O debate emergente sobre o potencial e aplicação para uma Quarta Teoria Política nos EUA é um de preocupação e importância crescentes na crise global atual. Para que seu potencial e aplicação sejam compreendidos, deve-se começar abordando as seguintes áreas que contém questões na forma de problemas e possibilidades.
Nesse escrito exploraremos os seguintes cinco elementos. Primeiro, uma introdução a um modo de analisar problemas e possibilidades. Segundo, olharemos para alguns dos fatores materiais que indicam uma crise de legitimidade no regime estadunidense atual. Terceiro, passaremos a uma descrição dos elementos de um processo orgânico de desenvolver um movimento intelectual da Quarta Teoria Política que venha de dentro dos EUA. Quarto, olharemos para alguns dos elementos básicos que enquadram o discurso atual nos EUA. Finalmente, forneceremos um entendimento das opiniões políticas populares nos EUA como sendo primariamente socialistas e libertárias.
Um Enigma Interessante
De imediato encontramos o que parece ser um enigma bastante interessante. Por um lado, os EUA são o núcleo do Império Atlantista, e enquanto tal desfruta de um rígido controle da mídia, da academia e - por meio de seus mecanismos coercitivos - da vida política da entidade como um todo. Por outro lado, um forte componente da mentalidade "americana" é uma rejeição da rigidez e de conceitos congelados, uma flexibilidade e uma disponibilidade para experimentar com coisas novas, e mesmo de assumir novas identidades. Esse tipo de flexibilidade e rejeição de conceitos congelados cria um extraordinário campo de jogos, e vão figurar tanto em promessas como dilemas que confrontarão a desconstrução do Império norte-americano. Compreender isso então é abordar questões relativas ao escopo de tais possibilidades.
Uma maneira de abordar essas questões é fazer várias distinções. A primeira é que os EUA já tem suas próprias tradições políticas que em nenhum momento aceitaram formalmente qualquer coisa posterior ao liberalismo. Dentro desse liberalismo, porém, após um exame mais minucioso, se revelam fortes influências tanto da Segunda Teoria Política como da Terceira Teoria Política, com uma tendência mais próxima ao modelo corporatista da terceira. No final do século XIX, houve algo como uma combinação das duas encontrada nas idéias de Edward Bellamy, os Cavaleiros Americanos do Trabalho, os Fabianos, e o movimento Socialista Corporativo. Muitos destes eram metabolizados e combinados com o corporativismo primitivo pensado na aurora da Terceira Teoria Política, e nos EUA eram pintados com a bandeira estrelada e chamados de "progressivismo". Não obstante, estes não são justificados tipicamente no esquema, formalmente, daqueles outros modelos e teorias. O sistema estadunidense tem sido apresentado plenamente dentro da linguagem do liberalismo, mesmo onde ele possa ter sintetizado e fundido elementos do socialismo e do fascismo.
Breve Explicação da Teoria Eurasiana em 4 Mapas
Assim, já está visível para nós que há pelo menos dois possíveis métodos de aplicação de uma Quarta Teoria Política para os EUA. O primeiro envolveria um processo um tanto quanto inorgânico de situar a experiência européia e eurasiana no molde dos EUA. O segundo, porém, envolveria tomar o esquema metodológico central de uma Quarta Teoria Política, mas criando-a organicamente de dentro da própria cultura política e histórica político-filosófica dos EUA. Primeiro, isso teria que ocorrer a nível acadêmico, onde essas idéias ganhariam tração, e se tornaram o esquema através do qual especialistas de mídia e ativistas tomariam inspiração. Os EUA precisam de suas próprias figuras para comunicar idéias sobre sua própria transformação radical.
Essa segunda proposta parece a mais prudente, porque isso não está baseado apenas em uma abordagem mais popular frente a cultura política estadunidense, mas também uma que promove o "isolacionismo" e o "não-intervencionismo". Esse não-intervencionismo não só é característico do sentimento popular essencial estadunidense, e mais próximo a suas próprias origens filosóficas formalmente descritas, mas também estabelece o esquema adequado para desconstruir o Império Atlantista em termos práticos também. Simultaneamente, ele significaria um EUA menor com fronteiras diferentes.
Fora dessas duas propostas ou métodos possíveis de aplicação de uma Quarta Teoria Política para os EUA, o que será explorado depois nesse artigo, está o problema presente e existencial dos EUA como entidade viável. A necessidade nos EUA para uma nova teoria política e uma nova concepção de si mesmo será impulsionada não em abstrato, mas por questões bastante reais, muito tangíveis que confrontam o projeto estadunidense.
Resumindo então, há possibilidades a nível teórico para o desenvolvimento de uma Quarta Teoria Política nos EUA, e há uma demanda econômica e etnodemográfica para isso também. Mesmo nos confinando aos problemas econômicos e etnodemográficos nos EUA, podemos ver que os EUA sofrem de uma crise de legitimidade. Compreender isso, e o potencial para maiores investigações nessa área, nos permitirá entender melhor como o Império Estadunidense pode ser desconstruído e com que base uma Quarta Teoria Política pode ser introduzida.
Uma Crise de Legitimidade
Em termos práticos, os EUA sofrem com uma crise interna de legitimidade, e são incapazes de criar uma política econômica coerente ou sustentável. Em nosso trabalho anterior sobre esse tema (citado como "[2]" abaixo), nós demos estatísticas sobre o crescente custo dos alimentos e de habitação, o que são indicadores analíticos objetivos críticos do potencial para insurreição e perturbações políticas e sociais maiores.
Desde aquela época, a Reuters conduziu uma pesquisa científica que descobriu que por volta de 25% ou um em quatro americanos querem que seu estado deixe os EUA. Esse número é ampliado por um número de fatos que pelas projeções só devem piorar nas próximas décadas. Em um certo ponto, especialmente se essa idéia for vigorosamente promovida, é possível ultrapassar os 50%. Seguindo um esquema legal similar que serviu para justificar a secessão do Kosovo e da Criméia, (ainda que o primeiro seja bastante questionável), nós podemos proceder a invocar o mesmo precedente nos EUA. Ademais, contido dentro dos documentos fundamentais dos EUA, incluindo a Constituição Americana e os Papéis Federalistas (bem como os Anti-Federalistas), um esquema legal internamente coerente também pode ser derivado.
A pesquisa científica conduzida em setembro desse ano (2014) utilizou um espaço amostral de mais de 9000, o que é 900% do espaço amostral necessário para uma pesquisa desse tipo, resultando em uma margem de erro de apenas +/- 1.2%, e perguntou o seguinte: [1]
"Você apoia ou se opõe à idéia de seu estado pacificamente se retirar dos Estados Unidos da América e seu governo federal?"
Os resultados foram, para analistas e legisladores americanos, assombrosos. Abaixo estão eles.
Há razões que podem ajudar a explicar esse tipo de resultado, que exploraremos em breve. De modo geral, elas se relacionam à natureza do "povo americano". Oswald Spengler adequadamente descreveu um traço crítico da economia política anglo-saxã, sendo que a Grã-Bretanha é primariamente uma sociedade multi-étnica (anglos, normandos, saxões, pictos, galeses, escotos, jutos, etc.) internamente organizada e auto-definida por classe socioeconômica. Essa observação foi feita em relação a sua crítica da análise marxiana de classe, que ele viu como sendo excessivamente baseada em suas observações da sociedade na Grã-Bretanha e nas ilhas britânicas. Não obstante, na medida em que isso fosse supostamente verdadeiro para a Grã-Bretanha e as ilhas britânicas, é indubitavelmente assim no caso dos EUA que é composto de pessoas extraordinariamente menos relacionadas e menos conectadas por geografia e tempo; tais como latinos, afro-americanos, árabes, anglo-saxões, europeus ocidentais, eslavos, nativo-americanos, leste-asiáticos, e sudeste-asiáticos. Ademais, dentro desses grupos maiores estão contidos grupos nacionais que efetivamente possuem maior animosidade uns em relação aos outros do que em relação aos que estão fora desses grupos mais amplos; por exemplo, salvadorenhos e mexicanos, ou chineses e japoneses.
Os Estados Unidos não possuem, portanto, um "povo" (ethnos ou "narod"), não são uma "nação" ligada por longos e firmes laços históricos, linguísticos, culturais, familiares ou experienciais. Pode estar em um processo de etnogênese, mas o sucesso desse projeto dependerá de fenômenos que ocorrerão ao longo de um período de tempo mais longo do que as estruturas políticas de curto prazo atuais podem acomodar. Essa última questão é uma que deve ser considerada ao se explorar a primeira. A natureza frágil do "Estado" estadunidense, e sua hegemonia dentro de sua esfera continental estão predicadas em um número de aparatos tecnológicos, que promovem um tipo de conformidade cultural ou sociológica, cuja vida se aproxima do fim. Especificamente, a eventual obsolescência da "velha mídia" e sua substituição contínua pela "nova mídia" é uma das forças de impulsão de mudanças, que vê um fim ao sucesso do mito hegemônico de uma monocultura, dentro das fronteiras atuais dos EUA.
Assim, ao olharmos para a etnia e para a natureza de "não-povo" da população estadunidense (ela é uma população, só não é um povo), também devemos olhar para a classe. Os EUA não são uma sociedade "nacional", mas uma sociedade "de classes" que usa quantidades extraordinárias de jingoísmo para se mascarar como uma sociedade "nacional". O tipo de luta travada contra a oligarquia nos EUA tem sido primariamente bem sucedida (em um sentido limitado) quando tem sido uma luta de classes. Isso ocorreu quando proletários, camponeses, pequenos proprietários de terras, e pequenos empresários, encontraram causa comum em uma luta de classes popular - através de linhas "étnicas e nacionais", contra a oligarquia. Assim, o racismo tem sido historicamente utilizado pela oligarquia estadunidense como um meio de frustrar um tipo de luta de classes contra ela.
Para ajudar a ver que a antipatia pelos EUA e pelo governo federal está ligada a uma potencial luta de classes, podemos olhar para o segundo gráfico do estudo da Reuters. Nele vemos uma correlação direta entre classe e apoio pela desintegração dos EUA e oposição ao governo federal.
Também é indiscutível que as tendências econômicas nos EUA estão apontando para uma redistribuição concentradora das riquezas, para longe da classe-média cada vez menor, levando a maiores polarização e instabilidade. Isso é bastante perigoso quando combinado com outros fatores, tais como alta dos preços de alimentos e legitimidade política decrescente. Isso deve ser compreendido em relação a modelos comprovados de avaliação bem sucedida de instabilidade, usando os mesmos métodos de análises que os EUA utilizaram, mais ou menos com sucesso, para desestabilizar países do norte da África e do Oriente Médio durante a tal Primavera Árabe.
Em nosso trabalho chamado "Rumo a uma Nova Revolução Americana", nós explicamos: "Mas a história prova que há um limite para o que as pessoas podem suportar, antes deles se revoltarem. Em termos objetivos, um padrão observado indica que levantes são praticamente inevitáveis quando os preços dos alimentos excedem o index nominal FAO-UN de 210 quando combinado com um governo de legitimidade reduzida aos olhos públicos [2]. Esse número limítrofe foi atravessado pela primeira vez em fevereiro de 2008, o que levou diretamente às "revoltas" da Primavera Árabe em 2010. Esse número elevado foi construído: após o colapso da bolha imobiliária em 2007, os massivos e intermináveis resgates financeiros começando pelo QE-1 foram usados para gerar uma bolha no mercado de ações". [2]
"Além de criar uma importante ficção ideológica de um 'mercado de ações em recuperação', os mercados futuros de commodities perecíveis foram especificamente marcadas para açambarcamento. Isso resultou em um aumento planejado nos preços dos grãos. Governos foram forçados a reequilibrar suas economias internas para subsidiar e corrigir essa mudança súbita. Essa também é uma parte da crise das 'dívidas soberanas' nos países periféricos da União Européia, as nações PIIGS - Portugal, Irlanda, Itália, Grécia, Espanha - que continuam a experimentar uma condição sustentada de insurreição social que tem sido rotulada de diferentes maneiras por vários participantes e analistas (Indignados, Occupy, etc.) [3]"
De fato, face a um crescente index FAO (index do preço de alimentos), e uma redistribuição oligárquica de riquezas, temos visto um aumento considerável no número daqueles na população estadunidense que recebem assistência governamental direta para comprar alimentos básicos. Podemos ver que esse número está em 50 milhões de pessoas. Isso apesar de várias décadas de legislação de austeridade que torna mais difícil se qualificar para esse tipo de assistência.
O gráfico seguinte mostrará que após o resgate QE1 de 2008, o PIB cresceu, ainda assim a renda familiar desabou significativamente, demonstrando uma redistribuição oligárquica. Não apenas há uma transição radical, como ela é rápida. O número de famílias sem casa e desempregadas nos EUA está no seu ápice, não apenas em números, mas per capita também.
Para melhor ilustrar esse ponto, devemos olhar para um mapa demográfico étnico/racial dos EUA. Enquanto as três ou quatro maiores cidades dos EUA são relativamente "bastiões integrados de multiculturalismo", os números demográficos reais por estados de residência são claramente visíveis através de linhas étnicas e/ou raciais. Tomado em contexto com a pesquisa sobre secessão, podemos começar a ver o esquema de uma representação mais frouxa das várias regiões que abrigam os estados dos atuais EUA. Esse mama mostra onde a maioria dos afro-americanos estão concentrados. A secessão aqui resultaria em uma confederação com uma essência cultural distintamente "afro-americana".
A onda recente de assassinatos policiais aparentemente racialmente motivados de suspeitos afro-americanos, ressaltou ainda mais os antagonismos raciais de longa data nos EUA. O governo federal em Washington continua a impor seu governo extremamente centralizado sob o espetáculo de uma república federal, e uma nova geração de jovens negros está se tornando politizada e tornada mais militante sob essas normas. Em um cenário secessionista, a área mostrada no mapa abaixo estaria em posição de "resetar" as relações raciais, e resolver um grande número de problemas relacionados. Ademais, uma concepção de um "Novo Sul" pode ser criada, uma que também leve em consideração algumas das idéias "confederadas" de uma nova geração de brancos sulistas que não são eles próprios racistas, i.e., se opõem ao supremacismo, mas que também veem simpaticamente a Confederação de Estados Americanos de 1860 antes e durante a Guerra Civil Americana. Economicamente, seria mais viável se ela fosse capaz de se integrar mais de perto com outros atores nacionais do Caribe que também são majoritariamente africanos, e com os quais as elites intelectuais e acadêmicas afro-americanas já fizeram conexões políticas significativas, datando pelo menos de meados do século passado. Como um Estado pós-estadunidense e anti-imperialista, ele também seria capaz de se integrar com Cuba, e formar elos com os afro-brasileiros.
Uma nota deve ser acrescentada aqui, porque no estado da Flórida esperaríamos encontrar um elevado número de pessoas se identificando tanto como negras como hispânicas (de origem caribenha), e portanto não estão incluídas nesse mapa demográfico.
O próximo mapa mostra o mesmo, com as mesmas consequências, para os ditos "hispânicos não-brancos" e "latinos". No discurso político mais recente, essa região é referida como "Aztlan".
Com a exceção de Idaho, Wyoming, Nebraska e Washington, os estados abaixo correspondem aos territórios do México antes da Guerra Mexicano-Americana de 1846. Alguma base legal para uma secessão desse território "Aztlan" pode ser tirada pela maneira pela qual o tratado que formalizou o processo de paz após a guerra - o Tratado de Guadalupe Hidalgo - foi abrogado. Essas tendências demográficas vão continuar. No futuro próximo, o sudoeste será majoritariamente latino/hispânico. Ainda que isso não esteja na agenda, mesmo um fechamento total da fronteira não pode mudar isso eventualmente por causa das taxas de natalidade.
Quando olhamos para esses dois mapas juntos, várias conclusões vem instantaneamente à mente. Se torna claro que o que sobrará dos "EUA" pode estar na área remanescente. O que não foi discutido é a questão da soberania nativo-americana. Reivindicações nativo-americanas em uma base legal provavelmente serão maiores do que a área indicada na Figura 7 abaixo. Porém, é importante compreender que essas reservas já existem como nações soberanas, que possuem acordos com o governo federal americano. As tribos que vivem nessas reservas são entidades políticas soberanas, com sua própria força policial e instituições para gerenciar recursos naturais e outras necessidades sociais. Ainda que eles sejam majoritariamente empobrecidos, isso é um resultado de condições fundamentalmente impostas sobre eles, de uma maneira similar ao modelo atlantista colonial ou neocolonial, e não são indicadores de suas habilidades inatas enquanto povo (ou "primeiros povos").
Quando olhamos para "nativos americanos" ou "primeiros povos", ali, na cultura estadunidense, há um senso geral de simpatia. É uma opinião comum que os nativos americanos não tiveram justiça, e que as coisas que aconteceram a eles, e continuam a acontecer, são erros que precisam ser consertados. Aqui será importante continuar a trabalhar com uma nova geração de líderes tribais que querem ampliar o direito de seus povos à auto-determinação em todas as esferas, soberania e autonomia.
Conclusivamente então, nós podemos ver onde estão as áreas de pesquisa e trabalho promissores. Os EUA se deparam com uma crise de legitimidade, e a maneira pela qual ela é paradigmaticamente incapaz de compreender as raízes desses problemas também cria certas oportunidades. Quando olhamos para o número de pessoas nos EUA que gostariam que seu estado abandonasse os EUA, e olhamos também para a realidade demográfica étnica ou racial, as contradições marcantes que caracterizam esse aspecto dos EUA são facilmente discerníveis.
O Processo Orgânico de uma Quarta Teoria Política nos Estados Unidos na Academia
Quando compreendemos uma "Quarta Teoria Política", nós compreendemos as três anteriores - liberalismo, socialismo e fascismo. Formalmente, os EUA, diferentemente da Europa e da Eurásia, só experimentou a primeira. Socialismo e fascismo são fenômenos (e idéias) formalmente alógenos e europeus ou eurasianos, pelos quais os EUA em termos formais nunca passou. Após um exame mais próximo, porém, podemos descobrir o seguinte: os EUA tem mantido um esquema formal dentro do liberalismo, mas há mais do que isso.
De fato ainda mantém os valores primários do liberalismo como individualismo/atomização, comercialismo/materialismo, e é claro a estranha combinação de universalismo e relativismo moral ou ético (ao mesmo tempo). Ao mesmo tempo, seus defensores e conselheiros oficiais a nível acadêmico, a cada geração, foram influenciados parcialmente pelos desenvolvimentos ocorridos na Europa e Eurásia durante o século XIX e XX. O bonapartismo teve influência sobre o neofederalismo e o impulso neofederalista; saltando um século, a ascensão do socialismo e do fascismo também influenciou (e de fato foi influenciada por) os conceitos por trás da organização social de massas e as formas técnicas de análise sociológica e mecânica (e.g. Weber, Marx, et al), úteis para a manutenção e expansão do projeto atlantista. Isso foi visto em projetos como o Ato de Administração de Obras Públicas de 1933, e o New Deal em geral.
A Terceira Teoria Política de certa maneira emergiu de um estudo da economia estadunidense no início do período taylorista ou fordista. Obras como "O Ideal Corporativo no Estado Liberal: 1900-1918" de Weinstein também fornecem uma referência coerente para compreender a incorporação ou interpretação do socialismo e do fascismo em um discurso lugar-comum sobre organização social e progresso social. Estes ocorreram após a ascensão do socialismo (STP) e antes da ascensão do fascismo (TTP).
Sob essa luz, o "progressivismo" do mesmo período como descrito pela obra de Weinstein, pode ser visto como a metabolização pragmática americana daqueles elementos deficientemente modernistas do socialismo e do fascismo. Simultaneamente, eles também foram uma continuação de figuras do "Sistema Americano" como Henry Clay e Jefferson Davis. "Progressivo" até hoje é o rótulo com o qual tanto liberais radicais (liberais de esquerda) e liberal-comunistas (socialistas, "marxianos", etc) descrevem a si mesmos dentro dos mandatos ofuscantes de polidez dentro do discurso político anglo-americano.
Nos EUA há formas vulgarizadas de uma "Quarta Teoria Política" nascente na academia, baseada no pós-modernismo, teoria crítica e pós-estruturalismo, já adquirindo proeminência por algumas décadas, chegando a dominar os departamentos de filosofia em um bom número das universidades mais prestigiosas. Essas em algumas áreas já ultrapassaram ou consumiram a escola "analítica".
Isso também age como um tipo de resposta semi-afirmativa a Heidegger, através de figuras como Marcuse e Camus (i.e. existencialismo liberal-"comunista"). Outros estudantes são introduzidos a Heidegger através de Arendt. Mas em qualquer medida, ainda que problemático, isso também demonstra a base para uma linguagem e universo de idéia e conceitos comuns que, com esforços e direção corretos, pode ser vista como chão fértil para uma "Quarta Teoria Política" em sentido pleno. As idéias de Heidegger, bem como de Husserl, Hölderlin (et al), são vigorosamente abordadas, mesmo quando em muitos setores elas são porcamente definidas ou compreendidas, e o pensamento de Adorno e Marcuse é valorizado acima do de Heidegger.
O que domina de fato, porém, muito da nascente porém vulgar "Quarta Teoria Política" estadunidense é uma "trasvaloração de todos os valores" nietzscheana liberal (i.e., relativista). Ainda que amarrada em concepções liberais, ainda permanece em sessões desse milieu chão muti fértil. É aqui que entre estudantes de graduação, jovens professores, professores assistentes e palestrantes - em oposição a catedráticos - encontraram Dugin e já começam a vê-lo como uma figura digna de atenção. Porque isso representa a culminação da filosofia continental européia a qual era vista como a maneira mais apropriada de se abordar uma crítica oficialmente sancionada do marxismo no período da Guerra Fria, nós temos agora no período atual uma consequência não-intencional, por meio da qual instituições de renome promoveram o estudo da escola continental às custas da escola analítica.
Simultaneamente, o marxismo ocidental foi também, e em algumas áreas ainda é, ensinado nos níveis mais altos da academia estadunidense. Ao longo das últimas décadas, muitos entre os marxianos e estruturalistas se tornaram pós-marxianos e pós-estruturalistas. Outros se tornaram "nietzscheanos de esquerda" à imagem de Foucault, enquanto ainda outros gravitaram na direção do marxismo soviético, e se tornaram ou permaneceram "marxistas ortodoxos". Essa próxima conexão pode ser um pouco difícil para aqueles ainda não familiarizados com o meio acadêmico e intelectual dos EUA. Houve algo como um florescimento acadêmico marxista e estruturalista que começou vigorosamente na década de 60. Ao mesmo tempo que esses pseudo-leninistas, anarquistas, etc., se dedicavam nominalmente a uma visão materialista da história, epistemologia e ontologia, também houve algo diferente acontecendo por baixo da superfície. Houve também um aumento significativo no interesse entre as mesmas pessoas por budismo, hinduísmo, "filosofia oriental", islamismo e Nova Era. Com base em seu antiliberalismo e anti-imperialismo, elas foram atraídas para idéias que buscavam redefinir as relações do homem com a modernidade e o consumismo, e impulsionaram um novo interesse por misticismo e esoterismo. Assim, de muitas maneiras, esse é e foi similar aos milieus e círculos que existiam na Alemanha de Weimar que deram origem ao nacional-socialismo popular; um interesse simultâneo em questões como os mistérios relativos à origem humana e a seu potencial espiritual com um olhar para o Oriente, junto de uma visão anticapitalista e pró-socialista da economia política.
Ademais, a influência do marxismo e da "teoria dos conflitos" no campo da sociologia não pode ser exagerada.
De muitas maneiras isso foi um produto da curva pró-mercado da iniciativa "Sociedade Aberta", que veio a ser dominada por pensadores e escritores da Escola de Chicago. Karl Popper alertou que seria necessário incluir pensadores políticos e econômicos liberal-socialistas nessa "Sociedade Aberta" como parte de um projeto liberal mais amplo, para incluir a esquerda estadunidense e aqueles associados à Segunda Internacional. Seu alerta não foi ouvido, e isso contribuiu em parte para a polarização esquerda/direita da academia, e ajudou a empurrar aqueles críticos da economia de mercado para a posição em que estão hoje. Isso, de certa maneira, pode ser visto favoravelmente hoje no sentido de que contribuirá para as condições que tornarão um pólo acadêmico da Quarta Teoria Política nos EUA possível.
Ainda que tomando suas idéias primariamente da filosofia continental, e enquanto tal estando profundamente imersos no hegelianismo e no existencialismo, estes são pensadores organicamente "americanos" que já possuem redes de publicações e periódicos acadêmicos, posições nas universidades, com alguma influência.
De forma inteiramente separada, e em uma direção diferente, estão as escolas filosóficas analíticas e liberais. Com algumas exceções, como o comunitarianismo e o marxismo analítico - ambos os quais desafiam o liberalismo de Rawls mesmo sendo modernos - elas são essencialmente liberais. Não obstante, nesse âmbito encontramos o epicureanismo primário que caracteriza muito do pensamento fundacional em uma filosofia verdadeiramente estadunidense. Há menos aqui que seja obviamente trabalhável ou compatível com o desenvolvimento de um pólo de atração da Quarta Teoria Política, mas isso não deve ser deixado de lado. Primariamente porque o núcleo do conservadorismo estadunidense reside aqui, e transcender o paradigma esquerda/direita significa olhar para onde essas idéias se encaixam - do liberalismo - e como essas idéias liberais dos arquitetos da constituição americana podem ser dirigidas contra o projeto atlantista. Afinal, há um certo número de idéias contidas ali que de fato não são compatíveis com o projeto atlantista. O liberalismo "universal" está conceitualmente contido, é claro, no discurso fundacional do projeto estadunidense.
Ao mesmo tempo, conceitos do início do século XIX, em J.S. Mill tal como "Experimentos em Vivência" podem ser vistos como conceitos político-filosóficos que promoviam o federalismo (hoje, o confederalismo) em oposição a um Estado unitário. Estes são anti-universais em sua natureza, ou melhor, o que é universal é "a cada um o seu". Por "experimentos" Mill se refere realmente a duas coisas - heterogeneidade ou diversidade, e independência ou soberania local. Mill via isso como valioso não simplesmente no sentido liberal individual; dando origem ao empreendedorismo, à iniciativa e engenhosidade individuais, mas entre várias cidades, comunidades e estados. Anátema para ele seria o universalismo liberal moderno, que realmente põe um fim à diversidade global. Posteriormente, Mill assumiria perspectivas mais socialistas em economia, vendo as limitações da economia de mercado quando sobrepostas a sociedades de maior escala.
As idéias de Mill, bem como de Bentham e Locke, bem como obviamente as de Jefferson, (et al), não são realmente apenas compatíveis com uma visão multipolar do mundo, mas também julgam e avaliam os EUA pelas próprias idéias e ideais que eles afirmam apreciar. Essas se aprofundam no pensamento liberal e seu derivado, o libertário, e podem formar uma resistência anti-imperial e multipolar ao projeto atlantista.
Essas idéias formam algumas das bases do pensamento liberal de esquerda, liberal de direita e libertário de hoje, que de muitas maneiras estão alienados da esquerda radical estadunidense. Ainda que ambos esquemas representem a modernidade - um beirando o pré-moderno, a outra beirando o pós-moderno - são todos eles próximos em termos de aderentes nos EUA, e possuem influência relevante na cultura política estadunidense fora do que está representado na mídia popular.
Tomado em conjunto, o que temos são as peças necessárias para se forjar um pólo significativo da Quarta Teoria Política dentro da academia estadunidense.
O problema político é que o sistema educacional estadunidense é controlado politicamente pelos poderes dominantes. Assim, pode ser necessário assumir um curso mais radical se for provado impossível penetrar com sucesso nas barreiras burocráticas e políticas. Nós temos, porém, alguns precedentes a partir dos quais trabalhar.
Contemporaneamente, podemos ver que Rússia e Irã foram frustrados em seus esforços de receber uma cobertura midiática justa nas redes de notícias dos EUA. Ao invés de insistirem, eles deram início a iniciativas - Russia Today e Press TV, respectivamente - de criação de canais de notícias em língua inglesa que são veiculados na televisão nos EUA. Similarmente, no passado, na academia, nós vimos como a Escola de Frankfurt foi realocada para fora da Alemanha, e trazida aos EUA para a Universidade de Columbia uma vez que as condições políticas haviam tornado seu trabalho difícil demais.
Similarmente, uma vez (ou, impedindo isso, antes) que uma ponta-de-lança possa ser estabelecida por um grupo central de acadêmicos apoiadores, uma "Escola de Nova Iorque" ou uma "Escola da California" pode ser estabelecida, por exemplo, em Belgrado, Teerã ou Moscou, com professores dissidentes. Eles publicariam e organizariam conferências em inglês e seriam ex-patriotas americanos formando um núcleo de resistência acadêmica. Suas perspectivas, palestras, livros e artigos seriam o foco da informação em língua inglesa distribuída e projetada por todos os meios da nova mídia.
Elementos Básicos que enquadram o Discurso Americano Atual
Na esfera política prática dentro dos EUA, não há um conflito entre liberalismo e outra coisa, mas entre duas ou três visões de liberalismo. Ao mesmo tempo, há núcleos de algo pós-liberal e antimoderno dentro de dois dessas. Atualmente há simplesmente um sistema unipartidário sem oposição, e sem qualquer mecanismo para que uma política de oposição influencie positivamente os resultados políticos. Este é o sistema político que corresponde agora a uma forma liberal de capitalismo que ignora ou finge ignorar as fórmulas sociológicas, e atribuir toda responsabilidade pelos resultados na vida de uma pessoa ao "indivíduo". Politicamente, esse partido único possui duas faces - uma democrata, a outra republicana. Nas fronteiras desses partidos porém, tanto na "esquerda" anticapitalista radical, e na "direita" constitucionalista, libertária e paleoconservadora, há potencial também. A área de concordância mútua entre essas duas margens tem, apesar de estarem aparentemente em contradição, tem crescido rapidamente e aumentado bastante ao longo dos últimos 15 anos. Se fôssemos datar isso, o fenômeno do 11 de Setembro pode ser visto como o ponto de partida desse crescimento da zona de concordância, caso fosse representada em um diagrama de Venn.
É algo a se considerar que "esquerda" e "direita" dentro da Anglosfera tem um significado um tanto quanto diferente do que possuem na Eurasia, ou do que tinham na Anglosfera em meados do século passado. Essas áreas de concordância entre "esquerda" e "direita" se relacionam com o poder das grandes corporações, as guerras sem fim (imperialismo militar e complexo militar-industrial), o declínio das condições de vida (colapso da classe média), e o desaparecimento dos direitos constitucionais nos âmbitos do discurso, da associação política, privacidade, além do crescimento nefasto de uma cultura consumista e centrada em celebridades.
Há outra esfera de problemas na qual ambos os lados concordam, mas usam uma terminologia completamente diferente pra explicar, e para os quais atribuem causas e soluções diferentes. Mas isso não deve ser fonte de frustração, mas sim algo que demandará maior trabalho. Essa está ligada ao papel do mercado e mesmo a qual é o propósito da sociedade. A esquerda radical nos EUA possui uma concepção de qual é o propósito da sociedade, que está mais perto de como os eurasianistas veem a questão, no sentido de que ela contém uma crítica do liberalismo e da modernidade.
Não há qualquer pólo da Terceira Teoria Política nos EUA, não para além de seitas exóticas confinadas a espaços virtuais, e sem qualquer influência no discurso político. Europeus e eurasianistas não raro cometem o erro de pensar que há um, por haver meia dúzia de grupos de tipo racista ou segregacionista, mas esses são puramente uma subcultura de identidade. Sua visão da sociedade e da economia em liberal em todos os sentidos. São só racistas liberais. Seu fascínio pelo Terceiro Reich, em tais casos, se baseia basicamente em documentários televisivos que apresentam perspectivas não só distorcidas em conteúdo, mas fixadas em simbolismo, hardware militar, e estética em geral. Seus números são extremamente pequenos, e a carência de acadêmicos, intelectuais, apoiadores, apoio popular, ou mesmo indivíduos capazes de organização é bastante conhecida e tem sido bem documentada há décadas. Qualquer um familiar, por exemplo, o Partido do Renascimento Nacional, tem bastante clareza sobre as possibilidades desse tipo de iniciativa.
Ademais, não cai bem a um apoiador europeu ou eurasiano da Quarta Teoria Política fazer aliança política com esse milieu irrelevante. Desde uma perspectiva de relações públicas, isso só pode resultar em marginalização extrema e na total inabilidade de algum dia se conquistar tração real ou significativa. Também torna problemática a aliança tácita com o "nacional-comunismo" latino-americano, como o bolivarianismo. As questões raciais nos EUA, ou mesmo a imigração, não são similares o bastante a sua versão européia para demandar uma abordagem similar. Afro-americanos não são imigrantes nos EUA, foram trazidos contra sua vontade, apenas para serem sujeitos a condições já bem documentadas. Os sustentadores históricos do domínio branco nos EUA não são indígenas aos EUA, e não estão "defendendo" a terra de "estrangeiros". Os nativos americanos e mexicanos, porém, são o povo indígena. Esse fato óbvio não escapa ninguém seriamente envolvido em qualquer nível nos EUA com a derrubada do Império Estadunidense. Isso não deve ser mal interpretado, porém. Considerada a mobilidade da classe média em termos de escolher onde viver, e considerando que na cultura estadunidense é a norma se estabelecer em um lugar diferente de onde se nasceu ou se possui família, há poucas razões para se viver em qualquer um lugar específico e não em outro.
O que vemos é que as pessoas escolhem viver em comunidades e partes das cidades nas quais as pessoas possuem uma semelhança fenotípica com elas mesmas. Considerando o fenômeno do "êxodo branco" na década de 60, em que brancos se mudaram das cidades para áreas suburbanas bem como novas cidades, combinado com a auto-segregação, nos são apresentadas razões pelas quais o "Nacionalismo Branco" (entendido separadamente em relação à Terceira Teoria Política) jamais se enraizou nos EUA: as pessoas selecionam automaticamente e inconscientemente seus vizinhos, e as pressões não estão realmente presentes.
Resistência Popular ao Projeto Atlantista - Americanos são Socialistas e Libertários
Os principais pólos de resistência popular nos EUA estão, na "esquerda radical" - não confundir com a intelligentsia liberal de esquerda; ao contrário olhamos para os comunistas linha-dura e em menor medida para socialistas e anarquistas; e na "direita" são os libertários e constitucionalistas, e em menor medida os paleoconservadores e o movimento das milícias (que está ligado aos dois primeiros). Ambas categorias representam dezenas de milhões de indivíduos.
Evidência quantificável para essas afirmações se apoia nisso: em 2011 uma pesquisa científica foi conduzida pela agência Rasmussen [3], que descobriu que 11% de todos os "americanos" acreditava nisso:
"11% dizem que o comunismo é melhor do que o sistema americano atual de política e economia".
Como 80% dos "americanos" são adultos em uma população de 320 milhões, o número de apoiadores do comunismo hoje está em 26.5 milhões. Outra agência de boa reputação, a Gallup, reportou em 2010 que 36% (de uma população adulta), ou 92 milhões, de todos os americanos tinham uma opinião positiva do socialismo, do que podemos inferir que poderiam se identificar como "socialistas" [4].
No lado libertário também somos capazes de identificar. Ron Paul disputou eleições em uma plataforma puramente libertária, mas como republicano, nas primárias de 2012, e ficou em quarto lugar, recebendo ao redor de 2.1 milhões de votos [5]. Esse processo foi visto como tendo sido manipulado contra Paul, e de modo não muito diferente de outras manipulações eleitorais nos EUA, pode ter sido de fato fraudado. O Instituto Cato porém revela mais sobre essa questão com um estudo. Eles descobriram que ao redor de pelo menos 14% dos "americanos" são libertários, chegando a no máximo 44% [6] dependendo dos critérios. Isso nos dá aproximadamente entre 30 milhões e 110 milhões, de um universo de adultos americanos de 256 milhões.
O que isso significa é que o sistema político formalizado, representado nominalmente por democratas na centro-esquerda e republicanos na centro-direita possuem um monopólio em um processo político que de fato não representa a natureza fundamentalmente socialista e libertária da população americana. Comunistas e socialistas ficam majoritariamente compelidos a votar pelos democratas, e libertários e constitucionalistas ficam majoritariamente compelidos a votar pelos republicanos. Separadamente, a cultura angla foca em uma forma passivo-agressiva de polidez, e em espaços públicos é raro que estadunidenses afirmem suas opiniões reais, por medo de julgamento passivo e ostracismo disfarçado. Privadamente eles se afirmarão comunistas/socialistas ou libertários/constitucionalistas, mas em público você ouvirá os termos, respectivamente, "progressista" e "conservador", ainda que eles estejam essencialmente ocultando sua opinião real.
Como podemos interpretar esses dados é uma outra questão que demandará mais investigações. Em todo caso, uma maioria de socialistas e libertários atualmente possuem uma perspectiva modernista e liberal. Não obstante, o que podemos compreender melhor é com o que estamos lidando e a partir do que estamos trabalhando. Uma abordagem da Quarta Teoria Política nos EUA pode começar com um diagrama de Venn das coisas que são comuns à QTP e ao socialismo, e à QTP e ao libertarianismo. Ademais, o ângulo anti-imperialista e a desconstrução do Império Atlantista são valores partilhados entre libertários e socialistas.
De partida, nós já podemos começar a ver o rascunho do tipo de campanha que seria necessária para popularizar idéias da QTP nos EUA. Naturalmente, uma permutação da QTP dentro dos EUA teria que reconsiderar inteiramente o liberalismo, e no final das contas se livrar de muitas de suas características. Ao mesmo tempo, algumas das perspectivas e valores dos "americanos", e mesmo alguns conceitos fundamentais no liberalismo, são resgatáveis. Assim, nós podemos ver em um EUA pós-liberal e pós-atlantista algo mais ou menos análogo nos EUA a como a Rússia metabolizou hoje a experiência soviética.
Os EUA podem ter que se desconstruir, e se algum dia se restabelecer como potência, terá que ser como potência terrestre ou continental. Um novo pacto ou contrato com suas partes antigas precisa ser feito, com base em uma compreensão diferente sobre si mesmo, seu passado, e as várias "nações" vivendo em suas diferentes partes. O processo da etnogênese estadunidense provavelmente será longo, e muito provavelmente seu projeto político vai falhar, levando a uma contração, séculos antes que uma etnogênese possa ocorrer. Considerando-se o futuro incognoscível da tecnologia e de outros desenvolvimentos, é questionável se essa etnogênese de fato ocorrerá. O que parece mais certo na agenda, é um EUA desconstruído que verá uma conversão em zonas distintas algo mais adequado às populações majoritárias de cada parte. A forma que isso assume, naturalmente, ainda é incerto, se de fato isso se chamará nominalmente EUA ou não ainda não é possível saber, e isso também não é inteiramente fundamental.
Divisões de raça e classe nos EUA, combinadas com uma ideologia liberal que não pode mais fornecer sentido, associadas com um modelo econômico naufragante, significa que uma mudança significativa está no horizonte. Essas mudanças criam a possibilidade de uma Quarta Teoria Política de algum tipo tomando o lugar da teoria liberal tardia que está hoje em decadência.