03/07/2015

Aleksandr Dugin - Grécia: Batalha final

por Aleksandr Dugin



Os últimos eventos na Grécia adquiriram uma dimensão histórica. O Primeiro-Ministro, Alexis Tsipras, anunciou um referendo para o próximo dia 5 de junho sobre o ultimato da Troika (formada pela Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu).

De seu resultado depende nada mais e nada menos que o destino da União Europeia. Se os gregos rechaçarem o ultimato, a Grécia abandonará a zona euro e, muito provavelmente, sairá da União Europeia, e isso significa o fim da Europa liberal e atlantista que os estadunidenses e as elites pró-estadunidenses criaram nos últimos 30 anos. A União Europeia, ao invés de se converter em um novo jogador geopolítico independente e soberano, com sua própria agenda, se converteu em uma ferramenta obediente à oligarquia financeira mundial e à hegemonia estadunidense.

Os burocratas da União Europeia impõem seus dogmas sobre o resto dos países europeus para destruir sua independência e soberania econômica. Afundados em dívida, empréstimos e créditos, os países europeus (especialmente os mediterrâneos como a Grécia) se viram presos em uma rede de juros, em um labirinto sem saída. A existência continuada da Grécia como Estado independente no marco da União Europeia já não é possível.

Foi nessa maré que o partido anticapitalista Syriza venceu as eleições e fez uma convocatória ao povo para que tomasse uma decisão histórica fundamental: ser ou não ser? A questão se resolverá finalmente em 5 de julho. Se a Grécia quiser ser, dirá não à União Europeia; se quiser não ser, abandonará sua soberania e se entregará à União Europeia. Se o povo votar pelas medidas da União Europeia, a Grécia já terá perdido soberania, políticas sociais, pensões, não haverá nenhum benefício, nenhum direito econômico. O país será subjugado. Se o povo votar "NÃO", a Grécia - e não apenas ela, mas toda Europa e de fato todo o mundo - entrará em uma nova era, é possível que as regras mudem dramaticamente. Algumas portas se fecharão, mas outras se abrirão (na Eurásia: Rússia e o Oriente). Isso não quer dizer que será fácil. Será difícil, mas a Grécia ganhará, obtendo uma vitória da liberdade e da dignidade nacional. Não à Troika significa "SER" para a Grécia.

Os euroburocratas pressionaram fortemente o governo grego, negando-se a aceitar o referendo e tentando que o governo assinasse um pacto ditado pela Troika pelas costas do povo. Tsipras se negou a fazê-lo. Por si mesmo, era uma provocação do sistema antidemocrático e totalitário que se estabelece gradativamente e imperceptivelmente na Europa. todas as decisões são tomadas pela oligarquia financeira mundial, pelos Rothschild e pelos Rockefeller, confiando nas "tropas de assalto" de Soros (várias organizações governamentais, os esquadrões das políticas de gênero, etc.), mas não pelas pessoas. Tsipras violou as regras do jogo dos oligarcas ao convocar o referendo de 5 de julho.

Ao ver a oposição a seus planos, os senhores do mundo passam ao ataque. Em 1 de julho publicaram no Financial Times - jornal ligado aos serviços secretos britânicos - uma suposta carta de Tsipras à Comissão Europeia aceitando a maior parte das condições da Troika. Publicação falsa desmentida pelo Primeiro-Ministro grego, cujo objetivo era desacreditá-lo. O próprio Alexis Tsipras fez um chamado para que o povo grego vote NÃO para poder resgatar a dignidade nacional.

Lançam-mão de todos os truques possíveis, incluindo as falsas pesquisas. Bloomberg publica os resultados de uma pesquisa realizada por jornais financiados pela oligarquia internacional segundo a qual o número de gregos que planejam votar NÃO teria caído nos últimos dias de 57% para 46%. Essas cifras não tem nada a ver com a realidade. Centros de investigação e pesquisas da Grécia, e instituições independentes, indicam que o número de pessoas que votarão contra os ditados da Troika é de mais de 60%. O Ocidente começou contra a Grécia uma guerra psicológica direta, intencionando influenciar o resultado do referendo, para manter a Grécia no campo do liberalismo financeiro europeu, para alentar o suicídio da nação grega. Certamente, cada vez é mais forte a ameaça de que se repita o Maidan ucraniano e a eclosão de uma sangrenta guerra civil no país (na qual os soldados de Soros poderão intervir).

Esses métodos torpes sugerem pânico no Governo Mundial, que não está preparado para uma série de medidas audazes por parte do governo grego.

Este é um ponto de inflexão. A imprensa russa claramente não aprecia a gravidade dos acontecimentos na Grécia, não raro reproduzindo sem refletir propaganda antigrega. Os russos devem saber a verdade. Se a Grécia decide que a Europa liberal pró-estadunidense deve sumir, ela dará à Rússia uma oportunidade. A oportunidade de fazer história e se converter em um jogador ativo na política europeia. Será capaz de prevalecer na Grécia, vencer na Nova Rússia, e portanto no tabuleiro da Ucrânia, forjando-se uma aliança fraternal com nossos irmãos ortodoxos.

Hoje em dia, muito depende de cada um de nós. É necessário romper o cerco informativo ao redor da Grécia. Devemos difundir informação sobre a situação real e eventos em Atenas e outras cidades gregas antes do referendo. Os gregos devem saber que não vamos abandoná-los sozinhos com seus problemas, que podem contar com nossa ajuda e nosso apoio. Bruxelas e a hegemonia liberal querem destruir a Grécia. Nós queremos salvá-la. Nós tomamos a religião da Grécia. Somos responsáveis perante o povo grego, que historicamente é o professor dos russos. Somos responsáveis perante a Europa e devemos chegar a ser os garantidores de sua liberdade, independência e soberania.

Em 5 de julho, o processo fundamental pode se iniciar. O processo da liberação da Europa da ditadura da Nova Ordem Mundial. É nossa batalha!