questão da inteligência média grupal, um livro recente de Gregory Clark, Um Adeus às Esmolas, sugere que as diferenças no comportamento de base genética podem explicar a Revolução Industrial que ajudou a aumentar o conhecimento, riqueza e poder do Ocidente (37).

Para Clark, professor escocês de economia da Universidade da Califórnia, a Revolução Industrial foi o divisor de águas na história da humanidade. Todas as sociedades pré-industriais foram pegas em uma armadilha malthusiana em que qualquer ganho na capacidade produtiva levou a um aumento da população que negou o aumento da riqueza. Assim, enquanto a população humana aumenta, o padrão de vida para a maioria, medido por indicadores como o número de calorias consumidas, não se levanta. Com a chegada da industrialização, a produtividade aumentou muito mais rápido do que a população, elevando o padrão de vida para quase todos na sociedade. Curiosamente, em seu prefácio Clark compara seu livro ao de Diamond Armas, Germes e Aço. Ambos são grandes histórias que procuram explicar a ascensão do Ocidente (referido por Clark e outros, como a "Grande Divergência"). Enquanto fazendo perguntas um tanto similares, Clark e Diamond chegam a respostas muito diferentes. Em contraste com a explicação ambiental/geográfica de Diamond, Clark traz o darwinismo social ao século XXI com o uso de cliométrica (38).

Os historiadores há muito tempo tem questionado por que a Revolução Industrial começou quando e onde ela começou: fins do século XVIII e início do século XIX na Inglaterra. Clark acredita que séculos de estabilidade econômica e política, bem como crescimento populacional lento conjutado com "a fecundidade extraordinária dos ricos e economicamente bem-sucedidos" levou à "a incorporação dos valores burgueses na cultura e talvez até mesmo na genética da Inglaterra." (39) Na relativamente estável e pacífica Inglaterra pré-industrial os educados e industriosos tendiam a prosperar e ter famílias numerosas. Oportunidades econômicas, no entanto, foram tão limitadas que a maioria das crianças dos ricos decaíam socialmente. Como resultado, eles estenderam suas características culturais e genéticas para as classes mais baixas. O estabelecimento de uma sociedade burguesa na Inglaterra é outro exemplo co-evolução gene/cultura. No início da Inglaterra moderna "as características da população foram mudando através da seleção darwiniana." O resultado foi que "a cultura de classe média se propagou em toda a sociedade através de mecanismos biológicos". (40) Enquanto Clark não afirma que os ingleses não eram mais inteligentes do que os outros povos, ele acredita que os valores e comportamentos com base genética estiveram no centro da Revolução Industrial e da ascendência ocidental. Na mente popular evolução é algo que ocorreu no passado distante, levou milênios para ser concluída, e foi realizado pelas forças da natureza. A pesquisa de Clark aponta que a evolução humana continua a ocorrer durante tempos históricos, que uma mudança significativa pode levar séculos em vez de eras, e evolução pode ser impulsionada pelo ambiente cultural, bem como o ambiente natural.

Em A Explosão de 10.000 Anos da Universidade de Utah os antropólogos Gregory Cochran  e Henry Harpending adaptaram algumas das idéias de Clark para um contexto global, e um cronograma que se estende por toda a história do Homo Sapiens (41). Os autores acham que os diversos grupos populacionais têm evoluído diferenças genéticas durante o tempo histórico. Algumas dessas diferenças genéticas deram vantagens competitivas para os grupos que os possuem. Assim a "mudança biológica tem sido um fator chave que conduz a história." (42) Talvez a tese mais interessante de Cochran e Harpending é que, em vez de acabar com a evolução humana, a civilização moderna tem realmente acelerado o seu ritmo.

Conceitos como "darwinismo social" e "determinismo biológico" têm sido usados ​​para censurar aqueles que aplicaram teorias biológicas para a história e as ciências sociais. Durante décadas a hostilidade da esquerda tem desencorajado, obstruído, ou obscurecido pesquisa acadêmica para o que hoje chamamos de bio-história. No entanto, com o trabalho de estudiosos como Clark, Cochran e Harpending nós podemos finalmente estar vendo os avanços na historiografia previstas por Adams e Wilson. É cada vez mais claro que o caminho para uma maior compreensão do nosso passado e do presente deve incluir o estudo da diversidade biológica humana.

Notas

1 - Uma definição mais formal de bio-história é: "Uma abordagem de ecologia humana que enfatiza a interação entre processos biofísicos e culturais. Seu ponto de partida é o estudo da história da vida na Terra; e os princípios básicos da evolução, ecologia, fisiologia e, e as sensibilidades dos seres humanos, o surgimento da aptidão humana para a cultura e sua importância biológica. Ela está particularmente preocupada com a interação entre os processos culturais e sistemas biofísicos, tais como os ecossistemas e as populações humanas". Susan Mayhew, “Biohistory,” A Dictionary of Geography (Oxford: Oxford University Press, 2004), 56.

2 - Charles Francis Adams, “The Sifted Grain and the Grain Sifters,” American Historical Review 6 (1901), 199.

3 - Ellsworth Huntington, Civilization and Climate (New Haven: Yale University Press, 1915). Uma das teorias de Huntington foi que ao longo do tempo climas tropicais e subtropicais tem um efeito enervador sobre aqueles que ele chama de "teutões".

4 - Madison Grant, The Passing of the Great Race, or The Racial Basis of European History (New York: Charles Scribner's Sons, 1916).

5 - "O triunfo da escola boasiana da antropologia sobre o darwinismo nos primeiros anos do século 20 foi um divisor de águas na história intelectual do Ocidente - em efeito mais ou menos obliterando o que tinha sido um meio intelectual darwiniano próspero." Kevin MacDonald, “Ben Stein's Expelled: Was Darwinism a Necessary Condition for the Holocaust?,” The Occidental Observer, December 1, 2008, http://www.theoccidentalobserver.net/articles/MacDonald-BenStein.html.

6 - Bloch era um judeu que pode ter tido sentimentos ambivalentes sobre seus correligionários. Muitos o consideravam um patriota francês. Bloch fugiu para o território de Vichy em 1940, onde, como um notável erudito, ele continuou a ensinar sem ser molestado. Ele e sua família tiveram oportunidades de se mudar tanto para os Estados Unidos como para as Antilhas Francesas. Ele decidiu ficar na França e em 1943 entrou para a resistência. Em 1944 ele foi capturado pelos alemães e fuzilado.

7 - Fernand Braudel, On History, trans. Sarah Matthews (Chicago: University of Chicago Press, 1980), 105-6. Braudel também participou na Segunda Guerra Mundial. Com a queda da França em 1940 Braudel, então  um oficial do exército francês, se tornou prisioneiro de guerra e passou cinco anos em cativeiro alemão. Durante este tempo, sem notas ou materiais de referência, ele escreveu sua dissiertação sobre a região mediterrânea.

8 - Alfred W. Crosby, “The Past and Present of Environmental History,” American Historical Review 100 (1995), 1189.

9 - Gareth Cook, “Wilson Rattles Historians with 'Bio-History' Theories,” Boston Globe, January 16, 2001, F3.

10 - A maior contribuição de McElvaine para a bio-história é Eve's Seed: Biology, the Sexes, and the Course of History (New York: McGraw Hill, 2001), uma história mundial desde uma perspectiva feminista.

11 - Robert S. McElvaine, “The Relevance of Biohistory,” The Chronicle of Higher Education 49, October 18, 2002, B11.

12 - Jared Diamond, Guns, Germs, and Steel: The Fate of Human Societies (New York: Norton, 1997).

13 - Diamond, Guns, Germs, and Steel, 19.

14 - Diamond, Guns, Germs, and Steel, 25.

15 - Diamond, Guns, Germs, and Steel, 408.

16 - Jared Diamond, Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed (New York: Viking-Penguin, 2005).

17 - Para um estudo global ver Alfred W. Crosby, Ecological Imperialism: The Biological Expansion of Europe, 900-1900 (New York: Cambridge University Press, 1986). PAra um estudo de caso do mesmo fenômeno na Nova Inglaterra ver William Cronon, Changes in the Land: Indians, Colonists, and the Ecology of New England (New York: Hill and Wang, 1983).

18 - Crosby, Ecological Imperialism, 172.

19 - Ward H. Goodenough, “The Evolution of Pastoralism and Indo-European Origins,” George Cardona, Henry Hoenigswald, and Alfred Senn, eds., Indo-Europeans and Indo-European Origins (Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1970), 252-65.

20 - Alfred W. Crosby, The Columbian Exchange: Biological and Cultural Consequences of 1492 (Westport, Conn.: Praeger, 2003), 183.

21 - As conclusões de Diamond sobre os nórdicos groelandeses ecoam os argumentos de Thomas McGovern que escreveu, "Podemos criticar os nórdicos por manterem uma perspectiva conservadora, estratificada, eurocêntrica...[que escolheu] a preservação da pureza étnica às custas da sobrevivÊncia". “The Demise of Norse Greenland,” in William Fitzhugh and Elisabeth Ward, eds., Vikings: The North Atlantic Saga) Washington, D.C.: Smithsonian Institution Press, 2000), 338.

22 - Richard S. Dunn, Sugar and Slaves: The Rise of the Planter Class in the English West Indies, 1624-1713 (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1972), 9. Ainda que ele não enfatize fatores biológicos, Dunn documenta a transição de trabalhadores brancos para escravos negros no Caribe inglês.

23 - As áreas agrícolas da África Ocidental tinham uma economia escravista e um enorme comércio escravagista que antecedia a exploração europeia. Começando no século XV, os europeus se conectaram a este comércio escravagista africano.  See John Thornton, Africa and Africans in the Making of the Atlantic World, 1400-1680 (New York: Cambridge University Press, 1992).

24 - O número de ameríndios pré-contato está em disputa. Qualquer seja o número, a população foi bastante reduzida pela introdução de doenças do Velho Mundo nas Américas.

25 - Kenneth M. Stampp, The Peculiar Institution: Slavery in the Ante-Bellum South (New York: Vintage Books, 1989), vii.

26 - Philip D. Curtin, “Epidemiology and the Slave Trade,” Political Science Quarterly 82 (1967): 190-216. Por séculos foi sabido que negros eram menos suscetíveis a certas doenças que brancos. A razão para isso não pôde ser explicada até o advento da medicina e genética modernas.

27 - Kenneth F. Kiple and Virginia Himmelsteib King, Another Dimension to the Black Diaspora: Diet Disease, and Racism (Cambridge: Cambridge University Press, 1981), xii, xiv.

28 - Kiple, Another Dimension, 5.

29 - Kenneth F. Kiple, The Caribbean Slave: A Biological History (Cambridge University Press, 1984), 4.

30 - Albert E. Cowdrey, This Land, The South: An Environmental History, rev. ed. (Lexington: University of Kentucky Press, 1996), 83. Kiple, Caribbean Slave, 7.

31 - Cowdrey, This Land, This South, 77.

32 - "Uma alta frequência de intolerância a lactose...caracteriza os africanos ocidentais e seus descendentes, os deixando incapazes de consumir muito leite" - Kiple, Another Dimension, 11.

33 - Kiple, The Caribbean Slave, 23.

34 - Kenneth Kiple, “A Survey of Recent Literature on the Biological Past of the Black,” in Kenneth Kiple, ed., The African Exchange: Toward a Biological History of Black People (Durham: Duke University Press, 1988), 8.

35 - Kiple, The Caribbean Slave, 5.

36 - Michael Hart, Understanding Human History: An Analysis Including the Effects of Geography and Differential Evolution (Augusta, GA.: Washington Summit Publishers, 2007) was reviewed in TOQ vol.7, no.4.

37 - Gregory Clark, A Farewell to Alms: A Brief Economic History of the World (Princeton: Princeton University Press, 2007).

38 - Após fazer uma crítica ligeira ao darwinismo social, Clark segue escrevendo que "os insights de Darwin de que enquanto a população fosse regulada por mecanismos malthusianos, a humanidade estaria sujeita à seleção natural estavam profundamente corretos" (A Farewell to Alms, 122). Cliometrics, broadly defined, is the use of statistics in historical research.

39 - Clark, A Farewell to Alms, 11.

40 - Clark, A Farewell to Alms, 259.

41 - Gregory Cochran and Henry Harpending, The 10,000 Year Explosion: How Civilization Accelerated Human Evolution (New York: Basic Books, 2009). Entre outras descobertas, Cochran e Harpending fornecem evidência dando suporte para a crença de Crosby, expressada 25 anos antes, de que o gado doméstico, especialmente o leiteiro, desempenhou um papel fundamental na expansão indo-europeia.

42 - Cochran and Harpending, The 10,000 Year Explosion, 67.