por Alain de Benoist
Se tem caracterizado o século XX de múltiplas formas: século da entrada na era atômica, século da descolonização, da liberação sexual, século dos "extremos" ( Eric Hobsbawm), da "paixão pelo real" (Alain Badiou), do triunfo da "metafísica da subjetividade" (Heidegger), século da tecnocracia, século da globalização, etc. O século XX foi, sem dúvida, tudo isso. Porém também é o século no qual se produz o apogeu da paixão consumista, a devastação do planeta e, como reação, o surgimento da preocupação ecológica. Para Peter Sloterdijk, que caracteriza à modernidade pelo "princípio da superabundância", o século XX é antes de tudo o século do esbanjamento. "Enquanto que, para a tradição - escreve o filósofo alemão - o esbanjamento constituía o pecado por antonomasia contra o espírito de subsistência, posto que colocava em jogo a reserva sempre insuficiente de meios de sobrevivência, se produziu na era das energias fósseis uma profunda mudança de sentido em relação ao esbanjamento: se pode dizer que atualmente o esbanjamento se converteu no primeiro dever cívico (...). O proibido já não é o esbanjamento, senão a frugalidade: como se expressa nas convocações constantes a manter a demanda interior".
Ao início do século XXI, que se anuncia como um século no qual a "fluidez" (Zygmunt Bauman) tende a substituir ao sólido - como o efêmero substitui ao duradouro, como as redes substituem às organizações, as comunidades às nações, os sentimentos transitórios às paixões de toda uma vida, os compromissos pontuais às vocações imutáveis, os intercâmbios nômades às relações sociais enraizadas, a lógica do Mar à da Terra - se constata que o homem terá consumido em um século reservas que a natureza havia tardado em forjar por 300 milhões de anos.
As sociedades antigas haviam compreendido espontaneamente que não pode existir nenhuma vida social que não tenha em conta o meio matural no qual se desenvolve: Em De senectute, evocando este verso citado por Cato: "Uma árvore vá plantar em prol de outros tempos", Cícero escreve o seguinte: "Por velho que seja, o camponês a quem se pergunta em favor de quem está plantando algo, não duvida em responder: 'Em favor dos deuses imortais, que querem que, sem me contentar em receber estes bens de meus antepassados, os transmita a meus descendentes'". A reprodução duradoura tem sido a norma em todas as culturas humanas até o século XVIII. Qualquer camponês de outra era, sem saber, era um especialista em "sustentabilidade". Porém também os poderes públicos não raro o eram. Um exemplo típico é de Colbert, quem, regulamentando os cortes de bosques para assegurar o reflorestamento, fazia plantar carvalhos com o fim de obter mastros de barcos trezentos anos depois.
Os modernos tem atuado ao revés. Não deixaram de se comportar como se as "reservas" naturais pudessem se multiplicar ao infinito - como se o planeta, em todas as suas dimensões, não fosse um espaço finito. Em cada instante presente tem empobrecido o futuro ao consumir em excesso o passado.
Em relação a isso, os dois problemas principais são, por um lado, a degradação do meio natural de vida sob o efeito das contaminações de todo tipo, as quais também tem consequências diretas na vida humana e na de todos os seres vivos; e, por outro lado, o esgotamento das matérias primas e dos recursos naturais atualmente indispensáveis para a atividade econômica.
Já se descreveu muitas vezes as contaminações para que seja necessário retornar a isso. Recordemos tão somente que a produção anual de lixo nos vinte e cinco países da OCDE chega atualmente a 4.000 milhões de toneladas. O aumento da quantidade de gás carbônico na atmosfera, que acarreta a concentração dos gases com efeito estufa e, assim, o reaquecimento geral do planeta, em particular nos pólos, provoca um inquietante aumento do nível do mar, intensifica a erosão dos solos, agrava os efeitos da seca, explica o aumento da frequência e intensidade dos temporais, dos ciclones tropicais, dos maremotos, das canículas, dos incêndios florestais, etc. Ao mesmo tempo, prossegue o desmatamento a um ritmo alucinante (a superfície florestal destruída a cada ano equivale à superfície da Grécia), enquanto que se esgotam as reservas naturais. O petróleo se extrairá, dentro de pouco, com rendimento descrescente, ao mesmo tempo que segue aumentando sua demanda. As energias renováveis somente representam atualmente 5,2% de toda a energia consumida no mundo. Seria vão esperar demasiado delas. Quanto ao "desenvolvimento sustentável", de que tanto se fala desde 1973 (informe Brundland), à parte de que se apresenta acima de tudo como uma postura midiática, somente consegue no melhor dos casos atrasar os prazos ineludíveis.
Na ótica do desenvolvimento sustentável, o meio natural de vida somente é uma variável constritiva que aumenta o custo do funcionamento de um sistema encaminhado ao crescimento infinito dos produtos mercantis. Esse modo de desenvolvimento não questiona em absoluto o princípio de um crescimento sem fim, cuja possibilidade tenta salvar, ao tempo que afirma buscar os meios que não a façam ecologicamente catastrófica. Essa proposição se parece à quadratura do círculo. Se for admitido, em efeito, que o desenvolvimento é a causa principal da degradação do meio natural de vida, é completamente ilusório querer satisfazer "ecologicamente" as necessidades da atual geração sem questionar a natureza dessas necessidades. Como já demonstrou em múltiplas ocasiões Serge Latouche, a teoria do desenvolvimento sustentável se contenta, para fazer frente aos problemas, com desenvolver procedimentos ou técnicas de controle que cuidam dos efeitos desses males sem atuar sobre as causas. Resulta, desse modo, particularmente enganosa, pois faz crer que resulta possível remediar a crise sem questionar a lógica mercantil, o imaginário econômico, o sistema monetário e a expansão ilimitada do capital. Em realidade, se condena dentro de certo prazo, na medida em que se situa no marco de um sistema de produção e de soncumo que é a causa essencial dos danos que pretende remediar.
Em tais condições, é totalmente natural que surja outra teoria: a que tenta organizar o descrescimento. Tal termo pode atemorizar ou parecer utópico. Se trata, em qualquer caso, de uma perspectiva que merece ser explorada, como já estão fazendo em muitos países, numerosos economistas e investigadores. O decrescimento representa uma alternativa em forma de ruptura. Porém não será possível mais do que se for produzida uma transformação geral dos espíritos. Serge Latouche fala com muita razão em "descolonizar o imaginário". Isso obriga a combater o produtivismo em todas as suas formas existentes: não se trata de voltar atrás, senão de superar. Se trata de retirar de nossas cabeças a primazia da economia e a obsessão do consumo, que fizeram com que o homem se faça estranho a si mesmo. Se trata de romper com o mundo dos objetos para reinstaurar o dos homens.