"O Ocidente funda-se na propriedade da terra, já que a nossa civilização e todo o mundo ocidental derivam do solo e da responsabilidade primordial e total do homem que produz a partir do solo.
Está tudo muito confuso?
Não, não há confusão enquanto os homens continuarem a assumir a responsabilidade de se alimentarem a si mesmos e de alimentarem as suas famílias com o que conseguem tirar da terra, semeando, fazendo amadurecer e colhendo, cuidando do gado.
Esta responsabilidade implica também não permitir que as vacas comam toda a erva do campo, já que uma parte deve ser armazenada como forragem para as alimentar durante o Inverno.
Mas nem todo o capital deste nosso desordenado mundo é resultado do trabalho.
O homem da rua traz na cabeça uma grande confusão, não apenas no que se refere ao dinheiro, mas também no que diz respeito ao ouro.
O ouro é produto de trabalho.
(...) Não se trata de carneiros e ovelhas. Não são amebas, como diz Shakespeare, quando avisa que o ouro não está vivo. Não se multiplica como os carneiros ou as ovelhas de um rebanho.
Plante-se e vejamos se brota na primavera com vinte, trinta, cem espigas.
O dinheiro não tem o menor interesse se não significar alguma coisa além de esterilidade.
O dinheiro não interessa se não representar, precisamente, qualquer coisa parecida com carneiros e ovelhas.
Desde a pré-história, a diferença entre o dinheiro e o metal sempre confundiu os homens.
O conceito de juro já existia antes da cunhagem de moedas metálicas. É muito mais justificado um juro sobre um empréstimo de sementes, sobre um empréstimo de carneiros e ovelhas, que sobre um empréstimo de metal não prolífico e não prolificável."
(Ezra Pound, Trecho de "Esta é a Voz da Europa")