por Tibet Dikmen
(2020)
É difícil dizer que o tradicionalismo tenha sido suficientemente discutido e difundido na esfera intelectual turca. Apesar de a maioria dos livros tradicionalistas importantes terem sido traduzidos para o turco, a consciência dessa corrente filosófica está bastante limitada a uma peculiar elite. Embora a maioria das obras de René Guénon, Frithjof Schuon, Seyyed Hossein Nasr, Martin Lings, Titus Burckhardt e Julius Evola ainda esteja sendo publicada pela editora İnsan Yayınları, muitos turcos ignoram como a escola tradicionalista é um movimento político-filosófico ativo, como os tradicionalistas estão conectados entre si, onde se estendem as veias grandes e pequenas que os alimentam e até onde chegam os vasos que se ramificam a partir delas.
René Guénon é naturalmente o primeiro nome tradicionalista a chegar à Turquia. O documento mais antigo que leva seu nome remonta a 1938, no título de um artigo de jornal que dizia: "René Guénon, o filósofo francês desaparecido há sete anos, foi finalmente encontrado na famosa Universidade Al-Azhar do Cairo. Todos em Paris estão impressionados com a estranha e curiosa aventura do filósofo". No entanto, este artigo se mostra irrelevante. As obras intelectuais de Guénon só alcançariam os intelectuais turcos no início da década de 1980.
Isso começou com a publicação de pequenos artigos em uma revista conservadora chamada Resurreição, pertencente ao partido islâmico-conservador que mais tarde foi fechado por se recusar a participar três vezes seguidas das eleições. Após essa introdução, a tradução de seus livros foi liderada por Nabi Avcı, que foi colunista nos jornais do Yeni Şafak, principal assessor do primeiro-ministro Erdogan em 2003, ministro da Educação Nacional entre 2013 e 2016 e depois ministro da Cultura e Turismo até 2017. Já observamos que acadêmicos e intelectuais de posição peculiarmente elevada tentaram ser os "precursores" do tradicionalismo na Turquia.
Após as traduções de Avcı, foram publicadas segundas edições, todas pela Insan, sob a direção do doutor Mahmut Erol Kılıç, também escritor na Yeni Şafak e acadêmico famoso por seu trabalho sobre Ibn-Arabi e René Guénon, atualmente embaixador da Turquia na República da Indonésia. Até muito recentemente, podíamos observar que os conteúdos tradicionalistas só eram encontrados em arenas islâmicas conservadoras, como as faculdades de Teologia. No entanto, a corrente antimoderna vive, hoje em dia, seu apogeu na Turquia. Muitas novas traduções estão sendo feitas e as ideias estão ganhando mais interlocutores a cada dia.
Além de o tradicionalismo ter se tornado uma grande influência para as ordens sufis ativas, alguns conservadores começaram a tentar usar o tradicionalismo como uma filosofia rígida e forte contra a oposição secular. Também se pode notar um maior esforço em introduzir a escola de pensamento para a geração mais jovem. O GZT (a seção juvenil do jornal Yeni Şafak que mencionamos anteriormente, um diário conservador conhecido por seu apoio incondicional ao presidente Erdogan, que mantém estreitas relações com o regime do AKP e é frequentemente acusado de usar um discurso de ódio excessivo e de antissemitismo) publicou um artigo completo e bem desenvolvido sobre o tradicionalismo voltado para a geração mais jovem, e até mesmo fez um vídeo de 20 minutos no YouTube explicando o legado de Guénon. O GZT, juntamente com o Yeni Şafak, pertence ao Albayrak Holding, um conglomerado bilionário envolvido em telecomunicações, imóveis, produção de motores, têxteis e papel. Também organizou uma transmissão ao vivo com Ibrahim Kalin (o atual principal assessor do presidente Erdogan), na qual ele criticou duramente a modernidade e recomendou aos jovens turcos a leitura de O Homem e a Natureza, de Seyyed Hossein Nasr.
Novos artigos sobre escritores tradicionalistas aparecem com muita frequência em revistas juvenis de várias universidades, desde Istambul até Erzurum. Portanto, podemos observar que, ao contrário da Europa, onde surge como uma corrente dissidente, o tradicionalismo na Turquia pode ser encontrado entrelaçado na classe dominante, o que é o lugar onde menos se esperaria. Levando em consideração todos os diferentes fatores, mesmo que seja inconsciente e não planejado, está ocorrendo um renascimento no ramo conservador da Turquia, e isso está diretamente relacionado ao ponto de vista tradicionalista. Enquanto os sufis e as ordens religiosas tendem a se concentrar na vertente perenialista mais passiva, a obra Revolta contra o mundo moderno de Julius Evola está ganhando popularidade entre os militaristas: aqueles que cumprem firmemente o lema "A Turquia não é um país com um exército, o exército turco é um exército com um país".
O crescimento da influência tradicionalista chegou a tal ponto que Abdul-Wahid Yahya Guénon, filho de René Guénon, foi convidado a Istambul em 2015 para receber o prêmio honorífico de Amigo especial (concedido àqueles que são considerados grandes servidores do islamismo) por uma fundação sufi profundamente enraizada, a Kerim Vakfı. Durante seu discurso, o filho de Guénon compartilhou alguns fatos desconhecidos sobre seu pai. O mais surpreendente deles foi o fato de que um aluno de Albert Einstein escreveu uma carta a René Guénon, na qual indicava que "seu professor estava muito influenciado por seus trabalhos sobre metafísica" e que "o recomendava a seus alunos". O filho de Guénon também declarou que, embora esteja feliz com os elogios recebidos por seus pais na Turquia, até agora apenas 13 de seus 28 livros foram traduzidos.
Não devemos omitir também a oposição. A oposição mais forte a Guénon veio de Zübeyir Yetik (do Millî Görüş de Erbakan), que dedicou um livro inteiro a criticar as posições esotéricas e suprarreligiosas de Guénon, intitulado A Supremacia do Homem e o Esoterismo Guenoniano. Yetik afirma com veemência que "os resultados dos esforços para reviver o patrimônio comum da humanidade sob o nome de tradição, que é insistentemente trazido à agenda por René Guénon e seus discípulos como uma via alternativa de salvação, fracassam e se estagnam nesse tema, sendo prejudiciais ao indivíduo e à sociedade". Junto a tais críticos, também podemos observar que os maçons turcos tampouco são simpatizantes de Guénon. De acordo com uma pesquisa realizada por Thierry Zarcone, embora a biblioteca da Grande Loja de Istambul tivesse muitos dos livros de Guénon à sua disposição, de alguma forma, eles foram deliberadamente ignorados e até demonstraram consternação com sua filosofia.
Podemos notar facilmente a crescente atenção ao tradicionalismo, especialmente com a chegada de Ernst Jünger às prateleiras turcas. Jünger é o pensador mais recente a entrar nesse renascimento intelectual em curso e, curiosamente, o primeiro livro traduzido foi Abelhas de Vidro em 2019, seguido por Tempestades de Aço no mesmo ano. Portanto, Ernst Jünger demorou 99 anos para chegar a um público turco. Podemos, assim, concluir que o tradicionalismo ainda está se firmando e criando mudanças intelectuais significativas em diferentes partes do mundo, cada uma em contextos independentes, e que a Turquia, de maneira recente, mas completa, está abraçando essa cosmovisão perene.