06/01/2025

Thibault Isabel - A Crise é no Homem: Suicídio e Infelicidade na Era da Hipermodernidade

 por Thibault Isabel

(2010)



O homem foi feito para ser feliz? Sem dúvida, ele gostaria de ser, com certeza. No entanto, a felicidade permanece um ideal abstrato, que é muito difícil de definir positivamente e ainda mais difícil de realizar concretamente em sua vida. Pode-se razoavelmente supor que, desde tempos imemoriais, todos os representantes de nossa espécie conhecem episodicamente momentos de depressão; o mal-estar, a confusão identitária e a dor de existir fazem, até certo ponto, parte integrante de nossa condição. Também se pode imaginar que algumas pessoas são mais vulneráveis do que outras ao que hoje chamamos de “depressão”, seja por razões puramente psicológicas, relacionadas à educação, ou por razões fisiológicas, ligadas ao circuito neurológico e hormonal do corpo.

Mas, ainda assim, há razões para pensar que a nossa época é vítima de um sentimento exacerbado de mal-estar interior. Desde o marco dos anos 1830 e a entrada brusca na revolução industrial, o Ocidente parece ter sido submerso por uma onda mais ou menos generalizada de “tédio”, que os autores românticos chamavam com otimismo de “mal do século”, sem saber que ainda o sentiríamos quase duzentos anos depois deles... Nossa arte refletiu amplamente esse sentimento ao longo do século XX, assim como nossas publicações médicas, nossas revistas, nossos reportagens televisivos e nossas conversas. A “depressão” está em toda parte, superficialmente tratada por tratamentos farmacológicos da moda, como um remendo aplicado a um navio prestes a naufragar.

04/01/2025

Ernst Nolte - O Conceito de "Identidade" Europeia

 por Ernst Nolte

(2015)


 

O conceito de "identidade" é usado em muitos contextos: fala-se, por exemplo, da identidade de um povo, da identidade de uma cultura, da identidade de um partido, e na maioria das vezes, de forma consciente ou inconsciente, também está em jogo o conceito de "perda de identidade". No entanto, esse conceito também enfrenta uma crítica fundamental, e, de fato, hoje em dia no âmbito científico ou jornalístico, frequentemente se fala, geralmente com um tom negativo, de "essencialismo". A "identidade" é equiparada à "essência", e a "essência", enquanto mesmidade perene, é concebida como um conceito que se opõe ao poder do tempo e das circunstâncias naturais e históricas, como uma abstração fixa que faz violência ao fluxo temporal e ao devir, não muito diferente das "ideias" platônicas. Estas, segundo a concepção de Platão, são origens cósmicas, "pensamentos de Deus", mas na verdade, assim se diz, representam apenas construções da razão humana, que busca tornar intuitível e utilizável a incompreensível multiplicidade do mundo. Contudo, quanto pode uma geração ser distante da anterior, embora nos genes ou no "sangue" estejam presentes continuidades inconfundíveis; quanto podem ser estranhos diferentes estratos de um povo, embora todos usem a mesma língua.

02/01/2025

Aleksandr Dugin - A Revolução Conservadora Russa

 por Aleksandr Dugin

(2004)


 

1. A Rússia conservadora-revolucionária


Os autores que estudavam a Revolução Conservadora alemã ou a Revolução Conservadora de modo geral (Armin Mohler, Alain de Benoist, Luc Pauwels, Robert Steuckers, etc.) sempre destacaram o papel da Rússia no desenvolvimento do pensamento conservador-revolucionário e até mesmo no uso original deste termo. -- Yuri Samarin “Revolutsionnyi conservatism”. Não se pode duvidar também da "Ostorientirung" e de certa russofilia quase obrigatória desse movimento intelectual dos jovens conservadores até os nacionais-bolcheviques alemães, passando pelos geopolíticos da escola de Haushofer. Nesse sentido, as célebres ideias radicais de Jean Thiriart sobre "o império euro-soviético de Vladivostok a Dublin" e o famoso aforismo de Alain de Benoist sobre a preferência pela boina do Exército Vermelho em vez do boné verde americano permanecem dentro dos quadros tradicionais da lógica conservadora-revolucionária mais estrita.

Mas um estudo sério e suficientemente documentado neste domínio ainda está por fazer para apreciar todo o valor intelectual e geopolítico do pensamento conservador-revolucionário dos próprios autores russos. Esta tarefa é extremamente difícil devido à falta de traduções dos escritos dos representantes do pensamento conservador-revolucionário russo para as línguas europeias. Por outro lado, este movimento permanece quase inteiramente ignorado até mesmo na própria Rússia, porque os comunistas de ontem consideravam oficialmente este movimento como "pequeno-burguês" e "nacionalista", e os democratas de hoje pensam que se trata de "chauvinistas", "patriotas" e "antissemíticos", ou até mesmo "nazistas". Apesar de tudo, o interesse pelos autores russos da tendência conservadora-revolucionária na Rússia está crescendo cada vez mais, e pode-se esperar que suas obras e ideias sejam redescobertas e repensadas pela intelligentsia russa, que começa a despertar de um longo sono ideológico. Já se pode notar que o processo intelectual de descoberta do patrimônio nacional no domínio da cultura ainda hoje possui na Rússia vários traços conservadores-revolucionários, embora muitas vezes isso ocorra de maneira espontânea, inconsciente e natural. Pode-se até ousar dizer que a Rússia em si, em sua essência, é naturalmente conservadora-revolucionária, abertamente ou secretamente conforme as circunstâncias externas.