19/10/2012

Ramiro Ledesma Ramos, um Nacional-Bolchevique?

por Juan Antonio Llopart



Falar hoje sobre o Nacional-Sindicalismo e sobre seu fundador Ramiro Ledesma Ramos, é pelo menos dificultoso. O é fundamentalmente porque quase trinta anos após a morte de Franco, os historiadores oficiais, os meios de comunicação e as pessoas mais rancorosas - quer sejam de direita ou de esquerda - carentes de rigor histórico, seguem vinculando erroneamente, falsamente e em alguns casos intencionalmente, o Nacional-Sindicalismo com o regime de Franco.

Desde o 19 de abril de 1937 com a aprovação do Decreto de Unificação com o qual Franco e Serrano Súñer criaram esse híbrido denominado "FET y de las JONS", ressonou na vida dos espanhóis aquela consigna de "por Deus, Espanha e sua Revolução Nacional-Sindicalista", e ainda que certamente houvesse muito de "por Deus" e muito de por "SUA" Espanha, nada houve de Revolução Nacional-Sindicalista. O povo espanhol viveu envolto durante quase quarenta anos de parafernália Nacional-Sindicalista, porém sem a essência, o espírito e a ideologia Nacional-Sindicalista; tudo o que foi apresentado como tal foi falseado pelos elementos do regime nascente: tecnocratas do Opus Dei, monárquicos e direitistas reacionários, amparados todos eles pela Igreja Católica e pelo Exército.

Enquanto isso, os autênticos Nacional-Sindicalistas eram condenados ao silêncio. Manuel Hedilla, segundo Chefe Nacional da FE de las JONS, Ruiz Castillejos, de los Santos, Chamarro, eram condenados à morte. Félix Gómez e Ángel Alcázar de Velasco, à prisão perpétua. Outros, a vários anos de prisão...seu delito: se opor ao Decreto de Unificação e à falsificação do Nacional-Sindicalismo.

Alguns Nacional-Sindicalistas acreditaram que desde dentro do regime do general Franco conseguiriam influir sobre ele. Outros, os mais decididos na ação e no compromisso optaram pela luta clandestina [1], e os mais, aceitaram a Unificação. Essa última atitude era compreensível em uma organização que se viu incrementada de forma exagerada por elementos provenientes de partidos direitistas e reacionários, os quais pretendiam utilizar o Nacional-Sindicalismo como trampolim político, assim como para convertê-lo na guarda do cassetete dos interesses da burguesia.

É indubitável que se Ramiro Ledesma Ramos tivesse sido compreendido quando acusava a FE de las JONS de ser condescendente com a direita, se José Antonio tivesse aceitado as críticas de Ramiro e não tivesse tardado tanto em compreendê-las [2], o destino do Nacional-Sindicalismo teria sido com toda segurança outro. Ambos morreram assassinados pelo Governo da Frente Popular, porém ambos foram assassinados dia após dia, ano após ano pelo regime de Franco e depois desse, por todos aqueles que com sua camisa azul, com seus correames, e sua brilhantina fizeram da fanfarronada, do bullying e do direitismo sua base de ação, atitude essa, que nada deve de invejar a que anos atrás tivessem em Salamanca indivíduos tais como Dávila, Aznar ou Garcerán.

Ramiro Ledesma Ramos, um Nacional-Bolchevique?

Se como indiquei em ocasiões anteriores, o Nacional-Bolchevismo é a união harmônica entre as concepções mais radicais do nacional e do social, evidentemente podemos afirmar que Ramiro Ledesma Ramos era um Nacional-Bolchevique. "Eis aqui essas duas alavancas: uma a ideia nacional, a Pátria como empresa histórica e como garantia de existência histórica de todos os espanhóis; outra, a ideia social, a economia socialista, como garantia do pão e do bem-estar econômico de todo o povo" [3] afirmará com segurança Ramiro.

Desde um princípio, Ramiro e suas Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalista (J.O.N.S.) aspiraram a atrair para si os trabalhadores para a causa nacional, e é que os jonsistas queriam "se dotar de uma ampla base proletária". Essa inquietude era reflexo fiel de sua extração social: proletários, camponeses e intelectuais de corte radical, com ímpeto revolucionário frente à ordem burguesa. Um dos constantes temores de Ramiro, uma de suas preocupações mais dolorosas era que confundissem o jonsismo "com uma frívola e vã tarefa de senhoritos".

Com as JONS nascia na Espanha, nas palavras de Ramiro "um movimento político, de entranha nacional profunda e grandes perspectivas sociais, melhor dito, socialistas" [4]. Ramiro tem muito claro qual é o papel das direitas e não duvida em acusá-las como um dos males maiores que apertam seu povo, ao mesmo tempo em que não duvida tampouco em denunciar o patriotismo de opereta, "já faz muito tempo que sabemos bem a que nos ater em relação ao 'patriotismo' direitista, acima de tudo o das forças mais diretamente clericais e ligadas às sacristias. Cada dia é mais evidente em nós a suspeita de que a debilidade nacional da Espanha se deve em grande parte ao "patriotismo inoperante, falso e sem valor" que até agora tem regido, incubado e orientado no setor direitista" [5].

Em Ramiro o destino da coletividade sempre vai unido a uma justa distribuição da riqueza, "A submissão da riqueza às conveniências nacionais, quer dizer, à pujança da Espanha e à prosperidade do povo" [6]. Sempre nos jonsistas houve claras consignas sociais e econômicas: "Conosco, pois os trabalhadores; A nacionalizar a banca parasitária; a nacionalizar os transportes; a impedir a ação da pirataria especuladora, e a exterminar os grandes acumuladores de produtos" [7]. O Nacional-Sindicalismo jonsista tinha muito claro quais deviam ser as aspirações básicas da coletividade: "As JONS pedem e querem a nacionalização dos transportes, como serviço público notório; o controle das especulações financeiras da alta banca, garantia democrática da economia popular; a regulação dos juros produzidos pelo dinheiro empregado em explorações de utilidade nacional; a democratização do crédito, em benefício dos sindicatos. Agrupações comunais e dos industriais modestos; abolição do desemprego forçoso, fazendo do trabalho um direito de todos os espanhóis, como garantia contra a fome e a miséria; igualdade perante o Estado de todos os elementos que interferem na produção (capital, trabalho e técnicos), e justiça rigorosa nos organismos encarregados de disciplinar a economia nacional; abolição dos privilégios abusivos e instauração de uma hierarquia do Estado que alcance e se nutra de todas as classes espanholas" [8]. Tais eram pois, as consignas das JONS. Alguém pode duvidar de sua expressividade e de seu espírito popular e revolucionário?



Ramiro, assim como outros pensadores Nacional-Bolcheviques da época, não duvida em criticar o fascismo quando este gira à direita. Dele afirma: "...triturou, em efeito, as instituições políticas da burguesia e dotou aos proletários de uma nova moral e de um otimismo político...porém, triturou também ou mesmo debilitou as grandes fortalezas do capital financeiro, da alta burguesia industrial e dos terratenentes em benefício da economia geral de todo o povo?, e ademais, vai realmente fazendo possível a eliminação do sistema capitalista e baseando cada dia mais o regime nos interesses econômicos das grandes massas" [9]. Indubitavelmente com tais afirmações é compreensível e lógico que Ramiro fosse silenciado e marignalizado pelo regime de Franco, posto que como é sabido por todos, este se apoiou para se assentar no poder precisamente nessas grandes fortalezas do capital financeiro mencionadas por Ramiro.

Para Ramiro e suas JONS eram totalmente condenáveis os fascismos de opereta, "grupos sem dimensão profunda, artificiosos, que importam o fenômeno fascista como quem importa um gênero de moda qualquer" [10]. E se mostra duro, muito duro, com esses movimentos fascistas de importação ao afirmar que: "Ali está Mosley com suas camisas, seu partido fascista e seus sonhos mussolinianos; como aqui Primo de Rivera, com outra equipe de igual natureza...tem um chefe, um Duce aristocrata, milionário, que gasta seus recursos em organizar o Partido. Assim Mosley, o inglês, que é um Sir, multimilionário e extravagante. Assim Primo de Rivera, o espanhol, que é Marquês de Estella, milionário e extra-chique. Assim Starhemberg, o austríaco, que é príncipe, milionário e tudo o mais. Todos eles são movimentos brandos, pastosos, de algodão, de boas formas, aspirantes a implantar um dito Estado Corporativo...Se caracterizam também por sua tendência notória a desconhecer toda angústia popular pois se incubam em meios sociais de privilégio, e estão ligados a todas as formas reacionárias da sociedade" [11].

Ramiro também adquire compromisso revolucionário com o campo espanhol. Suas palavras são balas dialéticas contra o capitalismo rural: "Espanhóis Campesinos: a terra é a nação. O campesino que a cultiva tem direito a seu usufruto. O regime da propriedade agrária até agora imperante tem sido um roubo consentido e perpetrado pela Monarquia e suas hordas feudais. Campesinos! Cento e quarenta e sete grandes terratenentes tem em suas mãos mais de um milhão de hectares de terra! Toda a terra é vossa. Exigi sua nacionalização!" [12].

Essas afirmações assustarão às mentes bem-pensantes da direita e da extrema-direita. Muitas dessas propostas estão totalmente esquecidas pelos partidos tradicionais da esquerda, e inclusive abandonadas pelos esquerdistas mais radicais.

"Viva o mundo novo! Viva a Espanha que faremos!". Tais eram as consignas e os gritos jonsistas. Eram sem lugar para dúvidas proclamações novas, gritos de esperança, porém acima de tudo, gritos de revolução. Sim, de revolução, porque eram homens fartos de um mundo podre, pleno de injustiças, de explorados e de exploradores, de ricos cada vez mais ricos e de pobres cada vez mais pobres. Havia uma necessidade imperiosa, popular e revolucionária: subverter a ordem burguesa. E nessa tarefa lutavam as JONS. Ramiro soube imprimir esse espírito entre seus camaradas, os quais compreendiam a necessidade de se distanciar da vulgaridade burguesa, de evitar todo o velho e todo o caduco.

Assim a primeira tarefa do Nacional-Sindicalismo "foi a de enlaçar esses dois ingredientes separados: o nacional e o social, a Pátria e o Trabalho. Ninguém pense que a adoção do termo ao mesmo tempo encantador e polêmico, da revolução nacional-proletária, fosse nos fundadores obra de tática reflexiva e cautelosa, senão consequência imediata de viver profunda e entranhavelmente a história de nosso tempo" [13]. Essas palavras de Pedro Laín Entralgo nos aproximam novamente à aspiração jonsista do social e do nacional.

Os Nacional-Bolcheviques preferiam uma aliança ou aproximação com a Rússia soviética, antes do que com as democracias ocidentais, como Grã-Bretanha, fato que os diferenciava claramente dos planejamentos de Hitler... E nesse contexto, de novo devemos recorrer a Pedro Laín Entralgo quando afirma: "Como observou com vista aguda Ramiro Ledesma, o comunismo soviético vai se convertendo cada vez mais em um nacional-comunismo. Stálin está fazendo a virada da revolução mundial proletária de Lênin à revolução nacional russa" [14]. Essas palavras podem parecer exageradas, porém Ramiro em diversas ocasiões faz afirmações parecidas: "A Rússia, com seu regime nacional-comunista, com moral de guerra, super armada, em pleno experimento de gigantescas subversões sociais, não é já, desde logo, o país revolucionário que conspira a cada dia pela revolução mundial" [15]. Ou quando afirma: "é a rotunda eficácia do Estado soviético, que oferece ao povo russo, de um modo coativo e indiscutível, a possibilidade de tomar augusta disciplina nacional. Hoje Stálin assegura seu plano econômico esgrimindo a fúria nacionalista russa" [16].

Está claro que Ramiro não era em absoluto comunista, e o mesmo nos esclarece o motivo: "Frente ao comunismo, com sua carga de razões e eficácias, colocamos uma ideia nacional, que ele não aceita, e que representa para nós a origem de toda iniciativa humana de caráter garboso. Essa ideia nacional entranha uma cultura e valores históricos que reconhecemos como nosso patrimônio mais alto" [17].

Ramiro, Falange e a Cisão

Em 13 de fevereiro de 1934 se selava entre as JONS de Ramiro e a FE de José Antonio o acordo de fusão.

Essa união nascia com fortes discrepâncias entre os próprios jonsistas. Dentro de seu seio coexistiam duas posturas, a de se opor a dita união devido ao temor e à desconfiança em relação aos falangistas por considerá-los demasiado direitizados e a de aceitar o acordo com os falangistas por crer que ambas organizações se veriam fortalecidas e se enriqueceriam. A opção triunfante foi a segunda. Logo após conhecer a decisão do Conselho jonsista, seu dirigente galego, o antigo comunista Santiago Montero Díaz, enviava uma carta a Ramiro dando baixa da organização.

Assim pois, se concretizava uma fusão marcada pela dissidência. De fato ninguém poderá negar que dentro da FE existiam núcleos fortemente direitizados com força relevante dentro do movimento.

Porém certo é também, que dentro da FE existiam igualmente reticências ante a fusão, pois não esqueçamos que em seu seio conviviam monarquistas, direitista, autênticos revolucionários e alguns futuros militantes carlistas. A principal preocupação dos falangistas era a forte carga social que imprimiam os jonsistas, em especial sua radicalidade econômica. Temiam a proletarização da FE.

Caberia aqui recordar que um dos pontos de fusão entre as JONS e a Falange Espanhola apontava o seguinte: "Se considera imprescindível que o novo Movimento insista em forçar uma personalidade política que não se preste a confusões com os grupos direitistas" [18].

Em 16 de fevereiro saía o primeiro número de La Patria Libre. Ramiro, junto com outros antigos jonsistas se haviam separado da Falange Espanhola. Com essa nova publicação pretendiam seguir na luta política desde o prisma anti-burguês e Nacional-Sindicalista revolucionário das primitivas JONS.

Os defensores da "verdade josé-antoniana" não duvidaram, nem duvidam, em desprestigiar Ramiro, em sepultá-lo na mais falaciosa crítica. Foi acusado de invejoso, foi ridicularizado pelo próprio José Antonio sobre certos "gevolucionários" em alusão ao pronunciamento de Ramiro da letra "r". Na maioria dos livros sobre o Nacional-Sindicalismo escritos por falangistas, Ramiro é considerado como um autor secundário do Nacional-Sindicalismo, do qual se perde o rastro após a cisão - para os falangistas expulsão.



Assim nos encontramos com afirmações como essa de Francisco Bravo: "Ramiro não soube se comportar com suficiente decoro". O franquista Ximénez de Sandoval, aponta: "Ledesma tinha o errôneo conceito de crer necessário para uma Revolução Nacional o tipo de chefe proletário..., de possuir justa soberba criadora" [19]. Porém se há alguém que merce um comentário à parte esse é Raimundo Fernández Cuesta, um dos principais culpados pela direitização da Falange durante esses anos, o principal lacaio da Falange franquista e o que uniu a Falange com a extrema-direita mais reacionária durante a transição espanhola; esse sujeito escreve em uma carte fechada em 9 de fevereiro de 1942 o seguinte: "O episódio da expulsão de Ramiro tem sua origem na inveja pessoal que sentia por José Antonio, nascida quiçá das diferenças de origem, ambiente e educação. Era a expressão na Falange da luta de classes, que em Espanha ameaçava todas as atividades. Isso unido à difícil situação econômica de Ramiro, lhe tornava apto para ser instrumento dos partidos direitistas, que desejavam semear cinzas em nossas fileiras" [20]. Em resumo, para o que foi o terceiro Chefe Nacional da Falante Espanhola, Ramiro, o fundador e principal teórico do Nacional-Sindicalismo, não era mais que um invejoso e um pobre homem comprado pelas direitas para provocar o descalabro no movimento falangista.

Existem numerosas opiniões sobre a cisão de Ramiro, porém quiçá seria mais correto ler o que o próprio Ramiro afirmou acerca da cisão: "Quem crer que nossa ruptura com a Falange Espanhola obedecia ao mero capricho e que carecia de dimensões profundas padece de um equívoco notório. Nós, os jonsistas, observamos as limitações ditas, vimos com clareza que era chegada a hora de mudanças radicais na orientação, na tática, e nos dirigente e, como nada disso poderia ser conseguido ali, damos de novo vida às J.O.N.S." [21].

Durante um certo tempo os enfrentamentos verbais e inclusive físicos entre alguns valentões da FE e os seguidores jonsistas de Ramiro foram constantes. "Não há dia em que algum dos dirigentes das JONS não seja provocado nas ruas por algum dos dez ou doze rufiões assalariados de que dispõe Primo de Rivera", "os ataques que os dirigentes falangistas tem lançado aos das JONS são próprios, dissemos e repetimos, de seres rufianescos, de seres residuais, que vivem alheios de toda solvência moral e de todo propósito limpo" [22].

O próprio Francisco Bravo reconhece em seu livro "José Antonio. O Homem. O Chefe. O Camarada, pág.83", que a venda e distribuição de La Patria Libre foi perseguida pelos falangistas, ao mesmo tempo que afirma que "José Antonio evitou que alguns dos nossos, excitados pelos ataques injustos do fundador das JONS, lhe dessem um tiro". Lástima que Bravo não nos indique quem dos "seus" queria assassinar o líder jonsista.

Ramiro nunca quis responder aos ataques falangistas e sempre quando se viu obrigado a fazê-lo, o fez desde as páginas de La Patria Libre.

O certo é que Ramiro, junto a Onésimo Redondo, Manuel Mateo e Álvarez de Sotomayor se reuniram na cafeteria Fuyma para comentar a situação da FE de las JONS. Em dita reunião tanto Onésimo como Mateo apontaram para a necessidade de fazer alguma coisa, posto que a situação era angustiosa. Segundo Martínez de Bedoya "José Antonio estava rodeado de senhoritos, que ocupavam cargos, ciumentos de suas atribuições, e que inclusive se haviam fixado salários". A decisão dos quatro reunidos foi a de se separarem da Falange Espanhola e reorganizar as JONS. Para isso Mateo assegurava o apoio decidido da CONS (Central Operária Nacional-Sindicalista), o que unido à adesão da delegação mais forte, a de Valladolid de Onésimo Redondo, dava garantia certa de êxito. A verdade é que uma vez convencido Ramiro, que era o mais reticente dos quatro em relação à separação, somente Álvarez de Sotomayor acabou secundando o ali decidido. Mateo se desdisse e foi nomeado (como prêmio?) por José Antonio chefe da CONS.

Onésimo Redondo decidiu na última hora se manter às ordens de José Antonio, esquecendo-se do acordado com Ramiro. Foi essa uma estratégia dos falangistas para apartar Ramiro e seus colaboradores mais imediatos da organização? Poucos foram os que seguiram Ramiro - Martínez de Bedoya, Gutiérrez Palma, Poblador, de novo se uniu a sua luta Montero Díaz. Porém o que verdadeiramente importava era que a bandeira do Nacional-Sindicalismo revolucionário voltava a estar alçada.

Ramiro prosseguiu sua atividade política e nem as agressões a seus militantes por parte dos falangistas, nem o ataque a seu local social na rua Amaniel em Madri por mafiosos a mando de Aznar e Valcárcel, nem as constantes desqualificações fizeram afetaram a ele e seus camaradas.

É necessário apontar, também, que Ramiro nunca foi muito bem visto pelos josé-antonianos, e sabemos que essa asseveração encolerizará os "puristas" da Falange. Porém o certo é que sem Ramiro o Nacional-Sindicalismo não existiria, e essa é a verdade. José Antonio ajudou a dar corpo ao Nacional-Sindicalismo - essencialmente durante os últimos meses de 1935 e até que ceifaram sua vida em 20 de novembro de 1936, porém sem o assentamento e as bases de Ramiro, a Falange não teria sido mais que uma vulgar organização ultradireitista.

Não seria justo não aceitar críticas a Ramiro, pois é indubitável que como todos errou algumas vezes. Porém quando essas críticas são tendenciosas ou quando esses ataques contra ele só demonstram um desconhecimento profundo de suas ideias, não é tão só lamentável, senão condenável.

Assim na revista Sindicalismo na qual colaboraram entre outros Sigfredo Hillers de Luque, aparece dentro do capítulo "Conversas da Baleia Alegre" um requadro entitulado "O sindicalismo de Ramiro Ledesma Ramos" - este artículo aparece reproduzido 28 anos depois, sem nenhum tipo de comentário ou de correção no número 22, correspondente aos meses de maio-julho de 1992 da revista Não Importa, órgão da Falange Espanhola Independente, pelo que creio aprovam o ali expressado - em que se afirma o seguinte: "O Nacional-Sindicalismo de Ramiro Ledesma e o de José Antonio de 1935, pouco ou nada tem que ver entre si...a separação de Ramiro da Falange, independentemente dos problemas pessoais (que de fato houve) e pelos quais se pretende explicar tudo, se deveu sem dúvida alguma a que José Antonio e Ramiro, ainda falando com as mesmas palavras, queriam coisas diferentes... Frente à progressiva radicalização fascista de Ramiro, está a progressiva radicalização sindicalista de José Antonio". É evidentemente uma opinião falangista, obviamente, mas carente de toda credibilidade no que concerne o progressivo fascismo de Ramiro, o qual não duvida em afirmar: "Não pretendem já (os jonsistas), tanto ele (Ramiro) como seus camaradas, organizar, nem remotamente o fascismo. O que nas velhas JONS havia de fascismo recolhe hoje Primo de Rivera, acima de tudo em suas propagandas últimas. Aqueles entendem que sua missão é outra".



Ramiro e os Sindicalistas da CNT

Nos escritos de Ramiro são constantes os comentários e as afirmações favoráveis em relação a certos setores da CNT. Assim no número 14 de La Conquista del Estado, aparece uma página inteira dedicada ao Congresso Extraordinário da CNT e na qual afirma Ramiro: "Temos de estar junto à CNT nesses momentos de imediata batalha sindical, nesses instantes de ponderação de forças sociais. Assim acreditamos cumprir com nosso dever de artífices da consciência e da próxima e genuína cultura da Espanha".

No número 11 de dita publicação aparece também publicado um diálogo entre Ramiro e Álvarez de Sotomayor, membro por então da CNT, no qual o dirigente jonsista afirma: "Os sindicatos únicos - CNT - mobilizam as forças operárias de mais bravo e magnífico caráter revolucionário que existem na Espanha. Gente soreliana com educação antipacifista e guerreira...quando chegue o momento de hastear as diferenças radicais, nós o faremos; porém enquanto tanto, os consideramos como camaradas e em muitas ocasiões dispararemos com eles, no afã de destruição e de morte contra a mediocridade e a palidez burguesas".

Dentro da CNT não faltaram as dissidências e as cisões, provocadas em grande medida pelas discrepâncias entre os sindicalistas revolucionários e os comunistas libertários da FAI, isso possibilitou mais contatos e encontros com elementos do Partido Sindicalista de Ángel Pestaña, e com agrupamentos locais cenetistas.

Ramiro faz desde as páginas do número 3 de La Patria Libre uma chamada "ao grupo dissidente da CNT, aos trinta, ao Partido Sindicalista que preside Ángel Pestaña... Aos possíveis setores marxistas que tenham aprendido a lição de outubro, a Joaquín Maurín e a seus camaradas do Bloco Operário e Campesino", aos quais diz: "Rompei todas as amarras com as ilusões internacionalistas, com as ilusões liberais burguesas, com a liberdade parlamentária. Deveis saber que no fundo essas são as bandeiras dos privilegiados, dos grandes terratenentes e dos banqueiros. Pois toda essa gente é internacional, porque seu dinheiro e seus negócios o são. É liberal, porque a liberdade lhes permite edificar feudalmente seus grandes poderes contra o Estado Nacional do Povo. É parlamentarista porque a mecânica eleitoral é matéria branda para os grandes recursos eleitorais que eles manejam: a imprensa, a rádio, os comícios e a propaganda cara" [24].

Foi uma chamada de Frente Unida Contra o Sistema e a ele acudiram numerosos dirigentes e militantes de base da CNT e de partidos de extrema-esquerda, entre eles, Guillen Salaya, Nicasio Álvarez de Sotomayor, Olalla, Pascual Llórente, Enrique Matorras, José Guerrero Fuensalida; Luís Ciudad...entre outros. Todos eles entenderam as consignas jonsistas de unir o nacional e o social. Juntos alçaram a bandeira da revolução proletária nacional.

Evidentemente, e lamentavelmente, hoje a CNT dista muito do compromisso revolucionário que demonstraram anos atrás seus camaradas, porém estamos seguros de que apesar disso, dentro de suas fileiras seguirão havendo pessoas que lutem pelo verdadeiro sindicalismo revolucionário.

Ramiro e Europa

Não seria em absoluto gratuito afirmar que hoje Ramiro seria um convicto entusiasta europeísta. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial ficou claro que a independência e autarquia de pequenos espaços nacionais está condenada ao fracasso; e só nos grandes espaços geopolíticos se pode articular uma alternativa global. Isso unido à unificadora raiz cultural dos europeus, faz da Europa um atraente projeto em comum.

E isso o entendeu perfeitamente Ramiro quando se pergunta: "Não é chegada a hora de que Espanha olhe e perceba os acampamentos europeus? Não é já de todo um ponto imprescindível que a Espanha entre na realidade europeia? Porque isso queremos" [25].

Alguém pode duvidar da vocação europeia de Ramiro? Repito, hoje Ramiro seria um fervoroso europeísta, um eurorrevolucionário, e isso apesar de todos aqueles supostos Nacional-Sindicalistas atuais que seguem encerrados, em pleno século XXI, no cercado privado de "SUA" Espanha.

Morte, Silêncio e Memória

No dia 29 de outubro de 1936 era assassinado Ramiro Ledesma Ramos, seu delito não foi outro que ser o fundador do Nacional-Sindicalismo. A justiça da Frente Popular e de suas milícias anarco-comunistas consistia em "fazer passear os fascistas" [26], nada a invejar àqueles, que prostituindo a camisa azul, mudaram sua filiação japista (das JAP), pela de falangista e se dedicavam a "fazer passear os vermelhos". Os sonhos e as aspirações de Ramiro morreram com ele, seu desejo de unir o nacional e o social permaneceria em um gesto belo e heroico. Em frente a sua casa natal de Alfaraz, província de Zamora, se erigiu a única lembrança à memória do fundador do Nacional-Sindicalismo. Um monolito triste, simples e pobre, inaugurado 25 anos depois de seu assassinato, nele se pode ler: "A Falange de Zamora a Ramiro Ledesma Ramos. 29 de outubro de 1936 - 29 de outubro de 1961". Essa foi a homenagem do regime franquista ao líder jonsista. Seguramente, este "esquecimento" do regime foi o melhor que poderia ter ocorrido com Ramiro e sua ideologia.



Um esquecimento que alcançou não só a figura de Ramiro Ledesma, senão também seus escritos, seus artigos de jornal, suas obras completas nunca editadas. Inclusive, já sabemos que esse "esquecimento" chegou ao ocultamento de iniciativas políticas impulsionadas por Ramiro depois da fusão com a Falange e após sua saída dela. Por exemplo, em 14 de janeiro de 1935 nascia em Barcelona um novo partido político. Seu lema: "O interesse geral sobre o interesse particular". Seus promotores: os jonsistas José Ma Poblador Álvarez e Emílio de Lasarte Rouzart. Seus fins:

Queremos: A completa unidade geográfica e política de Espanha

Queremos: A sujeição de todas as atividades econômicas, elementos de riqueza e das pessoas às conveniências nacionais, quer dizer: À pujança da Espanha e à prosperidade do povo.

Queremos: A eliminação dos partidos internacionais cujos fins representam a destruição da Espanha.

Queremos: A sindicação obrigatória de todos os produtores, dentro de um Estado Nacional-Sindicalista como base da unanimidade social espanhola.

Queremos: Que o Estado garanta a todos os trabalhadores o direito ao pão, à justiça e à vida digna.

O nome desse novo partido, que contava com o apoio e consentimento de Ramiro Ledesma Ramos, era Partido Espanhol Nacional-Sindicalista (P.E.N.S.).

O P.E.N.S. não realizou praticamente atividades. Os acontecimentos se precipitaram, o povo espanhol se encaminhava para uma inevitável guerra civil. Foi uma das últimas tentativas jonsistas de manter unificadas essas duas bases das quais falava Ramiro, a nacional e a social, melhor dito, socialista.

Muitos são os militantes da extrema-direita que celebram Ramiro por suas exaltações anticomunistas e patrióticas, porém esses mesmos elementos fecham os lhos ante suas proclamações socialistas e proletárias; ante suas críticas ao nacionalismo patrioteiro reacionário e ante seu profundo sentido de superação das velhas ideias caducas.

Qualquer pessoa conhecedora das propostas Nacional-Bolcheviques dos anos trinta, verá nas ideias e palavras de Ramiro, o genuíno representante espanhol dessa tendência... E certamente, fica claro que para os jonsistas a conjugação do social e do nacional significou a união de vontades revolucionárias procedentes da direita e da esquerda, ansiosos todos eles por uma nova Espanha e de uma nova concepção da comunidade popular.

Foram sem lugar a dúvidas os primeiros Nacional-Bolcheviques espanhóis e tal como diria o próprio Ramiro Ledesma Ramos ao final de seu genial "Fascismo em Espanha?", "tanto a ele como a seus camaradas lhes parecia melhor a camisa vermelha de Garibaldi que a camisa negra de Mussolini" [27].

Notas:



[1] A finales de 1939 se intentó reorganizar en la clandestinidad FE JONS. Entre otros participaron: Emilio Rodríguez Tarduchy, Patricio González de Canales, Nar­ciso Perales, Ricardo Sanz, Luis de Caralt, J.. Pérez de Cabo y Juan José Domínguez. J. Pérez de Cabo es fusilado, Patricio González de Canales es detenido, Nar­ciso Perales es confinado… La oposición Nacional-Sindicalista al régimen de Fran­co jamás cesaría desde el Decreto de Unificación. Siempre estuvo presente y es justo afirmarlo y reivindicarlo. Muchos fueron los Nacional-Sindicalistas que defendieron la verdad del Nacional-Sindicalismo, pero eso sería tema para otro artí­culo.


[2] “Consideren todos los camaradas hasta que punto es ofensivo para la Falange el que se proponga tomar parte como comparsa en un movimiento que no va a conducir a la implantación del Estado Nacional-Sindicalista… sino a reinstaurar una mediocridad burguesa conservadora, orlada, para mayor escarnio, con el acompañamiento coreográfico de nuestras camisas azules”. (José Antonio Primo de Rive­ra).


[3] Discurso a las Juventudes de España, pág. 20.


[4] Ramiro Ledesma Ramos. Escritos políticos (1935-1936), pág. 31.


[5] Ramiro Ledesma Ramos. Tomás Borras, pág. 689.


[6] Programa político de las J.O.N.S. JONS. Órgano teórico de las J.O.N.S., Madrid, año 1, cuaderno n° 1, Mayo de 1933, contraportada.


[7] La Patria Libre. Órgano de las J.O.N.S., Madrid, año I, nº 5, 16 de marzo de 1935, pág. 1.


[8] JONS. Órgano teórico de las J.O..N.S., Madrid, año I, cuaderno n° 7, Diciem­bre de 1933, pág. 335.


[9] Ramiro Ledesma Ramos, un romanticismo de acero. José Cuadrado Costa, pág. 37.


[10] La Patria Libre. Órgano de las J.O.N.S., Madrid, año 1, n° 4, 9 de marzo de 1935, pág. 4. [II] Ibídem.


[12] La Conquista del Estado, Madrid, año 1, n° 6, 18 de abril de 1931, pág. 6. [13] Ensayo de Pedro Laín Enlralgo en Ramiro Ledesma Ramos. Tomás Borras, págs 297-298. [14] Ramiro Ledesma Ramos. Tomás Borras, pág. 298.


[15] La Patria Libre. Órgano de las J.O.N.S., Madrid, año 1, n° 2, 23 de febrero de 1935, pág. 3. [16] Ramiro Ledesma Ramos. Tomás Borras, pág. 203.


[17] La Conquisto del Estado. Madrid, año 1, n” 3, 28 de marzo de 1931, pág. 2.


[18] Del documento de fusión de las JONS y FE. Reproducido en: Ramiro Ledes­ma Ramos. Escritos Políticos (1935-1936), pág. 111.


[19] Ramiro Ledesma Ramos. Biografía Política. José María Sánchez Diana, págs, 209 y 210.


[20] La Contrarrevolución Falangista. Raúl Martín, pág. 211.


[21] La Patria Libre. Órgano de las J.O.N.S., Madrid, año I, n° 6, 23 de marzo de 1935, pág. 1.


[22] La Patria Libre. Órgano de las J.O.N.S., Madrid, año I, n° 3, 2 de marzo de 1935, pág. 1, y, La Patria Libre. Órgano de las J.O.N.S., Madrid, año 1, n° 6, 23 de marzo de 1935, pág. 4.


[23] Ramiro Ledesma Ramos. Escritos Políticos (1935-1936), pág. 155.


[24] La Patria Libre. Órgano de las J.O.N.S., Madrid, año 1, n” 3, 2 de marzo de 1935, pág. I..


[25] La Patria Libre. Órgano de las J.O.N.S., Madrid, año 1, n” 2, 23 de febrero de 1935, pág.. 3.


[26] Entiéndase por “fascista” en la terminología de estos partidos a aquellos que no piensan como ellos. En efecto, según las “mentes pensantes” de estas ideologí­as, “fascista” lo es Indalecio Prieto, Pestaña, Ramiro de Maeztu, cualquier católico o el mismo Ramiro Ledesma Ramos.


[27] Ramiro Ledesma Ramos. Escritos Políticos (1935-1936), pág. 155.