Introdução
Chegou o momento de voltar a escrever sobre a Ucrânia. Durante os últimos meses a situação se tornou bem mais complicada do que era anteriormente. Os meios de comunicação de cada lado mostram o conflito desde pontos de vista radicalmente diferentes, pelo que para uma pessoa que não tem acesso a informação de primeira mão ou que desconhece os idiomas russo e ucraniano, é impossível diferenciar o certo do falso e ter uma idéia objetiva da situação.
No seguinte artigo se descrevem as principais notícias dos dois últimos meses e se expõem os fatos reais sobre a situação na Ucrânia. Praticamente, a totalidade da informação reunida no artigo é de primeira mão. Naqueles casos em que a informação não está contrastada, se menciona que a informação procede de rumores amplamente difundidos.
O seguinte artigo não é uma análise da situação, senão uma descrição da situação real. O seguinte artigo não pretende gerar uma opinião específica, senão pretende mostrar os fatos, na medida do possível, desde uma perspectiva independente e objetiva. Através da informação oferecida nesse artigo, as pessoas poderão gerar sua própria opinião sobre a situação atual, uma opinião em linha com suas idéias e prioridades.
Ucrânia após o "Maidan"
A capitulação do ex-presidente da Ucrânia Yanukovich e o intercâmbio das elites políticas no governo desequilibraram as relações dos diferentes clãs oligárquicos do país. O denominado "Clã Donetsk", que anteriormente apoiava os governos e as elites políticas do leste da Ucrânia, sofreu um dano importante e começou a perder controle político e econômico sobre o país. Enquanto isso, outro poderoso grupo oligárquico, o qual apoiava novas elites políticas do ocidente da Ucrânia, adquiriu um maior poder político e econômico. Certamente, as mudanças no país afetaram notavelmente as relações entre esses clãs, tendo consequências irreversíveis para a situação do país.
Ao falar da situação na Ucrânia e da possibilidade da "revolução nacional" é importante fazer uma pequena referência ao grupo mais poderoso da Ucrânia, cuja influência e ações estão provocando sérias mudanças na vida de todo país. O líder informal da oligarquia "pró-oriental" ("Clã Donetsk") é Rinat Akhmetov, de etnia tártara e de religião muçulmana, que é a pessoa mais rica da Ucrânia e que, segundo rumores, é o principal patrocinador do "Partido Muçulmano da Ucrânia". Por outra parte, o líder informal da oligarquia "pró-ocidental" é Igor Kolomoyskyi, a terceria pessoa mais rica da Ucrânia, de origem israelense. Ele é o presidente da Comunidade Judaica Unida da Ucrânia e o presidente do Conselho Europeu da Comunidade Judaica. Segundo os rumores, ele é o criador e principal financiador do partido nacionalista ucraniano "Svoboda". Também é interessante que a segunda pessoa mais rica da Ucrânia, Viktor Pinchuk, seja de etnia ashkenazi e de religião judaica. É importante ter isso em conta para compreender os principais resultados da chamada "revolução nacional ucraniana", que até agora é simplesmente uma alternância dos clãs oligárquicos, passando do clã de Akhmetov ao clã de Kolomoysky, que se apossou do poder.
A alternância nas elites políticas da Ucrânia trouxe uma redistribuição da influência entre os clãs de Akhmetov e Kolomoysky. Enquanto que o negócio de Kolomoysky está agora protegido pelas novas elites políticas, o negócio de Akhmetov está em perigo, assim como está todo aquele que tinha relação com as antigas elites políticas do país. Enquanto o novo governo da Ucrânia não era suficientemente forte, Akhmetov tratou de proteger economicamente seus negócios mantendo o controle político sobre a parte leste da Ucrânia. Pôs em marcha um processo separatista na região de Donetsk para chantagear as novas elites políticas da Ucrânia. Por exemplo, a mesma estratégia foi utilizada na região russa da Chechênia, onde as elites tem o controle da região e recebem benefícios econômicos e numerosas vantagens do governo central da Rússia em troca de lealdade, uma estratégia baseada em fazer chantagem com idéias separatistas e desestabilizadores na região, o que vem a significar "lealdade em troca de dinheiro e favores políticos".
Primeiro, em meados dessa primavera, na região de Donetsk se organizou a versão local do "Maidan", onde a Praça Central se encheu de gente que não aceitava o novo governo de Kiev, montando barricadas e tomando edifícios de Donetsk. Um mês depois, as pessoas que encabeçavam os protestos confessaram que essas ações estavam sendo financiadas e organizadas pelo líder do "Clã Donetsk" Rinat Akhmetov.
A Rebelião do Sudeste
Porém muito rapidamente o Clã Donetsk perdeu o controle sobre este processo de separatismo manipulado. Novamente é possível fazer um paralelismo com a Chechênia, onde em princípios dos anos 90 o processo artificial de separatismo, promovido pelas oligarquias e pelas elites políticas locais, ficou fora de controle. E este processo deu lugar a uma guerra nacional e religiosa entre russos e chechenos, uma guerra que oficialmente durou mais de quinze anos (e que em realidade ainda não acabou), na qual tomaram parte dezenas de milhares de pessoas de ambos os lados e que foi utilizada pelos interesses geopolíticos estrangeiros para pressionar a Rússia.
O mesmo aconteceu no leste da Ucrânia. Apesar dos "títeres separatistas" pagos por Akhmetov, os quais já desapareceram, nas regiões do leste da Ucrânia surgiram uma grande quantidade de grupos diferentes de pessoas (geralmente armados), com suas próprias razões e interesses para participar nessas ações. A rebelião era apoiada não só pela gente comum, senão também por soldados procedentes de divisões locais, pela polícia e por membros das forças militares especiais. A maioria desses grupos de soldados e policiais começaram a se unir às "Autodefesas de Donetsk", levando todas as suas armas e munição militar com eles.
A principal razão para este apoio massivo era que a maioria da população do leste da Ucrânia não estava de acordo com o intercâmbio das elites políticas do país, as quais chegaram ao poder através da luta armada em Kiev. E o principal argumento usado pelos rebeldes para explicar esta ação foi: "Se as pessoas de Kiev fazem rebelião contra o governo, um governo que não agrada a eles, por que não podemos fazer o mesmo nós em Donetsk?" Essa questão se dirigiu majoritariamente às pessoas que apoiavam a revolução "Maidan" e as ações dos cidadãos contra o governo antinacional de Yanukovich, porém agora algumas dessas pessoas mudaram seu parecer e apoiam as ações do governo antinacional de Poroshenko contra a rebelião de Donetsk.
Naturalmente, na realidade a situação não é tão homogênea e algumas pessoas que estavam relacionadas nessa rebelião do leste da Ucrânia tem razões especiais para participar nela. Para compreender perfeitamente a situação é necessário mencionar as razões mais frequentes das pessoas que atuam contra o novo governo central da Ucrânia. A continuação exporei as razões em ordem descendente segundo sua importância para as pessoas:
1) A população é contrária à política pró-Ocidente e anti-Oriente do novo governo ucraniano. O termo pró-Ocidente tem um duplo significado, porque o novo governo vai orientar sua política interna de encontro às regiões ocidentais da Ucrânia, enquanto que a política externa se vai orientar de encontro aos EUA e a União Européia. O novo presidente, Poroshenko, está decidido a integrar a Ucrânia na OTAN e na União Européia. Também existe informação sobre o novo governo ucraniano já ter assinado contratos com a companhia estrangeira Shell para se estabelecer na região do leste da Ucrânia, o que poderia significar uma catástrofe ecológica. Ao mesmo tempo, a nova política do governo central vai ser anti-Oriente. Aqui, "anti-Oriente" também tem duplo significado: a política interna vai contra as regiões do leste do país, enquanto que a política externa se dirige contra a Rússia.
2) Existe um forte sentimento de identidade russa por parte do povo, que está vendo o perigo de uma "ucrainização" étnica nas regiões russas da Ucrânia (regiões em que russos étnicos tem vivido há mais de mil anos, enquanto que essas terras pertencem à Ucrânia há menos de 23 anos). Essa gente considera o novo governo ucraniano como um governo separatista, que está tratando de separar as terras que pertenceram historicamente à Rússia (de fato, 75% do atual território da Ucrânia) da influência e cultura russas.
3) Os russos étnicos e os ucranianos russófonos se opõem às novas leis de "desrussificação" e restrição do idioma russo (o russo é o idioma nativo de mais de 35% da população ucraniana, e mais de 25% fala russo e ucraniano).
4) Os nacionalistas russos querem criar o Estado independente Nova Rússia nas terras do sudeste da Ucrânia, terras que historicamente tem sido russas. Um Estado nacional russo que será independente da Ucrânia e da Federação Russa, e que se converterá em um lugar de renascimento russo. Geralmente, os nacionalistas russos tem uma ideologia antissoviética e antiucraniana, considerando a Ucrânia como o maior monumento da época soviética (a Ucrânia atual é conhecida como a República Socialista Soviética da Ucrânia, que foi criada artificialmente pelo governo comunista em 1919 ao tomar territórios tradicionalmente russos que pertenciam à Rússia Imperial). E consideram que a Ucrânia é uma nação artificial criada pelo governo soviético mediante a ucrainização massiva de pessoas de etnia russa. E em linha com isso, a destruição do Estado ucraniano seria a destruição do maior projeto comunista (que todavia segue vivo hoje).
5) Os eurasianos se uniram à rebelião por motivos geopolíticos, ao ver neste conflito "a Grande Guerra dos Continentes" (conflito entre Eurasianismo e Atlantismo). Essa é a idéia principal daqueles que não querem que as bases da OTAN se estabeleçam no território ucraniano, perto da fronteira com a Rússia, e que não querem que a Ucrânia fique sob influência dos EUA.
6) Os patriotas russos querem que os territórios históricos da Rússia voltem a ficar sob controle da Federação Russa.
7) As pessoas que seguem fielmente a religião ortodoxa veem este conflito como uma luta entre a Igreja Ortodoxa da Rússia e a Igreja Católica Greco-Ucraniana.
8) Certas pessoas (a maioria delas de gerações passadas) veem na Ucrânia atual um auge do fascismo e do chauvinismo antirrusso. E explicam sua participação no conflito como a continuação da Segunda Guerra Mundial, sendo o novo Hitler a união formada por Poroshenko e Obama.
9) Uma parte considerável da população que inicialmente era neutra, durante o conflito entre rebeldes locais e o Exército Ucraniano sogreu algum tipo de dano por parte do Exército Ucraniano, razão pela qual decidiu se unir aos grupos rebeldes.
10) Diversos aventureiros que buscam algum tipo de benefício ou viver situações extremas.
11) Segundo rumores difundidos pelos meios de comunicação ucranianos, no conflito também estão participando agentes do exército russo e mercenários russos.
Certamente, a maioria das pessoas não se uniu a essa rebelião por um único motivo, senão que o mais habitual seja que influam vários dos que se indicam na lista anterior. Mas também é possível assinalar que entre eles existem diferenças ideológicas e se agora todos estão unidos nessa luta comum contra o novo governo ucraniano, no futuro, se essas terras voltarem a ser livres, se verá a luta ideológica entre os diferentes grupos com diferentes idéias e pontos de vista. Porém por agora, a melhor ilustração da questão ideológica na Nova Rússia é uma resposta de Igor Strelkov (Comandante do Exército da Nova Rússia) que deu algumas semanas atrás (01/06/201): "Aqui há pessoas com diferentes perspectivas, unidas somente por seu verdadeiro ódio pela Ucrânia atual, por seu idioma comum e por sua cultura comum. E acrescentar o componente ideológico a essa unidade pode ser prejudicial. O componente de liberação nacional é, neste momento, mais que suficiente". Porém na realidade, a diferença ideológica é realmente grande, e se, por exemplo, Igor Strelkov (que de fato é Comandante do Exército da República de Donetsk) apoia a idéia do Estado independente, Denis Pushilin (que é o Presidente da República de Donetsk) apoia a idéia de união à Federação Russa. Ante essas diferenças ideológicas existentes entre os representantes principais do novo governo da República de Donetsk, é fácil imaginar diferenças ideológicas enormes entre os cidadãos comuns.
Inicialmente, as principais petições dos líderes das autoproclamadas repúblicas do leste da Ucrânia eram: por um lado, que a Ucrânia passe de um Estado unitário a uma federação, para que as pessoas das diferentes regiões tivessem mais liberdade política em relação ao governo central de Kiev, e, por outro lado, dar status oficial ao idioma russo na Ucrânia, para que estivesse no mesmo nível que o idioma ucraniano naquelas regiões etnicamente russas. Mas em lugar de tentar o diálogo político com as regiões orientais, o novo governo da Ucrânia decidiu solucionar o problema mediante o envio do exército ucraniano e começando novas operações militares contra todos aqueles que não queiram aceitar as leis do novo governo. Semelhante ato causou uma radicalização ideológica nas pessoas das regiões do leste, passando de "defensores do federalismo" a "separatistas".
Um dos papéis principais, na hora de unir toda essa gente com diferentes pontos de vista, foi o que desempenhou Pavel Gubarev, atual "Governador do Povo da Região de Donetsk" e antigo militante do movimento nacionalista "RNU" - "Russian National Unity", Unidade Nacional Russa (por este fato e pelo apoio massivo que os membros da RNU deram à Nova Rússia, os meios de comunicação ucranianos começaram uma campanha midiática massiva de propaganda sobre os fascistas russos que estavam atacando o Estado democrático ucraniano). Agora Gubarev é o líder e o principal ideólogo do movimento político chamado "Nova Rússia", cuja idéia é criar um Estado independente nos territórios da Nova Rússia. "Novorossiya" significa Nova Rússia - e é uma região histórica que formou parte do Império Russo até 1917, ano em que os bolcheviques criaram a URSS e acrescentaram territórios da Nova Rússia a esta república. Agora este território fica situado na região sudeste da Ucrânia. O principal conceito da idéia de Nova Rússia é criar um Estado independente de Kiev e de Moscou, porém orientado geopoliticamente na direção da Rússia. Este Estado é o Renascimento Nacional Russo, e está sendo definido pelos principais ideólogos do projeto Nova Rússia como um Estado livre das influências degeneradas modernas, especialmente do liberalismo e do capitalismo. A base da Nova Rússia será a justiça social, os valores tradicionais e a cultura russa. Ao mesmo tempo, na Nova Rússia já começou o processo de nacionalização de objetivos industriais e financeiros, assim como a eliminação da corrupção e das oligarquias. Recentemente se proibiram os abortos, se destruíram todos os cassinos e salões de jogos e se acabou com o tráfico de drogas (após pôr fim à corrupção policial que o protegia) e também se criaram restrições ao álcool. E naquelas cidades situadas na frente de combate, o álcool foi totalmente proibido sob a denominada "Lei Seca".
Em 12 de maio, nas autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, se fizeram referendos sobre a independência da Ucrânia. Na República de Donetsk o voto pela independência alcançou 89% da população, enquanto que em Lugansk a cifra chegou a 96%. Pouco depois Donetsk e Lugansk se uniram sob o nome de Nova Rússia.
Quando a situação no leste da Ucrânia ficou fora de controle, o novo governo de Kiev inclusive tratou de utilizar Akhmetov para estabilizá-la, prometendo proteção a seus negócios. Akhmetov tentou começar um diálogo com o novo governo da Nova Rússia, mas no lugar de uma resposta recebeu uma acusação criminal contra si e a nacionalização de suas indústrias e negócios privados. Após isso, ele finalmente compreendeu que a situação estava totalmente descontrolada e fugiu para Londres, destino preferido de todos os oligarcas exilados.
Eleições Presidenciais
Também é importante escrever algumas palavras sobre as eleições presidenciais, celebradas na Ucrânia em 25 de maio. Poroshenko, o novo presidente ucraniano, é um oligarca (quinta pessoa mais rica da Ucrânia). Certamente, como todos os oligarcas da Ucrânia, ele não é puramente ucraniano. Seu pai, Alexey Valtsman, era um judeu da Moldávia. E Poroshenko, o novo presidente da Ucrânia, decidiu manter o sobrenome de sua mãe, que é de origem ucraniano. Segundo sua biografia, podemos comprovar que foi salpicado por diversos escândalos de corrupção no passado. Também se podem destacar alguns fatos importantes, como que em 2001 ele foi uma dessas pessoas que criou o "Partido das Regiões" (partido de Yanukovich), partido com o qual rompeu alguns anos depois se convertendo em inimigo político de Yanukovich. Posteriormente, Poroshenko se converteu no principal patrocinador da carreira política de Yulia Timoshenko, com a qual acabou rompendo e que acabaria se convertendo em 2014 em sua principal rival. Poroshenko também foi um dos principais patrocinadores da conhecida "EuroMaidan", aportando dinheiro para comida, água, etc. para dezenas de milhares de pessoas que estavam vivendo durante vários meses na praça central de Kiev.
De fato, como sempre ocorreu ao longo dos 23 anos de existência do Estado da Ucrânia, os ucranianos obtiveram um presidente para cada metade do país. Observando um mapa da Ucrânia com porcentagens de voto de todas as eleições presidenciais, se pode observar que o país sempre se dividiu em duas partes, uma que compreende a zona centro-oeste e outra que compreende o sul-leste. Curiosamente, em cada parte se vota em candidatos opostos. E como em 2005 - Yushenko se converteu em presidente eleito pelo centro-oeste da Ucrânia em 2012 - Yanukovich se converteu em presidente eleito pela zona sul-leste da Ucrânia. Agora Poroshenko é presidente da zona centro-oeste da Ucrânia, e olhando para os resultados eleitorais, se pode observar que em todas as as regiões da zona sul-leste da Ucrânia, a porcentagem de participação eleitoral foi menor que 30%, e em uma grande parte dessa região inclusive inferior a 10%. Incluindo 0% em zonas como Lugansk e Donetsk. A maioria das pessoas das regiões do sul-leste fizeram boicote às eleições porque não havia candidatos que representassem essa região. Finalmente Poroshenko se converteu em presidente ao receber 9,8 milhões de votos, enquanto que a população ucraniana que pode votar é de 40 milhões, pelo que foi votado somente por 24% da população. Em primeiro lugar, seus objetivos políticos eram acabar totalmente com a rebelião do leste da Ucrânia, e posteriormente atacar a Criméia para que voltasse a pertencer à Ucrânia. Também tem planos de se integrar na OTAN para receber apoio militar e na UE para receber apoio econômico para a Ucrânia.
Durante as eleições presidenciais, os chamados candidatos "nacionalistas ucranianos" obtiveram resultados muito baixos: Yarosh ("Setor Direito") 0,9% e Tyagnibok ("Svoboda") 0,9%. É divertido (ou triste), mas até um candidato tão pitoresco quanto Rabinovich (o presidente do Parlamento Judaico da Ucrânia e vice-presidente da União Judaica Européia) obteve 2,2%, que é mais que Yarosh e Tyagnibok juntos. Após esses resultados, logicamente surgem dúvidas sobre a denominada "revolução nacional ucraniana".
"O Setor Direito"
Se falamos do destino do "Setor Direito", agora já é possível dizer que não existe. Se no início das revoltas em Kiev, o "Setor Direito" estava formado por uma unidade de quatro diferentes movimentos nacionalistas ucranianos ("UNA-UNOS", "White Hammer", "SNA-Patriotas da Ucrânia" e "Trizyb"), agora no "Setor Direito" só restou o "Trizyb" (cujo líder era D. Yarosh, que agora é lider do "Setor Direito"). Os outros três movimentos, oficial ou extraoficialmente, abandonaram o "Setor Direito" ao não aceitarem a posição de Yarosh. E de depois de não aceitar a posição de Yarosh, o líder da "UNA-UNOS" A. Myzichko foi assassinado pela polícia e o líder do "White Hammer" V. Goranin foi detido pela polícia, o líder do "SNA" A. Biletskiy decidiu evitar esse mesmo destino e declarou que o "SNA-Patriotas da Ucrânia" não aceita a posição do "Setor Direito" e atuará de forma autônoma. Isso ocorreu depois que Yarosh fez declarações oficiais de que o "Setor Direito" jurava obediência ao novo presidente da Ucrânia, Poroshenko. Pouco antes, o "Setor Direito" (ou o que resta dele), se transformou o "Batalhão Donbas", formado pelo oligarca sionista Kolomoysky (sobre quem já escrevemos anteriormente) para desempenhar o papel de mercenários da guerra de oligarquias entre Kolomoysky e Akhmetov. Mas após a capitulação de Akmetov sem nem ter lutado, o "Batalhão Donbas" começou a desempenhar o papel de um exército da oligarquia privada de Kolomoysky, o qual atua segundo os interesses de seus negócios. Yarosh o explicou com a seguinte frase: "Lutar e arriscar a vida por dinheiro e pela pátria é muito melhor que arriscar a vida só pela pátria". Falando sobre o destino do "SNA", eles também se transformaram em um grupo militar chamado "Batalhão Azov" (segundo os rumores, também criado por Kolomoysky, mas diferentemente do "Setor Direito", o "SNA" nega).
A principal diferença entre os nacionalistas ucranianos que formaram o "Batalhão Donbas" (antigo "Setor Direito", antigo "Trizyb") e os que formaram o "Batalhão Azov" (antigo "SNA") é que as pessoas do "Batalhão Donbas" aceitaram a atual situação política da Ucrânia e o novo governo, enquanto que as pessoas do "Batalhão Azov" ainda declaram que sua "revolução nacional" ainda não terminou e que tão somente começou, e depois de o conflito no leste da Ucrânia ter terminado, voltarão a Kiev para continuar a luta pela revolução nacional contra o governo de Kiev. Segundo suas palavras, seus planos futuros após tomar o poder em Kiev são conquistar a Criméia e algumas regiões do sudoeste da Rússia (Belgorod, Kuban, Rostov, etc.) e, tal e como fica refletido em seu programa político, criar o Império Ucraniano. Atualmente o "Batalhão Azov" conta com aproximadamente entre 300 e 500 membros e, pelos rumores que circulam, alguns de seus membros são voluntários de outros países. Tirando esses batalhões, na Ucrânia existem algumas outras formações militares não-oficiais, algumas das quais foram criadas pelas oligarquias locais, outras por alguns políticos e outras mediante o agrupamento de voluntários. Um dos mais famosos batalhões privados é o "Batalhão de Lyashko" (Oleg Lyashko é um político ucraniano conhecido por sua tendência homossexual, que ficou em terceiro nas eleições presidenciais com 8% dos votos), que passou a ser reconhecido pela tendência sexual de seu principal líder. Obviamente, semelhante diversidade de exércitos privados e grupos paramilitares, os quais escapam ao controle do governo central e que mantém diferentes ideologias, somente trarão mais e mais desestabilização à situação atual da Ucrânia.
O Kremlin em uma encruzilhada
É importante falar sobre a postura do governo da Federação Russa nesse conflito. A informação dos diversos lados do conflito sobre este ponto é realmente diferente. Enquanto que os meios de comunicação ucranianos afirmam que o sudeste da Ucrânia está sendo ocupado pelo exército russo, enviado pessoalmente por Putin, os meios de comunicação russos comentam que o governo da Federação Russa todavia não decidiu o que fazer a respeito, se evadindo com o objetivo de esperar e não fazer nada. Ao mesmo tempo, os defensores da Nova Rússia afirmam que a Federação Russa traiu seu povo, os russos étnicos do leste da Ucrânia e que não estão fazendo nada para ajudar senão o contrário. Por exemplo, Putin deu ordens para fechar as fronteiras da Rússia com o leste da Ucrânia para que os voluntários russos não possam entrar na Nova Rússia, e anteriormente Putin havia pedido às pessoas do sudeste da Ucrânia não fazer referendos nas regiões de Donetsk e Lugansk. Agora Putin somente está mostrando interesse em fechar novos contratos de gás com o novo governo ucraniano e construir sistemas para o transporte do gás, como o gasoduto "South Stream", que atravessa a Criméia (o que explica porque Putin estava interessado em proteger os russos étnicos na Criméia e porque não os protege na Nova Rússia). Ao mesmo tempo, o surgimento de um novo país próximo À fronteira russa, com 6 milhões de pessoas etnicamente russas dispostas a lutar e morrer pela liberdade, poderia ser um perigo para o regime do Kremlin. O exemplo da rebelião nacional russa contra o governo central antinacional da Ucrânia poderia se repetir na Federação Russa. A Nova Rússia, como parte da Rússia, poderia ser algo ainda mais perigoso para a oligarquia das elites do Kremlin pelo mesmo motivo explicado anteriormente e pelas sanções econômicas da UE e dos EUA contra eles.
O perigo para as oligarquias do Kremlin vem direta e abertamente de Igor Strelkov (comandante do exército da Nova Rússia). É difícil acreditar que Putin possa aceitar um Estado independente de 6 milhões de pessoas, sob a liderança pessoal de uma pessoa que textualmente diz o seguinte: "Estou totalmente seguro de que o governo bolchevique ainda existe na Rússia. Sim, este governo sofreu uma mutação que o torna impossível de ser reconhecido. Sim, a ideologia formal de seu governo mudou até um ponto totalmente oposto. Mas a base ainda se mantém imutável: antirrusso, antipatriota e antirreligioso. Neste governo existe gente que são os descendentes diretos da gente que fez a revolução na Rússia em 1917. Eles se maquiaram, mas essencialmente não mudaram. Deixando de lado a ideologia, algo que não lhes permitiria se tornarem mais ricos e desfrutar de benefícios materiais, eles mantiveram o poder na Rússia. Em 1991 houve uma rebelião armada. Mas a contrarrevolução ainda não teve lugar". E isso não o diz como um rebelde comum, senão como oficial russo, como veterano de 4 guerras (Transnístria, Iugoslávia e a Primeira e Segunda Guerras da Chechênia) e como comandante de um exército com mais de dez mil soldados.
Na realidade a situação da Nova Rússia é muito complicada e é impossível saber algo sobre a decisão final das elites do Kremlin sobre isso, ademais de que provavelmente a decisão final todavia não tenha sido tomada, e que cada decisão do Kremlin nessa situação poderia custar sua existência futura. Por outra parte, nas elites do Kremlin é possível que haja diferentes pessoas com diferentes pontos de vista sobre a situação e diferentes interesses a respeito. E ninguém sabe qual é a decisão que será tomada finalmente. Também existe uma teoria da conspiração, promovida pelos meios de comunicação ucranianos, acerca de que tudo o que está ocorrendo no sudeste da Ucrânia teria sido planejado anteriormente pelo Kremlin e segue as diretrizes determinadas pelo Kremlin. E inclusive Strelkov seria agente do Kremlin. Não obstante, essa teoria não parece muito real.
Atualmente, a realidade é que os defensores da Nova Rússia estão recebendo a ajuda habitual procedente da Rússia. Ademais, toda essa ajuda está sendo reunida pelos próprios cidadãos russos, diversas organizações de voluntários estão trazendo remédios, comida, dinheiro e outros produtos necessários para ajudar a Nova Rússia. Ao mesmo tempo, milhares de voluntários estão chegando da Rússia para se unirem aos diferentes grupos de autodefesa. Também estão chegando contingentes de voluntários da Bielorrússia, Transnístria, Ossétia e inclusive de outros lugares como Sérvia, Hungria, República Tcheca, Polônia e Itália. Alguns voluntários europeus chegam como representantes de organizações nacionalistas, por exemplo, a polaca "Falanga" e a húngara "HVIM". Não obstante há problemas armamentísticos e de outra índole, porque como dizem os líderes das autodefesas da Nova Rússia, não há armas suficientes para todos aqueles que estão preparados para se unirem às autodefesas. A maior parte das armas foi trazida por grupos de soldados e policiais ucranianos que decidiram lutar do lado de uma nova república. Algumas armas foram obtidas pelas pessoas mediante o ataque às bases militares do exército ucraniano (segundo os rumores as autodefesas da Nova Rússia roubaram mais de 200 panzers de uma base militar ucraniana). E alguns simplesmente as compraram diretamente do exército ucraniano (a corrupção na Ucrânia segue existindo ainda). Também parece que algumas armas, as quais estão sendo utilizadas pelos rebeldes, procedem da Rússia, posto que o exército ucraniano nunca as utilizou. Mas ninguém sabe se esse armamento chegou como ajuda militar procedente do lado russo ou devido à corrupção do exército russo que vendeu suas armas. Segundo os rumores dos meios de comunicação ucranianos, também existem numerosos agentes militares da Federação Russa, ainda que estes rumores ainda não tenham sido comprovados.
A Batalha do "Álamo Russo".
No que concerne o exército ucraniano, a moral de suas tropas está muito baixa, assim como sua disposição para a luta. O governo ordenou aos soldados que lutem contra os denominados "terroristas-separatistas", considerando assim a mais de 6 milhões de compatriotas. E devido às ações militares do exército ucraniano a cada dia morre um número elevado de mulheres e crianças que vivem nas regiões que não são leais ao novo governo. E, certamente, a maior parte dos soldados ucranianos não está contente em travar essa guerra contra o povo ucraniano (pessoas com passaporte ucraniano).
Simultaneamente, ao longo dos últimos dois meses o exército ucraniano não pôde recuperar o controle da pequena cidade ucraniana de Slavyansk, a qual está sendo defendida por um pequeno grupo de autodefesas. O exército ucraniano tem assediado a cidade e tem tanques, aviões, artilharia e um número de soldados 15 vezes maior que os defensores. Enquanto que algumas centenas de defensores de Slavyansk somente tem pistolas de mão e uma arma antiaérea autopropelida. Mas durante esses dois meses de assédio, o exército ucraniano perdeu mais de mil soldados e vários tanques e aviões, enquanto que os defensores perderam algumas centenas de pessoas, a maioria das quais eram civis. A defesa de Slavyansk recebeu o nome de "A Batalha do Álamo Russo", pelas semelhanças que teve com os fatos ocorridos no Texas em 1836. É interessante o fato de que as principais razões da rebelião antimexicana no Texas também foram: o problema para utilizar a linguagem nativa por parte das pessoas do Texas (o governo central mexicano queria um idioma único no país) e o problema da federalização (a constituição do Novo México estava dando muito poder ao governo central, reduzindo a liberdade política das regiões). E em 1836, os rebeldes finalmente obtém o que querem.
As únicas forças motivadas do chamado bloco "pró-ucraniano" são diferentes batalhões de pequeno tamanho dos nacionalistas ucranianos (como "Azov", "Donbas", etc.) e das "Guardas Nacionais", que é uma organização militar criada pelo novo governo a partir das anteriores autodefesas do "Maidan" (a maioria das pessoas que lutava contra a polícia no centro de Kiev durante o verão), que em sua maior parte são gente com importantes razões para se oporem à criação da Nova Rússia. Essa formação inclui os chauvinistas russofóbicos da zona ocidental da Ucrânia, os defensores mais radicais do novo governo da Ucrânia, que estão dispostos a matar por ele, e também os voluntários de outros países que tem suas próprias razões para participar nessa guerra. Por exemplo, membros das "Guardas Nacionais" são wahhabis chechenos que lutaram na década de 90 na guerra russo-chechena contra os russos, posteriormente lutaram em diferentes conflitos do Oriente Médio e agora voltaram para a Ucrânia para lutar contra os russos. Segundo alguns rumores, nas "Guardas Nacionais" também há alguns grupos de georgianos russofóbicos, gente dos países bálticos e inclusive alguns mercenários estrangeiros de companhias privadas e agentes da OTAN, tanto militares como conselheiros.
É interessante que enquanto os wahhabis chechenos se uniram às "Guardas Nacionais", ao mesmo tempo grupos de chechenos pró-russos se uniram às defesas da Nova Rússia (ainda que até agora não esteja muito claro quem é voluntário e mercenário). A mesma história ocorreu com os sionistas, alguns grupos de sionistas russofóbicos (cujos ancestrais talvez tenham sofrido algum tipo de repressão na URSS) primeiro se uniram aos "Cem Judeus do Maidan" e posteriormente às "Guardas Nacionais". Enquanto outros grupos de israelenses (também ex-cidadãos da URSS) diziam que estavam preparados para ajudar a Nova Rússia. E alguns membros das comunidades sionistas locais da República de Lugansk chegaram a fazer um ritual para se impôr à oligarquia de Kolomoysky.
Conclusões
Finalmente, pelos detalhes mencionados podemos confirmar que o conflito da Ucrânia é complexo, e que em cada bando se podem encontrar pessoas de qualquer nacionalidade, religião e ideologia. Isso explica por que ambos bandos se difamam mutuamente com os mesmos qualificativos: separatistas, fascistas, nazis, antifascistas, comunistas, neobolcheviques, soviéticos, imperialistas, mercenários, russos, ucranianos, judeus, chechenos, etc. Mas se deixarmos à margem as individualidades e nos centrarmos em descrever as características gerias, podemos ver um conflito nacional entre russos e ucranianos (quer dizer, um conflito de identidades e não de etnias, porque as etnias russa e ucraniana são praticamente idênticas, com raras exceções). Este conflito se baseia em interesses de forças exteriores e foi posto em marcha pelo novo governo ucraniano, que está totalmente disposto a servir aos interesses estrangeiros. A situação parece idêntica à situação na Iugoslávia e o conflito nacional entre sérvios e croatas dos anos 90, os quais levaram a uma catástrofe total para os sérvios e para a Iugoslávia. Agora parece óbvio que o principal objetivo do conflito da Ucrânia seja a Rússia, e que o o último presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, após o conflito da Iugoslávia, predisse essa situação com total precisão e acerto, advertindo a Rússia sobre isso.
Em conclusão, é possível assinalar o fato de que o Estado ucraniano se dirige rumo a seu desaparecimento. A situação do Estado ucraniano atualmente é de colapso total, dirigido por controle remoto desde o outro lado do oceano, vivendo uma situação de crise econômica total e uma guerra civil. Se trata de um Estado em que a metade do território foge ao controle do governo central, o qual recebeu o poder em um país através de um golpe anticonstitucional. Esse é o Estado em que os oligarcas tem exércitos privados, os quais servem a seus interesses privados e fogem ao controle do governo central, e onde a população de uma parte do país odeia a população da outra metade do país. Ucrânia é o Estado em que as pessoas leais ao novo governo podem queimar vivas mais de 100 compatriotas que tenham pontos de vista diferentes em relação ao novo governo sem receber nenhum castigo por semelhantes ações (como ocorreu em Odessa em 2 de maio de 2014).
E esse é o Estado em que o governo central considera que 6 milhões de seus cidadãos são terroristas (incluindo mulheres e crianças) e enviam o exército para bombardear civis, pelo simples motivo de que essa gente quer falar o idioma de seus antepassados e dispor de maiores direitos políticos e liberdades em suas regiões. Assim, podemos ver que a Ucrânia é um bom exemplo de "Estado Falido", o qual não tem futuro, mas sim todas as probabilidades de repetir o destino da Iugoslávia ou de se transformar na Somália da Europa.
Esse colapso da Ucrânia, produzido pela pressão de fatores internos e externos foi previsto há alguns anos por diferentes politólogos, por exemplo, pelo famoso Samuel Huntington e por Aleksandr Dugin. Desde o momento em que apareceu o Estado artificial da Ucrânia em 1991, a Ucrânia, tarde ou cedo estava condenada ao colapso, e inclusive se esse colapso não se produzisse na atualidade, se produziria mais tarde. Ninguém pode prever como vai terminar esse conflito, mas é óbvio que o resultado mudará a história do mundo. E em um futuro próximo todos teremos participado ou teremos sido testemunhas de um grande triunfo ou de uma grande catástrofe.
Durante as eleições presidenciais, os chamados candidatos "nacionalistas ucranianos" obtiveram resultados muito baixos: Yarosh ("Setor Direito") 0,9% e Tyagnibok ("Svoboda") 0,9%. É divertido (ou triste), mas até um candidato tão pitoresco quanto Rabinovich (o presidente do Parlamento Judaico da Ucrânia e vice-presidente da União Judaica Européia) obteve 2,2%, que é mais que Yarosh e Tyagnibok juntos. Após esses resultados, logicamente surgem dúvidas sobre a denominada "revolução nacional ucraniana".
"O Setor Direito"
Se falamos do destino do "Setor Direito", agora já é possível dizer que não existe. Se no início das revoltas em Kiev, o "Setor Direito" estava formado por uma unidade de quatro diferentes movimentos nacionalistas ucranianos ("UNA-UNOS", "White Hammer", "SNA-Patriotas da Ucrânia" e "Trizyb"), agora no "Setor Direito" só restou o "Trizyb" (cujo líder era D. Yarosh, que agora é lider do "Setor Direito"). Os outros três movimentos, oficial ou extraoficialmente, abandonaram o "Setor Direito" ao não aceitarem a posição de Yarosh. E de depois de não aceitar a posição de Yarosh, o líder da "UNA-UNOS" A. Myzichko foi assassinado pela polícia e o líder do "White Hammer" V. Goranin foi detido pela polícia, o líder do "SNA" A. Biletskiy decidiu evitar esse mesmo destino e declarou que o "SNA-Patriotas da Ucrânia" não aceita a posição do "Setor Direito" e atuará de forma autônoma. Isso ocorreu depois que Yarosh fez declarações oficiais de que o "Setor Direito" jurava obediência ao novo presidente da Ucrânia, Poroshenko. Pouco antes, o "Setor Direito" (ou o que resta dele), se transformou o "Batalhão Donbas", formado pelo oligarca sionista Kolomoysky (sobre quem já escrevemos anteriormente) para desempenhar o papel de mercenários da guerra de oligarquias entre Kolomoysky e Akhmetov. Mas após a capitulação de Akmetov sem nem ter lutado, o "Batalhão Donbas" começou a desempenhar o papel de um exército da oligarquia privada de Kolomoysky, o qual atua segundo os interesses de seus negócios. Yarosh o explicou com a seguinte frase: "Lutar e arriscar a vida por dinheiro e pela pátria é muito melhor que arriscar a vida só pela pátria". Falando sobre o destino do "SNA", eles também se transformaram em um grupo militar chamado "Batalhão Azov" (segundo os rumores, também criado por Kolomoysky, mas diferentemente do "Setor Direito", o "SNA" nega).
A principal diferença entre os nacionalistas ucranianos que formaram o "Batalhão Donbas" (antigo "Setor Direito", antigo "Trizyb") e os que formaram o "Batalhão Azov" (antigo "SNA") é que as pessoas do "Batalhão Donbas" aceitaram a atual situação política da Ucrânia e o novo governo, enquanto que as pessoas do "Batalhão Azov" ainda declaram que sua "revolução nacional" ainda não terminou e que tão somente começou, e depois de o conflito no leste da Ucrânia ter terminado, voltarão a Kiev para continuar a luta pela revolução nacional contra o governo de Kiev. Segundo suas palavras, seus planos futuros após tomar o poder em Kiev são conquistar a Criméia e algumas regiões do sudoeste da Rússia (Belgorod, Kuban, Rostov, etc.) e, tal e como fica refletido em seu programa político, criar o Império Ucraniano. Atualmente o "Batalhão Azov" conta com aproximadamente entre 300 e 500 membros e, pelos rumores que circulam, alguns de seus membros são voluntários de outros países. Tirando esses batalhões, na Ucrânia existem algumas outras formações militares não-oficiais, algumas das quais foram criadas pelas oligarquias locais, outras por alguns políticos e outras mediante o agrupamento de voluntários. Um dos mais famosos batalhões privados é o "Batalhão de Lyashko" (Oleg Lyashko é um político ucraniano conhecido por sua tendência homossexual, que ficou em terceiro nas eleições presidenciais com 8% dos votos), que passou a ser reconhecido pela tendência sexual de seu principal líder. Obviamente, semelhante diversidade de exércitos privados e grupos paramilitares, os quais escapam ao controle do governo central e que mantém diferentes ideologias, somente trarão mais e mais desestabilização à situação atual da Ucrânia.
O Kremlin em uma encruzilhada
É importante falar sobre a postura do governo da Federação Russa nesse conflito. A informação dos diversos lados do conflito sobre este ponto é realmente diferente. Enquanto que os meios de comunicação ucranianos afirmam que o sudeste da Ucrânia está sendo ocupado pelo exército russo, enviado pessoalmente por Putin, os meios de comunicação russos comentam que o governo da Federação Russa todavia não decidiu o que fazer a respeito, se evadindo com o objetivo de esperar e não fazer nada. Ao mesmo tempo, os defensores da Nova Rússia afirmam que a Federação Russa traiu seu povo, os russos étnicos do leste da Ucrânia e que não estão fazendo nada para ajudar senão o contrário. Por exemplo, Putin deu ordens para fechar as fronteiras da Rússia com o leste da Ucrânia para que os voluntários russos não possam entrar na Nova Rússia, e anteriormente Putin havia pedido às pessoas do sudeste da Ucrânia não fazer referendos nas regiões de Donetsk e Lugansk. Agora Putin somente está mostrando interesse em fechar novos contratos de gás com o novo governo ucraniano e construir sistemas para o transporte do gás, como o gasoduto "South Stream", que atravessa a Criméia (o que explica porque Putin estava interessado em proteger os russos étnicos na Criméia e porque não os protege na Nova Rússia). Ao mesmo tempo, o surgimento de um novo país próximo À fronteira russa, com 6 milhões de pessoas etnicamente russas dispostas a lutar e morrer pela liberdade, poderia ser um perigo para o regime do Kremlin. O exemplo da rebelião nacional russa contra o governo central antinacional da Ucrânia poderia se repetir na Federação Russa. A Nova Rússia, como parte da Rússia, poderia ser algo ainda mais perigoso para a oligarquia das elites do Kremlin pelo mesmo motivo explicado anteriormente e pelas sanções econômicas da UE e dos EUA contra eles.
O perigo para as oligarquias do Kremlin vem direta e abertamente de Igor Strelkov (comandante do exército da Nova Rússia). É difícil acreditar que Putin possa aceitar um Estado independente de 6 milhões de pessoas, sob a liderança pessoal de uma pessoa que textualmente diz o seguinte: "Estou totalmente seguro de que o governo bolchevique ainda existe na Rússia. Sim, este governo sofreu uma mutação que o torna impossível de ser reconhecido. Sim, a ideologia formal de seu governo mudou até um ponto totalmente oposto. Mas a base ainda se mantém imutável: antirrusso, antipatriota e antirreligioso. Neste governo existe gente que são os descendentes diretos da gente que fez a revolução na Rússia em 1917. Eles se maquiaram, mas essencialmente não mudaram. Deixando de lado a ideologia, algo que não lhes permitiria se tornarem mais ricos e desfrutar de benefícios materiais, eles mantiveram o poder na Rússia. Em 1991 houve uma rebelião armada. Mas a contrarrevolução ainda não teve lugar". E isso não o diz como um rebelde comum, senão como oficial russo, como veterano de 4 guerras (Transnístria, Iugoslávia e a Primeira e Segunda Guerras da Chechênia) e como comandante de um exército com mais de dez mil soldados.
Na realidade a situação da Nova Rússia é muito complicada e é impossível saber algo sobre a decisão final das elites do Kremlin sobre isso, ademais de que provavelmente a decisão final todavia não tenha sido tomada, e que cada decisão do Kremlin nessa situação poderia custar sua existência futura. Por outra parte, nas elites do Kremlin é possível que haja diferentes pessoas com diferentes pontos de vista sobre a situação e diferentes interesses a respeito. E ninguém sabe qual é a decisão que será tomada finalmente. Também existe uma teoria da conspiração, promovida pelos meios de comunicação ucranianos, acerca de que tudo o que está ocorrendo no sudeste da Ucrânia teria sido planejado anteriormente pelo Kremlin e segue as diretrizes determinadas pelo Kremlin. E inclusive Strelkov seria agente do Kremlin. Não obstante, essa teoria não parece muito real.
Atualmente, a realidade é que os defensores da Nova Rússia estão recebendo a ajuda habitual procedente da Rússia. Ademais, toda essa ajuda está sendo reunida pelos próprios cidadãos russos, diversas organizações de voluntários estão trazendo remédios, comida, dinheiro e outros produtos necessários para ajudar a Nova Rússia. Ao mesmo tempo, milhares de voluntários estão chegando da Rússia para se unirem aos diferentes grupos de autodefesa. Também estão chegando contingentes de voluntários da Bielorrússia, Transnístria, Ossétia e inclusive de outros lugares como Sérvia, Hungria, República Tcheca, Polônia e Itália. Alguns voluntários europeus chegam como representantes de organizações nacionalistas, por exemplo, a polaca "Falanga" e a húngara "HVIM". Não obstante há problemas armamentísticos e de outra índole, porque como dizem os líderes das autodefesas da Nova Rússia, não há armas suficientes para todos aqueles que estão preparados para se unirem às autodefesas. A maior parte das armas foi trazida por grupos de soldados e policiais ucranianos que decidiram lutar do lado de uma nova república. Algumas armas foram obtidas pelas pessoas mediante o ataque às bases militares do exército ucraniano (segundo os rumores as autodefesas da Nova Rússia roubaram mais de 200 panzers de uma base militar ucraniana). E alguns simplesmente as compraram diretamente do exército ucraniano (a corrupção na Ucrânia segue existindo ainda). Também parece que algumas armas, as quais estão sendo utilizadas pelos rebeldes, procedem da Rússia, posto que o exército ucraniano nunca as utilizou. Mas ninguém sabe se esse armamento chegou como ajuda militar procedente do lado russo ou devido à corrupção do exército russo que vendeu suas armas. Segundo os rumores dos meios de comunicação ucranianos, também existem numerosos agentes militares da Federação Russa, ainda que estes rumores ainda não tenham sido comprovados.
A Batalha do "Álamo Russo".
No que concerne o exército ucraniano, a moral de suas tropas está muito baixa, assim como sua disposição para a luta. O governo ordenou aos soldados que lutem contra os denominados "terroristas-separatistas", considerando assim a mais de 6 milhões de compatriotas. E devido às ações militares do exército ucraniano a cada dia morre um número elevado de mulheres e crianças que vivem nas regiões que não são leais ao novo governo. E, certamente, a maior parte dos soldados ucranianos não está contente em travar essa guerra contra o povo ucraniano (pessoas com passaporte ucraniano).
Simultaneamente, ao longo dos últimos dois meses o exército ucraniano não pôde recuperar o controle da pequena cidade ucraniana de Slavyansk, a qual está sendo defendida por um pequeno grupo de autodefesas. O exército ucraniano tem assediado a cidade e tem tanques, aviões, artilharia e um número de soldados 15 vezes maior que os defensores. Enquanto que algumas centenas de defensores de Slavyansk somente tem pistolas de mão e uma arma antiaérea autopropelida. Mas durante esses dois meses de assédio, o exército ucraniano perdeu mais de mil soldados e vários tanques e aviões, enquanto que os defensores perderam algumas centenas de pessoas, a maioria das quais eram civis. A defesa de Slavyansk recebeu o nome de "A Batalha do Álamo Russo", pelas semelhanças que teve com os fatos ocorridos no Texas em 1836. É interessante o fato de que as principais razões da rebelião antimexicana no Texas também foram: o problema para utilizar a linguagem nativa por parte das pessoas do Texas (o governo central mexicano queria um idioma único no país) e o problema da federalização (a constituição do Novo México estava dando muito poder ao governo central, reduzindo a liberdade política das regiões). E em 1836, os rebeldes finalmente obtém o que querem.
As únicas forças motivadas do chamado bloco "pró-ucraniano" são diferentes batalhões de pequeno tamanho dos nacionalistas ucranianos (como "Azov", "Donbas", etc.) e das "Guardas Nacionais", que é uma organização militar criada pelo novo governo a partir das anteriores autodefesas do "Maidan" (a maioria das pessoas que lutava contra a polícia no centro de Kiev durante o verão), que em sua maior parte são gente com importantes razões para se oporem à criação da Nova Rússia. Essa formação inclui os chauvinistas russofóbicos da zona ocidental da Ucrânia, os defensores mais radicais do novo governo da Ucrânia, que estão dispostos a matar por ele, e também os voluntários de outros países que tem suas próprias razões para participar nessa guerra. Por exemplo, membros das "Guardas Nacionais" são wahhabis chechenos que lutaram na década de 90 na guerra russo-chechena contra os russos, posteriormente lutaram em diferentes conflitos do Oriente Médio e agora voltaram para a Ucrânia para lutar contra os russos. Segundo alguns rumores, nas "Guardas Nacionais" também há alguns grupos de georgianos russofóbicos, gente dos países bálticos e inclusive alguns mercenários estrangeiros de companhias privadas e agentes da OTAN, tanto militares como conselheiros.
É interessante que enquanto os wahhabis chechenos se uniram às "Guardas Nacionais", ao mesmo tempo grupos de chechenos pró-russos se uniram às defesas da Nova Rússia (ainda que até agora não esteja muito claro quem é voluntário e mercenário). A mesma história ocorreu com os sionistas, alguns grupos de sionistas russofóbicos (cujos ancestrais talvez tenham sofrido algum tipo de repressão na URSS) primeiro se uniram aos "Cem Judeus do Maidan" e posteriormente às "Guardas Nacionais". Enquanto outros grupos de israelenses (também ex-cidadãos da URSS) diziam que estavam preparados para ajudar a Nova Rússia. E alguns membros das comunidades sionistas locais da República de Lugansk chegaram a fazer um ritual para se impôr à oligarquia de Kolomoysky.
Conclusões
Finalmente, pelos detalhes mencionados podemos confirmar que o conflito da Ucrânia é complexo, e que em cada bando se podem encontrar pessoas de qualquer nacionalidade, religião e ideologia. Isso explica por que ambos bandos se difamam mutuamente com os mesmos qualificativos: separatistas, fascistas, nazis, antifascistas, comunistas, neobolcheviques, soviéticos, imperialistas, mercenários, russos, ucranianos, judeus, chechenos, etc. Mas se deixarmos à margem as individualidades e nos centrarmos em descrever as características gerias, podemos ver um conflito nacional entre russos e ucranianos (quer dizer, um conflito de identidades e não de etnias, porque as etnias russa e ucraniana são praticamente idênticas, com raras exceções). Este conflito se baseia em interesses de forças exteriores e foi posto em marcha pelo novo governo ucraniano, que está totalmente disposto a servir aos interesses estrangeiros. A situação parece idêntica à situação na Iugoslávia e o conflito nacional entre sérvios e croatas dos anos 90, os quais levaram a uma catástrofe total para os sérvios e para a Iugoslávia. Agora parece óbvio que o principal objetivo do conflito da Ucrânia seja a Rússia, e que o o último presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, após o conflito da Iugoslávia, predisse essa situação com total precisão e acerto, advertindo a Rússia sobre isso.
Em conclusão, é possível assinalar o fato de que o Estado ucraniano se dirige rumo a seu desaparecimento. A situação do Estado ucraniano atualmente é de colapso total, dirigido por controle remoto desde o outro lado do oceano, vivendo uma situação de crise econômica total e uma guerra civil. Se trata de um Estado em que a metade do território foge ao controle do governo central, o qual recebeu o poder em um país através de um golpe anticonstitucional. Esse é o Estado em que os oligarcas tem exércitos privados, os quais servem a seus interesses privados e fogem ao controle do governo central, e onde a população de uma parte do país odeia a população da outra metade do país. Ucrânia é o Estado em que as pessoas leais ao novo governo podem queimar vivas mais de 100 compatriotas que tenham pontos de vista diferentes em relação ao novo governo sem receber nenhum castigo por semelhantes ações (como ocorreu em Odessa em 2 de maio de 2014).
E esse é o Estado em que o governo central considera que 6 milhões de seus cidadãos são terroristas (incluindo mulheres e crianças) e enviam o exército para bombardear civis, pelo simples motivo de que essa gente quer falar o idioma de seus antepassados e dispor de maiores direitos políticos e liberdades em suas regiões. Assim, podemos ver que a Ucrânia é um bom exemplo de "Estado Falido", o qual não tem futuro, mas sim todas as probabilidades de repetir o destino da Iugoslávia ou de se transformar na Somália da Europa.
Esse colapso da Ucrânia, produzido pela pressão de fatores internos e externos foi previsto há alguns anos por diferentes politólogos, por exemplo, pelo famoso Samuel Huntington e por Aleksandr Dugin. Desde o momento em que apareceu o Estado artificial da Ucrânia em 1991, a Ucrânia, tarde ou cedo estava condenada ao colapso, e inclusive se esse colapso não se produzisse na atualidade, se produziria mais tarde. Ninguém pode prever como vai terminar esse conflito, mas é óbvio que o resultado mudará a história do mundo. E em um futuro próximo todos teremos participado ou teremos sido testemunhas de um grande triunfo ou de uma grande catástrofe.