21/11/2016

Alexander Dugin - Sobre os Identitários, a Tradição e a Revolução Global

por Aleksandr Dugin



Considero que os identitários são aliados quando rechaçam a modernidade, a oligarquia global e o capitalismo liberal mortífero para as culturas étnicas e as tradições. 

A ordem política moderna é essencialmente global e se baseia puramente na identidade individual. É a pior ordem possível e deve ser totalmente destruída. 

Quando os identitários militam por uma reafirmação da Tradição e das antigas culturas dos povos europeus, têm razão. Mas quando atacam os imigrantes, os muçulmanos, os nacionalistas doutros países (baseado em conflitos históricos), quando defendem os EUA, o atlantismo, o liberalismo ou a modernidade, quando consideram a raça branca (a que criou a modernidade) como a raça superior e afirmam que outras raças são inferiores, estou em total desacordo com eles. 

Mais do que isso, não posso defender brancos contra não-brancos apenas por ser branco e indo-europeu. Reconheço a diferença de outros grupos étnicos como uma coisa natural e rechaço qualquer hierarquia entre os povos, dado que não existe, e não pode existir, uma medida universal para a comparação das sociedades étnicas e os sistemas de valores. 

Tenho orgulho de ser russo, exatamente como os estadunidenses, os árabes, os chineses, e os africanos estão orgulhos de ser como são. É nosso direito e nossa dignidade afirmar nossa identidade. Não a de uns contra outros, mas a de uns ao lado dous outros, sem ressentimento para com os outros ou remorso em relação a si.

Não posso defender a nação, porque a nação é um conceito burguês imaginado pela modernidade para destruir as sociedades tradicionais (Império) e as religiões para sua substituição por pseudo-comunidades artificiais baseadas na identidade individual. Atualmente, a nação está sendo destruída pelas mesmas forças que a criaram no primeiro período da modernidade. As nações têm cumprido seu papel de destruidor de identidades orgânicas e espirituais e agora os capitalistas destroem seus próprios instrumentos para fazer possível a globalização. 

Devemos atacar o capitalismo como um inimigo absoluto, responsável tanto pela criação da nação como simulacro da sociedade tradicional, como de sua destruição atual. A razão da catástrofe atual tem suas raízes nos fundamentos ideológicos e filosóficos do mundo moderno. E a modernidade que era branca e nacional em sua origem tornou-se global finalmente. É por isso que os identitários devem escolher seu campo real: a Tradição (o que inclui sua própria tradição indo-europeia) ou a modernidade? O atlantismo, o liberalismo, o individualismo, são as formas do mal absoluto para a identidade indo-europeia, são incompatíveis por si. 

Se os identitários realmente amam sua identidade, eles converter-se-ão em eurasianos e unir-se-ão aos tradicionalistas, aos inimigos do capitalismo de todos os campos políticos, raças, religiões ou culturas. Ser hoje anti-comunista, anti-muçulmano, anti-oriental, pró-yankee, atlantista, significa pertencer ao outro lado, estar ao lado da Nova Ordem Mundial e da oligarquia financeira. Mas é uma atitude ilógica porque as consequências da globalização destroem todas as identidades exceto as individuais, e fazer uma aliança com aqueles que a apoiam significa trair a própria essência da identidade cultural.  

O problema com as esquerda é diferente. É positiva em sua oposição a ordem capitalista, mas carece da dimensão espiritual. A esquerda se apresenta habitualmente como uma via alternativa para a globalização, que é a razão de sua oposição aos valores orgânicos, às tradições e à religião. 

Seria bom ver aparecer algo como “identitários de esquerda” que por um lado defendessem a justiça social atacando o capitalismo, e por outro, defendessem as tradições espirituais atacando a modernidade. 

O inimigo é único, é a ordem global liberal do capitalismo da hegemonia norte-americana (que também é dirigido contra a verdadeira identidade americana)

Nós ganharemos se unificarmos nossos esforços.