por Alfonso Piscitelli
(2007)
O bestiário está para a etologia assim como a astrologia está para a astronomia. Por séculos, os astrólogos captaram no movimento das estrelas o reflexo cósmico dos movimentos da alma. Os astrônomos modernos (que muitas vezes continuaram a fazer horóscopos, como Galileu na corte dos Médici...) se valeram das observações de seus precursores mágicos para construir sua imagem do mundo. Da mesma forma, os compiladores dos "bestiários" viram nas várias espécies animais a encarnação de inclinações humanas, de vícios, de virtudes, e a moderna etologia, que estuda os animais segundo os métodos da observação científica, no fim das contas, recuperou a ideia fundamental do bestiário: a ideia de que nos comportamentos dos animais há algo análogo às tendências morais ou psicológicas do homem. Pode ser interessante ler juntos dois volumes recentemente publicados, que em nome da fantasia ou da pesquisa científica, se aproximam do mundo animal: História dos animais imaginários de Borges (publicado pela Adelphi) e Os sete pecados capitais dos animais do etólogo Celli, lançado pela Mursia.
“El libro de los seres imaginarios” foi publicado pela primeira vez em Buenos Aires em 1967. Borges, desde criança, quando se dedicava à compilação de manuais de mitologia grega, tinha concebido o propósito de realizar um Catálogo das Bestas, além dos Deuses. A hidra de Lerna, o Minotauro, o centauro eram, em essência, seres que, assim como Júpiter tonante e Apolo, povoam nosso mundo imaginário há séculos. Mas depois de superar os limites do mito grego, Borges percebeu as singulares afinidades que ligam os animais fantásticos de países distantes. Pense no bíblico Beemote (que foi "resgatado" como geopolítica): o monstro marinho do mito cananeu é praticamente idêntico ao Midgardsorm dos Edda germânicos, mas também ao Peixe dos Terremotos das fábulas japonesas. O tema da "lebre lunar" (ou seja, da figura leporina que em certos momentos do ano parece se imprimir na face da Lua) é encontrado com o mesmo significado tanto na Alemanha quanto na Índia védica. Coincidências? Simples ressonâncias? Ou é a linguagem universal dos símbolos que, mesmo a distâncias colossais, utiliza figuras semelhantes para expressar tendências psicológicas semelhantes?
Mas vamos à etologia. Desde que Konrad Lorenz parou de torturar animais em gaiolas e começou a estudá-los em seu Umwelt (em seu mundo específico), a ideia de que o comportamento dos animais é a projeção – e talvez a exageração – de tendências presentes no comportamento humano mais complexo adquiriu novo peso. Os materialistas tiram a conhecida conclusão: o homem é apenas um animal... Os amantes do símbolo e do mito lembram que, já na antiguidade, os doze caracteres e os doze destinos do homem eram associados aos doze "animais" do Zodíaco (Áries, Touro, Peixes, Leão...).
Agora o etólogo Celli nos mostra quanto os ursos são gulosos (Walt Disney já nos ensinou isso com o plácido urso da Vovó Donalda), quanto certas macacas são luxuriosas ou iracundas. Qualquer um que seja dono de um cachorro pode facilmente constatar quanto certos animais são ciumentos. Mas Celli também mostra a facilidade com que certos mamíferos superiores aprendem o senso de distinção social: quando a chimpanzé Washoe aprendeu a linguagem gestual dos surdos-mudos, começou a chamar os outros chimpanzés não "alfabetizados" de "animais sujos". Na prática, ela se tornou racista, graças à habilidade aprendida.
Na natureza, porém, não existem apenas ciúmes e "esnobismos"; também existe altruísmo, ajuda mútua, sacrifício da própria vida: a abelha guerreira pica o "inimigo" e perde a vida para defender o grande organismo coletivo da colmeia. Celli conclui de forma equânime: Os animais não são nem bons nem maus: obedecem ao mandato etológico que a evolução previu para eles. Seu gato não pode se converter a uma dieta vegetariana: ele é um carnívoro irredutível... uma tigre em miniatura.
Celli conta a vicissitude "traumática" de um menino de boa família progressista que ganhou um gatinho. O bichano foi acariciado e alimentado até que trouxe para casa um passarinho morto entre os dentes. "Mas como – gritou o pequeno moralista – os gatos matam passarinhos?" Desde então, o gato tornou-se "negro", fascista: o exílio foi seu destino inevitável. Com essa parábola estranha, Celli denuncia o vício ideológico de imaginar uma natureza toda "boa", "pacifista", "não violenta". A ideia do animal bom é a nova versão daquela antiga do "bom selvagem". Os intelectuais franceses do século XVIII acreditavam na existência de populações primitivas, "naturalmente boas": não sabiam que até os grupos humanos menos desenvolvidos vivem em uma dimensão "cultural". Marx pensava que os primeiros homens, ainda próximos à animalidade original, viviam em uma condição de "comunismo primitivo" e repetia a fantasia de Rousseau sobre a "invenção prejudicial" da propriedade privada. Nem Rousseau, nem Marx tinham notado como os cães marcam seu território, sua propriedade privada, como abelhas e cupins defendem sua pátria...
Muitas vezes, os animais foram projetados na sombra das concepções humanas e dos diversos comportamentos. Marx via na natureza um sistema comunista, Darwin, ao contrário, projetava nela as angústias dos comerciantes ingleses e os mecanismos do mercado. Foi Bertrand Russel quem notou que os animais estudados pelos americanos se agitam, fazem tentativas e erros e, no final, resolvem os problemas, enquanto os estudados pelos alemães meditam longamente sobre o problema e, no final, têm um lampejo de intuição...
Essas ingenuidades "antropomorfas" deveriam alertar aqueles que, com muita facilidade, querem fundamentar a moral na biologia e reduzir o comportamento humano ao comportamento animal. O mundo animal não pode fornecer paradigmas para o comportamento humano, pela mesma razão que uma tigre ou um leão não podem ser julgados com base em normas judiciais humanas! Que o estudo da evolução animal possa fornecer indicações úteis para evitar um destino ruim ao mundo humano é outra história. A etologia do século XX eliminou muitos mitos ideológicos sobre o reino animal. Em alguns casos, também inverteu significados simbólicos arraigados por séculos nos bestiários e nos provérbios populares.
Pense no lobo. O animal mais caluniado. Era bastante forte no Ocidente a reminiscência evangélica: "Eu os envio como ovelhas no meio de lobos" para não fazer do lobo o criminoso por excelência. Cristo havia qualificado seus seguidores como rebanho, a si mesmo como pastor de homens. Nesse contexto ideológico, o lobo tornou-se a expressão da avidez, da ganância incessante e, em época posterior, ao surgir das grandes filosofias políticas, o símbolo da conflituosidade violenta entre os homens (Hobbes).
A etologia moderna inverteu esse quadro simbólico. Konrad Lorenz, como um São Francisco teutônico, voltou a "falar com o lobo", mas não para transformá-lo em um cão doméstico, mas para revelar ao mundo toda a "dignidade" desse ser, que é um "animal social" por excelência: conhece regras de convivência, respeita as hierarquias e modos incruentos de determinar mudanças de poder dentro do grupo. A etologia contribui assim para o ressurgimento de imaginações mais arcaicas sobre o Lobo, animal sagrado a Apolo, entre os gregos. Seu nome aparece nas origens de muitos povos itálicos: os Hirpinos, os Lucanos, e aparece nas origens da fundação de Roma, com Rômulo e Remo amamentados por uma generosa, não ávida Loba.