por Fernando Rodrigues Batista
Acabo de ler o editorial de um jornal local – cujo nome não cito propositalmente – onde sob o título “Aids e infância”, apresenta dados oferecidos pelo Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e AIDS do Ministério da Saúde o qual divulgou que em torno de nove mil crianças e adolescentes convivem com a AIDS, no Brasil.
Ressalta o próprio editorial que “adquiriram a doença ainda no ventre materno ou por relação sexual precoce”, para depois dizer que há muito a se fazer em relação a políticas públicas, dirigidas a este público. E por fim exige: “O Estado precisa ser arrojado nas políticas públicas, a família se fazer presente, a escola fazer sua parte a igreja precisa absolver a camisinha”.
Pois bem! O interesse repentino pelo assunto ora em questão, pelo mencionado jornal, decorre das críticas feitas ao malfadado “Caderno das coisas importantes”, que faz parte do programa “saúde nas escolas”, projeto dos Ministérios da Saúde e da Educação do Governo Federal que conta com o apoio da Unicef e da Unesco, órgãos ligados à ONU. O “Caderno...” é destinado a estudantes entre 13 e 19 anos.
Segundo o Ministério da Saúde, o objetivo central do programa “saúde nas escolas” é a promoção da saúde sexual e da saúde reprodutiva, visando reduzir a vulnerabilidade de adolescentes e jovens às DST, à infecção pelo HIV, à AIDS e à gravidez não-planejada, por meio de ações nas escolas e nas unidades básicas de saúde.
Uma breve leitura do denominado “Caderno das Coisas Importantes” levará o leitor a facilmente concluir que o mesmo se reduz a incitar em todo momento o adolescente à prática sexual, porém ressalvando que existem doenças sexualmente transmissíveis e gravidez “não planejada” dela decorrentes e a apresentar (ainda que em linguagem vulgar) um “elemento mágico” – a camisinha - que vai “livrá-lo” destes “inconvenientes”, mesmo que para isso tenha que “omitir” que esta “informação” é fraudulenta.
O Ministério da Saúde e da Educação com a pretensa finalidade de combater uma enfermidade física, não repara (ou repara e este seria o pano de fundo por trás do programa?) na enfermidade espiritual e metafísica da permissividade.
O ato sexual, consoante o “Caderno das Coisas Importantes” é isso: gozo e satisfação. Este é o sexo como faculdade ginástica. Banaliza-se a sexualidade ao incitar sua prática precoce (não era essa uma das razões do alto índice de crianças e adolescentes com AIDS entre nós?), que a limita, a uma mera gestualidade física.
Este ato sexual tem apenas dois problemas, como mencionamos: a AIDS, que é mortal e a gravidez adolescente "não planejada", que é social, já que deixa como conseqüência, o aumento de famílias monoparentais, visto que o programa governamental não educa o adolescente no sentido de buscar uma relação duradoura e permanente, baseada no amor, mas sim uma relação fugaz e passageira (“ficada” como ensina o próprio “Caderno”), baseada no prazer individualista.
Assim, se o ato sexual é apresentado desvinculado da fecundidade (que é sua finalidade precípua, queiram ou não os hedonistas estatais), através de uma relação duradoura e permanente, e reduzido única e exclusivamente ao prazer momentâneo, através de relações relâmpagos, então, se dá a nivelação de todas as experiências sexuais.
O igualitarismo neste domínio faz com que todas - experiências sexuais - tenham o mesmo valor. As relações heterossexuais, homossexuais, bissexuais, auto-satisfações (masturbação), tornam-se equivalentes. Tudo está permitido em função do maior gozo.
Acerca da masturbação, o “Caderno...” ensina de forma pormenorizada como fazê-la e a qualifica como natural.
Nesse ponto cabe transcrever a penetrante análise feita por C. S Lewis sobre este hábito: “Para mim o verdadeiro mal da masturbação consiste em que toma um apetite – que legitimamente usado faz sair o individuo de si mesmo para completar (e corrigir) sua própria personalidade na de outra pessoa (e em ultimo término nos filhos e netos) – dirigindo-o em sentido contrário, para a prisão interior de si mesmo, para criar um harém de noivas imaginárias. Neste harém, uma vez aceito, resiste a abandoná-lo para sair e unir-se verdadeiramente com uma mulher real. Porque tal harém se encontra sempre a mão, sempre dócil, não exige sacrifícios nem renúncias e pode ser adornado com atrações eróticas e psicológicas com as que nenhuma mulher real pode competir”.
Corroborando a tese de Lewis, o filósofo francês Gustave Thibon salientava que já não sabemos ser fiéis porque não sabemos sacrificar-nos. E acrescentava o autodidata camponês: "Tantos homens há que só amam pelo prazer imediato... Condenam-se, deste modo, a conhecer apenas a superfície do objeto amado, e, quando esta superfície os desilude, a trocá-lo por uma outra superfície, e assim por diante. Mas aquele que quer saborear a profundidade de uma criatura deve saber sacrificar-se por essa criatura; o seu amor deve superar as decepções, superar o hábito; mais ainda, deve alimentar-se dessas decepções e desse hábito. O amor humano tem a sua aridez e as suas noites; também ele não encontra o seu centro definitivo senão para além da prova sofrida e vencida. Mas, uma vez chegado a esse ponto, ele saboreará a riqueza, a pureza eterna da criatura pela qual se imolou. Porque, se a criatura é tremendamente limitada em superfície, é infinita em profundidade. É profunda até Deus".
O ato sexual não se esgota em si mesmo como sucede com “os outros gozos”: uma boa comida, uma peça de teatro ou um filme, a observação de um quadro ou uma escultura, ou ainda a audição de uma boa sinfonia.
A sexualidade plena exige a existência de um projeto. O sexo exige fecundidade, que por sua vez não se limita a fecundidade física, senão a um projeto em conjunto de construir um futuro (fecundidade existêncial). Aqui, o sexo abre o sentido da vida em comum (de forma duradoura e permanente).
O sexo ocasional, passageiro ou prostibular, termina no sabor amargo de encontrar-se em uma solidão maior após sua consecução.
Nesse sentido, o “Caderno das Coisas Importantes” constitui-se em um atentado contra o adolescente por privá-lo de descobrir esse mistério da sexualidade em sua integralidade e em seu devido tempo, incitando a prática precoce do ato sexual em sua forma mais baixa e promiscua: o puro prazer egoístico, o qual, diga-se de passagem, não “reduz a vulnerabilidade de adolescentes e jovens às DST, à infecção pelo HIV, à aids e à gravidez não-planejada”, como “pretende” o Governo, mas sim, ao revés, a acentua de forma considerável.
Alias, cabe salientar ainda, que programa análogo e com a mesma finalidade ao do Ministério da Saúde e da Educação foi rechaçado pelo senado da Índia. Curiosamente, o programa de educação sexual que se queria impor nas escolas indianas, teria por base materiais provenientes da UNICEF, um dos órgãos internacionais, juntamente com a Unesco, que apóia o programa brasileiro.
Para o Senado hindu, caso fosse aplicado o programa proposto, ele “corromperia a juventude indiana e levaria ao colapso o sistema educacional”, e ao contrário de sua “pretensa” finalidade, "só exacerbaria as gravidezes prematuras e incitaria a promiscuidade sexual", pois tal programa se reduz a incitação à "educação para usar preservativos" que produz uma "sociedade imoral".
É o que vai acontecer em nossa pátria se não se proliferarem as ações no sentido de impedir que o “Caderno das coisas importantes” continue a ser distribuído nas escolas da rede pública de ensino. É o famoso remédio de efeito retardado.
Por fim, somos obrigado a concordar com o matutino local quando este afirma que um dos fatores que mais contrubuem para alto índice de crianças e adolescentes com AIDS é a prátca precoce do ato sexual.
Pois bem! Como está informção é oriunda do Ministério da Saúde e este, por sua vez, junto com o Ministério da Educação, é responsável pelo programa "saúde e prevenção nas escolas", do qual faz parte o "Caderno das Coisas Importantes", que está sendo introduzido nas escolas da rede pública de ensino concomitantemente a "máquinas de preservativos" (como pretende o programa), que serão distribuídos como "balas" para crianças e adolescentes, sou levado a concluir, por questão de lógica que: o Governo Federal, antes de contribuir para a erradicação, está ao revés, "de forma consciente", contribuindo para a proliferanção do vírus da AIDS entre crianças e adolescentes.
Para os propagandistas do hedonismo irresponsável, incluindo o responsável pelo medíocre editorial referido no inicio do artigo, deixo a profunda lição do já citado Gustave Thibon:
"A sexualidade? Esses adoradores desenfreados da carne são, quase sempre, incapazes não apenas de amar profunda e duradouramente, mas até de sentir uma paixão autêntica. A sexualidade — reduzida a seus componentes elementares (e por isso mesmo já desnaturada, pois o homem pode imitar tudo do animal, menos a inocência dos instintos) — não une mais, não vincula mais; é uma troca à flor da pele, um "bem de consumo" que não exige nenhum investimento. Ora, a vida sem preocupações foi sempre negócio dos pobres, não dos ricos.
O que prova o caráter artificial dessa exaltação do sexo é que ela coincide com o desaparecimento progressivo das diferenças sexuais.
Irei mais longe: esse frenesi do sexo, para muitos de nossos contemporâneos, não chega até os atos. É mais uma obsessão do espírito que uma necessidade do corpo: exerce-se (se assim posso expressar-me) por procuração: inúmeros indivíduos buscam no relato ou no espetáculo dos amores dos outros (quer se trate de personagens reais ou fictícios) uma concepção imaginária para a esterilidade de sua própria existência. Assim se explica o sucesso desmesurado do erotismo na literatura (aí se compreendendo as numerosas produções pseudo-científicas consagradas aos problemas sexuais) e em todos os outros meios de informação: cinema, televisão, publicidade, etc. Essa excitação cerebral não conhece limites porque não tem realidade. Tudo é possível, com efeito, no plano do sonho e da ficção. Tal como as proliferações cancerosas em torno do órgão que elas próprias devoram, o erotismo representa a degenerescência hipertrófica da sexualidade normal. Parodiando a frase célebre de Pascal, um jovem filósofo americano escreveu que, no mundo moderno, "a sexualidade tem sua circunferência em toda parte e o seu centro em nenhuma".