15/03/2012

O Gnóstico

por Aleksandr Dugin


 Chega o momento de mostrar a verdade, de fazer uma essência espiritual do que os “lambe-botas”, homens médios definem como "extremismo político". Temos os confundido, mudando os registros de nossas simpatias políticas, a coloração dos nossos heróis, passando do fogo ao frio, do “direitismo” para o "esquerdismo" e vice-versa. Tudo isso foi apenas uma preparação de artilharia intelectual, uma espécie de um aquecimento ideológico.


Temos assustado tanto a extrema-direita quanto a extrema-esquerda, e agora ambas perderam suas linhas orientadoras, ambos sairam das suas trilhas batidas. Isso é maravilhoso. Como o grande Evgeniy Golovin gostava de repetir: "Aquele que vai contra o dia, não deve ter medo da noite". Não há nada mais agradável do que o sentimento do chão fugindo sob seus pés. Esta é a experiência do primeiro vôo. Ela vai matar os vermes. Vai endurecer os anjos.

Hoje é possível responder a essas perguntas, sem equívocos e definições evasivas. Embora com esse fim em vista, é necessário fazer uma breve digressão sobre a história do espírito.

A humanidade sempre teve dois tipos de espiritualidade, dois caminhos - "Caminho da Mão Direita" e o "Caminho da Mão Esquerda". O primeiro é caracterizado pela atitude positiva para com o mundo circundante, o mundo é visto como harmonia, paz, equilíbrio, bondade. Todo o mal é visto como um caso particular, um desvio da norma, algo dispensável, transitório, sem profundas razões transcendentais. O Caminho da Direita é também chamado de "O Caminho do Leite". Não fere pessoa, a preserva da experiência radical, a retira da imersão em sofrimento, do pesadelo da vida. Este é um caminho falso. Ele leva a um sonho. Quem segue por ele, não chegará a lugar algum...

O segundo caminho, o "Caminho da Mão Esquerda", vê tudo em uma perspectiva invertida. Não a “tranquilidade láctea”, mas o sofrimento negro; não a calma silenciosa, mas o drama tortuoso e impetuoso de uma vida angustiante. Este é "O Caminho do Vinho". Ele é destrutivo e terrível, a raiva e a violência reinam lá. Para quem está seguindo por este caminho, toda a realidade é percebida como o inferno, como o exílio ontológico, como tortura, como a imersão no coração de alguma catástrofe inconcebível originária das alturas do espaço. Se no primeiro caminho tudo parece tão bom, no segundo - muito mal. Este caminho é monstruosamente difícil, mas apenas este caminho é verdadeiro. É fácil tropeçar nele, e é ainda mais fácil de perecer. Ele não garante nada. Ele não tenta ninguém. Mas apenas este caminho é o único e verdadeiro. Quem o segue - vai encontrar a glória e a imortalidade. Quem resistir - vai conquistar, vai receber o prêmio, que é maior que a vida.

Aquele que segue pelo "Caminho da Mão Esquerda" sabe, que um dia o aprisionamento terá terminado. A prisão de substância entrará em colapso, tendo se transformado em uma cidade celestial. A cadeia do iniciado passionalmente prepara um momento desejado, o momento do fim, o triunfo da libertação total. 


Estes dois caminhos não são duas diferentes tradições religiosas. Ambos são possíveis em todas as religiões, em todas as confissões, em todas as igrejas. Não há discrepâncias externas entre eles. Eles apelam para os aspectos mais íntimos de uma pessoa, a sua essência secreta. Os caminhos não podem ser escolhidos. São eles que escolhem uma pessoa como vítima, como servo, como uma ferramenta, como um instrumento.

 O Caminho da Mão Esquerda é chamado de "gnosis", "conhecimento". É amargo como o conhecimento, que gera dor e tragédia fria. Na Antiguidade, quando a humanidade ainda relegava importância decisiva para os aspectos espirituais, os gnósticos desenvolveram suas teorias a um nível filosófico, como uma doutrina, como mistérios cosmológicos, como um culto. Aos poucos, as pessoas a foram degredando, deixaram de prestar atenção ao reino do pensamento, afundaram-se na fisiologia, na busca de privacidade e da vida caseira. Mas os gnósticos não desapareceram. Eles transferiram a disputa para o nível das coisas compreensíveis para pessoas médias modernas. Alguns deles proclamaram os slogans de "justiça social", desenvolveram a teoria da luta de classes, o comunismo. "O Mistério de Sofia" tornou-se "consciência de classe", a "luta contra o mal-intencionado Demiurgo criador do mundo maldito" ganhou o caráter de lutas sociais. Os pensamentos tecidos pelo antigo conhecimento levaram à Marx, Nietcháiev, Lenin, Stalin, Mao, Che Guevara .... O Vinho da revolução socialista, o prazer da revolta contra as forças do destino, sagrada paixão berserk para a destruição total de tudo que é negro, com o intuito de achar uma nova luz sobrenatural ...

Outros focaram na energia secreta da raça, o murmúrio de sangue para a vulgaridade. Erigiram as leis da nova pureza divina, proclamaram o retorno à Idade do Ouro, o Grande Retorno contra a degradação e a mistura. Nietzsche, Heidegger, Evola, Hitler, Mussolini transformaram a vontade gnóstica, em doutrinas raciais e nacionais.

É verdade que os comunistas não tinham nenhum interesse em particular nos trabalhadores, e Hitler - nos alemães. Mas de nenhuma maneira devido ao seu cinismo. Ambos foram esmagados por uma mais profunda, mais antiga aspiração, mais absoluta - o espírito gnóstico comum, secreto e terrível, a luz do Caminho da Mão Esquerda. Não os trabalhadores, não os "arianos"... São cavalos de cores diferentes.

Personalidades criativas também foram chamadas pelo Caminho da Mão Esquerda, em um caminho da gnose balançando, para lá e para cá, entre o "vermelho" e o "negro", o "branco" e o "marrom", apressados em buscas espirituais. Sendo confundidos pelas doutrinas políticas, indo para extremos, sendo incapazes de expressar claramente os contornos metafísicos de suas posses, os artistas de Shakespeare até Arteau, de Michelangelo até Max Eemans, dos trovadores até Breton, alimentaram-se com um vinho secreto de sofrimento, absorvendo avidamente na sociedade, nas paixões, em seitas e confrarias ocultistas, os fragmentos separados da doutrina terrível que privam você de uma oportunidade para sorrir. Cavaleiros Templários, Dante, Lautréamont ... Eles nunca sorriram. É o sinal de terem sido especialmente escolhidos, traço de uma experiência monstruosa que foi comum a todos os "viajantes do Caminho da Mão Esquerda". Um gnóstico vigia o nosso mundo com o seu olhar pesado. O mesmo olhar de seus precursores, elos de uma cadeia antiga de escolhidos, escolhidos pelo horror que tiveram. Os padrões repelentes aparecem para eles. O Ocidente distraído em sua psicose consumista, o Oriente - repugnante no seu raciocínio lento e na sua obediência miserável. Um mundo afogado, um planeta no fundo do poço

"Na floresta subaquática o impulso é inútil e o gesto cessa ..." (Evgeniy Golovin)

Mas os gnósticos se manterão firmes em seu trabalho de vida. Nunca, nem hoje, nem amanhã. Pelo contrário, há todas as razões para triunfar internamente. Não dissemos aos ingênuos otimistas do "Caminho da Mãos Direita" onde sua confiança ontológica excessiva vai levá-los ? Não previmos a degradação do seu instinto criativo se transformar na paródia grotesca que é representada pelos conservadores modernos que renunciaram a tudo, que horrorizaram os seus mais atraentes (mas não menos hipócritas) precursores de um par de milhares de anos atrás? Eles não nos ouviram... Agora deixe-os culparem apenas a si mesmos e ler livros "New Age" ou manuais de marketing.

Não temos perdoado ninguém, não temos esquecido nada.

Não temos sido enganados pelas mudanças de cenário social e atores políticos.

Nós temos uma memória muito boa, temos braços “muito longos”.

Nós temos uma tradição muito severa.

Labirintos da vida, espirais de idéias, vórtices de raiva.