Texto para trabalho da disciplina de Introdução ao Direito do curso de Ciência Política da UNB
Com o fim da Guerra Fria, a vitória dos Estados Unidos levou a ideologia liberal a ascender como a ideologia dominante no mundo levando ao fim do mundo bipolar e iniciando o mundo unipolar. O sistema econômico internacional torna-se mais liberal e há uma enorme difusão do sistema democrático.
As ideologias derrotadas, o fascismo e o comunismo, mesmo que ainda possuam apoio atualmente, se rastejam mais do que vivem. Além disso, partes dessas ideologias se misturaram com as ideias liberais após a Guerra fria (exemplo da direita e esquerda consumista, liberal economicamente e individualista). Francis Fukuyama em sua obra “O Fim da História e o Último Homem” argumentou que o advento do sistema liberal democrático americano foi o sinônimo do fim da evolução histórica humana, o fim da história política.
Fukuyama defendeu sua tese na crença de que não haveria mais teorias ideológicas com forças a se opôr ao liberalismo. O que não era esperado era um nascimento de uma nova ideologia, a Quarta Via Política.
A Quarta Via Politica foi idealizada por Alexander Dugin, filósofo, ativista e cientista político russo, já participou de diversos movimentos indentitários e nacionalistas. Dugin é reconhecido também como um dos principais ideólogos do Eurasianismo. Em sua obra, Dugin apresenta uma nova solução contra o liberalismo, uma ideologia tradicionalista, antiglobalista e multipolar.
O liberalismo como inimigo
Dugin inicia com críticas ao liberalismo, mostrando os motivos de sua vitória perante as outras duas ideologias do século XX. Dentre as três ideologias modernas, o liberalismo foi aquele que se adequou melhor ao mundo moderno, mostrou-se aquele que se opõe aos regimes totalitários das duas ideologias modernas (os regimes soviético e alemão). Entretanto, a vitória do liberalismo mostrou que ele não é aquele que se opõe ao totalitarismo, e sim o terceiro totalitarismo. Dugin tocou em um ponto interessante, com a chegada do mundo unipolar, a ideologia liberal se espalhou para todas as dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais. Diferentes sociedades foram bombardeadas pelos preceitos liberais e suas ideologias, povos que não possuíam conceitos como o de indivíduo sofreram drásticas e forçadas mudanças. O indivíduo está acima de tudo na visão liberal, com isso ele se sobrepõe à sociedade, sua cultura, valores e todas as conquistas e construções desta. Não existe mais uma sociedade, existem indivíduos reunidos, perdidos e sem identidade, vivendo uma vida ao estilo ocidental. Aqueles povos que resistem são mal vistos, e alguma hora recebem a visita da democracia liberal e se rendem ao sistema.
César Garavito expõe bem um caso da intervenção estadunidense na Colômbia. Os Estados Unidos, por meio da USAID (Agencia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), financiaram a tentativa de uma reforma no sistema judicial e penal colombiano ao modelo estadunidense. A USAID investiu mais de 3 milhões de dólares no sistema e no seu fortalecimento e assim manter mais uma zona de controle norte-americano.
Os Estados Unidos investiram nos regimes militares latino-americanos, como foi exposto no documentário “O Dia que durou 21 anos” (no caso do Brasil) e na obra “A Doutrina do Choque” aonde Naomi Klein mostrou os danos sociais das politicas neoliberais nos países latino-americanos, além de suas relações com grandes grupos árabes no Oriente Médio eu seu interesse estratégico na rica zona de petróleo. Isso prova como os Estados unidos e o seu regime liberal, travestido de democracia, que impôs sua cultura e seus interesses perante outras nações em nome da falsa liberdade, são o terceiro totalitarismo.
A questão do conservadorismo
A Quarta Teoria Politica é uma teoria que se encontra além das três teorias modernas por estar além da modernidade. Para superar o liberalismo ela propõe seguir além da modernidade e da pós-modernidade. Críticos da quarta teoria questionam como é possível um movimento revolucionário de caráter tradicionalista e conservador, assim Dugin lança a pergunta “o que é conservadorismo?”, desse questionamento, ele nos apresenta três tipos de conservadorismo: conservadorismo liberal, conservadorismo tradicional e o conservadorismo revolucionário.
O primeiro conservadorismo, o de cunho liberal, é o conservadorismo daqueles que dizem “sim” às mudanças liberais e o avanço do mundo moderno unipolar, mas de uma forma desacelerada. O conservador liberal acredita nos preceitos liberais da modernidade, mas para os preceitos da pós-modernidade é um pouco cedo. Entretanto, ele não negará a pós-modernidade e seus danos, eles de qualquer forma ocorrerão.
Os conservadores tradicionais são aqueles que negam completamente a modernidade e a pós-modernidade, não apenas suas teorias e caráter liberal, mas tudo vivido nela. O conservador tradicional deseja voltar ao mundo tradicional, antes do moderno. É o conservadorismo retrógado, e perigoso, não apenas pelo simples fato de negar a ciência, a filosofia, os avanços do tempo, ele pretende voltar a um mundo aonde começava a doença do liberalismo, é viver o problema todo de novo.
O terceiro conservadorismo, o Conservadorismo Revolucionário é aquele que mais chega perto a Quarta Teoria Politica. Os conversadores revolucionários são aqueles que negam os preceitos liberais do mundo moderno, mas também negam um retrocesso, sabem da necessidade de seguir além, logo não nega a modernidade por completo, como a ciência e seus avanços. O conservadorismo revolucionário é crítico ao fascismo, ideólogos como Julius Evola já fizeram obras criticando o sistema, além de terem participado de movimentos antifascistas. O que o caracteriza como conservadorismo é sua defesa das identidades nacionais, culturais e morais dos diversos povos, algo que se encaixaria na visão multipolar.
A Quarta Teoria é conservadora por defender que as nações devem proteger seus valores e identidade culturais e nacionais. É importante notar quando se diz nacional e não patriota, aonde não necessariamente temos casos de identidade cultural ou nacional de um povo, exemplo de países sem identidade formada como Panamá e nações sem país como a Catalunha. Em um mundo multipolar os diferentes pólos de influencia se relacionariam, mas manteriam suas identidades, seus valores e leis, como disse Dugin “Se trabalharmos juntos, afirmando fortemente nossas diferentes identidades, seremos capazes de encontrar um mundo equilibrado, justo e melhor, um Grande Mundo em que qualquer digna cultura, sociedade, fé, tradição e criatividade humana encontrarão seu próprio e merecido lugar”.