por Alejandro Linconao
(2020)
O homem clássico se reconhecia como parte da natureza. Não entendia nada como estando fora do universo; nada de ordem material ou imaterial escapava a ele. Homens e Deuses, rochas e oceanos, as estrelas e o universo inteiro compartilhavam uma mesma morada. O reino dos mortos era um âmbito a mais dentro dele, assim como são os cumes das montanhas. O divino estava na natureza e não era externo a ela.
A natureza, segundo o pensamento clássico derivado de Hesíodo, era eterna e incriada, sempre existiu. Também Heráclito e Parmênides compreendiam o universo como incriado e imperecível. Não criado por nenhum deus ou homem, é eterno, sempre foi e sempre será (Heráclito, 1981, pp. 336-340). Mesmo outras cosmogonias, como a de Tales de Mileto ou Anaxímenes, que derivam o universo da água ou do ar, entendem que nada escapa ao natural.
Na antiguidade clássica, o termo natureza não se referia a algo estático ou genérico, mas indicava uma dinâmica, uma força vital, geradora. A palavra latina natureza deriva do termo natura, que vem do indo-europeu nasci, que significa dar à luz ou gerar (Pokorny, 1969). Esse termo daria origem a várias palavras relacionadas à geração. Portanto, natureza originalmente não se referia às coisas que nos rodeiam, mas ao processo que as origina. Da mesma forma, o termo grego physis, do qual deriva físico, remonta ao verbo indo-europeu bheu, ser, crescer (Pokorny, 1969). O natural e o físico, que hoje consideramos adjetivos, eram entendidos como verbos. Eram causa, eram dinamismo para os pais do Ocidente.
Para Hesíodo, em um estágio primordial, imperava o caos, a ausência de limites. A natureza começa a se ordenar por meio da oposição, através do conflito entre opostos. A luz se opõe às trevas, a água à terra, e assim ocorre com tudo o que existe. Do conflito nasce a ordem. Não há ordenador nem moralidade na ordem. As leis são extraídas da natureza. Não há uma ordem prévia nem externa à natureza.
Heráclito, na mesma linha, afirmou que a oposição, a que ele chama de guerra, é pai e rei de tudo (Heráclito, 1981, p. 347). Esse pensamento não era exclusivo dos gregos, pois outros povos também entendiam o conflito como gênese de tudo (Güterbock, 1948). O pensamento clássico, longe de ver o conflito como algo caótico, o entendia de forma contrária. O caos se transforma em ordem por meio do conflito.
Não existindo uma lei exterior à natureza, não há idealização dos fatores em conflito. Nenhum deles é bom ou mau em si. Não há tábuas da lei vindas de um além que estipulem o correto. O indesejável para os gregos é o hybris, a desmedida, o que não tem limite. O excesso em qualquer âmbito, seja no amor, na guerra, nos desejos ou no poder, é um desequilíbrio que atrai a ira dos deuses. Medèn ágan, estava escrito em Delfos, nada em excesso (Pausânias, 2008, p. 417).