13/10/2011

Leonid Savin - A Necessidade da Quarta Teoria Política

por Leonid Savin


A atual crise financeira mundial marca a conclusão do dano feito pela ideologia liberal que, tento aparecido durante a época do Iluminismo Ocidental, por décadas dominou a maior parte do planeta.

Vozes perturbantes e criticismo começaram durante o final do último século, com o nascimento de fenômenos como a globalização e o unimundialismo. Este criticismo soou não somente de oponentes externos – conservadores, Marxistas e povos indígenas –, mas começou dentre o campo da comunidade Ocidental. Pesquisadores perceberam que o moderno choque de globalização é a conseqüência do liberalismo universal, que se opõe a qualquer manifestação de distinções. O programa último do liberalismo é a aniquilação de quaisquer distinções. Por isso, o liberalismo mina não somente o fenômeno cultural, mas também o próprio organismo social. A lógica do liberalismo Ocidental contemporâneo é aquela do mercado universal desprovido de qualquer cultura que não seja aquela do processo de produção e consumo. [1]

A experiência histórica provou que o mundo liberal Ocidental tentou forçosamente impor sua vontade sobre todos os outros. De acordo com esta idéia, todos os sistemas públicos no Mundo são variantes do sistema – liberal – Ocidental [2], e suas características distintas devem desaparecer antes da aproximação da conclusão desta época mundial. [3]

Jean Baudrillard também declara que este não é o choque de civilizações, mas a quase resistência inata entre uma cultura homogênea universal e aqueles que resistem a esta globalização. [4]

Ideologias Universais

Além do liberalismo outras duas ideologias são conhecidas por terem tentando atingir a supremacia mundial: Nomeadamente, o Comunismo (isto é, o Marxismo em seus vários aspectos) e o Fascismo/Nacional-Socialismo. Como Aleksandr Gelyevich Dugin bem observa, o Fascismo surgiu após as duas outras ideologias e desapareceu antes delas. Após a desintegração da URSS, o Marxismo que nasceu no século XIX foi definitivamente desacreditado também. O liberalismo, baseado principalmente em uma sociedade individualista e atomista, nos direitos humanos e no Estado-Leviatã, descrito por Hobbes, emergiu por conta do bellum omnium contra omnes [5] e há desde então se manteve a isso.

Aqui é necessário analisar a relação das ideologias supracitadas no contexto da época e locos dos quais elas emergiram.

Sabemos que o Marxismo foi de certa forma, uma idéia futurística – o Marxismo profetizava a futura vitória do comunismo em uma época que, contudo, permaneceu incerta. Neste respeito, é uma doutrina messiânica por ver a inevitabilidade de sua vitória, que conduziria à culminação e ao fim do processo histórico. Mas Marx foi um falso profeta, e a vitória nunca aconteceu.

O Nacional-Socialismo e o Fascismo, ao contrário, tentaram recriar a abundancia de uma mítica Era Dourada, mas com uma forma modernista [6]. Fascismo e Nacional-Socialismo foram tentativas de inaugurar um novo ciclo, lançando as bases para uma nova Civilização como conseqüência do que foi visto como o declínio cultural e a morte da Civilização Ocidental (assim, de forma mais apropriada com idéia do Reich de Mil anos). Isto foi abortado também.

O Liberalismo (como o Marxismo) proclamou o fim da história, mais convenientemente descrita por Francis Fukuyama (o Fim da história e o último homem) [7]. Tal fim, contudo, nunca aconteceu; e temos, ao invés disso, um tipo nômade de “sociedade da informação”, composta de indivíduos egoístas atomizados [8], que consomem avidamente os frutos da técno-cultura. Além disso, colapsos econômicos tremendos acontecem em todo o mundo; conflitos violentos ocorrem (muitas revoltas locais, mas também guerras de longo termo em escala internacional); e assim, o desapontamento domina nosso mundo ao invés da utopia universal prometida em nome do “progresso” [9].

A Quarta Teoria Política e o Contexto do Tempo

Como deveriam os especialistas da nova quarta teoria política enquadrar suas análises no contexto das épocas do tempo histórico? Deveria ser a união com a eternidade, sobre a qual o teórico conservador-revolucionário Arthur Moeller van den Brück expõe em seu livro Das Dritte Reich.

Se os humanos considerarem a si mesmos e ao povo ao qual pertencem não como algo momentâneo, entidades temporais, mas em “perspectiva da eternidade”, então eles serão libertados das desastrosas conseqüências da abordagem liberal para a vida humana, onde os seres humanos são considerados a partir de um ponto de vista estritamente temporal. Se a premissa de A. Moeller van den Brück for alcançada, nós devemos ter então uma nova teoria política, cujos frutos serão simultaneamente conservadores e portadores dos novos valores que nosso mundo desesperadamente necessita.

De tal perspectiva histórica, é possível entender os elos entre a emergência de uma ideologia dentro de uma época histórica particular; ou o que foi chamado de zeitgeist, “espírito da era”.

O Fascismo e o Nacional-Socialismo perceberam as fundações da história no estado (Fascismo) ou na raça (Nacional-Socialismo Hitlerista). Para os Marxistas era a classe trabalhadora e as relações econômicas entre as classes. O Liberalismo, por outro lado, vê a história em termos do indivíduo atomizado, separado de um complexo de herança cultural, contato inter-social e comunicação. Contudo, ninguém considerou como sujeito da história o Povo como um Ser, com toda a riqueza dos elos interculturais, traduções, características étnicas e cosmovisão.

Se considerarmos as várias alternativas, até mesmo países nomeadamente “socialistas” adotaram mecanismos e modelos liberais que expuseram regiões com um modo de vida tradicional a uma acelerada transformação, deterioração e obliteração total. A destruição do campesinato, religião e laços familiares pelo Marxismo foram manifestações deste rompimento das sociedades orgânicas tradicionais, seja na China Maoísta ou na URSS sob Lênin e Trotsky.

Esta oposição fundamental à tradição, incorporada em ambos, liberalismo e Marxismo, pode ser entendida pelo método de análise histórica considerado acima: tanto o liberalismo quanto o Marxismo emergiram do mesmo zeitgeist na instância destas doutrinas, do espírito do dinheiro [10].

Alternativas ao Liberalismo

Muitas tentativas de criar alternativas ao neoliberalismo são agora visíveis – o socialismo Libanês de Jamahiria, o Xiismo político no Irã, onde o principal objetivo do estado é aceleração para a chegada do Mahdi e a revisão do socialismo na América Latina (as reformas na Bolívia são especialmente indicativas). Estas respostas anti-Liberais, no entanto, são limitadas dentro das fronteiras do Estado-Nação singular em questão.

A antiga Grécia é a fonte de todas as três teorias da filosofia política. É importante entender que no principio do pensamento filosófico, os Gregos consideravam primeiramente a questão do Ser. Contudo, eles arriscaram o ofuscamento pelas nuances das altamente complicadas relações entre o ser e o pensamento, entre o puro ser (Seyn) e sua expressão na existência (Seiende); entre o ser humano (Dasein) e o próprio ser em si (Sein). [11]

Por isso, a renúncia ao (neo) Liberalismo e a revisão das antigas categorias e, talvez, de toda Filosofia Ocidental são necessárias. Nós deveríamos desenvolver uma nova ideologia política que, de acordo com Alain de Benoist, será o Novo (Quarto) Nomos da Terra. O filósofo Francês está certo em sua observação de que a reconsideração positiva da identidade coletiva é necessária; para o nosso inimigo não é “o outro”, mas uma ideologia que destrua todas as identidades. [12]

É digno de nota que três ondas de globalização foram os corolários das três teorias políticas supramencionadas (Marxismo, Fascismo e Liberalismo). Como resultado, depois disso nós precisamos de uma nova teoria política, que geraria a Quarta Onda: o restabelecimento do Povo (todos eles) com seus valores eternos. E, é claro, após a consideração filosófica necessária, a ação política deve acontecer.

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Leonid Savin é o Administrador Chefe do “Movimento Eurasiano Internacional”; Editor Chefe da “Geopolítica do pós-modernismo”, internet media (www.geopolitica.ru); Especialista Sênior no Centro de Pesquisa Geopolítica e Parceiro no Centro de Estudos Conservadores da Faculdade de Sociologida da Univercidade Estadual de Moscou.

Publicado na revista Ab Aeterno No. 3.

[1] Gustav Massiah, “Quelle response a la mondialisation”, em Après-demain (4-5-1996), p.199.

[2] Por exemplo, a insistência que todos os estados e povos deveriam adotar o sistema parlamentar Inglês de Westminster como um modelo universal, independentemente de tradições ancestrais, estruturas sociais e hierarquias.

[3] “Les droits de l´homme et le nouvel occidentalisme”, em L’Homme et la société (numéro spécial [1987]), p.9

[4] Jean Baudrillard, Power Inferno, Paris: Galilée, 2002. Também veja, por exemplo Jean Baudrillard, “The Violence of the Global”. ().

[5] Em Português: A guerra de todos contra todos.

[6] Por isso o criticismo do Nacional-Socialismo e do Fascismo por Tradicionalistas de Direita como Julius Evola. Ver K. R. Bolton, Thinkers of the Right, (Luton, 2003), p.173.

[7] Francis Fukuyama, The End of History and the Last Man , Penguin Books, 1992.

[8] G Pascal Zachary, The Global Me, NSW, Australia: Allen and Unwin, 2000.

[9] Clive Hamilton, Affluenza: When Too Much is Never Enough, NSW, Australia: Allen and Unwin, 2005.

[10] Este é o significado da declaração de Spengler, de que “Herein lies the secret of why all radical (i.e. poor) parties necessarily become the tools of the money-powers, the Equites, the Bourse. Theoretically their enemy is capital, but practically they attack, not the Bourse, but Tradition on behalf of the Bourse. This is as true today as it was for the Gracchuan age, and in all countries…” Oswald Spengler, The Decline of the West (London: George Allen & Unwin, 1971), Vol. 2, p. 464.

[11] Note Martin Heidegger nestes termos.

[12] – Ален де Бенуа (Alain de Benoist), Против Либерализма (Contra o Liberalismo), São Petersburgo: Амфора, 2009, pp.14 -15.