por Aleksandr Dugin
O que entendemos por "Ocidente"?
O termo "Ocidente" pode ser interpretado de diferentes maneiras. Portanto, em primeiro lugar, deveríamos definir o que entendemos por esse termo e como este conceito têm evoluído historicamente.
É perfeitamente evidente que o "Ocidente" não é um termo puramente geográfico. A esfericidade da Terra tem tal definição incorreta: o que para um ponto é o oeste, para outro é o leste. Mas ninguém inclui este sentido no conceito de "Ocidente". Apesar disso, mediante um exame mais minucioso, descobriremos aqui uma circunstância importante: a concepção de "Ocidente" toma, no geral, como sua linha zero - a partir da qual se estabelecem suas coordenadas -, precisamente a Europa. E casualmente a linha zero do meridiano passa por Greenwich, de acordo com uma convenção internacional. O eurocentrismo está já incorporado no próprio procedimento.
Embora muitos estados antigos (Babilônia, China, Israel, Rússia, Japão, Irã, Egito etc.) tenham pensado em si mesmos como "o centro do mundo", "os impérios médios", "celestiais", "os reinos abaixo do Sol", na prática internacional, a Europa se converteu na coordenada central; mais estritamente; a Europa Ocidental. Precisamente, a partir daí é comum se definir um vetor na direção leste e um vetor na direção oeste. Sucede, então, que, inclusive do ponto geográfico, nós vemos o mundo desde um ponto de vista eurocêntrico, e o que é chamado de "Ocidente", ao mesmo tempo apresenta a si mesmo como o centro, o "meio".
A Europa e a Modernidade
Em um sentido histórico, a Europa se converteu nesse espaço territorial onde se produz a transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna. Ainda mais, a transição se fez possível graças ao desenvolvimento das tendências autóctones da cultura europeia e da civilização europeia. Desenvolvendo em uma direção específica os princípios estabelecidos na filosofia grega e no direito romano, através da interpretação dos ensinamentos cristãos - em um primeiro momento com a escolástica católica, e mais tarde no credo protestante - a Europa chegou a criar um modelo de sociedade única entre outras civilizações e culturas. Esta sociedade, em primeiro lugar:
- Se construiu sobre bases seculares (ateístas);
- têm proclamado a ideia do progresso social e técnico;
- criou os fundamentos da visão científica contemporânea do mundo;
- desenvolveu e introduziu um modelo de democracia política;
- têm considerado como de suma importância as relações capitalistas (de mercado);
- realizou a transição de uma economia agrária a uma economia industrial.
Resumidamente, a Europa se converteu no espaço do mundo contemporâneo.
Posto que, nas fronteiras da própria Europa, as zonas mais vanguardistas da evolução do paradigma da modernidade foram países como Inglaterra, Holanda e França, que se encontram ao oeste do centro da Europa (e, ainda mais, do leste), os conceitos de "Europa" e de "Ocidente" se converteram, gradualmente, em sinônimos: o que é "europeu" propriamente dito, a sua diferença de outras culturas, consistiu precisamente na transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna, enquanto isso, por sua vez, ocorreu, em primeiro lugar, na Europa Ocidental.
Portanto, o termo "Ocidente", desde o séc. XVII ao séc. XVIII, adquire um sentido civilizatório preciso, convertendo-se em sinônimo de "modernidade", "modernização", "progresso", de desenvolvimento social, industrial, econômico e tecnológico. Até agora, tudo o que esteve implicado nos processos de modernização foi automaticamente conectado ao Ocidente. "Modernização" e "ocidentalização" demonstraram ser sinônimos.
A ideia de "progresso" como base para a colonização política e o racismo cultural
A identidade da "modernização" e da "ocidentalização" requer alguns esclarecimentos que nos conduzirão a conclusões práticas muito importantes. A questão é que a formação, na Europa, da civilização sem precedentes da era moderna, o estabelecimento da "modernidade", conduziu a uma ordem cultural particular que, a princípio, formou a autoconsciência dos próprios europeus, mas mais tarde também de todos aqueles que se encontraram sob sua influência. Com este estabelecimento, se faz avançar a sincera convicção de que o caminho do desenvolvimento da cultura ocidental, e especialmente a transição da sociedade tradicional para a sociedade contemporânea, não só é uma peculiaridade da Europa e dos narods [povos] que a povoam, mas sim uma lei universal de desenvolvimento, obrigatória para todos os demais países e narods. Os europeus, "o povo do Ocidente", foram os primeiros a passar por esta fase decisiva, mas todos os demais estão condenados fatalmente a ir por este mesmo caminho; posto que tal é a lógica supostamente "objetiva" da história do mundo, o "progresso" é exigido.
A ideia de que o Ocidente é o modelo obrigatório de desenvolvimento histórico da humanidade e da história do mundo - tanto no passado, presente e futuro -, é concebida como uma repetição daquelas etapas que o Ocidente, em sua evolução, já atravessou, ou as que se aproximam no presente para eles, em vantagem aos outros povos. Em todas as partes onde os europeus encontraram culturas "não-ocidentais" que conservaram sua "sociedade tradicional" e seu próprio caminho, fizeram um diagnóstico inequívoco: "barbárie", "selvageria", "atraso", "ausência de civilização", "sub-normalidade". Deste modo, pouco a pouco o Ocidente construiu critérios normativos para a evolução dos narods e culturas de todo o mundo. Quanto mais longe estavam do Ocidente (em sua nova fase histórica), mais "defeituosos" e "inferiores" se pensava que eram.
As raízes arcaicas da exclusividade ocidental
É interessante analisar a origem deste acordo universalista, no qual se identificam as etapas do desenvolvimento do Ocidente e a lógica geral obrigatória da história do mundo.
As raízes mais profundas e mais arcaicas se podem encontrar nas culturas das tribos antigas. É característico das sociedades antigas identificar o conceito de "homem" com o conceito de "pertencimento à tribo", "à etnia", o que leva, às vezes, a negação da condição de "homem" ao membro de outra tribo, ou situá-lo, intencionalmente, em um nível hierárquico inferior. Os homens de outras tribos ou de narods escravizados se converteram, por esta lógica, na classe dos servos, levados além dos limites da sociedade humana, privados de todo tipo de direitos e privilégios. Este modelo - companheiros de tribo = pessoas, membros de outras tribos = não-pessoas - jaz na base das instituições sociais, legais e políticas do passado, e foi analisado em detalhe por Hegel (em particular, pelo hegeliano A. Kojève), examinando o par de figuras amo-escravo. O amo era tudo; o escravo, nada. O status de homem pertencia ao amo como um privilégio. O escravo se equiparava, inclusive legalmente, ao gado ou a um objeto de produção.
Este modelo de dominação demonstrou ser muito mais estável do que poderiam pensar, e chegou de forma modificada à era moderna. Assim, surgiu o complexo de ideias que, paradoxalmente, combina a democracia e a liberdade dentro de sociedades europeias em sí mesmas com rígidas disposições racistas e uma cínica colonização em suas relações com outros narods "menos desenvolvidos".
É significativo que a instituição da escravidão, e por motivos raciais, regressa às sociedades ocidentais depois de uma brecha de mais de mil anos - em primeiro lugar nos EUA, mas também nos países da Iberoamérica - precisamente na era moderna, na época da difusão das ideias democráticas e liberais. Ainda mais, a teoria do "progresso" serve, na realidade, como base para a exploração desumana por parte de europeus e estadunidenses brancos sobre os aborígenes: os índios nativos e os escravos africanos.
Uma impressão começa a tomar forma; a de que, pela formação da civilização da era moderna na Europa, o modelo amo-escravo se transfere da Europa para o resto do mundo em forma de política colonial.
O império e sua influência na ocidentalização contemporânea
Outra fonte importante desta influência foi a ideia de Império, que os europeus rejeitaram explicitamente no amanhecer da era moderna, mas a qual penetra no inconsciente do homem ocidental. O império - como o Romano, mais tarde também o cristão (o Bizantino no leste e o Sacro Império Romano das nações germânicas no Oeste) - foi pensado como o Universo, dentro do qual vive o povo (os cidadãos), sendo que, além de seus limites, vivem os "subumanos", "bárbaros", "hereges", "gentios" ou, inclusive, objetos fantásticos: devoradores de homens, monstros, vampiros, "Gogue e Magogue" etc. Aqui, a divisão tribal entre os similares (as pessoas) e os estranhos (não-pessoas) se transfere a um plano mais alto e mais abstrato: os cidadãos do império (participantes do Universo) e os não-cidadãos (habitantes da periferia global).
Esta etapa de generalização a respeito de quem deve ou não ser contado como pessoa pode ser vista, em sua totalidade, como uma etapa de transição entre o arcaico e o Ocidente contemporâneo. Havendo rejeitado formalmente o império, junto com seus fundamentos religiosos, a Europa contemporânea conservou totalmente o imperialismo, transferindo-o apenas ao nível dos valores e interesses. O progresso e o desenvolvimento tecnológico foram pensados como uma missão europeia, em nome da qual foi implantada uma estratégia de colonização planetária.
Portanto, a era moderna, havendo quebrado formalmente com a sociedade tradicional, transferiu algumas disposições básicas precisamente desta sociedade tradicional (a divisão arcaica no par pessoa/não-pessoa por motivos étnicos; o modelo do amo-escravo; a identificação imperialista de sua civilização com o universo e de todos os outros como "selvagens", etc.) para as novas condições de vida. O Ocidente como ideia e como estratégia planetária se converteu em um ambicioso projeto para o novo estabelecimento de um governo mundial, desta vez elevado ao status da "ilustração", o "desenvolvimento" e o "progresso" de toda a humanidade. Isto é, uma espécie de "imperialismo humanitário".
É importante dizer que a tese sobre o progresso não era uma simples máscara para os interesses depredadores egoístas dos ocidentais em sua expansão colonial. A fé no universalismo dos valores ocidentais e na lógica do desenvolvimento histórico era de todo sincera. Interesses e valores coincidiram com este caso. Isto deu uma tremenda energia para os pioneiros, os marinheiros, os viajantes e os homens de negócios do Ocidente para ajudar o planeta; buscavam não apenas benefícios, mas também levar o exemplo para os "selvagens".
O roubo cruel, a exploração cínica e uma nova onda de escravismo, junto com a modernização e o desenvolvimento tecnológico dos territórios coloniais, todo isto junto formou a base do Ocidente como ideia e como prática global.
Modernização: endógena e exógena
Aqui deveríamos fazer uma observação importante. A partir do séc. XVI, o processo de modernização planetária começa a desenrolar-se desde o território da Europa ocidental. Coincide estritamente com a colonização por parte do Ocidente de novas terras, nas quais, por regra geral, os narods preservam os fundamentos da sociedade tradicional na qual vivem. Mas, pouco a pouco, a modernização afeta a todos: tanto os ocidentais como os não-ocidentais. De uma forma ou de outra, todo o mundo se moderniza. Mas a essência deste processo segue sendo diferente em diferentes casos.
No próprio Ocidente - em primeiro lugar, na Inglaterra, França, Holanda e especialmente nos EUA, um país construído como um experimento de laboratório da Idade Moderna, em uma suposta "terra vazia", "a partir de uma página em branco" -, a modernização se distingue por um caráter endógeno. Cresce desde o desenvolvimento coerente dos processos culturais, sociais, religiosos e políticos que são inclusas na base mesma da sociedade europeia. Isto não se produz em todas as partes, simultâneamente, e com uma e a mesma intensidade - aqui, evidentemente, deixaram para trás narodi como os alemães, os espanhóis e os italianos, com quem a modernização procede em um ritmo um pouco mais lento do que acontece com seus vizinhos europeus do Ocidente. Ainda assim, a era moderna segue seu próprio horário para os narodi europeus e em correspondência com a lógica natural de seu desenvolvimento. A modernização dos países e narodi das Europa surge de acordo com leis internas. Sendo implantada desde precondições objetivas e correspondendo à vontade e ao estado de ânimo da maioria dos europeus, é endógena, ou seja, tem um princípio interno.
É um assunto completamente diferente quando se trata dos países e narodi que são arrastados para o processo de modernização, além da sua vontade, convertendo-se em vítimas de colonização, ou se tornando relutantes em se opor à expansão europeia. Claro que, conquistando países e narodi, ou enviando escravos negros para os EUA, o povo do Ocidente favoreceu o processo de modernização. Junto com a administração colonial, promulga novas ordens e fundamentos, assim como a técnica e a lógica dos processos econômicos, os costumes, as estruturas socio-políticas e as instituições legais. Os escravos negros, sobretudo depois da vitória do Norte abolicionista, se converteram em membros de uma sociedade mais desenvolvida (mesmo que tenham continuado como cidadãos de segunda classe) que as tribos arcaicas da África que haviam sido tomadas por traficante de escravos. O fato da modernização das colônias e das nações escravizadas não se pode negar. O Ocidente, inclusive neste caso, é o motor da modernização. Mas este último ponto é muito específico. Se pode chamar exógeno, ou seja, ocorrido desde fora, introduzido, levado.
Os narodi e as culturas não-ocidentais permanecem nas condições da sociedade tradicional, desenvolvendo-se de acordo com seus próprios ciclos e sua própria lógica interna. Lá também há períodos de ascensão e queda, reformas religiosas e discórdia interna, catástrofes econômicas e descobrimentos técnicos. Mas estes ritmos correspondem a um modelo de desenvolvimento diferente, não-ocidental, seguem uma lógica diferente, se dirigem a diferentes objetivos e decidem sobre problemas diferentes.
A modernização exógena - e sua propriedade fundamental consiste nisso - não surge das necessidades internas e do desenvolvimento natural da sociedade tradicional, a qual, quando se deixa funcionar por si mesma, provavelmente nunca haveria chegado a estas estruturas e modelos que acabaram unidos no Ocidente. Em outras palavras, tal modernização é imposta e introduzida desde fora.
Em consequência, a série dos sinônimos modernização = ocidentalização pode continuar: é também colonização (a introdução de uma autoridade externa). A maioria oprimida da humanidade, excluindo os europeus e os descendentes diretos de colonizadores da América, foi sujeita precisamente a esta modernização violenta, coativa, externa. Isto teve um impacto sobre as incoerências internas e traumáticas da maioria das sociedades contemporâneas da Ásia, o Oriente, e o Terceiro Mundo. Esta é a modernidade doente, o Ocidente caricato.
Dois tipos de sociedade com modernização exógena
Hoje em dia, em todas as sociedades expostas à modernização exógena, se podem distinguir duas grandes classes:
- Aquelas que preservaram a independência político-econômica (ou que se esforçaram por esta nas guerras anticoloniais);
- aquelas que perderam a independência política e econômica.
Se considerarmos o segundo caso, se trata de uma colônia pura, que perdeu por completo sua independência e que não está participando nos valores da era moderna mais que os índios das reservas da América do Norte. Tais sociedades podem ser arcaicas (como algumas tribos do Pacífico, América do Sul ou África), mas em parte se cruzam com estruturas tecnológicas maiores e bastante modernizadas, desenvolvidas neste mesmo espaço territorial pelos colonizadores. Aqui quase não há interseção semântica entre os indígenas e os modernizadores: o status das sociedades locais apenas se diferencia do status dos habitantes dos parques zoológicos ou, no melhor dos casos, de uma área protegida povoada por espécies em extinção (marcadas no "livro vermelho" da natureza). Nesta situação, a modernização não se refere a população local, que segue sem notá-la, encontrando-se apenas com as restrições, técnicas disfarçadas de arame farpado e jaulas de aço.
Quando se trata de uma sociedade que atravessou obrigatoriamente uma rota específica ao longo das linhas de ocidentalização e modernização exógena, mas o fez em resposta à ameaça de colonização da Europa (Ocidente) e conseguiu preservar sua independência, o processo de modernização (=ocidentalização) adquire um caráter mais complicado. Pode-se chamá-lo de: "modernização defensiva".
Aqui, o centro das atenções acaba sendo o equilíbrio entre os valores peculiares da sociedade tradicional, objeto de conservação para o apoio da identidade, e aqueles modelos e sistemas importados, que é necessário importar do Ocidente para criar os requisitos prévios e as condições para uma modernização parcial (defensiva). Ao mesmo tempo, neste tipo de sociedades se conserva a subjetividade, a qual determina os próprios interesses, predeterminando a acuidade da oposição às iniciativas coloniais do Ocidente.
Assim, surge o seguinte quadro: a fim de defender seus interesses ante a investida ocidental, um país (a sociedade) se vê obrigado a adotar certos valores deste mesmo Ocidente, mas os misturando com seus valores originais. Huntington chamou este fenômeno de "modernização sem ocidentalização".
Com certeza, este conceito acarreta um par de contradições: posto que a modernização e a ocidentalização são essencialmente sinônimos (Ocidente = Modernidade), é impossível construir a modernização separadamente do Ocidente, sem copiar seus valores. Nas sociedades tradicionais, que permanecem fora do habitat natural da cultura europeia, as condições previas para a modernização estão simplesmente ausentes. É por isso que não falamos de uma rejeição total da "ocidentalização", mas sim deste equilíbrio entre os valores próprios e aqueles impostos pelo Ocidente, que satisfaça as condições para a preservação da identidade (o qual é impossível de alcançar sem uma inclusão intensiva no contexto "ocidental"). Resulta, então, que tal variedade de modernização exógena se funda na presença de interesses independentes (principalmente diferentes das intenções colonizadoras do Ocidente) e na combinação dos interesses próprios com os valores importados do Ocidente de forma pragmática (podemos dizer que isso é "modernização + ocidentalização parcial").
Dentro desta categoria de modernização exógena, entram países tais como a Rússia (ao longo de todo o curso da era moderna, o que apresenta, por si mesmo, um caso bastante único!), mas também as contemporâneas China, Índia, Brasil, Japão, alguns países islâmicos, e os países da região do Pacífico (que entram neste processo muito mais tarde, no século passado). Fora a Rússia, o resto dos países que percorreram este caminho foram, em momentos específicos, colônias do Ocidente e receberam a independência há relativamente pouco tempo, ou (como o Japão) sofreram a derrota na guerra e foram ocupados.
Em qualquer caso, este tipo de modernização exógena traz ao primeiro plano a questão do balanceamento dos interesses próprios com os estrangeiros; ou seja, o problema da proporção e qualidade dos elementos, pertencentes a duas formas histórico-culturais e de civilização: os fundamentos locais, conservadores, da sociedade tradicional, e os assim chamado "universais" e "progressistas" da civilização ocidental.
O mais importante consiste nesta proporção, a qual constitui a essência das relações entre Rússia e Ocidente.
Voltaremos a este assunto um pouco mais tarde, mas primeiro vamos fazer algumas observações geopolíticas.
A concepção de "Ocidente" e "Oriente" nos Acordos de Yalta
Vamos considerar agora os aspectos geopolíticos dos problemas que discutimos e a transformação do conceito de "Ocidente" no séc. XX, que estão ligados.
Depois do final da Segunda Guerra Mundial, o conceito começou a ser aplicado geopoliticamente à totalidade dos países desenvolvidos que haviam surgido da via capitalista de desenvolvimento. Isto era uma correção do conceito. Tal "Ocidente" é praticamente idêntico ao capitalismo e à ideologia liberal-democrática. Aqueles países que avançaram ao longo deste caminho mais longe do que os demais, eram de fato considerados como "Ocidente" na construção de um mundo bipolar, chamado também "yáltico" (pela localização da conferência dos chefes da coalizão anti-Hitler, que predestinou o mapa do mundo na segunda metade do séc. XX: Stálin, Roosevelt e Churchill).
Desta vez, o conceito de "Ocidente" difere parcialmente do que temos proporcionado anteriormente. Em primeiro lugar, inclusive os regimes comunistas pertenciam ideologicamente ao "Ocidente" em um sentido amplo - primeiramente, a URSS - na medida em que adotaram teorias do socialismo e do comunismo "da Europa ocidental" (construídas a partir de observações relativas à história das evoluções político-econômicas das sociedades ocidentais, junto com a correspondente fé no progresso e o universalismo destas cronologias para toda a humanidade). Mas o marxismo, entretanto, se converteu no modelo favorito para a modernização das sociedades tradicionais; um modelo que podia combinar a preservação de seus próprios interesses geopolíticos e a preservação parcial dos valores tradicionais da zona, com o poderoso e importado aparato de modernização e ideias, estruturas, interesses e teorias peculiarmente ocidentais. Portanto, o marxismo - soviético, chinês (maoísmo), vietnamita, norte-coreano, etc. - deveria ser examinado como variante da modernização exógena, da qual falamos anteriormente. E mais, desde o ponto de vista da competência tecnológica e ideológica, este projeto resultou em um êxito relativo.
Embora o marxismo dogmático pretendesse substituir o capitalismo, uma vez que este tivera alcançado a etapa crítica de sua aplicação, na prática tudo se sucedeu de maneira completamente diferente: os partidos comunistas ganharam naquelas sociedades onde o capitalismo se encontrava em estado rudimentar, enquanto que a sociedade tradicional (a agrária, primeiramente) ganhou tanto no sentido econômico quanto no cultural. Em outras palavras, o marxismo vitorioso, o realizado, supôs a refutação da teoria de seu fundador ideológico e, por outro lado, a história das sociedades capitalistas mostra que as previsões de Marx, acerca do caráter inevitável nas mesmas da revolução proletárias, foram desmentidas até então. Marx insistiu que a revolução proletária não poderia ocorrer na Rússia (e em outros países com o predomínio do "modo de produção asiático") mas, como é sabido, esta aconteceu aqui. Nas sociedades com um capitalismo desenvolvido, nada similar se sucedeu.
Disto apenas se sugere uma conclusão: o marxismo nos regimes comunistas não era o que proclamava de si mesmo, mas sim apenas um modelo de modernização exógena no qual se adotaram valores ocidentais apenas parcialmente, e se combinaram tacitamente com tendências religiosas, escatológicas e messiânicas locais. Em conjunto, este procedimento de modernização específico - alter-modernização pelo caminho socialista (totalitário), não pelo caminho capitalista (democrático) - serviu para a defesa dos interesses geopolíticos e estratégicos de estados independentes, os quais se esforçaram para repelir os ataques coloniais da Europa e (mais tarde) da América do Norte.
O bloco estratégico formado ao redor da URSS, a vanguarda desta alter-modernização, foi chamado, depois da Segunda Guerra, de "Leste". Embora tal linguagem tenha sido realmente uma variante de modernização exógena, formalmente o sistema marxista de valores se baseava no paradigma da era moderna no mesmo grau que as sociedades capitalistas. Às vezes, na politologia do período de Yalta, no lugar da fórmula do "Leste" ("o Leste comunista", "o Bloco do Leste"), foi utilizada a expressão "segundo mundo", a qual é mais precisa e abarca os países que adotaram a industrialização acelerada com uma modernização parcial e bastante específica (do tipo comunista), e - o mais importante! - conseguiram conservar a independência geopolítica, evitando a colonização direta (ou os libertando).
Neste caso, o conceito de "Terceiro Mundo" adquire importância.
"O primeiro mundo", ou seja, o "Ocidente", na terminologia da época posterior à guerra, são os países com modernizaçaõ endógena (Europa, América do Norte), e também um caso de modernização tecnológica exógena extremamente bem sucedido, a do Japão ocupado, o qual foi capaz de dirigir energias internas de uma nação conquistada ao crescimento econômico massivo através de padrões ocidentais. Mas, ao mesmo tempo, o Japão perdeu sua independência geopolítica e, em um sentido estratégico, se converteu em uma colônia resignada e fraturada dos EUA.
"O segundo mundo" são os países de modernização exógena que conseguiram fazer uso dos métodos totalitários socialistas de modernização, com o empréstimo parcial e relativamente bem sucedido de tecnologia ocidental, e a preservação da independência em relação ao Ocidente capitalista. Isto, na compreensão do mundo baseado em Yalta, foi chamado de "Leste".
E, por último, "o terceiro mundo" faz referência aos países de modernização exógena que ficaram para trás do desenvolvimento tanto do "primeiro" como do "segundo" mundo que, não possuindo soberania completa, conservaram os fundamentos da sociedade tradicional, e aos quais foram empurrados a confiança no "Ocidente" ou no "Leste", representando, desta forma, colônias propriamente ditas, subordinadas a um ou a outro.
E, assim, limitamos nossas considerações às condições da "guerra fria" (o mundo bipolar), então o conceito de "Ocidente", neste caso, surgirá como sinônimo do campo capitalista, "o primeiro mundo", incluindo os países mais desenvolvidos e mais ricos da América do Norte, Europa e Japão.
A sede intelectual da integração do "primeiro mundo", do "Ocidente" neste sentido concrto, foi a Comissão Trilateral, criada a partir das fundações do American Council on Foreign Relations, e composta por representantes das elites dos EUA, Europa e Japão. Portanto, um segmento específico de intelectuais, banqueiros, políticos e acadêmicos do "Ocidente", a partir da década de 1960, tomou sobre si a responsabilidade histórica do processo de globalização, e a criação de um "governo mundial" como resultado do triunfo final do "Ocidente" sobre o resto do mundo nos sentidos geopolítico, moral, econômico e ideológico.
Na década de 1990, o "Ocidente" se converte em Globalização
Outra transformação do conceito de "Ocidente" foi, todavia, posta a prova na década de 1990, quando a arquitetura do mundo bipolar (com sede em Yalta) se derrubou. A partir de então, o modelo liberal-capitalista se converteu no mais importante e no único, o comunismo como projeto de alter-modernização quebrou, apesar da concorrência, e o poder político-militar e econômico dos EUA superou irrefutavelmente as posições dos demais países. A capitulação unilateral da URSS e do Bloco de Varsóvia na "guerra fria", com sua paralela dissolução, abriram o caminho para a globalização e a construção de um mundo unipolar. O filósofo neoconservador estadunidense Francis Fukuyama começou a falar do "fim da história", da "substituição da política pela economia", e da "transformação do planeta em um mercado unificado e homogêneo".
Isto significava que o conceito de "Ocidente" se transformou em um conceito global e único, ja que nada mais era oposto contra o mesmo, não só contra a ideia mesma de modernização, mas também contra o seu mais ortodoxo e historicamente mais "ocidental" projeto liberal-capitalista. Tão bem sucedida e importante vitória do "Ocidente" sobre "o Leste" - ou seja, do "primeiro mundo" sobre "o segundo" - liquidou essencialmente as alternativas à modernização, fazendo-a a única substância indiscutível da história do mundo. Todo aquilo que quis permanecer ligado à "contemporaneidade" teve que reconhecer esta preeminência incondicional do "Ocidente", expressá-lo lealdade, e também repudiar de uma vez por todas todos os seus próprios interesses, inclusive se eram diferentes em alguns aspectos, ou - mais ainda - contrários aos interesses dos EUA (ou, em termos mais gerais, dos países do bloco da OTAN), como lacaios do mundo unipolar.
A partir de então, a questão foi levantada apenas desta maneira: em que segmento do "Ocidente" global será integrado um ou outro país, um ou outro governo? Se a modernização e, em consequência, a ocidentalização se introduzissem com êxito, então apareceria a oportunidade de integração no "Bilhão de ouro"[*] ou na zona do "Norte rico". Se, por alguma razão, isto não se sucedesse, este era integrado ao cinturão da periferia mundial, na zona do "Sul pobre". Entretanto, a divisão planetária do trabalho ofereceu a promessa da modernização, inclusive para o "Sul pobre", mas de acordo com o processo colonial, quando a escravidão política foi substituída pela escravidão econômica, ainda que a importação das normas culturais ocidentais erradicasse metodicamente os valores indígenas (assim, os residentes da Coreia do Sul que, havendo recebido um impulso vigoroso de modernização exógena de tipo colonial, junto com um volátil crescimento econômico, foram golpeados com uma difusão quase total do protestantismo no meio de uma sociedade tradicional, shamânica, budista e confucionista). A todos os países que se conectavam ao Ocidente global não se garantia nada, mas era lhes dada a oportunidade.
Na Rússia também se produziram reformas neste mesmo sentido, aparecendo depois da queda da URSS como uma nova organização que, por sua vez, herdou geopoliticamente o Império Russo. A Rússia também tratou de integrar-se ao Ocidente global, contando como um lugar do "Norte rico" e com a esperança de "comunar" com a modernização pela sua rota pela sua rota principal (a capitalista), e não pela indireta (a socialista). Entretanto, à Rússia, igual aos demais países, foi oferecido, em um primeiro momento, rejeitar suas pretensões globais e, mais tarde, inclusive as locais, fazendo o papel de satélite estratégico dos EUA entre as nações menos modernizadas, sem nenhum privilégio especial em absoluto. Essencialmente, foram levados ao país controles externos.
E, em consequência, a autoridade governante recebeu a elite colonial, reformadores ocidentais e oligarcas que pensavam em si mesmos como gerentes que trabalham para as empresas transnacionais globais com sede no outro lado do Atlântico.
Globalização
No começo da década de 1990, quando "o fim da história" não apenas parecia próximo, mas sim realizado na prática, o conceito de "Ocidente" quase se mistura com o conceito de "mundo", o qual foi fixado com o termo "globalização".
A globalização representa o último ponto na realização prática das pretensões fundamentais do "Ocidente" para a universalidade de sua experiência histórica e de seu sistema de valores.
Penetrando em diversas sociedades e culturas, combinando projetos humanitários com métodos coloniais de satisfação de seus próprios interesses (em primeiro lugar, na esfera dos recursos naturais), o processo de globalização faz do "Ocidente" um conceito global. O mundo se deu grandes passos até um modelo unipolar, com um centro desenvolvido preocupado consigo mesmo (com os EUA no núcleo, a sociedade transatlântica), e uma periferia subdesenvolvida.
Com o tempo, foi construído um modelo que se descreve no texto clássico de Huntington, O Choque de Civilizações, "Ocidente e o resto". Mas no modelo da globalização, este "resto", em nenhum caso, é visto de outra maneira que não seja em relação com "Ocidente"; é também "Ocidente", apenas pouco desenvolvido e imperfeito, uma espécie de "médio-Ocidente".
E aqui, já nas novas condições históricas e através de uma linha de transformações e alterações semânticas, nos topamos novamente com o racismo cultural e o "messianismo" secular liberal-democrático que descobrimos entre as fontes da época da modernidade e a definição inicial do conceito de "Ocidente".
Pós-modernidade e "Ocidente"
Um dos processos mais interessantes em relação ao conteúdo do conceito de "modernização" ocorreu na década de 1990. A modernização, que se realizou em distintas velocidades e com diferentes características, de maneira ou outra, em todo o mundo desde o começo da Idade Moderna na Europa Ocidental, se aproximou da sua própria conclusão lógica nos finais do séc. XX. E mais; isto, naturalmente, se sucedeu no próprio Ocidente: aquele que, antes de qualquer outro, e de acordo com princípios naturais, procedeu à modernização da sociedade tradicional, chegou ao final primeiro. Portanto, superando tanto a inércia da resistência das estruturas conservadoras como, em um dado momento e de maneira muito efetiva, a concorrência com a alter-modernização socialista, a modernidade em sua forma liberal-capitalista alcançou seus limites determinados e o final da prática do seu programa: a oposição direta de ideologias alternativas terminou, enquanto a superação da resistência passiva da periferia mundial se converteu em uma questão técnica. E onde ainda permanece, poderia equiparar-se a "reação inercial do entorno circundante", mas não a uma estratégia competitiva. A batalha contra a sociedade tradicional e suas intenções de apresentar-se sob um novo traje (alter-modernização, socialismo) terminaram com a vitória do liberalismo. E no próprio Ocidente, a modernização alcançou seus limites internos, havendo alcançado o ponto mais baixo da cultura ocidental.
Esta condição de exaustão final da agenda do processo de modernização gerou no Ocidente um fenômemo bastante específico: a pós-modernidade.
O essencial da pós-modernidade consiste no fato de que o fim da modernização das sociedades tradicionais leva à população do Ocidente, principalmente, novas condições. Pode-se comparar este longo processo com a realização de um objetivo previsto. O povo, disposto em um trem que viaja para uma estação muito longe, se acostuma tanto com o movimento que não o cessa durante várias gerações, que não pode imaginar a vida de outra maneira. Eles veem a existência como o desenvolvimento, convertido em um longínquo ponto de referência, do qual todos se recordam, para o qual todos vão, mas que segue permanecendo muito remoto. E, de repente, o trem chega à estação final. A plataforma, a estação... o objetivo foi alcançado; os problemas, resolvidos... mas o povo que chegou está tão acostumado a estar viajando o tempo todo que não pode se conter depois da comoção de ver seu sonho tornado realidade. Quando se alcança o objetivo não há nada, outra coisa pela qual se esforçar, nenhum lugar para ir, não há para onde avançar. O progresso chegou ao seu ponto máximo. Precisamente, este é "o fim da história", ou a "pós-história". (A Gehlen, G. Vattimo, J. Baudrillard).
Mediante esta metáfora, pode-se descrever completamente a condição da pós-modernidade. Aqui estão tanto o sentimento de êxito como o de decepção. De qualquer maneira, isto já não é a modernidade, nem o Iluminismo, nem a Idade Moderna. A facção crítica dos filósofos pós-modernistas submeteu ao escárnio os diferentes estágios do movimento até que o objetivo fosse atingido, começando a falar ironicamente destas ilusões e esperanças com as quais os que começaram o movimento se confortaram, não sendo capazes de imaginar que tipo de objetivo seria este. Outros, pelo contrário, se ofereceram a romper com o sentimento crítico e perceber "o novo mundo feliz" tal como é, sem entrar em detalhes e dúvidas.
De qualquer forma, seja isso visto de forma positiva ou negativa, a pós-modernidade representou o fim. A fé no progresso fechou as portas e cedeu seu lugar à temporalidade brincalhona. A realidade, havendo desprezado anteriormente o mito, a religião e o sagrado, se transformou em virtualidade. O homem, no amanhecer da Idade Moderna, havendo derrubado Deus do pedestal, está disposto a ceder, de agora em diante, o lugar de rei a uma raça pós-humana - a dos cyborgs, mutantes, clones, a todos os produtos da "técnica liberada".
O Pós-Ocidente
Na época da globalização, o Ocidente não só se fez global e onipresente em si mesmo (como se expressa na uniformidade da moda mundial, a difusão geral das tecnologias informáticas e de informação, o estabelecimento onipresente da economia de mercado e os sistemas políticos e legais liberal-democráticos), mas também em seu núcleo, no centro de um mundo unipolar, o "Norte rico" muda qualitativamente da modernidade à pós-modernidade.
E de agora em diante, o apelo a este Ocidente nuclear, o Ocidente em sua mais alta manifestação, poderia ser, pela primeira vez na história, que não tenha deixado a modernidade para trás (do tipo que seja, exógena ou endógena), já que o próprio Ocidente é, a partir de agora, sinônimo não de modernidade, mas sim de pós-modernidade. Mas a pós-modernidade, com suas ironias, tecnologicamente pura, reciclada da velha e gastada fé no progresso, já não oferece a sua periferia sequer a possibilidade remota de desenvolvimento. "O fim da história" que chegou levanta perguntas absolutamente diferentes - a questão, antes importante, do "Ocidente" fazer subir o "Sul pobre" ao seu próprio nível parece, agora, uma tarefa absolutamente desnecessária, sem nenhum propósito e sem sentido: se algo pode ser encontrando lá, seguramente não serão as respostas aos novos problemas da época pós-moderna.
Tecnicamente e tecnologicamente ele [o Ocidente] domina por completo, e os processos de globalização se desenvolvem a toda velocidade, mas este já não é um desenvolvimento progressivo, e sim um movimento circular ao redor de um centro ainda mais problemático. Através de seus processos favoritos, a arquitetura da pós-modernidade faz tais construções, onde os estilos e épocas se misturam caprichosamente, enquanto que no lugar do ponto central do conjunto arquitetônico se abre um buraco. Este é o centro ausente, o polo do círculo, que representa a queda no não-ser.
Tal é, também, a estrutura substancial do mundo unipolar. No centro do Ocidente global - nos EUA e nos países da aliança transatlântica - se abre o buraco negro sem sentido da pós-modernidade.
A brecha entre a teoria e a prática do globalismo
A última metamorfose do Ocidente durante sua transformação para a pós-modernidade, que descrevemos anteriormente, é uma construção puramente teórica. Tal imagem foi elaborada no início da décade de 1990, de modo que a lógica da história do mundo foi conceitualizada, portanto, por aqueles pensadores que ainda se conservam no Ocidente, antes que ceda-se, finalmente, o caminho à pós-humanidade (possivelmente a autômatos pensantes). Mas entre esta concepção teórica e sua encarnação havia uma brecha decisiva. A reflexão sobre a natureza e a estrutura de tal Ocidente e tal pós-modernidade conduziram, inclusive a seus próprios ardentes apologistas, a um estado de horror e desespero. Por exemplo, em certo momento, Francis Fukuyama começou a retornar desta imagem ideológica que o mesmo desenhou no início da década de 1990 e quis voltar atrás, mantendo o Ocidente na condição em que se encontrava antes que chegasse a sua estação final. Os críticos de Fukuyama, incluindo Huntington, também exageraram a qualidade e a quantidade destas barreiras a serem superadas pelo Ocidente com o fim de se tornar verdadeiramente global e ubíquo. Desde diferentes pontos de vista, todo o mundo começou a agarrar-se aos restos da modernidade, com seus governos nacionais, a fé no progresso, suas moralizações, tutelagens e fobias, as quais, há muito tempo, todos estão acostumados. Então, se decidiu prolongar o movimento ao objetivo previsto, ou ao menos simular o balanço dos vagões e o barulho das rodas nos trilhos.
Hoje, o Ocidente mora precisamente nesta brecha entre aquilo no que teoricamente deve se converter na época de globalização, e pelo fato de que ultrapassou todos os obstáculos e derrotou todas as alternativas, e aquilo o que absolutamente não se quer reconhecer como a nova arquitetura da Pós-Modernidade - com um buraco ao invés de um centro. Contudo, nesta brecha, infinitamente pequena e constantemente se contraindo, ocorrem processos muito importantes, que constantemente mudam a imagem do mundo em geral.
Tudo isto exerce ativamente uma influência na Rússia.
[*] O "Bilhão de ouro" (em russo: zolotoy milliard), no mundo da língua russa, é um termo que faz referência às pessoas relativamente ricas em países industrialmente desenvolvidos, ou no Ocidente. (Fonte: Wikipedia)