por Aleksandr Dugin~
(2018)
Aceleracionismo (termo derivado da palavra aceleração) é uma tendência filosófica que intenta acelerar o curso da História (que, ao contrário do Tempo, é um conceito não-físico e, portanto, passível de ter sua velocidade modificada).
Em uma recente conferência realizada em Amsterdã, da qual participaram diversos filósofos (incluindo Žižek e Sloterdijk), os parâmetros da sociedade futura foram postos em exame. Houve um questionamento basilar: devemos acelerar a eclosão desta sociedade ou não? O futuro, neste caso, foi pressuposto nos termos do que eu chamo de uma desumanização: uma transição para uma nova forma de vida pós-humana, que nos faça encarar a humanidade atual como uma espécie imperfeita – tal como os macacos um dia o foram diante dos seres humanos. Muitos, então, sugeriram que deveríamos olhar para o homem tendo os robôs como parâmetro.
Um conferencista argumentou em favor da excepcionalidade dos robôs, afirmando que humanos-máquinas pagariam seus impostos corretamente e que a corrupção não teria lugar em suas consciências – ele defendeu que a evasão fiscal é um dos problemas econômicos mais espinhosos, especialmente para os países em desenvolvimento, e que nesta nova forma de vida nós encontraríamos a felicidade, de maneira que, no futuro, a inteligência artificial assumiria o ônus da organização econômica e política dentro do seu próprio modo de pensar. A humanidade seria precisamente este elemento quimérico transferido para ciborgues-robôs em prol do melhoramento das possibilidades e oportunidades – por exemplo, um implante de próteses de olhos de águia em seres humanos daria a estes uma visão melhor; a introdução de asas nos permitiria voar; pés artificiais tornariam nossos saltos mais rápidos, fazendo o doping parecer uma brincadeira de criança: as competições desportivas passariam a se realizar entre humanos-cangurus/humanos-coelhos, já que todos poderiam pular e correr com suas próprias próteses artificiais.
Não obstante, todas essas problemáticas, até o presente momento, foram colocadas da seguinte forma: com que rapidez esta sociedade emergirá? Alguns já até traçam prognósticos, sugerindo que o ponto de partida será em 2025 – este seria o momento da singularidade, quando haveria o giro definitivo da passagem dos seres humanos para criaturas pós-humanas.
Em minha comunicação, descrevi a mesma imagem, mas a partir de outro ponto de enunciação. Falei sobre como o robô irá perder todas as qualidades humanas nos termos do Dasein: a atitude humana perante a morte cederá lugar à imortalidade em troca da alma (o que é comparável à venda da alma ao Diabo). Imaginei que semelhante perspectiva conservadora assustaria o público. Houve, é claro, os que recuaram diante do quadro pintado por mim. Mas ao final da comunicação, muitos afirmaram que, sim, gostariam de se transformar em robôs: o que é interessante. O horror que eu esperava – da perda da identidade humana na esteira da aceleração dos processos técnicos, da perspectiva de gerar crianças em impressoras 3D – não apareceu. Ao contrário, até divertiu uma parte significativa do público em Amsterdã, que ficou contente com a possibilidade de acelerar tais processos.
É curioso pensar que, quando discutimos o Progresso, debatemos principalmente se ele virá mais rapidamente ou mais lentamente. Mas para onde nós estamos caminhando? Essa questão acaba por ficar de fora. Mas ainda assim estamos nos movendo para algum lugar, um lugar com o qual a maioria dos intelectuais ocidentais concorda, possui os contornos de um arquétipo pós-humano e pós-humanístico. Esse é o momento da singularidade. E praticamente ninguém (com exceção dos círculos tradicionalistas mais radicais, mais duros) faz a pergunta realmente importante: nós devemos mesmo ir para lá? E isso é espantoso: estamos nos movendo para o abismo, mas convencidos de que rumamos ao auto-aperfeiçoamento.