27/05/2012

O Pensamento de Julius Evola no Brasil

por César Ranquetat Jr.



Procuraremos demonstrar neste artigo, a presença do pensamento de Julius Evola em terras brasileiras. Para este fim, mencionaremos artigos, livros, revistas e sites onde é feita algum tipo de referência ao pensador italiano. Em um segundo momento exporemos de forma sucinta a visão que alguns grupos “alternativos” têm sobre a figura e a obra de J. Evola.

Um rápido panorama da vida intelectual no Brasil atual.

Não muito diferente do que ocorre em outros países latino-americanos, se constata atualmente no Brasil uma hegemonia intelectual da esquerda progressista. Grande parte das universidades (nas áreas das Ciências Sociais, História, Filosofia, Letras), dos centros de pesquisa, revistas, jornais, redes de televisão e rádio e casas editoriais estão sob o controle direto de “intelectuais” vinculados as diversos correntes do pensamento esquerdista. São poucas as vozes que se erguem, neste país, contra o monopólio cultural progressista. Para piorar ainda mais a situação o país é governo por um partido de esquerda o PT (Partido dos Trabalhadores). Não há no país um partido político de “direita” com expressão nacional e uma única revista cultural que defenda princípios intelectuais que se oponham ao discurso esquerdista gramsciano. Diante deste quadro, correntes de pensamento e intelectuais anti-progressistas, não têm vez e são praticamente desconhecidos. Os estudantes universitários (que mais parece um universo de otários) no campo das chamadas Humanidades, conhecem Bourdieu, Foucault, Derrida, Gramci, Marx, Habermas et caterva, mas pergunte a eles e aos seus mestres quem foi Eric Voegelin, Carl Schimitt, Joseph de Maistre, Marcel de Corte, Oswald Spengler,Ernst Jünger, René Guénon, Fritjof Schuon e outros. Se estes pensadores “conservadores” são praticamente desconhecidos nas universidades brasileiras o que dizer de Julius Evola, que foi o mais radical crítico da modernidade, do progressismo e do racionalismo ilustrado.

A presença de J. Evola em livros, revistas, jornais e na Internet.

Até o presente momento um único livro de Evola foi editado no Brasil, se trata de - O mistério do Graal - que foi publicado pela editora pensamento em 1986. Esta mesma editora publicou dois livros de René Guénon - A grande tríade - e - Os símbolos da ciência sagrada e de Fritjof Schuon - O esoterismo como princípio e como caminho - A editora em questão é especializada em publicações de livros de esoterismo, ocultismo e religião. Cabe aqui ressaltar que - O Mistério do Graal - já havia sido editado em língua portuguesa pelo editorial vega de Portugal em 1978. Esta mesma editora portuguesa publicou em 1993 - A Metafísica do Sexo -. Outros dois livros de Evola foram editados em Portugal - Revolta contra o mundo moderno - em 1989, pela editora Dom Quixote, em uma coleção intitulada Tradição-Biblioteca de Esoterismo e Estudos Tradicionais e - A Tradição hermética - pelas edições 70, em 1979. A edição portuguesa de - Revolta contra o mundo moderno - é seguida por uma breve nota sobre a vida de Julius Evola e a obra deste autor em Portugal, realizada por Rafael Gomes Filipe que afirma “Uma obra de Antônio Marques Bessa, Ensaio sobre o fim da nossa idade (Edições do Templo, 1978) acusa uma certa assimilação do pensamento evoliano, sendo inclusivamente este autor citado em epígrafe. Também Antônio Quadros se tem referido com freqüência a trabalhos de Julius Evola, nomeadamente em Portugal - Razão e Mistério - e em - Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista - volume 2º[...].”

No ano de 2000 a editora portuguesa Hugin publicou uma pequena biografia de Evola, escrita pelo francês Jean - Paul Lippi que é o autor de um estudo intitulado-Julius Evola, métaphysicien et penseur politique- . Faço esta rápida exposição a respeito dos livros de Evola em Portugal, pois muitos brasileiros tiveram contato com este autor através das traduções portuguesas.

É bastante provável que a primeira referência a Julius Evola em um livro no Brasil tenha sido feita por Fernando Guedes Galvão que foi o tradutor e introdutor de René Guénon neste País e manteve com Guénon longa correspondência. Guedes Galvão traduziu em 1948 pela editora Martins Fontes - A crise do mundo moderno -. A edição traduzida por Guedes Galvão possui um interessante apêndice onde é feita uma exposição sintética das principais obras de René Guénon. Em um determinado momento, o tradutor do metafísico francês trata sobre a campanha de silêncio em torno da obra de Guénon e declara citando Evola: “J. Evola exprime-se assim, - Guénon é combatido em França por todos os meios e modos; tentam até fazer desaparecer os seus livros de circulação.”

Não há dúvida que René Guénon é mais conhecido do que Julius Evola em terras brasileiras. A razão está ligada ao fato da consideração aparentemente mais positiva que o metafísico francês tinha para com o catolicismo.

O IRGET (Instituto René Guénon de Estudos Tradicionais) fundado em 1984, na cidade de São Paulo, pelo jornalista Luiz Pontual se dedica ao estudo e ensino da obra de René Guénon, conforme declara a Homepage [1] deste instituto. É interessante notar que Luiz Pontual é também um admirador da obra evoliana, reconhecendo sua radical oposição ao mundo moderno. Porém no site do IRGET, Pontual afirma: “Partidários de Evola, por outro lado, nos censuram por não nivelá-lo ou colocá-lo acima de Guénon. A estes, remetemos ao próprio Evola, que registrou em seus livros, mais de uma vez, o orgulho em ser um Kshatrya (poder temporal) e o reconhecimento em Guénon de um Brâmane (autoridade espiritual). Isto nos dispensa de maiores explicações.” O jornalista Luiz Pontual demonstra não conhecer a obra de Evola em profundidade, pois o pensador italiano assevera que em tempos primordiais, na Idade de Ouro, não havia uma separação entre a autoridade espiritual e o poder temporal. A figura da realeza sagrada, do rei-sacerdote, do pontifex, do imperador divino nas civilizações tradicionais, atesta a presença de uma autoridade superior à casta sacerdotal e a casta guerreira.

O jornalista e filósofo Olavo de Carvalho, em sua home-page menciona o livro de Evola - A Tradição Hermética - como um dos grandes livros que formarão sua visão de mundo. Olavo de Carvalho é um intelectual que vem escrevendo diversos artigos em jornais e revistas, onde expressa sua revolta diante da hegemonia intelectual esquerdista. Seu pensamento tem certa influência em alguns grupos conservadores brasileiros. O livro - Jardim das Aflições - escrito por O. de Carvalho em 2000, faz uma interessante referência J. Evola, que aqui apresentamos: “Não deixa de ser interessante que a disputa de prioridade espiritual entre as castas sacerdotal e real se reproduza, na escala discreta que convém ao caso, entre os dois maiores escritores esotéricos do século XX: René Guénon e Julius Evola.” O. de Carvalho é um estudioso de Guénon e de outros autores tradicionalistas.” Neste livro trata, entre outras diversas questões, sobre a relação entre a autoridade espiritual e o poder temporal.

A editora revisão, dedicada à publicação de livros revisionistas simpáticos ao nazismo, publicou no ano de 1996 um curioso livro intitulado - O elo secreto - por Hélio Oliveira. O livro em questão procura demonstrar quais são as forças ocultas que conduzem a História. A tese central do autor é que por detrás de tudo está a ação do judaísmo e da maçonaria. Visão reducionista é claro, incapaz de perceber que o próprio judaísmo e a maçonaria moderna são instrumentos de forças superiores. Mas o que nos interessa é a citação que Hélio Oliveira faz de Evola, ao tratar sobre - Os protocolos dos Sábios de Sião -, afirma o autor: “Alguns escritores judeus se manifestaram acerca da fidedignidade do livro. Para Julius Evola, - Nenhum livro do mundo foi objeto de tamanho boicote, como Os Protocolos dos Sábios de Sião. Pode-se dizer sem esforço, que ainda que sejam falsos e seus autores agentes provocadores, neles se refletem idéias típicas da lei e do espírito de Israel.” A citação de Evola é autêntica, porém Hélio Oliveira afirma que o autor italiano é judeu... o que não é verdadeiro.

É preciso destacar aqui o livro do historiador norte-americano Nicolas Clarke - O Sol Negro - publicado pela editora madras no ano de 2004.O livro deste historiador, trata das relações entre o nazismo e o ocultismo, bem como da influência de determinados pensadores “malditos” na formação de alguns grupos neo-nazistas e neo-fascistas. O autor dedica um capítulo inteiro a Julius Evola. Neste capítulo, Clarke procura sintetizar os aspectos principais do pensamento evoliano. Além de Evola, há outros capítulos dedicados, a Savitri Devi, Miguel Serrano e Francis Parker Yockey. A sintetiza feita por Clarke é razoável, entretanto o autor insiste em ressaltar o caráter pagão e anti-cristão de J. Evola. O livro teve algum sucesso entre alguns grupos neo-pagãos brasileiros.

A antropóloga Denise Maldi, já falecida, escreveu um artigo para a Revista de Antropologia em 1997, neste artigo cita Evola em dois momentos. O artigo se intitula - De confederados a bárbaros: a representação da territorialidade e da fronteira indígenas nos séculos XVIII e XIX – é aborda a questão da territorialidade e da fronteira enquanto categorias culturais. Ao tratar o conceito de nacionalidade se remete a Evola citando uma passagem de Revolta do Mundo Moderno que aqui transcrevemos diretamente de seu artigo: “A idade média conheceu nacionalidades, não nacionalismos. A nacionalidade é um dado natural, que circunscreve um certo número de qualidades elementares comuns, de qualidades que mantém tanto na diferenciação quanto na participação hierárquica, a que eles não se opõem de maneira alguma.” No final do artigo a antropóloga se refere novamente a Evola: “ Nesse sentido, o projeto de construção do Estado(a autora trata sobre o Estado - nação moderno) implicou também numa antinomia com relação à diversidade, em moldes completamente distintos do projeto colonizador, em que a naturalidade cedeu lugar à nacionalidade e o ethnos cedeu lugar ao demos, conforme apontou Julius Evola(1989). Isso significa a superação da diversidade no interior da ideologia do Estado e a homgeneização das diferenças étnicas em favor da unidade jurídica e da cidadania.” A antropóloga quer mostrar que o Estado nacional moderno é uma construção artificial, anti-natural , e que o nacionalismo é um produto da modernidade apoiando-se na distinção que Evola traça na - Revolta contra o mundo moderno - entre o princípio das nacionalidades, de origem medieval, e o nacionalismo moderno.

Em 14 de maio de 1995, o Jornal Folha de São Paulo, um dos maiores jornais do país, publicou um artigo do escritor italiano Umberto Eco. O artigo recebia o título de - A nebulosa fascista -. O famoso escritor italiano procurou elaborar um conjunto de traços, características daquilo que ele chamou de “protofascismos ou Fascismo Eterno”. Entre os traços elencados por Eco está o culto á tradição, o tradicionalismo. Acerca disso declara: “Basta dar uma olhada aos patronos de qualquer movimento fascista para encontrar os grandes pensadores tradicionalistas. A gnose nazista nutria-se de elementos tradicionalistas, sincréticos e ocultos. A fonte teórica mais importante da nova direita italiana, Julius Evola, fundiu o Santo Graal e os Protocolos dos Sábios de Sião, alquimia e Sacro Império Romano-Germânico.” É evidente a oposição de Eco ao pensamento de Evola. O escritor italiano não conhece as críticas de Julius Evola ao Fascismo [2] em livros como - O fascismo visto desde a direita e - Notas sobre o terceiro reich. Nestes dois livros, J. Evola demonstra os aspectos anti-tradicionais do fascismo italiano e do nacional-socialismo alemão, como o culto ao chefe, o populismo, o nacionalismo, o racismo biológico etc. Em relação à Nova Direita italiana, esta se nutre de apenas alguns aspectos da obra de Evola. Em todo o caso o artigo de Eco, muito lido pela intelligentsia brasileira, serve apenas para denegrir a imagem de Evola e deformar seu pensamento.

Mais recentemente, em 26 de dezembro de 2003, o historiador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Francisco Carlos Teixeira da Silva, muito conhecido no meio acadêmico, publicou um pequeno artigo no Jornal do Brasil, um dos mais importantes do país, com o nome - Estadista ou pastor de almas -. O artigo em questão tem a finalidade de manchar a figura de do Papa Pio XII. O historiador argumenta que Pio XII silenciou-se diante do holocausto e era no fundo um filo-nazista. No final do artigo declara: “Do ponto de vista puramente teológico e filosófico, os fascismos (alemão ou italiano, pouco importa) são absolutamente incompatíveis com o cristianismo. A base racial e o culto da violência chocam-se inevitavelmente com a solidariedade cristã, fato constantemente lembrado por ideólogos do fascismo, como Julius Evola ou Alfred Rosemberg, que consideravam o cristianismo uma religião montada por mendigos, prostitutas e escravos.” Julius Evola, jamais foi ideólogo do fascismo, em nenhum momento fez parte do partido fascista e mais, escreveu diversos textos onde se opõe claramente a alguns aspectos do fascismo. Em 1930, Evola criou a Revista La Torre, de nítida orientação tradicionalista. A revista teve apenas cinco meses de vida e foi interditada por ordem de alguns elementos do governo fascista que não concordavam com as críticas da Revista La Torre ao fascismo. Em segundo lugar, Evola jamais se referiu ao cristianismo da forma como quer ver o historiador Francisco Teixeira. Se é verdade que Alfred Rosemberg, em seu - Mito do Século XX -, opunha-se radicallmente a tradição católica-cristã associando esta ao universalismo e ao judaísmo, e defendendo uma nova religião do sangue e da raça, Evola não pensava desta forma. O barão J. Evola, estabelecia uma distinção entre o mero cristianismo das origens, que conformava uma espiritualidade lunar, sacerdotal e o catolicismo. Neste reconhecia alguns aspectos positivos e superiores. De acordo com J. Evola a tradição católica romana teria sofrido o influxo da tradição céltica, nórdica-germânica, romana e grega.

A visão dos tradicionalistas católicos brasileiros, dos “perenialistas” e a influência de Evola em círculos ocultistas e neo-pagãos.

Evola é pouco conhecido nos meios tradicionalistas católicos no Brasil, que se agrupam em organizações como a associação cultural monfort, dirigida pelo professor Orlando Fidelli, a TFP (Tradição, Família e Propriedade), criado por Plínio Corrêa de Oliveira, a fraternidade São Pio X e o grupo permanência no Rio de Janeiro que é dirigido por Dom Lourenço Fleichman. Em uma conversa pessoal que mantive com o príncipe Dom Bertrand de Orléans e Bragança, herdeiro da família imperial brasileira, ligado a TFP, e dirigente do grupo pró-monarquia que defende o retorno do sistema monárquico no Brasil, afirmou: “O problema de Evola e que ele é ocultista, esoterista.” Esta é também a opinião de Orlando Fedelli, da associação monfort, que vai ainda mais longe afirmando ser o pensador italiano um gnóstico. A realidade é que os membros destas organizações não conhecem o pensamento evoliano, jamais leram um livro ou artigo de Evola. Por sua vez, todo aquele pensador que destacar a relevância de outras tradições metafísicas, é logo tachado por estes grupos como gnóstico, o que revele o sectarismo e o exclusivismo dessas organizações, incapazes de compreender a “unidade transcendente das religiões”.

Em relação aos “perenialistas” brasileiros, estudiosos e seguidores da “philosophia perennis”,que Evola denominou de Tradicionalismo Integral. Formada por pensadores como Guénon, Schuon, Ananda Coomarawamy, Martin Lings, Titus Burckhardt expressam uma maior simpatia por Evola. Para o professor de Filosofia Murilo Cardoso de Castro, que é um pesquisador e difusor da escola “perenialista” no Brasil por meio de uma excelente site na Internet [3], Julius Evola pode ser definido como um autor “perenialista”. Murilo Castro considera o pensador italiano, um estudioso da “Tradição primordial” um “buscador da verdade”. Em seu site disponibiliza diversos texto de Evola em italiano, espanhol, francês e inglês, indicando também outros sites que tratam sobre Julius Evola. Entretanto, o principal difusor e pesquisador dos autores perenialistas no Brasil, o jornalista e mestre em História da Religião, Mateus Soares de Azevedo com dissertação sobre Frijof Schuon, e autor de alguns livros sobre o tema e tradutor de algumas obras de Schuon, bem como de um livro de Martins Lings e outro de Rama Coomaraswamy, não faz qualquer referência a Evola. O referido jornalista jamais fez menção a Evola em seus escritos, o que é bastane estranho. Considera Guénon o “pai” da escola “perenialista”mas revela sua simpatia maior por Schuon , considerando este superior ao metafísico francês.

É em determinados grupos ocultistas, neo-pagãos e seguidores do hitlerismo mágico de Miguel Serrano que a figura e a obra de Evola têm despertado um maior interesse. A tradução da obra de Nicolas Clarke - o Sol Negro - teve um grande impacto entre tais grupos, que assim tomaram contato com pensamento de Evola. Por outro lado, alguns seguidores de Miguel Serrano no sul do Brasil, demonstram um certo interesse por Evola, devido as várias referências que este escritor chileno faz ao pensador italiano. Por meio da obra de Serrano, de Clarke, estes grupos identificam Julius Evola como um ocultista, um defensor do paganismo e um inimigo do cristianismo. Esta visão distorcida do pensamento evoliano, não tem colaborado para uma maior difusão de Evola no Brasil. Os artigos de Evola - L’equivoco del “nuovo paganesimo”(1936) Hitler e le società secrete (1971)- bem como o livro - Máscara y Rostro del espiritualismo contemporâneo, publicado no ano de 2003 pelas ediciones Heracles, demonstram o aspecto contra-tradicional dos grupos ocultistas, neo-pagãos e espiritualistas que pululam na sociedade moderna. Se estes textos fossem lidos e estudos por tais grupos a imagem de um Evola ocultista e pagão seria desfeita. A verdade é que poucos “neo-pagãos” conhecem as principais obras de Evola.

A guisa de conclusão podemos afirmar que o pensamento de Evola é pouquíssimo conhecido no Brasil. A única obra publicada no Brasil, deste pensador, - O Mistério do Graal - encontra-se fora de circulação. A intelligentsia brasileira desconhece a obra de Evola. O contato com pensamento de Evola é feito pelo esforço individual de alguns poucos que percebem no mestre italiano e em sua monumental obra um conjunto de orientações fundamentais para que um tipo humano diferenciado – o homem tradicional – possa manter-se em pé diante das ruínas desta civilização decadente.

Notas:

(1) http://www.reneguenon.net/oinstitutoindex.html

(2) Ver -Más allá del fascismo, ediciones heracles -, 2º edição, 2006, com introdução do Professor Marcos Ghio do Centro de Estudos Evolianos da Argentina

(3) www.sophia.bem-vindo.net

25/05/2012

Thomas Storck - O que é o Distributismo?

por Thomas Storck


Grande parte da História do Ocidente, desde meados do século XIX, foi a história de dois sistemas econômicos adversários. Desde o Manifesto do Partido Comunista de 1848, que declarava que “anda um espectro pela Europa”, que de fato, anda um espectro não só sobre a Europa, mas sobre todo o Mundo. Não se trata só do espectro do comunismo mas de sistemas econômicos e sociais rivais, que por várias vezes lançaram a Humanidade em convulsões. Para muitos, estas rivalidades acabaram: o comunismo e o socialismo foram derrotados, logo, só resta ao capitalismo reinar triunfantemente sobre o mundo. No entanto, não é este o caso. Numa passagem negligenciada da encíclica Centesimus Annus, João Paulo II realça que as escolhas da humanidade não estão limitadas ao capitalismo e ao comunismo. “É inaceitável que a derrota do chamado “Socialismo Real” nos deixe o capitalismo como único modelo de organização econômica” (no. 35). Sendo assim, é obrigação dos Católicos olhar para o Distributismo, um sistema econômico defendido por algumas das melhores mentes da Igreja, na primeira parte do século XX, homens como G. K. Chesterton, Hilaire Belloc, Fr. Vincent McNabb e muitos outros. Vejamos em que consiste o distributismo e porque é considerado por muitos Católicos como mais conforme ao pensamento Católico do que o capitalismo. 

Em primeiro lugar, devemos fazer algumas definições dos principais termos que iremos utilizar, especialmente de capitalismo. Muito frequentemente esta palavra não é definida, e cada pessoa lhe dá um significado, bom ou mau, conforme as suas próprias crenças, nunca a definindo claramente. Então, o que é o capitalismo? O capitalismo não é a posse privada de propriedade, mesmo que se trate de propriedade produtiva, pois tal tipo de propriedade existe na maior parte do mundo desde tempos muito remotos, enquanto que o aparecimento do capitalismo é normalmente situado na Europa do final da Idade Média. Talvez a melhor maneira de proceder seja escolher a definição de uma autoridade, e depois analisaremos como é que se enquadra com os fatos históricos. Viraremos a nossa atenção para a encíclica Quadragesimo Anno (1931), do Papa Pio XI, em que o capitalismo é definido, ou caracterizado, como “o sistema econômico em que o trabalho e o capital necessários para a produção são fornecidos por pessoas diferentes” (no. 100). Por outras palavras, em sistema capitalista normalmente trabalha-se para outra pessoa. Alguém, o capitalista, paga a outros, os trabalhadores, para que trabalhem para si, e recebe os lucros do seu empreendimento, isto é, o que sobra depois de pagar o trabalho, as matérias-primas, amortizações, débitos, etc.

Há alguma coisa de errado com o capitalismo, com a separação da posse e do trabalho? Não há nada de errado em ter uma fábrica ou uma loja e pagar a outros para as trabalharem, desde que lhes pague um salário justo. No entanto, o sistema capitalista é perigoso e insensato, os seus frutos foram nocivos para a humanidade, e o sumo pontífice tem apelado a mudanças que iriam eliminar, ou pelo menos diminuir, o âmbito e o poder do capitalismo.

Deixem-me explicar as afirmações que acabei de fazer. E para o fazer tenho de fazer primeiro um breve desvio para discutir o propósito da atividade econômica. Por que é que Deus deu ao homem a necessidade e a possibilidade de criar e utilizar bens econômicos? A resposta é óbvia: necessitamos desses bens e serviços para levarmos uma vida humana.

A atividade econômica produz bens e serviços para servir toda a humanidade, e qualquer ordenamento econômico deve ser avaliado pela capacidade de preencher este objetivo.

Quando a posse e o trabalho estão separados, tem necessariamente de existir uma classe de homens, os capitalistas, que estão afastados do processo de produção. Os acionistas, por exemplo, não querem saber o que é que a empresa, da qual eles são formalmente os donos, faz ou produz, mas só lhes interessa saber se as ações estão a subir ou quais os dividendos que daí vão retirar. De fato, na bolsa, as ações mudam de mãos milhares de vezes por dia, ou seja, diferentes indivíduos ou entidades, como fundos de pensões, são em parte donos de uma empresa durante alguns minutos ou horas ou dias, e depois vendem-na tornando-se donos de outra entidade qualquer. Naturalmente esta classe de capitalistas passa a encarar o sistema econômico como um mecanismo pelo qual dinheiro, ações, títulos e outros equivalentes podem ser manipulados para enriquecimento pessoal, ao invés de servir a sociedade produzindo bens e serviços. Em resultado disto, têm-se feito fortunas através de takeovers hostis, fusões, encerramento de fábricas, etc., por outras palavras, aproveitam o direito de propriedade privada, não para se envolverem na actividade econômica produtiva, mas para se enriquecerem independentemente dos efeitos nos consumidores e trabalhadores.

Os Papas justificaram a posse privada de bens, mas se analisarmos os motivos e os argumentos por que o fizeram constataremos que a sua lógica está muito longe da capitalista. Examinemos, por exemplo, a famosa passagem da encíclica Rerum Novarum (1891), do Papa Leão XIII.

Os homens trabalham mais e com mais prontidão quando trabalham naquilo que é seu; mais, aprendem a amar o solo que trabalham com as suas mãos, e lhes provê, não apenas comida para comer, mas uma abundância para ele e para os que lhe são queridos. (no. 35)

Mas, o que acontece sob o capitalismo? Os homens aprendem a amar os certificados das ações que lhes renderão dinheiro, em resultado do trabalho de outra pessoa? A justificação que os Papas sempre fizeram da propriedade privada está ligada, pelo menos idealmente, à unidade entre a propriedade e o trabalho. Acrescenta Leão XIII: “A lei, portanto, deve favorecer a propriedade privada, e o seu objetivo deve ser tornar o maior número possível em proprietários” (Rerum Novarum, no. 35), e este ensinamento é repetido por Pio XI na Quadragesimo Anno (nos. 59-62, 65), por João XXIII em Mater et Magistra (nos. 85-89, 91-93, 111-115), e por João Paulo II em Laborem Exercens (no. 14). Se “o maior número possível… se tornar proprietário”, então a separação fatal entre trabalho e posse, será, se não removida, pelo menos o seu âmbito e influência será diminuída. Já não será a característica fundamental do nosso sistema econômico, mesmo que continue a existir.

E isto leva-nos directamente ao distributismo. Pois o distributismo não é mais do que um sistema econômico em que a propriedade privada está bem distribuída, no qual “o maior número possível” é, de fato, proprietário. A melhor exposição do distributismo pode, provavelmente, ser encontrada no livro de Hilaire Belloc, The Restoration of Property (1936). Atente-se no título, O Restabelecimento da Propriedade. Os distributistas argumentaram que no regime capitalista, a propriedade produtiva era prerrogativa só dos ricos e que isto lhes dava um poder e influência sobre a sociedade muito maior do que aquilo a que tinham direito. Embora formalmente todos tenham o direito à propriedade privada, na prática esta está restrita aos ricos.

Outra característica do distributismo, que decorre desta, é que numa economia distributista, haverá limites colocados sobre grande parte da propriedade. Antes que nos acusem de que isto parece socialismo, devemos recordar o comentário de Chesterton (em What's Wrong With the World, cap. 6), de que a instituição propriedade privada não significa o direito ilimitado à propriedade, tal como a instituição casamento não significa o direito a ter mulheres ilimitadas.

Na Idade Média as corporações profissionais, exemplo perfeito das instituições católicas, frequentemente limitavam a quantidade de propriedade que cada dono/trabalhador podia ter (por exemplo, limitando o número de empregados), precisamente no interesse de evitar que alguém expandisse demasiado o seu negócio levando outros à falência. Porque se a propriedade privada tem um objetivo, como Aristóteles e São Tomás diriam, ele é assegurar que cada homem e a sua família possam levar uma vida digna, servindo a sociedade. Uma vida digna, e não duas ou três. Se o meu negócio me permite sustentar-me a mim e à minha família, então que direito tenho de o expandir, privando outros do meio de se sustentarem e às suas famílias? Pois os medievais viam aqueles que se dedicavam à mesma atividade, não como rivais ou competidores, mas como irmãos empenhados no importante trabalho de providenciar ao público bens e serviços necessários. E como irmãos uniam-se nas corporações, tinham padres para rezarem pelos seus mortos, apoiavam as viúvas e órfãos, e de modo geral olhavam pelo bem-estar uns dos outros. Quem é que não é capaz de admitir que esta concepção de sistema econômico é mais conforme à fé Católica do que a ética selvagem do capitalismo?

16/05/2012

Um Estilo de Vida para a Casta dos Guerreiros

por Julián Ramirez



No nº11 do El Fortín nos referíamos à necessidade de reconstruir a casta dos guerreiros e às considerações ali vertidas nos remetemos. Nessa breve nota exporemos algumas idéias relativas às pautas gerais que apontem ao estilo de vida dos guerreiros.

A TRADIÇÃO

Não falamos de um estilo de vida novo. A essa altura da frenética e agitada degradação geral todo o novo não faz senão aprofundar a queda desse mundo. Há que recuperar as antigas normas e condutas hoje totalmente esquecidas. Tradição sim, novidades não.

E quando dizemos Tradição, tal conceito não se deve confundir com o utilizado pelos grupos católicos tradicionais os quais são tradicionalistas pela metade, ou menos que pela metade, nem muito menos com os círculos tradicionalistas folclóricos. Por Tradição entendemos a primazia do transcendente e do espiritual, em total oposição ao mundo moderno, intranscendente e materialista. Nos referimos a uma Tradição primordial, que pode se rastrear em todas as antigas civilizações, e nas quais as religiões não são senão manifestações parciais.

POSSIBILIDADE DE CRIAR UM ESPÍRITO IMORTAL

Julius Evola em "Homens Entre as Ruínas" diz: "É necessário sentir como evidente que, mais além da vida terrestre, há uma vida mais alta, porque somente quem sente assim dispõe de uma força intangível e imbatível..."

Quer dizer, a casta dos guerreiros não pode reconstruir com base em indivíduos entregues a uma vida intranscendente, materialista, burguesa e consumista, que se lembrem do mais além quando estejam próximos à morte, ou quando cumprem - alguns deles - com a missa dominical, ou com cerimônicas tais como o batismo ou o casamento.

O mais além, o sagrado, o transcendente, devem estar presentes em todos os atos dessa vida, devem impregnar cada conduta e decisão, devem ser assumidos como uma realidade, mais real que a sensível e que a científica.

Sem uma firma crença na possibilidade da imortalidade do espírito, salvando assim a alma, não pode haver guerreiros no sentido tradicional, ao contrário só haverá desesperados e românticos extraviados por algum mito moderno.

AUSTERIDADE E SOBRIEDADE

A vida de um guerreiro é incompatível com o supérfluo e com a abundância consumista. O correr todo o dia desesperadamente atrás de consumos desnecessários, levando uma vida de apuro e de agitação, de correrias e superativismo, impede de dedicar tempo ao que é superior. Certamente que não nos referimos aos milhões de argentinos que suportam extremas necessidades materiais, porém, como expressa Julius Evola na obra supracitada: "Porém também individualmente as qualidades que em um homem valem mais e que o tornam verdadeiramente tal muitas vezes se despertam em um clima duro, inclusive de indigência e de injustiça, de modo tal que se convertem em um desafio, e com o qual ele é colocado espiritualmente a prova".



DESAPEGO

A casta dos guerreiros deve praticar ativamente o desapego em relação ao mundo moderno. Com isso não queremos dizer que se deve estar apartado do quotidiano, sem se comprometer com ele o menos possível. Calma, impassibilidade, frieza, não compromisso com o contingente e passageiro, não se deixar dominar por paixões e emoções, ainda que se as tenha, estar no mundo sem se deixar enganar por ele.

NÃO EMPREENDER AÇÕES PARCIAIS

O mundo moderno chegou a tal grau de materialismo, degradação e decadência, que já é impossível conseguir uma reação tradicional a partir de algum componente do mesmo. As reações parciais que se tentam a única coisa que conseguirão será prolongar a agonia e dar armas à subversão globalizadora. A última tentativa de resgatar certos aspectos tradicionais da civilização ocidental foi derrotada na Segunda Guerra Mundial. Desde então a mundialização materialista avança como uma aplanadora incontível, derrubando Estados nacionais, instituições tradicionais e religiões.

Não nos coloquemos, pois, em seu caminho. Deixemos que a avalanche desça da montanha e cumpra seu destino. Fazê-lo seria como tratar de deter um rio que já cai pela catarata. Entretanto a casta dos guerreiros em silêncio seguirá afiando as espadas.

ESTRATÉGIA SEM TEMPO

A estratégia da casta dos guerreiros não tem um tempo dentro do qual devam inexoravelmente se cumprir certos fatos. Essa é a concepção moderna do tempo. O homem atual considera o tempo como algo vazio que a cada momento deve ser preenchido com sua ação agitada, frenética, carente de reflexão, com seu superativismo que beira o irracional.

"Não tenho tempo", "estou com pressa", são frases que escutamos todos os dias e que assinalam uma forma de vida que conduz ao sub-humano, à enfermidade física e moral.

A casta dos guerreiros ao contrário não se submete a essa concepção do tempo. Tem seu próprio ritmo que se desenvolve não no tempo de instantes que se sucedem sincronicamente, senão no cumprimento de etapas cuja aceleração ou desaceleração dependerá da maior ou menor decadência da modernidade em seu colapso inevitável.

No "Martín Fierro" se diz: "O tempo somente é tardança do que está por vir". Para a casta do guerreiros o que está por vir é seu próprio atuar.

NÃO COLABORAR. RESISTÊNCIA

Deve-se negar e rechaçar toda colaboração com autoridades estatais, com partidos políticos e com instituições do mundo moderno. Fazê-lo seria cair em uma armadilha pois essa colaboração outorga a eles apoio, cria falsas ilusões e expectativas.

Esse perigo atinge a muitos em épocas eleitorais como a atual. Há que combater a teoria do "mal menor". O mal não se combate com outro mal senão com o melhor e superior.

Existe em nosso povo uma inclinação ao facilismo, a crença de que as coisas podem mudar e melhorar sem esforço, que se podem mitigar muitos males sem eliminá-los pela raiz.

É tarefa da casta dos guerreiros combater essas tendências para assim agrupar os melhores. A esperança nasecrá quando se perca a última ilusão.

O PERIGO DO ECONOMICISMO

A casta dos guerreiros deve evitar muitos perigos. Pela brevidade da nota agora nos referiremos apenas a um deles. Se trata daquela sugestão progressista, humanitária, populista, marxista ou liberal, que se refere a "que antes se tem que pensar em satisfazer as necessidades materiais, dando o necessário a todos (e também o supérfluo), antes há que fazer progredir a investigação científica, antes se tem que resolver todos os problemas que se apresentem e se apresentarão ao homem, relativos à existência física, ao mundo e ao futuro e depois, porém muito depois, se poderá pensar nos problemas do Espírito" (A Magia como Ciência do Espírito).

Na mesma obra "se reclama em efeito a quem se faça disponível para uma ação de reconstrução tradicional que supere o preconceito materialista, habilmente insinuado pela subversão também na alma dos melhores". As forças modernas pretendem fazer crer que para a obra de expansão de uma Idéia são "necessários ingentes meios econômicos, propagandísticos, etc. Isso é falso, enquanto é a própria potência da Idéia a que conclui conferindo aos que são seus portadores aquela Fortuna, em sentido romano, que necessariamente concluirá pondo a seu serviço também os instrumentos materiais de expansão".

E tudo isso vem a conta por aquele dito de "prima mangiare, dopo filosofare", que condiciona os guerreiros a ficarem determinados pelos inimigos e totalmente limitados em suas possibilidades.

AÇÃO IMPESSOAL E DESCONDICIONADA

A ação dos guerreiros deve se distinguir da "ação" como vulgarmente se entende. Essa última é um atuar interessado, em benefício do indivíduo, com objetivos únicamente materiais. Quer dizer, é condicionado, não livre.

A ação dos guerreiros por sua vez é impessoal, mais além do indivíduo, quer dizer, livre, sem condicionamentos. Ação produto de um espírito esquivo, implacável, sem ataduras com emoções, nem mitos terrenos, e que vai mais além do êxito ou da derrota temporal, porém isso sim, sempre transcende no plano eterno.

GRANDE GUERRA E PEQUENA GUERRA SANTA

Na tradição islâmica se fala da grande guerra santa e da pequena guerra santa. A grande guerra santa é a interior, na qual por um processo de ascese se tenta dobrar o inimigo interior que todos levamos dentro. Uma vez logrado isso, a pequena guerra santa contra o inimigo exterior resulta triunfante.

Essa idéia deve ser uma das fundamentais da casta dos guerreiros. Uma grande fortaleza espiritual, conquistada à força de constância, valentia, decisão e vontade, será a base para a reconstrução.

Os que tentem o difícil porém não impossível caminho, não temam se encontrar sozinhos porque logo conhecerão outros que seguem a mesma senda, e em última instância, um homem forte nunca o é tanto do que quando está em solidão.

ORGANIZAÇÃO PARA POUCOS

A casta dos guerreiros, com os lineamentos que antecedem, é para poucos. "Muitos são os chamados e poucos os escolhidos", ainda que nesse caso há que sentir profundamente que um escolhe a si mesmo, por sua própria dignidade e honra. Minoria de minorias como foi ao longo de toda a história, porém minoria possuidora de uma qualidade superior e de um atuar transcendente, para assim deitar as bases de um Estado fundado em princípios sagrados.

Um milhão de ignorantes não fazem um sábio. Um milhão de votos não fazem um guerreiro.

O espírito aristocrático da mais primordial tradição da humanidade, a antidemocracia, a hierarquia, o reconhecimento das desigualdades, a honra, a valentia e a firme convicção de saber para quê se vive e, chegado o caso, para quê vale a pena morrer, serão as normas.

14/05/2012

A Ruptura Necessária

por Alain de Benoist


Se tem caracterizado o século XX de múltiplas formas: século da entrada na era atômica, século da descolonização, da liberação sexual, século dos "extremos" ( Eric Hobsbawm), da "paixão pelo real" (Alain Badiou), do triunfo da "metafísica da subjetividade" (Heidegger), século da tecnocracia, século da globalização, etc. O século XX foi, sem dúvida, tudo isso. Porém também é o século no qual se produz o apogeu da paixão consumista, a devastação do planeta e, como reação, o surgimento da preocupação ecológica. Para Peter Sloterdijk, que caracteriza à modernidade pelo "princípio da superabundância", o século XX é antes de tudo o século do esbanjamento. "Enquanto que, para a tradição - escreve o filósofo alemão - o esbanjamento constituía o pecado por antonomasia contra o espírito de subsistência, posto que colocava em jogo a reserva sempre insuficiente de meios de sobrevivência, se produziu na era das energias fósseis uma profunda mudança de sentido em relação ao esbanjamento: se pode dizer que atualmente o esbanjamento se converteu no primeiro dever cívico (...). O proibido já não é o esbanjamento, senão a frugalidade: como se expressa nas convocações constantes a manter a demanda interior".

Ao início do século XXI, que se anuncia como um século no qual a "fluidez" (Zygmunt Bauman) tende a substituir ao sólido - como o efêmero substitui ao duradouro, como as redes substituem às organizações, as comunidades às nações, os sentimentos transitórios às paixões de toda uma vida, os compromissos pontuais às vocações imutáveis, os intercâmbios nômades às relações sociais enraizadas, a lógica do Mar à da Terra - se constata que o homem terá consumido em um século reservas que a natureza havia tardado em forjar por 300 milhões de anos.

As sociedades antigas haviam compreendido espontaneamente que não pode existir nenhuma vida social que não tenha em conta o meio matural no qual se desenvolve: Em De senectute, evocando este verso citado por Cato: "Uma árvore vá plantar em prol de outros tempos", Cícero escreve o seguinte: "Por velho que seja, o camponês a quem se pergunta em favor de quem está plantando algo, não duvida em responder: 'Em favor dos deuses imortais, que querem que, sem me contentar em receber estes bens de meus antepassados, os transmita a meus descendentes'". A reprodução duradoura tem sido a norma em todas as culturas humanas até o século XVIII. Qualquer camponês de outra era, sem saber, era um especialista em "sustentabilidade". Porém também os poderes públicos não raro o eram. Um exemplo típico é de Colbert, quem, regulamentando os cortes de bosques para assegurar o reflorestamento, fazia plantar carvalhos com o fim de obter mastros de barcos trezentos anos depois.

Os modernos tem atuado ao revés. Não deixaram de se comportar como se as "reservas" naturais pudessem se multiplicar ao infinito - como se o planeta, em todas as suas dimensões, não fosse um espaço finito. Em cada instante presente tem empobrecido o futuro ao consumir em excesso o passado.

Em relação a isso, os dois problemas principais são, por um lado, a degradação do meio natural de vida sob o efeito das contaminações de todo tipo, as quais também tem consequências diretas na vida humana e na de todos os seres vivos; e, por outro lado, o esgotamento das matérias primas e dos recursos naturais atualmente indispensáveis para a atividade econômica.

Já se descreveu muitas vezes as contaminações para que seja necessário retornar a isso. Recordemos tão somente que a produção anual de lixo nos vinte e cinco países da OCDE chega atualmente a 4.000 milhões de toneladas. O aumento da quantidade de gás carbônico na atmosfera, que acarreta a concentração dos gases com efeito estufa e, assim, o reaquecimento geral do planeta, em particular nos pólos, provoca um inquietante aumento do nível do mar, intensifica a erosão dos solos, agrava os efeitos da seca, explica o aumento da frequência e intensidade dos temporais, dos ciclones tropicais, dos maremotos, das canículas, dos incêndios florestais, etc. Ao mesmo tempo, prossegue o desmatamento a um ritmo alucinante (a superfície florestal destruída a cada ano equivale à superfície da Grécia), enquanto que se esgotam as reservas naturais. O petróleo se extrairá, dentro de pouco, com rendimento descrescente, ao mesmo tempo que segue aumentando sua demanda. As energias renováveis somente representam atualmente 5,2% de toda a energia consumida no mundo. Seria vão esperar demasiado delas. Quanto ao "desenvolvimento sustentável", de que tanto se fala desde 1973 (informe Brundland), à parte de que se apresenta acima de tudo como uma postura midiática, somente consegue no melhor dos casos atrasar os prazos ineludíveis.

Na ótica do desenvolvimento sustentável, o meio natural de vida somente é uma variável constritiva que aumenta o custo do funcionamento de um sistema encaminhado ao crescimento infinito dos produtos mercantis. Esse modo de desenvolvimento não questiona em absoluto o princípio de um crescimento sem fim, cuja possibilidade tenta salvar, ao tempo que afirma buscar os meios que não a façam ecologicamente catastrófica. Essa proposição se parece à quadratura do círculo. Se for admitido, em efeito, que o desenvolvimento é a causa principal da degradação do meio natural de vida, é completamente ilusório querer satisfazer "ecologicamente" as necessidades da atual geração sem questionar a natureza dessas necessidades. Como já demonstrou em múltiplas ocasiões Serge Latouche, a teoria do desenvolvimento sustentável se contenta, para fazer frente aos problemas, com desenvolver procedimentos ou técnicas de controle que cuidam dos efeitos desses males sem atuar sobre as causas. Resulta, desse modo, particularmente enganosa, pois faz crer que resulta possível remediar a crise sem questionar a lógica mercantil, o imaginário econômico, o sistema monetário e a expansão ilimitada do capital. Em realidade, se condena dentro de certo prazo, na medida em que se situa no marco de um sistema de produção e de soncumo que é a causa essencial dos danos que pretende remediar.

Em tais condições, é totalmente natural que surja outra teoria: a que tenta organizar o descrescimento. Tal termo pode atemorizar ou parecer utópico. Se trata, em qualquer caso, de uma perspectiva que merece ser explorada, como já estão fazendo em muitos países, numerosos economistas e investigadores. O decrescimento representa uma alternativa em forma de ruptura. Porém não será possível mais do que se for produzida uma transformação geral dos espíritos. Serge Latouche fala com muita razão em "descolonizar o imaginário". Isso obriga a combater o produtivismo em todas as suas formas existentes: não se trata de voltar atrás, senão de superar. Se trata de retirar de nossas cabeças a primazia da economia e a obsessão do consumo, que fizeram com que o homem se faça estranho a si mesmo. Se trata de romper com o mundo dos objetos para reinstaurar o dos homens.

12/05/2012

A moral de Marx nos ingleses




A moral marxista é também de origem inglesa. O marxismo revela em cada frase que os processos de pensamento a partir do qual nasceram foram teológicos e não políticos. Sua teoria econômica é o resultado de uma atitude moral fundamental, e a visão materialista da história é simplesmente o capítulo final de uma filosofia com raízes na Revolução Inglesa, cujos humores bíblicos permaneceram dominantes no pensamento inglês.

É por isso que os conceitos básicos de Marx são sentidos como alternativas morais. As palavras "Socialismo" e "Capitalismo" são os termos para o bem e o mal desta religião irreligiosa. O "burguês" é o diabo, o assalariado é o anjo de uma nova mitologia, e necessita-se de apenas uma amostra vulgar dos caminhos do Manifesto Comunista, para reconhecer-se por trás da máscara literária, um "Cristianismo dos Independentes". A evolução social é "a vontade de Deus." O "objetivo final", em uma idade anterior, era a salvação eterna, o colapso "da civilização burguesa"costumava ser chamado de Juízo Final.

Marx conseguiu pregar o desprezo pelo trabalho. Talvez ele mesmo não tenha percebido isso. O trabalho (longo, duro, cansativo) é para ele uma desgraça, e o ganho sem esforço uma bênção. Por detrás do desprezo tipicamente Inglês para com o homem que vive com o suor de seu próprio rosto, é que podemos sentir o instinto do Viking, cuja vocação é a pirataria e não remendar velas. Por este motivo, o trabalhador manual é mais escravo na Inglaterra do que em qualquer outro lugar. E a sua escravidão é moral, ele sente que sua profissão se opõe ao que ostenta o título de "Gentleman". Os conceitos de "burguesia" e "proletariado" geralmente refletem a preferência do inglês para os negócios, em vez do trabalho manual. [20] O primeiro é uma bênção, o último uma calamidade, um é nobre, o outro, plebe. Mas, com seu ódio os infelizes dizem: "O negócio é a ocupação do mal, o trabalho manual do bom." (20. Mas é claro que não sobre trabalho mental. Assim como o intelectual Inglês foi por escolha, quer um Tory ou um Whig, ele teve de escolher entre os dois novos grupos econômicos. Sendo um "Gentlemen", ele naturalmente optou pelos grandes negócios.)

Esta é a explicação para a atitude mental que deu origem à crítica social de Marx e que o tornou tão catastrófico para o verdadeiro socialismo. Ele sabia a natureza do trabalho apenas do ponto de vista Inglês, como um meio de ficar rico, como um meio carente de toda profundidade moral. Só sucesso e dinheiro, os sinais visíveis e tangíveis da graça de Deus, foram importados da ética. O inglês não tem noção da dignidade do trabalho duro. Para ele, o trabalho é uma coisa humilhante, uma necessidade feia. Vê de maneira compassiva a pobre alma que não tem nada além do trabalho, que não possui nada além de mais e mais trabalho, mas que acima de tudo, nunca terá riqueza no futuro! Se Marx tivesse entendido o significado do trabalho na Prússia, da atividade de sua própria causa, de serviço em nome da totalidade, pois "todos juntos" e não para si mesmo, do dever que enobrece, independentemente do tipo de trabalho realizado, se tivesse sido capaz de compreender estas coisas, seu Manifesto provavelmente nunca teria sido escrito.

Sobre este assunto ele era auxiliado por seu instinto racial, que ele mesmo caracterizou em seu ensaio sobre a questão judaica. A maldição do trabalho físico se pronunciou no início da Gênesis, a proibição da profanação do Sabbath pelo trabalho, essas coisas fizeram-no receptivo ao pathos do Antigo Testamento e a sensibilidade inglesa. Daí o seu ódio àqueles que não precisam trabalhar. O socialismo de Fichte iria acusar essas pessoas de preguiça, iria marcá-los como irresponsáveis, preguiçosos e parasitas dispensáveis. Mas o instinto marxista os inveja. Eles estão muito bem desta meneira, portanto, eles [marxistas] devem se revoltar contra esta situação. Marx inoculou o seu proletário com um desprezo pelo trabalho. Seus discípulos fanáticos querem destruir toda a cultura, a fim de diminuir a quantidade de trabalho indispensável. Martin Luther elogiou a atividade manual mais simples como agrado a Deus, Goethe escreveu sobre a "demanda do dia." No entanto, Marx sonhava com o proletariado "Feácio" que possuiria tudo sem nenhum esforço. Isto é, afinal, o significado da expropriação do abençoado. E, tanto quanto o o instinto inglês se envolveu, ele estava correto. O que o inglês chama de felicidade, negócios de sucesso que poupa trabalho físico e, portanto, faz um "Gentlemen", é bom para todos os ingleses. Para nós, é obsceno. E cheira a mafiosos e esnobes.

Oswald Spengler in Prussianismo e Socialismo

10/05/2012

Gustave Le Bon

por Alain de Benoist



Gustave Le Bon
Psychologie des foules

"A multidão é sempre intelectualmente inferior ao indivíduo isolado, mas do ponto de vista dos sentimentos e das ações que esses sentimentos provocam, a multidão pode, segundo as circunstâncias, ser melhor ou pior que o indivíduo. Tudo depende da natureza da sugestão à qual a multidão é exposta".

Esse diagnóstico foi feito por um homem de estatura imponente e uma aparência irônica e severa, uma face suavemente desdenhosa, uma testa imensa, olhos penetrantes, e uma barba antiquada evocando os deuses da Renascença. Ele se chamava Gustave Le Bon. Ele nasceu em 1841 em Nogent-le-Rotrou.

Nascido de uma família de soldados e magistrados, de ascendência borgonhesa e bretão, Gustave Le Bon era um amigo de Théodole Ribot (Les maladies de la personnalité) e de Henri Poincaré (La science et l'hipothèse). Sua bibliografia, que é uma das mais importantes dos últimos dois séculos, é dominada por dois títulos: Psychologie des foules e L'é volution de la matière.

Um viajante infatigável, foram seus relatos de suas primeiras expedições (ao Norte da África, Índia, e Nepal) que primeiro atraíram atenção. "O ponto que permaneceu mais claramente fixo em minha mente", ele escreveu em Les lois psychologiques de l'évolution des peuples, "é que cada povo possui uma constituição mental tão fixa quanto suas características anatômicas, uma constituição que é a fonte de seus sentimentos, pensamentos, instituições, crenças, e artes".

Um precursor da psicologia social, ele era interessado tanto em etnografia quanto em antropologia, sociologia, filosofia da história, física, biologia, história das civilizações e doutrinas políticas, cartografia, e mesmo psicologia dos cavalos e equitação!

Um homem da ciência, vivendo sozinho em seu laboratório, em 1878 ele inventou o primeiro relógio capaz de rebobinar a si mesmo através das variações diárias em temperatura. Pouco depois, ele provou a existência da radioatividade. Muito antes de Einstein, ele demonstrou a falsidade do dogma da indestrutibilidade da matéria estabelecendo que matéria e energia são a mesma coisa sob aspectos diferentes (Mémoires de physique, L'évolution de la matière, La naissance et l'èvanouissement de la matière).

Em 1902, ele fundou a famosa Bibliothèque de Philosophe Scientifique, uma marca ainda publicada hoje por Flammarion.

Dedicado a Théodole Ribot, Psicologia da Multidão tanto estabeleceu seu autor como deu origem a um novo campo de estudo. Em 1929, o livro estava em sua 37ª edição. A idéia central de Psicologia da Multidão é que o indivíduo se torna outra pessoa ao se unir a uma multidão, uma "célula" cujo comportamente deixa de ser autônomo e que se subordina mais ou menos completamente ao grupo, quer permanentemente ou temporariamente, do qual ele é um dos constituintes.

A "Unidade Mental das Multidões"

Em um prefácio em geral desinteressante, Otto Klineberg, um professor na Sorbonne, relembra um dos princípios essenciais da psicologia da forma (Gestalttheorie): o todo é mais do que a simples soma de suas partes.

Como com a teoria dos todos, a multidão é portanto mais do que a mera soma dos indivíduos que a constituem. "É por essas razões", escreve Le Bon, "que se vê júris dando vereditos que cada jurado individual desaprovaria, que assembléias parlamentares adotam leis e medidas que cada um de seus membros desaprovaria pessoalmente. Tomados separadamente, os homens da Convenção eram burgueses de hábitos pacíficos. Unidos em uma multidão, eles não hesitaram, sob a influência de alguns líderes, em enviar as mais manifestamente inocentes pessoas à guilhotina".

A sugestão se torna exagerada ao ser recíproca. A multidão criminosa que assassinou de Launay, o governador da Bastilha em 14 de julho de 1789, consistiam majoritariamente de transeuntes desocupados, lojistas, e artesãos. Similarmente os massacres do Dia de São Bartolomeu e das Guerras Religiosas, as "tricoteuses" de 1793, as Communardas, etc.

Os mesmos excessos também podiam ser observados do outro lado: "A renúncia de todos os seus privilégios pela qual a nobreza votou na celebrada noite de 4 de agosto de 1789 jamais teria sido aceita por qualquer de seus membros tomados como indivíduos".

Pode-se portanto enunciar uma "lei da unidade mental das multidões", caracterizada pelo "desaparecimento da personalidade consciente e pela orientação de sentimentos e pensamentos na mesma direção". "Nós entramos na era das multidões", escreve Le Bon, que enfatiza as consequências da irrupção legal das massas na vida política. Com consequências perturbadoras - se é verdade que as "multidões não possuem poder para mais do que a destruição, seu domínio sempre representa um período de desordem".

Barão Motono, um ex-Ministro das Relações Exteriores do Japão que traduziu Psicologia das Multidões ao japonês, escreveu: "Com o progesso da civilização, as raças, como os indivíduos de cada raça, tendem a se tornar cada vez mais diferenciados. Portanto não é em direção à igualdade que a humanidade avança, mas em direção a uma progressiva desigualdade".

O próprio Le Bon também acreditava que "o fator racial deve ser colocado acima de todos os outros, pois por conta própria ele é muito mais importante do que todos os outros em determinar as idéias e crenças das multidões".

Isso explica porque os traços da caráter manifestos pelas multidões, sendo governados pelo inconsciente, são "possuídos pela maioria dos indivíduos normais de uma raça praticamente em mesma medida". A "multidão psicológica" assim age para revelar a alma coletiva, no sentido de Jung: "O heterogêneo é sobrepujado pelo homogêno, e as qualidades inconscientes predominam".

O que explica a qualidade de curto prazo da ação das multidões: "As decisões de uma natureza geral feitas por uma assembléia de homens distintos, mas de especialidades diferentes, não são sensivelmente superiores às decisões que seriam tomadas por uma reunião de imbecis. Eles só podem reunir, em verdade, aquelas qualidades medíocres que todos possuem. Multidões acumulam, não inteligência, mas mediocridade".

Tradições guiam o povo. Apenas as formas exteriores das tradições são modificadas, o que dá a ilusão de sociedades rompendo com seu passado. "Uma multidão latina", nota Le Bon, "não importa quão revolucionária ou quão conservadora se supõe que seja, invariavelmente apelará ao Estado para realizar suas demandas. Ela sempre se distingue por uma tendência notável para a centralização e por uma inclinação, mais ou menos pronunciada, em favor de uma ditadura. Uma multidão inglesa ou americana, ao contrário, não reserva nada para o Estado, e apela apenas à iniciativa privada. Uma multidão francesa põe peso particular na igualdade e uma multidão inglesa na liberdade. Essas diferenças raciais explicam como é que há quase tantos tipos distintos de multidões como há de nações".

Le Bon acrescenta: "O conjunto de características comuns impostas pelo meio e pela hereditariedade sobre todos os indivíduos de um povo constitui a alma de seu povo".

Multidões são também intolerantes e "femininas" ("mas as mais femininas de todas", diz Le Bon, "são as multidões latinas"). Entre elas, o instinto sempre vence sobre a razão. Inclinadas à simploriedade, a juízos excessivos, elas não toleram contradições. "Sempre prontas para se sublevar contra uma autoridade frágil, elas se curvam com servilidade diante de uma autoridade forte".



Homens de Ação

Conhecer a arte de impressionar a imaginação das multidões é conhecer a arte de governá-las. "É sempre o lado maravilhoso e lendário dos eventos que mais especialmente assombra as multidões. Ademais, todos os grandes estadistas de cada era e cada país, incluindo os déspotas mais absolutos, consideraram a imaginação popular como a base de seu poder".

Napoleão disse ao Conselho de Estado: "Foi tornando-me católico que eu dei fim à Guerra da Vendéia; tornando-me muçulmano que eu me estabeleci no Egito; tornando-me ultramontano que eu conquistei os padres na Itália".

"O homem pode geralmente fazer mais do que ele crê, mas ele não sabe sempre o que pode fazer". Os líderes das multidões revelam isso a ele. Os líderes das multidões não são homens de pensamento, mas homens de ação. Eles tem mais energia do que inteligência pura. Sua ascendência assume a forma de um grande desígnio que cataliza vontades e orienta instintos.

Idéias simples tornam a conquista das multidões mais fáceis, acima de tudo idéias que sejam ricas em promessas, entre as quais Le Bon cita "as idéias cristãs da Idade Média, as idéias democráticas do último século, as idéias socialistas de hoje".

Georges Sorel, o autor de Réflexions sur la violence, escreveu: "Se a psicologia algum diz for bem sucedida, entre nós, em ser anexada ao domínio do conhecimento que um homem deve possuir para ter o direito de se considerar verdadeiramente cultivado, nós deveremos o resultado aos esforços perseverantes de Gustave Le Bon".

Psicologia das Multidões já foi traduzido em uma dúzia de línguas, incluindo russo, turco, japonês, e árabe. Anunciando as grandes convulsões revolucionárias do século recente, de fato os desenvolvimentos mais recentes da guerra psicológica, ela foi na década de 1920 a leitura de cabeceira dos oficiais da École Supérieur de Guerre, e entre eles, em 1922, do jovem capitão De Gaulle. O obscurantismo durkheimiano, que desde então tem oprimido a sociologia francesa, foi incapaz de ocultar sua importância.

O livro tem 82 anos de idade. Ele não envelheceu um único dia.