por Manuel Noorglo
(2023)
Comumente, os anarquistas têm tido um encontro evasivo com Julius Evola, figura de destaque da crítica radical e filosófica contra o sistema dominante. Apesar de livros como Revolta Contra o Mundo Moderno e Cavalgar o Tigre terem encontrado um séquito também entre aqueles de fé revolucionária, é curioso notar como a intersecção entre anarquismo e a obra de Evola tenha sido, até agora, tão somente resvalada.
O Desafio de Ler Evola para os Verdadeiros Anarquistas
Vamos logo ao âmago da questão? Por quê os anarquistas deveriam ousar ler Julius Evola? Essa é uma árdua iniciativa, admito. Uma autêntica prova de coragem para aqueles que se definem intelectualmente anarquistas. É um desafio que exige audácia e determinação, porque sabe-se, Evola é considerado por muitos um autor controverso, um bicho-papão intelectual a ser evitado a todo custo.
Mas pergunto: Deveria o medo guiar suas leituras? Deveríamos fugir de um autor sem nem mesmo dar a ele a possibilidade de se expressar? Será que não nos encontramos na ilusão de que o mero ato de ler poderia contaminar nossas mentes, transformando-nos em uma sombra daquilo que éramos antes? Se este for o caso, me pergunto sobre qual é a profundidade desse anarquismo.
Saiba que Evola foi muitas vezes mal interpretado por aqueles que não entendiam completamente seu trabalho. Outros se apressaram em julgar sem verificar, em banir sem explorar. Mas os anarquistas genuínos não devem ser intimidados por esses preconceitos superficiais. Em vez disso, eles devem ter a força para olhar além da superfície, para investigar os pontos de convergência que podem surgir entre seu pensamento e a anarquia moderno.
Os capítulos deste artigo rastreiam as conexões entre Evola e os ideais anárquicos: a crítica à criação dos bancos, ao nascimento dos Estados e das nações, o desprezo pelo materialismo e a denúncia dos imperialismos. Vocês realmente têm certeza de que não há afinidade entre o pensamento dele e o nosso?
Os desafio a tomar em mãos "Revolta Contra o Mundo Moderno" e mergulhar na leitura. Vocês descobrirão que o fato de ler Evola não os transformará automaticamente em sequazes devotos. É como ler "O Capital" de Marx: não os transforma em marxistas a não ser que vocês estejam inclinados a sê-lo. A leitura é um instrumento para expandir a vossa mente, para explorar novas perspectivas e para aprofundar a vossa compreensão do mundo.
E se vocês descobrirem que há uma conexão, até mesmo um eco de afinidade entre o pensamento de Evola e seu próprio anarquismo, o que acontecerá? Vocês ficarão tão assustados com a ideia de abraçar um pensamento controverso? Ou vocês terão coragem suficiente para enfrentar esse desafio intelectual e confrontar seu próprio anarquismo?
Os convido a superar o medo e os preconceitos, a pôr à prova sua inteligência e seu espírito crítico. Só assim poderiam, de fato, compreender o caráter do seu anarquismo e descobrir se as suas ideias podem resistir às interrogações mais mordazes. Não sejam tímidos, porque só através do desafio se pode alcançar a verdade.
A herança de Evola entre instrumentalizações políticas e reavaliações
É inegável que o legado intelectual de Julius Evola tem sido objeto de várias interpretações políticas ao longo dos anos. Entretanto, é importante reconhecer que sua figura e seu pensamento têm atraído cada vez mais interesse, mesmo fora dos contextos políticos de direita, sendo reavaliados e considerados a partir de diferentes perspectivas ideológicas.
Evola, como pensador, não pode ser reduzido exclusivamente à esfera da extrema-direita. O seu corpus de obras abraça uma vasta gama de temas, entre os quais filosofia, tradição, espiritualidade, arte e sociedade. A sua crítica radical à modernidade e ao materialismo chamou a atenção de inúmeros leitores e estudiosos, independentemente de sua afiliação política.
Alguns estudiosos de esquerda reavaliaram o pensamento de Evola, reconhecendo nele uma crítica contundente ao capitalismo, à alienação social e à homologação cultural. Embora compartilhem ideias e valores diferentes, eles encontraram em seu trabalho percepções interessantes e estimulantes sobre os problemas da sociedade contemporânea.
A leitura de Evola por aqueles que criticam o fascismo pode ser vista como uma forma de analisar criticamente a história e o pensamento político do século XX. O exame de suas ideias e argumentos nos permite entender as raízes e a dinâmica que levaram ao surgimento do fascismo e de outras ideologias autoritárias. É uma forma de estudo que permite questionar e contextualizar seu pensamento a fim de extrair lições para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Além disso, é importante observar que o próprio Evola criticou o fascismo italiano e expressou preocupação com alguns de seus desvios autoritários. Ele enfatizou a necessidade de uma hierarquia baseada na virtude e na espiritualidade, rejeitando a ideia de um poder baseado apenas na força e na violência. Essa postura crítica fez de Evola uma figura ambígua e complexa, escapando de uma classificação clara como um simples apoiador do fascismo.
Entretanto, é importante enfatizar que o uso instrumental do pensamento de Evola pela extrema direita não pode ser ignorado. Alguns movimentos políticos tentaram explorar seu trabalho para promover uma agenda política de intolerância, xenofobia e supremacia racial. Essa instrumentalização vai contra o próprio espírito do pensamento evoliano, que enfatiza a importância da espiritualidade, da ética e do exame de consciência como formas de superar a crise da era moderna.
O legado de Evola é complexo e multifacetado. Apesar da instrumentalização política, seu pensamento encontrou espaço para reavaliação até mesmo nos círculos de esquerda, oferecendo matéria para reflexão e debate sobre questões importantes. Uma leitura crítica de sua obra pode contribuir para uma compreensão mais profunda da dinâmica histórica e política que moldou nosso mundo, permitindo que se tirem lições para a construção de uma sociedade mais justa e consciente. De qualquer forma, cabe ao leitor exercer seu próprio discernimento e tirar conclusões pessoais da leitura de um autor como Evola, sem esquecer o contexto histórico e ideológico em que seu pensamento foi formulado.
A Sacralidade Espiritual e a Justiça Anárquica
No contexto deste tratado, é fundamental esclarecer o conceito de sacralidade espiritual tal como expresso por Evola, que se distingue claramente do conceito de sacralidade religiosa. É essencial apontar que, quando nos voltamos a nossos leitores anarquistas falando em "sacralidade", não queremos nos referir em um sentido estritamente religioso. De fato, o próprio Evola era notoriamente um anticlericalista fervoroso, uma característica partilhada com os próprios anarquistas.
A sacralidade espiritual, como concebida por Evola, transcende as tradições e as instituições religiosas convencionais. Ela remete a uma dimensão mais profunda do ser humano, a uma conexão interior com as forças superiores e com o sagrado. Esta sacralidade não é limitada, nem circunscrita, por dogmas ou rituais religiosos, mas se manifesta como uma busca individual por verdade, por nobreza de disposição e por realização espiritual.
Evola identifica a sacralidade espiritual como uma qualidade que pode ser cultivada e concretizada através da autotranscendência e da disciplina interior. Isso implica uma libertação das cadeias do ego e uma conexão com princípios superiores que transcendem as limitações do mundo material. É um chamado a uma dimensão de sabedoria, nobreza e iluminação que supera as convenções religiosas e as limitações sociais.
Um marco significativo pode ser traçado entre a sacralidade espiritual de Evola e a sacralidade por justiça que os anarquistas expressam. Enquanto Evola busca a sacralidade como via de transcendência individual, os anarquistas a perseguem como um princípio de orientação para a criação de uma sociedade justa e livre. A sacralidade por justiça dos anarquistas se fundamenta na ideia de que a liberdade e a justiça devem ser valores fundamentais em todos os aspectos da vida humana, privada e social.
Mesmo que os anarquistas possam ser críticos em relação às instituições religiosas, compartilham com Evola a consciência da necessidade de uma sacralidade que vá além do mero dogmatismo religioso. Ambos reconhecem que a sacralidade pode ser encontrada na busca da verdade, na luta pela justiça e na manifestação de valores autênticos.
É importante, portanto, compreender que quando se fala de sacralidade para os leitores anarquistas, não se está fazendo referência a uma sacralidade religiosa convencional, mas a um conceito mais amplo que abraça a busca por uma conexão espiritual profunda, a manifestação da justiça e a concretização de uma sociedade fundada na liberdade e na igualdade.
Hierarquia Tradicional: da Ordem Espiritual à Meritocracia Anárquica
Julius Evola, em seu pensamento, delineou uma concepção profunda e diferenciada da hierarquia tradicional, que se separa radicalmente da hierarquia moderna. Para Evola, a hierarquia tradicional baseia-se na ordem espiritual e na diferenciação qualitativa das pessoas, mais do que na mera posição de poder ou na supremacia econômica.
Segundo Evola, a hierarquia tradicional está baseada em uma visão sagrada da realidade, em que as diversas posições e papéis na sociedade são reconhecidos como expressões de diversos graus de consciência, sabedoria e virtude. Esta hierarquia não se baseia na supremacia de um indivíduo ou de uma classe, mas no reconhecimento das diferenças qualitativas e da contribuição única que cada indivíduo pode oferecer à comunidade.
Em uma sociedade anárquica, paradoxalmente, o conceito de hierarquia evoliana poderia encontrar uma forma diferente, mas ainda presente: o mérito. Na visão de Evola, o mérito baseia-se na qualidade e no valor intrínseco do indivíduo, em vez de nas convenções sociais ou nas estruturas de poder. Em uma sociedade anárquica, em que o poder está descentralizado e as decisões são tomadas de modo coletivo, o mérito torna-se um critério fundamental para a atribuição de responsabilidade e a distribuição de recursos.
Na ótica evoliana, o mérito manifesta-se através do conhecimento, da experiência, da virtude e da habilidade prática. As pessoas que demonstram uma maior competência e uma maior dedicação ao bem comum são reconhecidas e valorizadas, independentemente de sua posição social ou de seu background. Deste modo, o mérito torna-se o fundamento para a formação de uma hierarquia natural e espontânea, baseada na qualidade e na habilidade dos indivíduos.
Todavia, Evola se resguardava também dos desvios que se poderia verificar na hierarquia tradicional. Ele criticava a hierarquia moderna, que se baseia no poder econômico e na manipulação política, levando à formação de elites corruptas e opressivas. Evola ressaltava a importância de uma hierarquia fundada na virtude, na ética e na espiritualidade, com o fim de evitar abusos e injustiças que poderiam emergir quando o poder é possuído por indivíduos sem qualidades morais ou espirituais.
Revolta Contra o Mundo Moderno: uma introdução aprofundada
O livro "Revolta Contra o Mundo Moderno" de Julius Evola representa uma obra monumental e controversa que suscitou profundas reflexões e discussões desde sua publicação em 1934. Este tratado filosófico e social oferece uma crítica radical do mundo moderno e propõe uma visão alternativa baseada em princípios tradicionais e espirituais.
Evola, um dos pensadores mais influentes de sua época, mergulha em uma análise profunda das origens, das dinâmicas e das consequências da modernidade. A sua intenção era de desvelar as forças que levaram ao atual estado de decadência e desintegração moral, individuando as raízes da crise espiritual e social que aflige a sociedade contemporânea.
No primeiro capítulo de "Revolta Contra o Mundo Moderno", Evola nos conduz em uma viagem que parte da antiga tradição sagrada e chega até a queda do Império Romano. Através de uma análise detalhada, ele nos mostra como o declínio deste último assinalou o início de uma era de decadência e degeneração, dando origem a uma nova forma de poder baseada na materialidade e na ruptura com os valores transcendentes.
Evola sublinhava a importância do conhecimento das raízes históricas para compreender plenamente a condição moderna. Ele explora o conceito de Tradição Primordial, uma antiga sabedoria transmitida através das eras e que representa um farol para aqueles que buscam uma via de fuga da Modernidade.
O autor critica ferozmente a ideologia do progresso, considerando-a uma armadilha que havia capturado a humanidade, tornando-a escrava da ilusão do crescimento contínuo e do materialismo desenfreado. Ele sustenta que o mundo moderno havia sido dominado por uma mentalidade niilista e materialista, que pôs em segundo plano a dimensão espiritual da existência humana.
Evola explora também o conceito de casta e de aristocracia espiritual como elementos fundamentais para a manutenção da ordem tradicional. Ele critica asperamente a sociedade moderna, em que a hierarquia foi substituída pela igualdade ilusória em que a autoridade legítima é erodida pela superficialidade e pelo individualismo.
O autor convida os leitores a se rebelarem contra o mundo moderno e a empreender uma "revolta interior", um caminho de transformação e de reconexão com a sacralidade do ser. Ele sustenta que apenas através desta revolta pessoal é possível recuperar a dignidade e a nobreza de ânimo que foram perdidas na modernidade.
"Revolta Contra o Mundo Moderno" coloca-se como um guia filosófico e espiritual para aqueles que buscam uma vida de fuga da crise e da superficialidade do mundo moderno. Evola desafia os leitores a romper com as convenções e ilusões do presente, abrindo a estrada para uma visão alternativa baseada na sacralidade, na ordem e na nobreza do ânimo.
Neste livro, Evola nos convida a uma reflexão profunda sobre nossas raízes, sobre nossa condição atual e sobre possibilidades de um futuro diverso. A sua crítica aguda e a sua visão alternativa fornecem uma base de discussão e um ponto de pertencimento para aqueles que desejam explorar novos horizontes de pensamento e de ação.
A leitura de "Revolta Contra o Mundo Moderno" exige uma mente aberta e crítica, pronta para explorar ideias controversas e a colocar em discussão os dogmas da Modernidade. Evola desafia o leitor a empreender uma viagem de conhecimento e transformação, oferecendo pontos de reflexão que vão além das ideologias convencionais.
Portanto, eu os convido a mergulhar nas páginas deste livro e explorar o pensamento de Evola. Seja você um anarquista, filósofo ou simplesmente alguém em busca de uma perspectiva alternativa, "Revolta Contra o Mundo Moderno" oferece um terreno fértil para uma reflexão profunda sobre nosso presente e as possibilidades de um futuro mais autêntico.
A Filosofia da História segundo Evola
No seu tratado epocal, Julius Evola delineia uma visão única da filosofia da história que abraça os ciclos e as quedas das civilizações. Evola rechaça a ideia moderna de uma história linear e progressista, já que esta concepção reducionista rebaixa a humanidade a uma série de eventos casuais e sem significado profundo. Ao contrário, ele afirma que a história é guiada por princípios metafísicos e por uma ciclicidade intrínseca, em que as épocas se sucedem segundo um ritmo pré-ordenado. Evola sublinha que as sociedades tradicionais indo-europeias compreendiam este princípio cíclico e o exprimiam através do mito e do simbolismo.
Um exemplo significativo da abordagem cíclica da história se encontra nas fases descritas por Hesíodo na sua obra "Os Trabalhos e Os Dias". Segundo Hesíodo, as épocas míticas passam por quatro fases: a era de ouro, a era de prata, a era de bronze e a era de ferro. Toda fase representa um estágio diferente de declínio e degeneração da humanidade, onde os valores espirituais e as virtudes nobres são gradualmente substituídas pela corrupção e pela materialidade.
Evola sublinha que estas fases correspondem também aos Yugas, conceito presente nas tradições indianas. Os Yugas representam ciclos de tempo cósmico em que a condição humana passa de uma era de virtude e iluminação para uma era de escuridão e decadência. Esta concepção cíclica da história nos convida a considerar o fato de que a humanidade se encontra atualmente na era da Idade de Ferro, caracterizada por conflitos, corrupção moral e materialismo desenfreado.
Evola interpreta a história cíclica de modo diverso de Nietzsche, que descreve o "eterno retorno". Enquanto Nietzsche via o retorno cíclico dos eventos como uma eterna condenação, Evola sublinha que é possível para os indivíduos "diferenciados" romper o ciclo e alcançar um estado superior de consciência e liberdade. Estes "homens diferenciados" são aqueles que se rebelam da degeneração do mundo moderno e buscam realizar a própria natureza superior e transcendente.
Em uma especulação pessoal minha, vejo um paralelo subentendido entre os "homens diferenciados" de Evola e os anarquistas. Os anarquistas, de fato, compartilham a ideia de uma liberdade pessoal e da ruptura das correntes impostas por uma autoridade exterior. Como afirmou Proudhon, "a anarquia é ordem", mas não uma ordem imposta de fora por um Estado ou por uma estrutura hierárquica, mas uma harmonia espontânea que se manifesta quando os indivíduos vivem segundo sua autêntica natureza.
Convido os anarquistas a desafiarem seu modo de pensar convencional e abraçar a leitura de Evola, que oferece uma perspectiva alternativa e provocatória sobre a história e a condição humana. Evola nos força a buscar uma dimensão existencial superior, a romper o ciclo de degeneração e a empreender um caminho rumo à transcendência.
A Análise Decadente de Evola e a Crítica ao Ocidente Progressista
No coração da obra, Julius Evola oferece uma visão implacável do Ocidente e da sua história, uma visão que contrasta com a narrativa dominante do progresso constante e da evolução ascendente. Enquanto muitos abraçam a ideia de um progresso que transcende as épocas, fundado no darwinismo e no Cristianismo, Evola lança uma luz sinistra sobre a suposta grandiosa marcha da humanidade rumo a um futuro luminoso.
Para Evola, a história do Ocidente havia sido uma queda ineludível rumo à decadência. Lá onde outros exaltam o progresso como um aprimoramento natural da humanidade, Evola individua, em vez disso, uma progressiva degeneração das qualidades espirituais e da nobreza do homem. O darwinismo, com a sua luta pela sobrevivência e a competição implacável, era para ele apenas uma confirmação da ruína do homem moderno, reduzido a uma mera criatura animalesca, privada de uma autêntica dimensão espiritual.
O Cristianismo, segundo Evola, contribuiu para a degradação do Ocidente, já que teve uma influência negativa sobre a nobreza e sobre a força viril do indivíduo. Com a sua ênfase no sofrimento, na abnegação e na submissão, o Cristianismo promoveu uma ética de fraqueza e de renúncia, deixando o homem privado de um guia interior e desconectado de sua verdadeira natureza.
Portanto, deve emergir uma conexão surpreendente com a anarquia. Os anárquicos, como Evola, criticaram o sistema hierárquico e autoritário imposto pela sociedade moderna, considerando-o opressivo e alienante. Tanto Evola quanto os anarquistas rejeitam a visão do progresso como um caminho linear e pré-determinado, reconhecendo em vez disso a necessidade de uma revolta contra a estagnação espiritual e a homologação cultural.
Os anarquistas, em seu fervoroso anticlericalismo, partilham com Evola uma crítica da religião organizada, que é vista como comumente instrumentalizada para justificar o poder e a subordinação. Ambos buscam a libertação da opressão e a afirmação da liberdade individual e da dignidade humana.
Todavia, enquanto os anarquistas se concentram na luta por uma sociedade sem Estado, Evola propõe uma ascensão individual a um estado de superioridade espiritual. Não obstante esta divergência, a sua análise crítica da história ocidental o leva a sustentar que o progresso não conduziu a uma verdadeira evolução do homem, mas a uma profunda crise existencial.
O Ocidente progressista, segundo Evola, perdeu de vista o senso de sacralidade e abraçou um materialismo vazio e destrutivo. Os anarquistas, como Evola, veem a necessidade de romper com este materialismo, de redescobrir a sacralidade na vida e de criar uma sociedade baseada na justiça, na liberdade e na autodeterminação.
A análise de Evola sobre a história ocidental, mesmo em sua crítica radical e provocadora, oferece uma perspectiva fascinante que pode estimular uma reflexão profunda também para os anarquistas. O desafio é o de abraçar o seu pensamento com espírito crítico e discernimento, sem se perder em ideologias rígidas, mas buscando encontrar os pontos de encontro com o anarquismo com o objetivo de contribuir para a construção de uma sociedade mais autêntica e humana.
A Crítica de Evola ao nascimento dos Estados e das Nações
No seu poderoso trabalho, Julius Evola lança sua luz sobre as origens dos Estados e das Nações, pondo em evidência o seu nascimento como uma infausta consequência da queda do Sacro Império Romano. Com sua pena aguda e visionária, Evola explora as raízes destas entidades políticas e traça uma crítica profunda e incisiva dos seus efeitos sobre o destino da humanidade.
Evola sustenta que a formação dos Estados e das nações foi um passo para o declínio espiritual e a perda da autêntica identidade das comunidades humanas. Ele afirma que, com a dissolução do Sacro Império Romano, verificou-se um colapso da ordem tradicional e da unidade espiritual que havia caracterizado outrora a civilização ocidental. No lugar de uma harmoniosa hierarquia sagrada, assiste-se à emergência de entidades políticas separadas, baseadas em um conceito de soberania territorial e de nacionalismo.
Segundo Evola, o nascimento dos Estados e das nações levou a uma fragmentação da humanidade e a uma perda da consciência de pertencimento a uma tradição superior. Estas entidades políticas, nascidas do desejo de poder e de controle, contribuíram para criar divisões e conflitos entre os indivíduos, promovendo um senso de identidade limitada e de rivalidade. Evola sustenta que a formação dos Estados e das nações enfraqueceu a sagrada lei da unidade espiritual e favoreceu o predomínio dos interesses materiais e das paixões egoístas.
O autor critica asperamente o nacionalismo que se desenvolveu em concomitância com o nascimento dos Estados e das nações. Ele afirma que este nacionalismo, baseado em uma concepção restrita e etnocêntrica da identidade, alimentou uma mentalidade de exclusão e de divisão entre os indivíduos. Evola rechaça a ideia de que o pertencimento a uma determinada nação deva ser a base da identidade e da ação política. Ele sustenta que o indivíduo autêntico deve se identificar com princípios superiores e universais, para além das limitações impostas pela nacionalidade e pela territorialidade.
Evola convida a um retorno à visão tradicional da unidade espiritual. Ele sustenta que só através de uma conexão com as raízes espirituais e a adesão a princípios superiores, pode-se superar a fragmentação e o egoísmo que caracterizam a moderna concepção de Estado e de nacionalidade. Evola convida à reunificação das forças espirituais, para além das barreiras artificiais criadas pelos Estados e pelas nações, para o fim de reconstruir uma ordem superior baseada na sacralidade e no conhecimento transcendente.
A Crítica de Evola ao nascimento dos bancos
Em sua obra-prima, Julius Evola oferece uma crítica aguda e pungente ao nascimento dos bancos, enfatizando as suas implicações no contexto da modernidade decadente. Com um estilo de escrita preciso e visionário, Evola explora as origens e a influência destas instituições financeiras, evidenciando os seus efeitos corrosivos sobre o tecido social e espiritual da civilização.
Evola sustenta que os bancos foram elementos fundamentais na formação daquilo que ele define como a "contramoral" do mundo moderno. As raízes destes bancos remetem às religiões abraâmicas, em particular ao Judaísmo, que segundo Evola introduziu uma ética comercial e financeira que transformou profundamente o conceito de dinheiro e o seu papel na sociedade. Evola critica o apego abraâmico ao dinheiro como um instrumento de poder e acumulação, que teria levado ao nascimento de um sistema financeiro baseado em juros e usura.
Segundo Evola, os bancos instauraram um regime de domínio econômico que contribuiu para a subjugação do indivíduo e para a destruição das tradições autênticas. Estas instituições promovem uma atitude materialista e consumista, encorajam o acúmulo de riqueza como fim último e distorcido da vida humana. Evola sustenta que os bancos abraâmicos alimentaram um senso de alienação e de desumanizaçao, em que o dinheiro e o lucro assumem preponderância sobre valores espirituais e sobre uma verdadeira compreensão da existência.
O autor italiano critica também a influência dos bancos sobre a política e sobre o poder. Ele argumenta que essas instituições financeiras, entre seu controle dos fluxos de dinheiro e seu envolvimento nas questões econômicas, obtiveram uma poderosa alavanca de controle sobre a sociedade. Evola afirma que sua operação contribuiu para a criação de uma classe dirigente corrupta e inescrupulosa, que tirou vantagem do sistema monetário para o próprio interesse pessoal, e para a desvantagem do bem-estar comum.
Evola não se limita a condenar o sistema financeiro e as suas consequências, mas convida também à revolta espiritual e à recusa de uma visão materialista do mundo. Ele sustenta que é necessária uma reconexão com as tradições e as forças espirituais autênticas para romper as cadeias desta dominação financeira. Somente através de uma verdadeira transformação interior e um retorno a uma ética espiritual, afirma Evola, pode-se superar a influência destrutiva dos bancos e restabelecer uma ordem baseada na sabedoria e no conhecimento superior.
As Forças do Caos e a Era dos Heróis
Em "Revolta Contra o Mundo Moderno", Julius Evola enfrenta com firmeza e profundidade o tema das forças do caos e da era dos heróis. Ele lança um olhar implacável sobre a tumultuosa corrente histórica e analisa a ascensão e a queda das civilizações através do prisma da Tradição perdida.
Evola reconhece a existência de uma força primordial, uma potência caótica que pervade o universo. Ela se manifesta através da história humana, agindo como um rio impetuoso que atravessa e arrasta tudo aquilo que encontra. A humanidade, na sua incessante busca por significado e ordem, é comumente atraída por estas forças incontroláveis, perdendo a sua conexão com a esfera espiritual e divina.
A idade dos heróis é, para Evola, uma era remota, uma era passada em que figuras extraordinárias emergiam da coletividade humana e encarnavam valores de força, nobreza e coragem. Estes heróis agiam como catalisadores do destino coletivo, movendo as linhas da história com uma visão e uma missão que transcendia o ordinário.
Todavia, no mundo moderno, a idade dos heróis parece ser doravante uma recordação apagada. As forças do caos submeteram a coragem e a nobreza humana, e a humanidade perdeu-se na ilusão de um progresso linear e mecanicista. A Tradição, com os seus valores eternos e transcendentes, foi eclipsada por uma concepção materialista e pragmática da vida.
Evola, através de uma perspectiva cósmica, expressa a necessidade de despertar a essência heroica que jaz nas profundezas da alma humana. Só através da superação das forças do caos e do reconhecimento da nossa conexão com o divino, o homem pode empreender um caminho de elevação espiritual e reivindicar a própria dignidade perdida.
Evola, através de uma perspectiva cósmica, expressa a necessidade de despertar a essência heroica que jaz nas profundezas da alma humana. Apenas através da superação das forças do caos e do reconhecimento da nossa conexão com o divino, o homem pode empreender um caminho de elevação espiritual e reivindicar a própria dignidade perdida.
A Idade dos Heróis representa um chamado à grandeza humana, à capacidade de superar as limitações da materialidade e de abraçar o arquétipo do herói. Evola individua nos heróis das antigas tradições, nos guerreiros, nos sacerdotes e nos filósofos, modelos a serem seguidos para superar a letargia moderna e para afrontar o desafio que a história nos reserva.
Em um mundo dominado pela mediocridade e pelo conformismo, Evola nos incita a reconquistar o nosso destino e a nos tornarmos protagonistas da era dos heróis no nosso tempo. Através de uma ação corajosa e consciente, o homem pode elevar a própria existência e contribuir para a criação de uma nova época, uma época em que as forças do caos são domadas pela nobreza da alma humana.
Somos chamados a romper os grilhões da inércia e a responder ao impulso interior que nos empurra para o heroísmo. Somente então poderemos redescobrir a nossa verdadeira natureza, sustentar a Tradição e afrontar o caos do mundo moderno com dignidade e firmeza.
A evolução do pensamento de Evola sobre o racismo e as suas tendências controversas
No contexto das suas obras e reflexões, Julius Evola enfrentou o tema da raça de maneira complexa e articulada. Todavia, é importante notar que a sua concepção de racismo se separa claramente da visão moderna do racismo biológico materialista. Na sua memória "Sangue e Espírito", o próprio Evola recusa a etiqueta de racista, sublinhando como o seu interesse pelo tema surgiu de forma incidental, no âmbito de um enquadramento mais amplo de ideias políticas tradicionais.
Evola se propunha prevenir desvios presentes no domínio do racismo, seja na Itália ou na Alemanha, sublinhando a necessidade de considerar a raça não apenas do ponto de vista biológico, mas também espiritual e político. Ele sustentava que as raças humanas não podem ser definidas de modo estático e que novas raças podem se formar e outras se transformar ao longo do tempo, influenciadas por fatores internos, espirituais e culturais.
Uma das críticas principais de Evola sobre o nazismo era a abordagem zoológica e biologicista que reduzia a raça a uma entidade estática e determinada, concentrando a atenção no racismo nórdico-ário. Evola, ao contrário, propunha um enquadramento mais amplo que colocava no centro a ideia ário-romana, reconhecendo a contribuição de diversas civilizações e culturas no curso da história.
Longe do racismo biológico materialista, Evola se concentrava na formação de um tipo humano superior, uma elite que integrasse harmoniosamente os diversos aspectos da raça: corpo, alma e espírito. A sua visão sublinhava a importância dos valores espirituais e ideais superiores na definição da essência humana, para além das considerações puramente biológicas.
É interessante notar como, em uma ótica paradoxal, as ideias de Evola podem ser interpretadas como antirracistas no contexto atual. Enquanto reconhecia a diversidade entre as raças, a sua perspectiva era mais focada na valorização das qualidades individuais e da espiritualidade mais que na promoção de uma supremacia racial ou na discriminação. A sua crítica em relação ao nazismo mostra claramente a sua distância em relação a uma visão racista extremista.
Como em toda análise de um autor controverso, é fundamental sublinhar que cabe ao leitor tirar as próprias conclusões da leitura das obras de Evola. As suas ideias foram objeto de debates e interpretações diversas no curso dos anos, demandando um exame crítico e uma compreensão aprofundada do contexto histórico e cultural em que foram formuladas.
É responsabilidade do leitor examinar de forma crítica as ideias de Evola e tirar as próprias conclusões da leitura de suas obras.
A raça do indivíduo segundo Evola
Um dos aspectos peculiares do pensamento de Julius Evola sobre a questão da raça é a sua consideração da "raça do indivíduo". Evola sustentava que a identidade racial de um indivíduo não podia ser definida exclusivamente com base no pertencimento a um grupo étnico ou biológico, mas devia levar em conta outros fatores como a alma e o espírito.
Segundo Evola, a raça do indivíduo é uma combinação única de elementos biológicos, psicológicos e espirituais que determina a sua especificidade e diferença em relação aos outros indivíduos. Esta visão desafia a concepção tradicional de raça como um conceito estático e uniforme, evidenciando, ao contrário, a multiplicidade e a diversidade das influências que contribuem para definir a essência de uma pessoa.
A abordagem de Evola baseia-se na ideia de que todo indivíduo tem um destino particular e um papel único a desenvolver na vida. A sua concepção de raça do indivíduo se remete à tradição aristotélica e platônica, em que se reconhecia a importância da formação e do desenvolvimento individual para alcançar um nível superior de realização.
Evola considerava o indivíduo como um ser em constante evolução, capaz de superar os limites impostos pela própria raça biológica através de uma transformação interior. O seu objetivo era o de favorecer a emergência de indivíduos de elite que pudessem encarnar os valores mais altos e as potencialidades humanas mais elevadas.
É importante sublinhar que a concepção de raça do indivíduo proposta por Evola não excluía a consideração dos fatores biológicos e do pertencimento étnico. Ele reconhecia que estas influências poderiam contribuir para a formação da personalidade e para a determinação das características individuais. Todavia, a sua perspectiva passava além do aspecto biológico, buscando abraçar também aspectos psicológicos e espirituais que contribuem para definir a identidade de um indivíduo.
A concepção de raça do indivíduo de Evola reflete a sua visão complexa e multifacetada do ser humano. Ele reconhecia que a identidade de um indivíduo não pode ser reduzida a uma única dimensão, mas demanda uma compreensão mais ampla que inclua aspectos biológicos, psicológicos e espirituais. A sua perspectiva enfatiza a importância do indivíduo como entidade única e irrepetível, convocada a expressar o próprio potencial mais elevado e a realizar um destino particular no interior da ordem cósmica.
A visão anarquista e os desafios da identidade em um contexto pós-estatal
Na reflexão sobre a aplicação das visões de Evola sobre raça no contexto anarquista, surge um intrigante confronto entre a visão tribalista da anarquia e o indivíduo autônomo e independente. Enquanto os anarquistas aspiram a uma sociedade sem Estado, devem enfrentar a realidade de que as pessoas não estarão dispostas a se unir a qualquer um e que a falta de uma autoridade central para manter unidos os diferentes grupos étnicos ou pátrias resultará em uma ênfase no aspecto individual e exclusivo.
De fato, nas comunidades anarquistas existentes, principalmente as de pequena escala, a presença de indivíduos não anarquistas muitas vezes mina a existência de uma sociedade sem Estado. Essas pessoas "não anarquistas" frequentemente são discriminadas e afastadas desses contextos, pois identidades e visões de mundo divergentes podem criar conflitos e contrastes insuperáveis. A coexistência de múltiplas identidades dentro de uma comunidade anarquista é um dilema que requer uma solução delicada.
A eliminação do Estado não implicará no anulamento das identidades, como muitas vezes sonham os globalistas. As identidades são parte intrínseca da natureza humana e permeiam o tecido social, mesmo em uma sociedade anarquista. Portanto, o próprio anarquismo deve enfrentar o paradoxo de como lidar com reivindicações separatistas sem se tornar separatista, evitando discriminar aqueles que reivindicam separação. É uma tarefa árdua, pois o conceito de raça, segundo Evola, é flexível e moldável.
Deste paradoxo surge que o separatismo é um direito natural em uma sociedade anarquista. Cada indivíduo deve ser livre para buscar sua própria identidade e comunidade, desde que respeite os princípios de autonomia e respeito mútuo. A igualdade, frequentemente confundida com igualitarismo, não deve implicar na padronização das identidades, mas sim na igualdade de oportunidades e direitos para cada indivíduo, independentemente de sua origem ou pertencimento.
Em conclusão, a filosofia anarquista enfrenta um intricado labirinto conceitual ao lidar com questões de raça, identidade e separatismo. Enquanto as visões de Evola sobre raça podem oferecer uma análise crítica e provocativa desses temas, cabe aos pensadores anarquistas interpretá-las criticamente e adaptá-las ao contexto específico do anarquismo. A anarquia requer um desafio contínuo às convenções e uma busca constante por soluções que permitam a autonomia individual e a coexistência pacífica, sem cair na opressão ou exclusão.
É realmente hilário pensar como os vermelhos autoritários, leitores ávidos deste artigo, podem nos acusar de querer poluir o puro pensamento anarquista. Imaginem suas reações indignadas enquanto leem estas palavras! Sim, porque claramente, enquanto eles tentam difundir seu dogma ideológico, nós nos atrevemos a levantar questões e reflexões que podem perturbar sua visão de mundo. Mas estamos aqui para tranquilizá-los: o anarquista, ao contrário deles, é dotado de uma raça incorruptível, imutável em seu espírito rebelde e indomável em sua sede de liberdade. Então, não temam, caros vermelhos autoritários, não conseguiremos contaminar a alma pura do anarquismo com nossas "perigosas" ideias.
Mas, como se sabe, o sarcasmo é a arma dos anarquistas que se revoltam contra qualquer forma de autoridade, incluindo aquela das ideologias vermelhas autoritárias.
O anticlericalismo de Evola e sua oposição aos Pactos de Latrão
A oposição de Julius Evola à influência e ao poder da Igreja Católica se manifestou claramente em seu pensamento e atividade. Sua posição anticlerical e sua crítica radical aos Pactos de Latrão, que sancionavam o acordo entre a Santa Sé e o Estado fascista, levaram-no a ser considerado um dissidente dentro do regime.
Evola denunciou o compromisso que Mussolini havia feito com a Igreja Católica por meio dos Pactos de Latrão, acusando o fascismo de fazer uma aliança insidiosa com uma instituição que ele considerava estranha às verdadeiras tradições espirituais do Ocidente. De acordo com Evola, a Igreja Católica representava um poder terreno, interessado principalmente no controle das massas e na preservação de sua riqueza material, e não na busca da verdade espiritual.
Seu anticlericalismo estava enraizado em sua visão tradicional da ordem sagrada, que ele acreditava ter sido corrompida e distorcida pela Igreja Católica. Evola enfatizava que a autoridade espiritual autêntica não podia estar ligada a uma organização hierárquica e terrena, como a Igreja, mas tinha de se basear no conhecimento direto e na realização interior. Para Evola, a religião autêntica não era um dogma imposto de fora, mas um caminho individual para a transcendência e a liberdade espiritual.
Sua oposição aos Pactos de Latrão colocou Evola em uma posição difícil dentro do regime fascista, que havia forjado uma aliança estratégica com a Igreja Católica para consolidar seu poder político. Sua crítica ao acordo entre o fascismo e a Igreja lhe rendeu a acusação de ser um dissidente e um elemento desestabilizador da unidade ideológica do regime.
Evola não se submeteu ao pensamento dominante e às convenções sociais. Sua oposição aos Pactos de Latrão refletia sua intransigência e recusa em ceder a compromissos que minavam sua visão de uma ordem superior. Sua postura anticlerical não foi motivada por um simples espírito de rebelião, mas pela convicção de que a busca pela verdade espiritual ia além das instituições humanas e das formas organizacionais da religião tradicional.
Apesar das consequências pessoais que enfrentou devido à sua oposição aos Pactos de Latrão, Evola manteve sua integridade e perspectiva radical. Seu anticlericalismo e sua crítica ao poder da Igreja Católica o tornaram um pária, mas ao mesmo tempo despertaram interesse e admiração entre aqueles que compartilhavam sua visão de uma busca espiritual autêntica além das estruturas tradicionais.
A Crítica de Evola ao Fascismo
Julius Evola, apesar de ter inicialmente apoiado o Fascismo e compartilhado alguns de seus ideais, expressou ao longo dos anos uma crítica firme e lúcida a este movimento político. Evola reconhecia algumas intuições positivas no Fascismo, como a valorização da ordem, da autoridade e do senso de comunidade, mas contestava suas ambiguidades e desvios que se manifestaram ao longo do tempo.
Uma das principais críticas de Evola ao Fascismo dizia respeito à sua tendência à superficialidade e à banalização das ideias que lhe estavam na base. Ele destacava como o Fascismo, ao longo dos anos, havia perdido de vista sua visão espiritual e tradicional original, transformando-se em um movimento político vazio de conteúdo substancial. Segundo Evola, o Fascismo foi influenciado por uma mentalidade materialista e pragmática, abandonando a profundidade e a sacralidade que deveriam caracterizá-lo.
Evola também criticava o Fascismo por sua ambiguidade ideológica e falta de verdadeira coerência doutrinária. Ele observava que o Fascismo muitas vezes era caracterizado por uma pluralidade de interpretações e por uma falta de clareza sobre seus objetivos fundamentais. Essa ambiguidade ideológica permitiu que elementos oportunistas e nacionalistas se apropriassem do movimento, distorcendo sua visão original e favorecendo o surgimento de desvios antidemocráticos e opressivos.
Outra crítica de Evola ao Fascismo dizia respeito à sua excessiva centralização do poder e à sua tendência a criar um aparato estatal cada vez mais intrusivo e burocrático. Evola argumentava que o Fascismo, em vez de valorizar a autonomia e a iniciativa individual, centralizava o poder nas mãos do líder e do Partido, limitando assim a liberdade individual e a pluralidade de vozes na sociedade. Esse comportamento autoritário ia contra a concepção tradicional de uma sociedade orgânica e hierárquica, na qual as diferentes esferas da vida social deveriam operar em harmonia e complementaridade.
Por fim, Evola criticava o Fascismo por sua adesão acrítica à modernidade e ao progresso tecnológico. Ele argumentava que o Fascismo, em vez de promover uma visão tradicional e espiritual da sociedade, havia se deixado envolver e seduzir pela mentalidade materialista e tecnicista da época. Esse comportamento levou a uma perda de sentido e a uma falta de raízes culturais autênticas, contribuindo para a crise espiritual e moral da sociedade moderna.
Evola expressou uma crítica lúcida e profunda ao Fascismo, destacando suas ambiguidades, sua perda de substância espiritual, sua falta de coerência ideológica, a centralização do poder e a adesão acrítica à modernidade. Sua crítica ao Fascismo representa um apelo à necessidade de um pensamento político autêntico e enraizado em valores espirituais e tradicionais, a fim de superar os desvios que podem minar o próprio sentido da dignidade humana e da sociedade.
A Crítica de Evola ao Comunismo
Ao longo de sua vida e obras, Julius Evola expressou uma crítica contundente ao comunismo e sua ideologia. Reconhecendo o fascínio que o comunismo pode exercer sobre aqueles que se sentem oprimidos ou desiludidos pelo sistema existente, Evola destaca suas profundas fraquezas e limitações intrínsecas.
Evola reconhece que o comunismo prometeu uma sociedade mais justa, onde as desigualdades econômicas seriam eliminadas e o poder seria devolvido às massas. No entanto, ele adverte que essa visão utópica entra em conflito com a própria natureza humana e com as leis da existência. Segundo Evola, o comunismo ignora o aspecto espiritual do ser humano, reduzindo-o a uma mera entidade econômica e materialista. Ele enfatiza que a dimensão espiritual do homem não pode ser suprimida ou negada sem consequências desastrosas.
Além disso, Evola critica o comunismo por sua falta de consideração pela diversidade individual e cultural. O comunismo, segundo ele, tende a uniformizar e homogeneizar as pessoas, negando sua singularidade e suas tradições culturais específicas. Essa homogeneização forçada, de acordo com Evola, destrói as raízes culturais e os valores de um povo, impedindo o desenvolvimento de uma identidade verdadeira e autêntica.
Evola também destaca o caráter totalitário do comunismo, que se baseia na concentração do poder nas mãos de poucos, levando assim à supressão das liberdades individuais. Ele acredita que o comunismo, com sua visão de um governo centralizado e controle estatal absoluto, inevitavelmente leva à criação de um sistema opressivo e burocrático, privando os indivíduos de sua autonomia e capacidade de autodeterminação.
Por fim, Evola adverte contra a ilusão de que o comunismo pode levar ao fim das desigualdades sociais. Ele argumenta que a busca por igualdade absoluta e forçada leva a uma nivelamento para baixo, privando a sociedade da dinâmica e competição que podem estimular o progresso e desenvolvimento individual.
A Crítica de Evola ao Capitalismo
Julius Evola abordou o tema do capitalismo com uma crítica igualmente radical e profunda. Apesar de reconhecer alguns aspectos positivos na teoria do livre mercado e na competição econômica, Evola destaca as contradições intrínsecas do capitalismo e seus efeitos negativos na sociedade e no indivíduo.
Evola critica o capitalismo por sua ênfase excessiva no materialismo e na acumulação de riqueza como fim último. Ele argumenta que essa obsessão pelo lucro e acumulação de bens materiais levou a uma visão distorcida da vida, onde o homem é reduzido a um consumidor insaciável e o sucesso é medido unicamente em termos econômicos. Essa mentalidade materialista, segundo Evola, gerou uma sociedade sem valores espirituais e uma visão autêntica do significado da vida.
Além disso, Evola critica o capitalismo por seu impacto no indivíduo e na sociedade. Ele argumenta que o capitalismo promove o individualismo egoísta e a competição desenfreada, criando assim uma sociedade fragmentada onde o interesse pessoal prevalece sobre o bem comum. Essa cultura do individualismo exacerbado, de acordo com Evola, levou à alienação do indivíduo e à perda dos laços sociais, minando a coesão social e gerando um senso de isolamento e vazio existencial.
Evola também critica a concepção do trabalho no capitalismo, onde o trabalho é frequentemente reduzido a uma mercadoria a ser explorada e monetizada. Ele argumenta que o capitalismo transformou o trabalho em um meio para alcançar objetivos econômicos, negligenciando o aspecto humano e criativo da atividade laboral. Essa exploração do trabalho, segundo Evola, contribuiu para a degradação do indivíduo e sua alienação, privando-o da satisfação e senso de realização que podem derivar de um trabalho significativo e autêntico.
Em conclusão, Evola adverte contra a concentração do poder econômico e financeiro nas mãos de poucos, que caracteriza o capitalismo moderno. Ele argumenta que essa concentração do poder econômico inevitavelmente leva à criação de uma classe dominante, que controla os recursos e decisões econômicas em detrimento da maioria da população. Esse desequilíbrio de poder, segundo Evola, mina a democracia e cria desigualdades sociais cada vez mais profundas.
A crítica de Evola aos Imperialismos
Evola observa com firmeza que os imperialismos estadunidense e soviético eram manifestações do espírito materialista e mercantil que domina a mentalidade moderna. São expressões de uma ambição desenfreada, de um desejo de poder e controle que se baseiam em uma concepção de mundo distorcida e alienada da dimensão transcendente. Esses imperialismos não são guiados por princípios espirituais superiores ou por uma autêntica sabedoria, mas sim por uma mentalidade tecnocrática que reduz tudo a mera conquista e dominação.
Evola destaca como esses imperialismos se manifestam na esfera política, econômica e militar. Ele critica a atitude agressiva e intrusiva dos Estados Unidos ao promoverem seu modelo de democracia liberal em todo o mundo, afirmando que esse processo leva à perda da identidade e das tradições dos povos subjugados. Evola enfatiza como o imperialismo estadunidense se baseia em uma ideologia igualitária que, longe de elevar os indivíduos, os assimila em uma massa uniforme desprovida de qualidades superiores e de uma ordem natural.
Não menos aguda é a crítica de Evola ao imperialismo soviético. Ele reconhece que, embora o comunismo marxista-leninista professe a igualdade e a justiça social, o regime soviético operou por meio de uma ditadura do proletariado que reduziu as massas a uma condição de escravidão coletiva. Evola destaca que, por trás do falso véu de uma revolução pelo bem do povo, o imperialismo soviético se revelou como uma opressão brutal e uma negação da liberdade individual.
Evola destaca o perigo desses imperialismos que visam unificar o mundo de acordo com seus esquemas ideológicos e políticos. Ele enfatiza que essa homogeneização forçada leva à aniquilação das diversidades culturais e das tradições autênticas, reduzindo a humanidade a uma massa uniforme e sem espírito. Ele denuncia o fato de que esses imperialismos são movidos por uma concepção materialista e racionalista, que nega a dimensão sagrada e espiritual da existência humana.
O Tigre Domado
Este capítulo é dedicado à análise do livro "Cavalgar o Tigre" de Julius Evola, de 1961, uma obra que desperta grande interesse por suas visões e perspectivas que, embora possam parecer fora do comum, oferecem uma visão única da condição humana no mundo moderno. Através do uso de uma linguagem clara e uma dialética vigorosa, Evola nos convida a abraçar uma atitude interior que nos permita enfrentar os desafios de nosso tempo sem cair na desesperança ou na comprometimento com a mentalidade antitradicional.
O próprio título do livro, "Cavalgar o Tigre", nos oferece uma metáfora poderosa e pregnante. O tigre representa a força destrutiva que emerge no final de cada ciclo cósmico, ameaçando derrubar tudo o que é obsoleto e ultrapassado. Evola nos encoraja a não nos opormos em vão a essa força, mas sim a enfrentá-la com sabedoria e determinação, domando-a para transformá-la em uma força evolutiva. Se conseguirmos permanecer firmes montados no tigre, sem nos deixarmos derrubar, poderemos guiá-lo para uma nova dimensão, nos libertando da obsolescência e abrindo as portas para uma nova ação formativa.
Evola nos adverte que as formas e estruturas de uma civilização que concluiu seu curso estão destinadas a ser superadas diante da força do tigre. Não podemos nos agarrar desesperadamente ao que está destinado a ruir, mas sim levar a negação além de seu ponto morto, por meio de uma transposição consciente, para criar um espaço livre que possa servir de base para uma nova ação formativa. Isso requer uma compreensão profunda da realidade interior que transcende as experiências individuais e uma vontade de abraçar a crise do mundo como uma purificação catártica.
Através de uma crítica aguda das diferentes correntes do pensamento moderno, Evola nos guia para uma compreensão mais profunda de nossa situação vital e existencial. Ele se recusa a se envolver em disputas filosóficas, pois a filosofia moderna não é mais uma "ciência do verdadeiro", mas sim um reflexo mental de uma desesperança que permeia nossa época. Com uma clareza desconcertante, Evola reconhece que a ausência da dimensão transcendente levou a um beco sem saída, no qual a descrição de nossa derrota parece ser a única perspectiva restante. No entanto, ele identifica em pensadores como Nietzsche um pressentimento de realidades transcendentes e uma tentativa de superar a ordem puramente mental, embora esses esforços estejam fadados ao fracasso sem uma direção espiritual.
Evola também direciona sua atenção para o campo da ciência moderna, desmascarando as ilusões espiritualistas que às vezes cercam certas correntes científicas. Ele enfatiza que a ciência última não oferece uma vantagem sobre a ciência materialista anterior, pois não consegue fornecer uma compreensão concreta, intuitiva e viva do mundo. As entidades abstratas e as teorias complexas da última ciência físico-matemática podem parecer apenas malhas de uma rede, destinadas a uma apreensão prática cada vez mais externa da natureza, sem revelar o significado último dos fenômenos que nos rodeiam. Evola nos adverte a não confundir energia com espiritualidade real, pois as noções abstratas não mudam a experiência concreta que temos do mundo. Ele nos convida a não nos entregarmos à ilusão de um valor espiritual na última ciência, mas sim a buscar um conhecimento profundo, em termos espirituais ou verdadeiramente intelectuais.
Não menos incisivas são as observações de Evola sobre as estruturas sociais e as artes no mundo contemporâneo. Ele reconhece que muitas das formas e atitudes da civilização burguesa e materialista representam a negação de um mundo superior e anterior. No entanto, Evola não faz distinção entre as formas próprias da civilização burguesa e a herança sagrada que sobrevive. Esse enfoque poderia levar a uma visão distorcida das tradições orientais, ignorando suas estruturas sociais e seu núcleo espiritual.
É importante destacar que o livro de Evola não se limita a uma crítica destrutiva do mundo moderno, mas também oferece um caminho positivo para o homem diferenciado de nosso tempo. Evola reconhece que a filiação a uma religião organizada pode ser limitante e decadente, mas destaca a possibilidade de um desenvolvimento espiritual espontâneo ou irregular, guiado por um instinto inato e pela consciência da crise do mundo como oportunidade de purificação. Ele admite que as organizações tradicionais se tornaram raras e inacessíveis, mas isso não significa que seja impossível para o homem sincero e determinado encontrar um caminho para a dimensão transcendente. Evola reconhece que as possibilidades positivas do reino da máquina só podem ser compreendidas por aqueles que são capazes de enxergar além da aparência fria e desumana, que entendem a verdadeira essência do que é puro, objetivo e funcional. Para os indivíduos que conseguem aceitar plenamente a realidade e os processos do mundo moderno, o homem diferenciado pode alcançar uma avaliação completamente diferente do "mundo sem alma" das máquinas, da tecnologia e das metrópoles modernas. Ao aceitar plenamente essa realidade, o homem diferenciado pode moldar e desenvolver-se de acordo com uma equação pessoal válida.
No entanto, é necessário examinar cuidadosamente as metáforas e simbologias utilizadas por Evola em seu livro. A metáfora do tigre, embora poderosa, pode ser inadequada para representar as tendências destrutivas do mundo moderno. Nem todas as forças e formas presentes no mundo moderno são naturais e orgânicas, e nem todas podem servir como suporte espiritual. Evola destaca a importância de utilizar adequadamente a força passional, distinguindo entre rajas, que pode ser utilizada pelo homem espiritual, e tamas, que deve ser rejeitada. Da mesma forma, nem todas as formas e atitudes do mundo moderno são compatíveis com a natureza íntima do homem espiritual e com os ritmos da espiritualidade autêntica.
Evola expressa preocupação com a perda das organizações tradicionais e o acesso a uma iniciação regular no mundo contemporâneo. No entanto, é importante lembrar que uma tradição, enquanto mantém suas formas essenciais, continua a ser portadora de uma influência espiritual que transcende a ação humana. As formas sagradas, mesmo que limitadas e fixas, são veículos de influências espirituais que ultrapassam qualquer compreensão humana. Portanto, não podemos falar de uma tradição que existe apenas como uma forma vazia sem seu espírito. Uma tradição pode sofrer corrupção apenas quando suas formas essenciais são corrompidas.
Evola nos oferece uma perspectiva que não se limita à crítica destrutiva do mundo moderno, mas nos convida a buscar as portas abertas e a reconhecer que a Tradição integral sobrevive até o fim do ciclo. Para aqueles que estão dispostos a transcender o nível superficial e possuem uma vontade sincera, nem a decadência do mundo que os cerca, nem as limitações impostas por um ambiente específico constituem obstáculos insuperáveis. A busca autêntica e a perseverança podem levar à descoberta de uma tradição viva e da dimensão transcendente, onde o homem diferenciado pode encontrar seu verdadeiro propósito e realização espiritual.
"Cavalgar o Tigre" de Julius Evola oferece uma oportunidade única de reflexão sobre a condição humana no mundo moderno. Através de uma crítica aguda às tendências destrutivas e ilusões do nosso tempo, Evola nos convida a desenvolver uma consciência interior e a encontrar um equilíbrio entre a dimensão transcendente e os desafios do mundo contemporâneo. O livro nos instiga a não nos rendermos ao desespero, mas a mantermos firmes nosso equilíbrio interior, enfrentando com sabedoria a força destrutiva do tigre e buscando transformá-la em uma oportunidade de crescimento espiritual.
Conexões entre Evola e os Filósofos Anarquistas
Na exploração do pensamento de Julius Evola, é possível identificar conexões profundas e significativas com alguns filósofos anarquistas, como Friedrich Nietzsche e Max Stirner. Embora reconhecendo que pode haver diferenças substanciais entre suas visões, é essencial focar nos pontos de contato, nos traços comuns que emergem de sua reflexão.
Evola e Nietzsche, por exemplo, compartilham uma afinidade pela exaltação do indivíduo superior, pelo homem que se liberta dos grilhões da mediocridade e da homogeneidade. Ambos reconhecem que o indivíduo autêntico é aquele que se eleva acima das convenções sociais e das limitações impostas pelo rebanho. Eles promovem a necessidade de uma vontade de poder que supere as correntes do conformismo e se eleve a uma dimensão superior da existência.
Também com Stirner emergem conexões significativas. Evola, como Stirner, questiona a autoridade e a coerção impostas pela ordem social e política. Ambos exaltam a importância da liberdade individual e da rebelião contra as instituições que esmagam a individualidade e a criatividade humana. Para Evola e Stirner, a recusa das convenções e das estruturas de poder torna-se um ato de afirmação da individualidade e de reconquista da própria autonomia.
Um outro ponto de convergência entre Evola e esses filósofos anarquistas reside em sua crítica ao sistema político e social. Evola questiona o surgimento dos Estados e das Nações, destacando sua natureza opressiva e sua incapacidade de promover a liberdade individual. Da mesma forma, Nietzsche e Stirner criticam a autoridade estatal e denunciam seu papel em limitar a autonomia do indivíduo. Eles promovem uma ética da autenticidade e da autodeterminação, convidando os indivíduos a tomarem as rédeas de sua própria existência e a resistirem às imposições externas.
Além disso, Evola e esses filósofos anarquistas compartilham uma atenção especial pelo conceito de vontade individual. Reconhecem que o caminho para a realização pessoal requer uma vontade de poder que se opõe às forças de homogeneização e controle. A força do indivíduo reside em sua capacidade de afirmar sua própria singularidade e de seguir seu próprio caminho de desenvolvimento espiritual sem ser subjugado pelas convenções sociais ou pelas autoridades externas.
Apesar das possíveis divergências, é importante destacar as conexões profundas entre Julius Evola e filósofos anarquistas como Nietzsche e Stirner. Esses pontos de contato revelam uma insistência comum na libertação do indivíduo, na crítica às estruturas de poder e na busca por uma liberdade autêntica. Através de sua reflexão, surgem questões cruciais que convidam o indivíduo a se rebelar contra as forças de homogeneização, a recuperar sua autonomia e a seguir um caminho de realização espiritual que vá além das limitações impostas pela sociedade moderna.
A Revolta Juvenil e a Anarquia da Direita
O artigo "A juventude, os beats e os anarquistas de direita", contido no volume "O Arco e a Clava" de Julius Evola, publicado em fevereiro de 1968, teve uma ressonância imediata e uma difusão considerável, tanto que em pouco mais de três anos o livro se tornou praticamente indisponível, um fato incomum para uma obra de Evola. Esse sucesso de vendas pode ser atribuído em grande parte à presença desse ensaio, considerado fundamental para aquele momento histórico específico.
No artigo, Evola se dedica a analisar o movimento de contestação juvenil, reconhecendo a "legitimidade da revolta" contra o sistema existente, mas destacando sua falta de valores e a falta de uma legitimação superior. O autor confronta a situação de uma nova geração que vive em uma época de dissolução, sem raízes e sem um significado social autêntico. Essa juventude "desenraizada" carece de laços e vínculos que regiam a vida em épocas anteriores, sendo esses laços próprios do mundo e da moral burguesa.
Evola observa que essa nova geração simplesmente aceita o status quo, sem fazer perguntas profundas sobre seu próprio ser, e age de maneira superficial e sem sentido. O autor critica o suposto anticonformismo de certos comportamentos juvenis, que seguem uma espécie de moda convencional e revelam o oposto de uma verdadeira manifestação de liberdade. Essa "juventude", definida apenas pela idade, está fortemente representada na Itália, segundo Evola.
As palavras de Evola são cortantes e provocativas, destacando a superficialidade e a falta de autenticidade de certas manifestações juvenis. O autor convida à reflexão crítica e enfatiza que essa juventude não merece ser compreendida, pois não tem nada de verdadeiro a oferecer. No entanto, Evola não nega a legitimidade da revolta, mas a reconduz à necessidade de uma legitimação superior e de uma compreensão mais profunda dos valores autênticos.
Esse artigo de Evola despertou interesse e debate, chamando a atenção dos leitores para sua visão crítica e provocativa da juventude e do movimento de contestação. Sua análise perspicaz e seu desafio a uma busca de valores mais elevados continuam sendo fonte de reflexão para aqueles que se aventuram na leitura de suas obras.
Apêndice
Agora, caro leitor, que chegaste ao final deste artigo sobre Evola e suas reflexões sobre a juventude rebelde, é inevitável que já comeces a sentir-te um pouco comprometido. Afinal, tiveste a coragem de explorar as ideias de um autor tão controverso e discutido, testando a tua mente aberta e crítica. Mas não temas, porque como já destacamos, ler um autor como Evola não significa aceitar cegamente todos os aspectos do seu pensamento. Assim como o fato de ler "O Capital" de Marx não te transformou num fervoroso marxista, quem sabe o que poderia acontecer se um anarquista como tu lesse Evola!
Portanto, caro leitor anarquista, desafio-te e aos teus receios a descobrir afinidades no pensamento de Evola através deste artigo. Espero que tenhas considerado as ideias e críticas apresentadas, independentemente da tua reação. No final, o importante é continuar a manter a tua mente aberta, explorar diferentes perspectivas e forjar a tua visão pessoal do mundo.
No fundo, o que faz os anarquistas verdadeiramente anarquistas mentalmente é a sua audácia em confrontar ideias, mesmo as mais desconfortáveis e controversas. Então, se depois de ler este artigo te sentires um pouco perturbado, não te preocupes. É apenas um sinal de que estás disposto a arriscar, desafiar as convenções e explorar terrenos inexplorados. Continua a manter acesa a chama da anarquia no teu coração e segue o teu caminho sem medo das provocações intelectuais.
Lembra-te, caro leitor, que a verdadeira revolução começa na mente e na vontade de superar os obstáculos que nos impedem de explorar novos horizontes de pensamento. E se, por acaso, o teu percurso de leitura te levou a explorar o pensamento de Evola, então tem a coragem de considerá-lo como uma peça no mosaico das tuas ideias, sem medo de ser contaminado, mas sim com a consciência de que a abertura mental e o confronto crítico são o coração pulsante da verdadeira anarquia de mente.
A ti, leitor anarquista, deixo a árdua tarefa de traçar o teu caminho e de forjar a tua visão do mundo, desafiando os padrões pré-estabelecidos e os medos que nos separam da verdadeira liberdade. Que possas encontrar inspiração nas palavras de Evola ou em qualquer outro lugar, lembra-te de que a busca pela verdade e pela justiça é uma jornada infinita, e apenas tu tens o poder de dar forma ao teu destino.