15/04/2015

Nina Kouprianova - Para Além da Esquerda e da Direita, para além do Vermelho e do Branco: Enquadrando a Guerra de Liberação no Donbass

por Nina Kouprianova

"Não há Rússia ou Ucrânia separadas, mas apenas uma Santa Rus" - Ancião Iona de Odessa

O ano de 2014 viu um crescimento sem precedentes de patriotismo na Rússia contemporânea, que resultou na popularização da noção do Mundo Russo. Uma razão para o crescimento do sentimento patriótico foi o retorno da Criméia ao lar após a votação esmagadora de seus residentes majoritariamente russos em um referendo há um ano. O início da guerra de liberação no Donbass contra o regime ocidentalista de Kiev foi a outra. Essa guerra efetivamente delineou o que estava em jogo para a existência do Mundo Russo. Este não é um conceito étnico, mas civilizacional que engloba cultura, história e língua compartilhadas no espaço eurasiano dentro de uma estrutura tradicional. Em certa medida e apesar das diferenças ideológicas óbvias, o Império Russo e a URSS incorporavam a mesma entidade geopolítica. Um aspecto particularmente notável da atual crise no Donbass é o simbolismo - religioso e histórico - que ultrapassa o espectro político comumente usado, mas ultrapassado de Esquerda-Direita. No contexto russo, isso significa superar a divisão Vermelho-Branco da Revolução Comunista. Que essa guerra tenha empurrado os russos a examinar a raison d'être de seu país é de certa forma notável: por duas décadas seus cidadãos não tiveram uma ideologia oficial, proibida pela Constituição que está baseada nos modelos ocidentais. A emergência de uma nova maneira de pensar na Rússia se tornará mais clara uma vez que façamos referência ao significado de insígnias religiosas, guerras - civil russa e grande patriótica, bem como às questões de ideologia no mundo pós-moderno.

Panorama do Conflito Ucraniano

Antes de examinar esses fatores, vamos recapitular os eventos históricos recentes que levaram a eles. Desde 1991, a OTAN tem se aproximado das fronteiras da Rússia apesar de suas promessas do contrário à época do colapso soviético. O oficialato ocidental usou o Projeto Ucrânia - não sem a concordância de suas próprias elites oligárquicas - como Projeto Anti-Rússia, baseado na identidade negativa da minoria ucraniana ocidental. Grandes somas de dinheiro foram investidos em estabelecer grupos agressivamente anti-russos na mídia e em setores formadores de opinião como Kiev, onde nenhum existia antes. Internamente, a Ucrânia pós-soviética era uma entidade historicamente problemática desde o princípio. De fato, ela tentava abrigar duas identidades conflituosas sem esforço de coesão razoável: russos deixados para trás da fronteira recentemente instituída bem como ucranianos orientais e centrais partilhando raízes com a Rússia atual (historicamente, Novorossia ortodoxa oriental e Malorossia) por um lado, e ucranianos ocidentais, tal como os galicianos (greco-católicos no Império Austro-Húngaro) buscando laços mais fortes com a Europa, do outro.

Em fevereiro de 2014, essas duas identidades entraram em choque, quando o país viu um golpe de Estado apoiado pelo Ocidente sob a bandeira de integração européia. Uma canção de sereia, essa serviria apenas para transformar a Ucrânia em um mercado para despejar bens europeus, economicamente, bases da OTAN, militarmente, como uma miríade de outras possibilidades negativas que aparecem sempre que créditos do FMI estão envolvidos. O golpe canalizou um certo nível de descontentamento popular com o governo Yanukovich, expressado no Maidan, para levar a sua conclusão lógica o Projeto Ucrânia. Esse seria um Estado ideologicamente anti-russo - baseado nas visões étnicas fundamentalistas de sua minoria ocidental - que ignorasse os desejos dos ucranianos orientais. Seu nascimento violento levou a outra conclusão lógica. Quando o governo de Kiev negou àquela região seus direitos básicos de idioma e representação popular por federalização, e tentou esmagá-los pela força, uma guerra de liberação no Donbass - Novorossia histórica desde o tempo de Catarina a Grande - começou como resposta. Aqueles que os frequentadores do Maidan chamaram de "escravos" buscaram ser livres afinal.

Um ano e 50.000 mortes depois - se puderemos crer no serviço secreto alemão - esse conflito permanece nos lábios de analistas políticos. A infraestrutura do Donbass está destruída, 2.5 milhões de refugiados fugiram para a Rússia (incluindo trabalhadores convidados), a economia ucraniana está em colapso, e metade de suas melhores terras agrícolas já foram compradas pelos oligarcas e por empresas estrangeiras. Há até mesmo uma crescente discordância dentro da Europa - sobre as questões da Ucrânia e das sanções russas - cuja atomização beneficiaria a habilidade de Washington de exercer ainda maior influência na região sobre Estados cada vez menos soberanos.


O cenário de guerra civil dentro do grande esquema da geopolítica não foi uma surpresa para alguns. O escritor de Lugansk Gleb Bobrov, por exemplo, lançou o que agora parece um romance profético chamado Época do Natimorto em 2008 por uma grande editora Yauza-EKSMO. O livro descrevia uma hipotética guerra civil na Ucrânia. Em 2014, ele foi republicado cinco vezes por razões óbvias.

Símbolos da Tradição...e Além

A iconografia da luta de liberação no Donbass funde várias camadas de história russo-ucraniana compartilhada. Ela tenta superar os pontos de conflito e dar origem a uma nova síntese do Mundo Russo que ultrapasse a especificidade das ideologias de base iluminista, canalizando tradições mais antigas ou encontrando pontos focais positivos.

Um aspecto proeminente da resistência do Donbass é o uso de insígnias religiosas. Os protestos pós-Maidan na Ucrânia oriental - antes de Kiev ter iniciado uma "operação anti-terrorista" contra civis na região - frequentemente usava imagens ortodoxas orientais nas barricadas. Estes eram ícones de proteção, como os da Virgem e do Czar Nicolau. Insígnias ortodoxas, unificando eslavos orientais, permaneceram parte importante da guerra de liberação desde então.



Tanques avançam para as batalhas levando estandartes do Mandylion, tal como bloqueios de estrada e comandantes individuais. Igor Strelkov explicitamente teve a bandeira do batalhão voluntário de Slavyansk abençoada em uma igreja e a marchou com ela pela cidade em meados de 2014. Talvez, inconscientemente, tais atos enfatizam as ainda mais antigas raízes indo-europeias - aqui, a liderança política e social de guerreiros e sacerdotes, que se impõe em duro contraste ao comerciante-político das democracias de massa.



O Cristianismo Ortodoxa tem sido, é claro, a traição religiosa milenar na Rus Moscovita e Kievana, no Império Russo, e, hoje, tanto na Rússia como na Ucrânia oriental e central. E, conquanto a URSS fosse oficialmente ateísta, seguindo a ideologia marxista, a religião jamais abandonou plenamente a esfera privada, particularmente fora dos centros urbanos; em certos momentos, ela foi até mesmo oficialmente sancionada, como foi o caso com Stálin em 1941. De fato, os historiadores tem apontado que por volta da década de 30, a URSS havia se tornado um Estado neo-tradicionalista - ainda que com economia comunista - nos quais valores socialmente conservadores, como o pró-natalismo, foram reintroduzidos de cima para baixo. 



Um papel importante desempenhado pelo Cristianismo Ortodoxo no conflito do Donbass também é evidenciado pelo fato de que mais de 70 igrejas foram deliberadamente atacadas ou destruídas nessa região pelas forças kievanas ocidentalistas. Portavozes da Nova Rússia afirmaram que elas não possuíam posições militares estratégicas por perto, e que geralmente nada mais era atingido perto das igrejas. Atacar arquitetura religiosa e centros comunitários não deveria surpreender, considerando que a Ortodoxia fornece elos culturais poderosos entre a Rússia atual e a Ucrânia.



No que concerne ao cisma Vermelho-Branco, a leitura oficial da história na União Soviética denunciava muitos aspectos da Rússia imperial tardia em uma base ideológica. Na década de 90, o pêndulo balançou na direção diametralmente oposta - dessa vez o alvo era todo o período soviético - com visões históricas mais equilibradas emergindo na década seguinte. Essas visões são socialmente unificadoras ao invés de divisivas, com estas sendo muitas vezes exploradas por certas forças externas que buscam desestabilizar a Rússia. Ainda que alguma polarização permaneça, a maioria dos russos amadureceu a ponto de ultrapassar a ideologia e interpretar o Império Russo e a União Soviética como variações da mesma entidade geopolítica. Ademais, muitas famílias contém essas contradições aparentes dentro de si: enquanto alguns de seus ancestrais estavam bem posicionados durante a era imperial, ou foram expurgados na década de 30, outros foram camponeses, trabalhadores e soldados no Exército Vermelho.

Por essas razões, os participantes nas Forças Armadas da Nova Rússia exibem uma variedade de símbolos, cuja síntese indica a emergência de uma visão equilibrada do próprio passado: nela, nem um único período singular é totalmente positivo ou negativo. Por exemplo, na primavera e verão de 2014, a mídia deu bastante atenção ao interesse de Igor Strelkov em reencenações históricas, focadas primariamente no Exército Russo na Primeira Guerra Mundial e no Movimento Branco durante a Guerra Civil de 1917-1921.



O atual líder de Donetsk, Aleksandr Zakharchenko, foi eleito em novembro de 2014, escolhendo ser empossado ao som da Marcha do Regimento Preobrazhenskii do período petrino do Império Russo.

A posse de Zakharchenko também envolveu participação cossaca. Antes da divisão política artificial em Rússia do Sul e Ucrânia Oriental, essa região abrigava os mesmos povos (narod), incluindo os Cossacos do Don - um soslovie (estado) que era autônomo, mas radicalmente leal a Deus e, geralmente, ao czar. Dormentes durante o período soviético, as tradições cossacas estão reemergindo. Elas, também, vieram desempenhar um papel proeminente nas linhas de frente da liberação do Donbass.



A herança cossaca ressalta a complexidade histórica do Donbass. Cem anos atrás, a Guerra Civil Russa polarizava a população nessa região primariamente com base em ideologia entre o Movimento Branco e os Bolcheviques. De fato, o atual aspecto de guerra civil da liberação do Donbass gera essa comparação. Afinal, muitos dos soldados conscritos por Kiev são etnicamente russos de cidades como Dnepropetrovsk lutando contra outros russos étnicos mais ao leste.

Ademais, apesar do simbolismo imperial russo, a liderança da Nova Rússia se vê explicitamente como herdeiros da breve e transitória República Soviética de Donetsk-Krivoi Rog (1918). E, na área industrial pesada, primariamente focada na carvoaria, referências soviéticas classistas não podem ser ignoradas. O estandarte da Nova Rússia é baseado na Cruz de Santo André e diz, "Vontade e Trabalho", a bandeira da República de Donetsk, também, usa um esquema de cores pego daquele período.



Porém, a questão do trabalho tem mais continuidade entre esses dois campos aparentemente polares Vermelho e Branco do que se poderia pensar. Conquanto a União Soviética tentasse instituir a igualdade social de cima para baixo, alguns industriais do período tardio do Império Russo eram pios cristãos ortodoxos, que acreditavam em caridade a nível pessoal. Eles criaram boas condições de trabalho para seus empregados antes da existência de qualquer legislação trabalhista, incluindo creches e hospitais para mulheres no caso de Abrikosov & Filhos, ou escolas e pensões no caso de Einem, só para citar.

Segunda Guerra Mundial de novo?

Porém é a Segunda Guerra Mundial que mantém o maior legado soviético e o papel central no conflito do Donbass. A narrativa midiática mainstream em língua inglesa, até mesmo as raras matérias inicialmente simpáticas, descreve os residentes do Donbass sendo ludibriados pela televisão russa para pensar que estão revivendo a Segunda Guerra Mundial lutando contra o fascismo. Considerando que muitos deles são mineiros por profissão, a implicação derrogatória é a de que essa população proletária é ignorante demais para pensar por si mesma. Há duas questões de interesse aqui: uma da Segunda Guerra Mundial, em geral, e a outra de ideologia, especificamente.

Primeiro, fundamentalmente toda família da ex-URSS foi tocada pelo que na Rússia é chamado de Grande Guerra Patriótica (1941-45) com as perdas totais estimadas em aproximadamente 26 milhões. As pessoas tem consciência das experiências de seus pais e avós, alguns dos quais ainda vivem. A nível ideológico, essa guerra foi o grande solidificador da URSS após os anos turbulentos da Revolução de Lênin e da consolidação de Stálin (1917-1941). Mais é muito mais do que isso. Toda a geografia e topografia da Nova Rússia replica batalhas famosas do Exército Vermelho nessa região, tornando difícil evitar comparações.

A cidade de Slavyanoserbsk perto de Lugansk, por exemplo, foi batizada em homenagem aos oficiais sérvios a serviço da Imperatriz Elizabeth da Rússia em meados do século XVIII. A cidade esteve sob ocupação nazista de 1942 a 1943 - com partisans soviéticos ativos na área até a liberação pelo Exército Vermelho em setembro daquele ano. Representantes das Forças Armadas da Nova Rússia enfatizaram como o posicionamento geográfico entre as tropas soviéticas e nazistas correspondiam aos das suas forças e as de Kiev. Além disso, supostamente voluntários sérvios teriam sido os responsáveis pela liberação da cidade em agosto de 2014.

Saur Mogila, uma elevação estratégica na região de Donetsk, serviu como o local de uma das mais duras batalhas da Grande Guerra Patriótica, com tropas soviéticas a recapturando em agosto de 1943. Esse nível de intensidade pareceu como um déjà vu no verão de 2014, quando Saur Mogila trocou de mãos várias vezes entre as tropas de Kiev e as Forças Armadas da Nova Rússia. Estas finalmente a recapturaram em agosto daquele ano. De fato, o obelisco memorial de 1963 à Grande Guerra Patriótica foi destruído como resultado dessa batalha.



Assim, parece que cada centímetro dessa paisagem poderia narrar uma história ismilar. Há uma caricatura de Hitler "preocupado" com a retomada de Mariupol, uma fotografia de 1945 de um T-34 escrito nele "Vingadores do Donbass", incluindo dois irmãos e um primo, e uma pintura do pós-guerra da estação de trem de Debalsevo por um professor local.



Há até inúmeros T-34s de museu que foram ressuscitados pelos combatentes da resistência, como esse tanque de Lugansk no início de 2015.



Ademais, há brigadas internacionais em ambos os lados do conflito, aparentemente copiando a Guerra Civil Espanhola do mesmo período. Tropas de Kiev incluem suecos, espanhóis, americanos. As Forças Armadas da Nova Rússia incluem espanhóis, brasileiros, franceses, sérvios. No máximo, os mineiros do Donbass poderiam ser culpados por conhecer a história de sua terra bem demais, ao fazer essas comparações da Segunda Guerra Mundial.

Então há a questão do fascismo na Ucrânia que a mídia ocidental evita, enquanto a contraparte russa enfatiza. Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns na Ucrânia inicialmente saudaram os nazistas contra os comunistas soviéticos, mas rapidamente passaram a odiar sua colonização. A Ucrânia conheceu graus variáveis de colaboração, das SS Galicianas ao Exército Insurgente Ucraniano que odiava e lutava contra todos - alemães, poloneses, russos e judeus - e foi cúmplice da limpeza étnica na região de Volyn.



Os etno-nacionalistas fundamentalistas ucranianos atuais, o Setor Direito, a Assembléia Social-Nacional, e o Batalhão Azov, se veem como os herdeiros dos líderes do Exército Insurgente Ucraniano, Bandera e Shukhevich, e subscrevem explicitamente à "Terceira Posição", incluindo insígnias inspiradas na Segunda Guerra Mundial. E é a sua leitura da história que foi efetivamente estabelecida após o golpe em fevereiro de 2014. Que essas figuras não são simplesmente marginais é evidente da completa negação da federalização e dos direitos linguísticos russos ao Presidente Poroshenko chamando Odessa de "cidade banderista" - particularmente insultuoso para muitos residentes dessa Cidade de Heróis da era soviética e local do Massacre da Central Sindical em maio de 2014 nas mãos de ativistas do Maidan.



Não joguem a ideologia fora com a água do banho

Porém, não importa quão tentador seja achar que a história repete a si mesma, é importante notar as vastas diferenças ideológicas. Como alguns teóricos apontaram, a nível filosófico a Segunda Guerra Mundial conformava a luta de três ideologias para determinar qual delas melhor representa a Modernidade em uma escala global. Como resultado, o comunismo (URSS) e o liberalismo (EUA) triunfaram sobre o fascismo. Subsequentemente, a Guerra Fria serviu como o confronto das duas ideologias modernas remanescentes, na qual o colapso da URSS (1991) sinalizou a vitória do liberalismo. Com o liberalismo como o único representante da Modernidade no processo histórico - tornando o paradigma novecentista esquerda-direita obsoleto - o período da pós-modernidade começou. Alguns analistas chamam essa ideologia de "neoliberalismo", outros de "pós-liberalismo". Ambos, porém, descrevem a mesma trajetória histórica, na qual esse conjunto de idéias se desenvolveu até sua forma atual: o indivíduo - com todos os seus elos tradicionais removidos - no centro da história, o capital financeiro com suas corporações transnacionais anônimas bem como como consumismo acéfalo bem como entretenimento para as massas, a falsa crença no progresso econômico infinito, e a religião secular dos "direitos humanos" como ferramenta de política externa que é geralmente menos que humanitária, só para citar algumas característica.

É claro, as outras ideologias do século XX não desapareceram completamente. Mas é o pós-liberalismo com sua hegemonia global que permite que elas existam e sirvam a seus próprios propósitos. E são os promotores dessa ideologia, as elites do Ocidente, que sancionam a existência dos assim chamados fascistas na Ucrânia, tal como eles fazem com os chamados rebeldes "moderados" no Oriente Médio. Assim, o portavoz das elites, a mídia de massa, camufla aqueles como "nacionalistas", a "direita radical" ou simplesmente "controversos". Em contraste, aqueles que desafiam sua dominação ideologicamente, mesmo das maneiras mais modestas, estão sujeitos ao reductio ad Hitlerum. Esse é o caso com qualquer partido político, por exemplo, o Front National, que exibe uma aparência de tradicionalismo (antiglobalismo), tão modesta quanto a ênfase em soberania nacional acima de corpos supranacionais, como a OTAN.

De fato, a ideologia pós-liberal é um dos fatores que cega muitos ocidentais às realidades da guerra de liberação no Donbass. O atual modelo ocidental de cidadania é abstrato: ele se centra em um conjunto de princípios no qual os indivíduos são intercambiáveis - desde que eles adotem "valores europeus" ou o "modo de vida americano" - ao invés das noções mais tradicionais de enraizamento na paisagem, elos linguísticos e culturais e laços ancestrais. Assim, aqueles que subscrevem a essa abstração tem dificuldades para entender como que pertencer ao mesmo povo (narod) é mais importante do que viver em dois Estados diferentes - Rússia contemporânea e Ucrânia - apressadamente formados à época do colapso soviético, e por que eles estão tão ligados a seu idioma, cultura, religião, história e terra a ponto de estarem dispostos a morrer por elas. Mas mesmo para aqueles russos que tendem mais para o pensamento tradicionalista, foi necessário acontecer essa guerra - a guerra que supostamente deveria separar - para que se unissem ideologicamente e espiritualmente com outros similares através das fronteiras, para começarem a questionar quem eles realmente são, incertos, mas esperançosos de forjar a idéia do Mundo Russo. Para além da Esquerda e da Direita, para além do Vermelho e do Branco.